João Eichbaum
“Num primeiro e preconceituoso olhar, o
Mauá pode parecer apenas um imóvel caindo aos pedaços, rodeado por crackeiros
viciados, doentes e malcheirosos, além de prostitutas baratas, travestis,
assaltos e mendigos com dente tudo zuado pra muita gente, símbolos máximos da
degradação humana.”
O texto é de uma matéria do Correio do
Brasil sobre um edifício situado no centro de São Paulo, que já abrigou um
hotel e hoje, abandonado, está ocupado por “sem tetos”.
“Mas – prossegue o texto - é um edifício
muito bem localizado: basta atravessar a rua e você está na estação da Luz, por
onde passam duas linhas da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) e
duas linhas do Metrô, que se integram facilmente com mais duas. O prédio também
está cercado por museus: Pinacoteca do Estado de São Paulo, Estação Pinacoteca,
Memorial da Resistência, Museu da Língua Portuguesa e Museu de Arte Sacra. Fica
exatamente ali a principal sala de concertos do país, a Sala São Paulo, casa da
respeitada Orquestra Sinfônica do Estado (Osesp). Falando em música, a
vizinhança abriga ainda a sede da Escola de Música do Estado de São Paulo
(Emesp), conhecida como Centro Tom Jobim. O Parque da Luz, a praça e a estação
Júlio Prestes da CPTM, uma unidade da Faculdade de Tecnologia de São Paulo
(Fatec) e outra da Escola Técnica do Estado de São Paulo”.
A
matéria noticia que foi deferida uma liminar de reintegração de posse para os
proprietários daquele prédio quase em ruínas e alerta para a situação dos
atuais ocupantes.
“Não pode ser que rato
e barata more melhor que ser humano”, dizem os moradores.
Vocês já ouviram coisa
semelhante de um grande filósofo, de um grande antropólogo, de um grande
sociólogo, desses que cobram uma fortuna para enganar a elite cultural, que
também paga outra fortuna, para os ouvir nas conferências das “Fronteiras do
Pensamento”?
E diz mais
a matéria do CB: “Tanto espaço ocioso e o trabalhador se esmagando no trem e no
busão pra ir de casa pro serviço: duas, três horas por dia, porque mora longe,
na periferia, que é onde o salário alcança pagar aluguel. “É desumano, enquanto
tem vários imóveis parados aqui”, lamenta Ivaneti Araújo, uma senhora de 39
anos que lidera a ocupação.
É assim o ser humano:
só ele teve capacidade de inventar uma convivência cheia de contrastes, mas
nunca foi capaz de aprender, com as formigas e as abelhas, esses bichinhos que
não tiveram o privilégio de ser criados “à imagem e semelhança de Deus”, a
melhor maneira de viver em sociedade.
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