sexta-feira, 31 de agosto de 2012

DE HOMENS, ABELHAS E FORMIGAS




João Eichbaum

“Num primeiro e preconceituoso olhar, o Mauá pode parecer apenas um imóvel caindo aos pedaços, rodeado por crackeiros viciados, doentes e malcheirosos, além de prostitutas baratas, travestis, assaltos e mendigos com dente tudo zuado pra muita gente, símbolos máximos da degradação humana.”
O texto é de uma matéria do Correio do Brasil sobre um edifício situado no centro de São Paulo, que já abrigou um hotel e hoje, abandonado, está ocupado por “sem tetos”.
“Mas – prossegue o texto - é um edifício muito bem localizado: basta atravessar a rua e você está na estação da Luz, por onde passam duas linhas da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) e duas linhas do Metrô, que se integram facilmente com mais duas. O prédio também está cercado por museus: Pinacoteca do Estado de São Paulo, Estação Pinacoteca, Memorial da Resistência, Museu da Língua Portuguesa e Museu de Arte Sacra. Fica exatamente ali a principal sala de concertos do país, a Sala São Paulo, casa da respeitada Orquestra Sinfônica do Estado (Osesp). Falando em música, a vizinhança abriga ainda a sede da Escola de Música do Estado de São Paulo (Emesp), conhecida como Centro Tom Jobim. O Parque da Luz, a praça e a estação Júlio Prestes da CPTM, uma unidade da Faculdade de Tecnologia de São Paulo (Fatec) e outra da Escola Técnica do Estado de São Paulo”.
A matéria noticia que foi deferida uma liminar de reintegração de posse para os proprietários daquele prédio quase em ruínas e alerta para a situação dos atuais ocupantes.
“Não pode ser que rato e barata more melhor que ser humano”, dizem os moradores.
Vocês já ouviram coisa semelhante de um grande filósofo, de um grande antropólogo, de um grande sociólogo, desses que cobram uma fortuna para enganar a elite cultural, que também paga outra fortuna, para os ouvir nas conferências das “Fronteiras do Pensamento”?
E diz mais a matéria do CB: “Tanto espaço ocioso e o trabalhador se esmagando no trem e no busão pra ir de casa pro serviço: duas, três horas por dia, porque mora longe, na periferia, que é onde o salário alcança pagar aluguel. “É desumano, enquanto tem vários imóveis parados aqui”, lamenta Ivaneti Araújo, uma senhora de 39 anos que lidera a ocupação.
É assim o ser humano: só ele teve capacidade de inventar uma convivência cheia de contrastes, mas nunca foi capaz de aprender, com as formigas e as abelhas, esses bichinhos que não tiveram o privilégio de ser criados “à imagem e semelhança de Deus”, a melhor maneira de viver em sociedade.


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