PALMADAS NA BUNDA: SERÁ QUE ELAS GOSTAM?
Paulo Wainberg
El presidente resolveu proibir a palmada na bundinha das crianças e eu vou logo me candidatando a fiscal:
– Recebemos uma denúncia anônima. A senhora deu uma palmada em seu filho.
– Não, eu....
– Não entendo como uma mulher, jovem e bonita como você, faz uma coisa dessas!
– Ai, moço, me desculpe, ele estava me deixando louca...
– É, mas não pode, você é uma criminosa e eu vou ter...
– Moço, me desculpe. Não dá para deixar passar, eu juro que...
– Bem, em homenagem à sua beleza, acho que posso dar uma aliviada...
– Moço, muito obrigada, nem sei o que dizer...
– Mas não posso permitir a impunidade...
– Não, claro que não...
– Então você tem que aprender a ser mais responsável.
– Eu sei, eu sei, o que o senhor quer que eu faça?
– Só tem um jeito de não levar você às barras do Tribunal!
– Qual? Qual?
– Vou ter que dar uma espalmada na tua bundinha...
E, como fiscal, me espraio todo, exercendo autoridade e usufruindo o Poder, só comparável ao de um síndico de edifício.
Mas, falando sério, alguém acha que o Lula é louco? Ledo (Ivo) engano. Muito pelo contrário, o homem é um gênio. Um gênio político.
Lula dividiu o Brasil em duas partes que ouvem o que ele diz:
a) nós, que criticamos seus erros, suas gafes e ficamos cheios de dedos quando a presidência usa metáforas simples, ingênuas e até grosseiras, como fez no discurso na África do Sul. E ri de nós e de nossas críticas, desconfortos e constrangimentos.
b) O grande povo, os operários, os favelados, vileiros, retirantes, sertanejos, gente simples, ignorante, analfabeta e faminta, que compreende as palavras que ele diz, porque são as palavras que eles usam.
Lula sabe que uma palmada numa criança, dada por um pai num filho, numa cobertura da Viera Souto ou numa residência no Jardins de São Paulo ou no Moinhos de Ventos, em Porto Alegre, é bem diferente do espancamento feito por uma mãe favelada, por um pai desempregado, bêbado ou drogado, no seu filho pequeno, chorando de fome no barraco
É para estes que ele pede que se proíba a palmada, para os que não diferenciam palmada do espancamento. Para os que dormem numa única peça, pai, mãe e filhos e onde a vida sexual é coletiva, o pai violento estuprando filhos assustados, a mãe desesperada espancando filhos que querem ir a praia.
Lula fala um português errado, repleto de gírias baixas, porque sabe que, a quem ele quer falar, compreende o que ele está dizendo, enquanto nós ficamos horrorizados com a falta de elegância, com a baixaria que fere nossos ouvidos.
Mal ou bem, sem perder de vista a própria origem e impregnado do desejo verdadeiro de acidadanar os rotos, os excluídos, os marginais, Lula não quer nem saber. Se acusam de assistencialismo seu programa Bolsa Família, ele nem responde porque sabe que os beneficiários, individualmente, não estão preocupados com estatísticas e sim com a comida do dia a dia. E, mal ou bem, o Bolsa Família assegurou esse prato de comida, tão simplória, tão demagoga, para os miseráveis.
É simples, faça como eu, pergunte a um bolsista o que ele acha. E ele vai te responder que nunca esteve tão feliz, sabendo que sua família tem comida todos os dias.
Na minha opinião, que não é necessariamente verdadeira, Lula transcendeu as ideologias e, de forma sincera, partiu do zero, alimentando os miseráveis, condição indispensável para criar-se uma consciência de cidadania e de política.
E, genialmente, não nos deixou de lado. Evitou uma convulsão no Brasil através de uma política econômica moderna, boas relações com empresariado e bancos, e protagonizando o Pais no âmbito internacional.
Sabe, Lula, que os filhos do Bolsa Família não se contentarão apenas com ela e, no tempo certo, sairão em busca de mais, em busca da inclusão, da participação e do acesso à decisão.
E isto é muito bom para todos: nós que entenderemos e faremos de tudo para acolher as novas gerações e elas, as novas gerações, firmes no ideal democrático que jamais foi posto lado, ocupando seu espaço para a concretização de um legítimo estado democrático, com respeito à lei e aos direitos humanos.
A grande questão que me aflige é: Terá o PT compreendido isto? Estará Dilma à altura de continuar e aperfeiçoar o processo?
Sinceramente, não acredito.
Vejo nos ideólogos petistas o velho ranço revolucionário leninista-stalinista, que pretende adequar a realidade à tese. E, quando não consegue, nega a realidade e, sem nenhum pudor ou piedade, extermina a realidade que lhe contraria a tese.
Este é o nosso perigo, porque Lula é só um e Dilma não serve nem de arremedo.
Nesse caso, é justo que você me pergunte: E o Serra, é?
Não sei, provavelmente não. Porém o Serra não representa um ideal de transformação radical, não está à espreita de um Poder Absoluto, não comunga com protagonistas radicais delirantes do porte de um Marco Aurélio Garcia, um Olívio Dutra e, numa outra medida, por um Tarso Genro.
Não sei o que pensar de José Dirceu, hoje um homem rico. Ou José Genuíno, o gentleman da sub-política de ocasião, capaz de assinar qualquer coisa em nome da tese, desde que haja milhões envolvidos.
Dilma assina um programa partidário espúrio, para nossos ideais de sociedade brasileira. E diz que não leu.
Como assim, não leu? Se você alegar que não leu o contrato, vai ser condenado, isso lá é coisa que se alegue? A candidata oficial do PT assina o programa partidário sem ter lido?
Vamos entrar, novamente, na era petista do ‘não sei’, ‘não li’, ‘fui traído’?
Enquanto isto, a parcela da população, a maior parcela, que entende o que Lula diz, talvez abdique da palmada, talvez, transforme o espancamento em simples palmada.
Talvez.
Qualquer um sabe o quanto enlouquecedora pode ser uma criança que, aos berros, quer!
Que não obedece! Que exige! Que faz manha! Que não cala a boca!
A palmada pedagógica é indispensável, desde os tempos imemoriais. Vai dizer que você nunca ganhou uma?
O problema é a palmada desferida com raiva, pelos pais impacientes e brabos. Esta machuca, causa lesões corporais, rapidamente transforma-se em espancamento e agressão.
Meu pai sempre me disse: nunca brigue com sua filha quando estiver com raiva. Deixa passar e, depois, chama atenção dela.
Uma bela regra que, ele mesmo, nunca seguiu. Nem eu. É que, você que tem filho sabe, criança tira qualquer um do sério.
Mas com a Luiza, que hoje pela primeira sorriu conscientemente para mim, espero que a Tatiana siga o sábio conselho do meu pai, avô dela: jamais brigue com a minha neta.
Quando olhei para a Luiza e disse: oi Luiza, olha o vovô, e ela abriu o maior sorriso, me liquefiz e tive que recolher minhas gotas pela casa toda.
Que delícia.
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