João Eichbaum
Não. Não é o que vocês estão pensando. A linguagem,
de que falo, não é aquela mistura de línguas que faz um efeito bárbaro no corpo
todo, eriça os cabelos, a gente não tem mãos que chegue, vai agarrando aqui,
agarrando ali, quanto mais pega, mais quer pegar, até que...Bem, aí, cada um na
sua.
Falo da linguagem como meio de comunicação.
Para servir de comunicação entre os
seres humanos a linguagem está atrelada a várias regras: cada letra tem um som,
a junção de determinados sons formam uma palavra e a junção de várias palavras
pode exprimir uma frase ou um pensamento.
Único instrumento do Direito, a
linguagem está para as ciências jurídicas, assim como o bisturi está para a
medicina. O mau uso de um ou de outro é um virtual condutor de danos, muitos
dos quais, imponderáveis.
Apesar dessa evidência, não só os
cursos de Direito como as próprias áreas de execução desse Direito, que são os
juízos e tribunais, não emprestam à linguagem o valor que ela merece, para que
a justiça não seja devorada pela ignorância. Faculdades de Direito particulares
despejam, na praça, anualmente, milhares de bacharéis que não sabem exprimir um
pensamento com clareza e correção. As Universidades Públicas se preocupam mais
com a formação de doutores em Direito do que com bacharéis que saibam se
expressar corretamente.
Resultado: hoje em dia poucos,
muito poucos, sejam doutores ou bacharéis, sabem expressar um pensamento com a
simplicidade e a clareza que só com a obediência às regras do vernáculo se
consegue: sujeito, verbo e objeto.
Com o uso da informática, tudo
piorou: as mais absurdas construções foram padronizadas, porque a cópia se
tornou fácil. Se é mais fácil copiar, para que gastar o cérebro?
Peças importantes, como a denúncia,
na ação penal, se tornaram verdadeiras charadas, com adjetivos e advérbios
saindo pelo ladrão.
A ninguém ocorre que uma denúncia
mal feita, sem a objetividade imposta pelo art. 41 do Código de Processo Penal,
pode tirar a liberdade de inocentes ou abrir as portas para os culpados. A
ninguém ocorre que um contrato redigido sem clareza rouba noites de sono, causa
transtornos, pode aterrorizar. Examinem-se os contratos bancários, por exemplo.
Não se trata, portanto, de
preciosismo. Sem o uso adequado da linguagem, não é o Direito que se realiza,
mas a vontade do operador que não domina o vernáculo.
Está na hora de demolir essa Torre
de Babel em que se transformaram juízos e tribunais, recondicionando a
axiologia jurídica, para que a linguagem volte a ocupar o seu lugar na escala
de valores.
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