MITOS
João Eichbaum
O homem
inventa mitos e depois se deixa dominar por eles. O primeiro de todos os mitos
foi a divindade. Salvo uns poucos indivíduos, a raça humana nunca escapou desse
mito. E as gerações se foram sucedendo, sempre criando deuses. Alguns deles
desapareceram e voltaram ao lugar donde vieram, a mitologia.
Mas a ideia da divindade permaneceu, continuou
dominante. Foi o maior de todos os mitos, por ser aquele que esconde o segredo
da sobrevivência, a aspiração suprema do ser humano.
Os deuses
nunca deram as caras, apesar dos clamores incessantes de seus criadores. Então,
esses resolveram gerar, paralelamente, mitos de segunda categoria, para tê-los
palpáveis. Os escolhidos, depois do bezerro de ouro, foram alguns espécimes da
própria raça humana, aquela que nasce chorando, amarrada num matambre
gelatinoso, sofre dores, expele excreções indesejáveis, se apaixona, odeia,
inveja, mata, destrói, faz coisas que outros animais não fazem, apodrece, e se
tem por um “ser digno”.
Antes, esse
mito de carne, osso e fezes era criado “boca a boca”. Mais tarde, os meios de
comunicação aprimoraram o sistema. O cinema, o jornal, a televisão foram
entrando sucessivamente na vida das pessoas e lhes enriquecendo a imaginação
para a criação de novos mitos.
Assim,
apareceram os artistas de cinema. Depois vieram os jogadores de futebol e de
outros esportes, o pessoal de rádio e televisão, as modelos de capa de revista.
Hoje temos mitos de todos os jeitos e cores. Do Lula ao Sérgio Moro, tem mito
para todos os gostos. E o povão os idolatra, devotando-lhes os mesmos
sentimentos que votariam ao deus que não mostra a cara.
Deu para
notar isso na Feira do Livro de Porto Alegre. Uns caras que nunca escreveram
bosta nenhuma na vida ou só rabiscaram alguma coisa sobre futebol, estavam lá,
autografando livros. Eram gente da RBS-TV, levados pela Câmara Riograndense do
Livro, para incrementar as vendas. Poucos, entre aqueles que formavam enormes
filas, irão ler os livros. Mas todos sentirão orgasmo, ao se sentirem abraçados
pelos mitos.
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