NÃO POSSO SER MINISTRO DO STJ
João Eichbaum
Você aí que já está preso há meses, respondendo a uma acusação sem prova só porque o Ministério Público gosta de aparecer, você aí que está encalacrado de dívidas nos bancos e não tem como pagar, você que foi casada com um crápula e não consegue uma pensão dele para sustentar o filho, enfim qualquer um de vocês que esteja sentindo o peso de uma das muitas injustiças que acontecem todos os dias, e está esperando uma providência da Justiça, olha, não quero lhe enganar, mas não espere dias melhores.
Sabem por que?
Porque não tenho condições de fazer “várias incursões a Brasília”, enquanto uma pilha de processos me espera todos os dias para serem despachados. Porque não tenho nenhum filho que possa perder horas e horas na internet, pesquisando “ os perfis dos interlocutores na Capital Federal, em busca de subsídios para facilitar as conversas”, quer dizer, para saber quem é quem, quem é que posso escolher como padrinho. Porque não tenho a mínima intimidade com a governadora, para pedir “o apoio do Piratini”. Porque não tenho vocação para capacho, nem coragem para vender a minha independência a “deputados estaduais e federais” e muito menos para mendigar aos pés de “ministros e senadores gaúchos”. Porque não tenho nada a agradecer ao “setor empresarial”, ao “tribunal de justiça do Estado” e muito menos à Igreja Católica.
Porque, para ser ministro do Superior Tribunal de Justiça, eu teria que fazer tudo isso, segundo informa o Túlio Milman no caderno Informe Especial da Zero Hora de ontem, ao relatar “os detalhes surpreendentes sobre a campanha” do hoje já ministro, com nome bíblico, como não poderia deixar de ser, Paulo de Tarso Sanseverino, para “garantir a vaga” naquele Tribunal de Brasília.
Não, senhores, eu não teria as mínimas condições, porque jamais abriria mão da minha independência, jamais esmolaria favores, jamais me submeteria ao rito de beijar mãos e lamber pés.
Se para ser ministro é necessário se submeter a tudo isso, não contem comigo.
Ah, e tem mais: não tenho um pai que foi nomeado juiz federal sem concurso, em razão do seu prestígio junto à cúpula da Igreja Católica. Isso também conta. E muito.
Então, senhores, eu, fora.
Só lamento ter de confirmar o que já disse em outra crônica: é assim que se faz um ministro para o Superior Tribunal de Justiça.
Superior Tribunal de Justiça?Não é coisa pra pobre.
Então, se você nada fez para que o ministro chegasse lá, esqueça o STJ, fique nas sua, pagando seus impostos e esperando até a morte por uma justiça que só existe no papel.
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