sexta-feira, 9 de julho de 2010

CRÔNICAS IMPUDICAS

ENGANA QUE O POVO GOSTA
João Eichbaum

Para quem não sabe: se está realizando, em Porto Alegre, o “1º Congresso Internacional Crack e outras drogas”.
Nem é preciso dizer que tudo não passa de blá, blá,blá, ou conversa mole pra boi dormir, como se dizia antigamente. Nada vai mudar, porque os “pobrezinhos” dos drogados são mais “vítimas” do que as pessoas que eles matam e roubam para sustentar o vício. E são tratados como “vítimas” porque muitos filhos de deputados, senadores, ministros, juízes, desembargadores e outras autoridades estão nessa canoa.
Ou seja, o buraco é bem mais em cima.
Um dos palestrantes do tal Congresso foi ninguém menos do que Gilmar Mendes, ministro do Supremo Tribunal Federal, sabe, aquele mandou soltar o banqueiro Daniel Dantas. Vejam o que ele diz:
“ Essa droga é uma tragédia em termos sociais e em termos de organização. Em termos de repressão, ela é absolutamente desorientadora. Temos enorme dificuldade de lidar com ela, com o crime, no âmbito do próprio Judiciário. Ao par das deficiências notórias e das dificuldades que temos de lidar com a questão da criminalidade nesta área, o crack, pelas suas peculiaridades ainda propicia maior perplexidade e maior desorientação”.
Então convidam esse cara, pagam-lhe diárias, estadia, hotel, passagem, e quem sabe até cachê, para que ele possa dizer tamanha obviedade, que “essa droga é uma tragédia em termos sociais?”
Mas, logo a seguir vem uma exuberante asneira: e tragédia também “em termos de organização.”
Mas, porra, o que é que o ministro queria: que a “droga” fosse organizada? Ou que o tráfico fosse organizado?
Não se sabe. O vernáculo do ministro não leva a conclusão alguma. Mas ele teve hospedagem e passagem aérea pagas para vir aqui dizer isso. Talvez cachê também. Ainda bem que tudo foi pago pela RBS, pela Associação do Ministério e uma entidade empresarial, cujo nome nem lembro.
A seguir vem o choro do ministro: “temos enorme dificuldade de lidar com ela, com o crime, no âmbito do próprio Judiciário”.
Bom, lidar com a droga, eu nunca lidei. Por isso, não tenho dificuldades, nem facilidades. Mas o ministro afirma que o Judiciário tem dificuldades de lidar com a droga e com o crime, sabe-se lá porque.
E eu, e tu, e vocês todos que pagamos muito bem os juízes, os desembargadores e o ministros para julgarem, ficamos nos perguntando porque e em quê é que eles “lidam com a droga e com o crime”?
Por fim, de lambuja, o ministro se saiu com essa pérola: “o crack, pelas suas peculiaridades ainda propicia maior perplexidade e maior desorientação”.
Vocês entenderam?
Se vocês entenderam, vocês são o máximo.
Cá entre nós, da minha parte, não entendi bosta nenhuma.
Mas pagaram a viagem e a estadia do ministro, e talvez lhe tenham enfiado no bolso alguma grana a mais, para que ele viesse mostrar sua imensa cultura em matéria de drogas.
E mostrou.

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