sexta-feira, 23 de julho de 2010

DO LIVRO DA VIDA

A BELA VIZINHA
João Eichbaum

Sabe aquele mulherão de encher os olhos e deixar babando, e capaz de induzir na tentação de pecar sozinho até o provedor da Santa Casa de Misericórdia?
Pois é, assim é a minha vizinha, com mais curvas que a estrada de Santos, aquela que o Roberto Carlos cantava, um traseiro de respeitável volume, o frontespício bem aparelhado de ubres, um visual geral que só é capaz de fazer o bem.
Ah, sim, e aqueles olhos ligeiramente rasgados, debaixo de sobrancelhas muito negras, com um poder de spray paralisante já seriam suficientes para a contemplação, se não fosse a carne exuberante e vermelha dos lábios, onde é impossível não se deter.
Assim é a minha sensual vizinha de frente, a do apartamento 305, de cujo estado civil, eu, do apartamento 306, não tenho a menor idéia e nem me importa ter, porque estado civil, hoje em dia, quando o adultério deixou de ser crime, já não é mais problema.
Como vocês não podem deixar de imaginar, a sensual vizinha ocupa meus pensamentos há muito tempo e, cada vez que a vejo e ela me lança um sorriso meramente cordial, apenas para mostrar duas belas carreiras de dentes de uma simetria sem defeitos, fico tomado de alucinações inconfessáveis.
Pois outro dia, vocês nem imaginam o que aconteceu.
Era uma sexta-feira, dessas noites horripilantes que marcam com o frio o inverno gaúcho, quando ouvi a duas batidinhas na porta do meu apartamento. Coisa rara, porque as visitas são anunciadas pelo porteiro e ele não deixa ninguém chegar sem se anunciar. Mas fui conferir.
Abri a porta, e vocês sabem quem é que era?
Isso mesmo: a minha bela e sensual vizinha. Mais bonita do que nunca, um vestido bem colado no corpo, com o casacão aberto para mostrar exatamente a silhueta de sereia. Sorriu um sorriso que era mais do que o habitual sorriso de cordialidade. Era um sorriso maroto, também sensual, sedutor, acompanhado de um chispa que lhe provinha daqueles olhos ligeiramente rasgados e devidamente ressaltados pela maquiagem escura.
-Oi!
-Oiiiiiiiiiii!
-Você está ocupado esta noite?
Nessa altura do campeonato, eu jamais iria estar ocupado com outra coisa, depois de ter estado diante daquele figurino deslumbrante:
-Não! Claro que não
E ela, solta e feliz:
- Pois hoje estou a fim. Viajei a semana inteira, fiquei estressada e hoje quero me largar, quero beber, transar, gozar a vida...!
Eu ia abrir a boca, para dizer não sei o quê, mas ela me interrompeu:
- Você pode ficar com meu cachorrinho, enquanto eu estiver fora?

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