O NÉRIO SABE DAS COISAS
Preteou o olho da gateada e o animal
murchou as orelhas no meio da corrida, de 4 quadras , de dois trilhos, ( cada
quadra tem 132 m.) e como um raio ganhou a corrida na cancha reta de luz
e "doble" como dizem os correntinos, logo, depois, de nossa
fronteira com a Argentina, que também amam as corridas de cancha reta e um jogo
de osso ou da tava. Aqui no Brasil, por hipocrisia, o jogo do osso ou da tava é
proibido. Talvez um dos´únicos divertimentos do peão de estância, e que depende
da arte e da perícia de jogar o osso com o metal cravado nele e joga tipo
bocha, e conforme o lado que ficar para cima, "suerte"! ganha a
aposta, porém, se ficar para cima "culo" perde a aposta. A cancha
reta ainda reúne muito povo no nosso interior. Total é o que a
peonada faz todo o dia, andar a cavalo, camperear, e no domingo, então, se
divertem correndo carreiras, apostando bom dinheiro e tomando cerveja e comendo
churrasco gordo. Uma festa bonita de se ver. De vez em quando dá umas brigas e
rezingas e até se matam mas como dizem, "foi só por bobagem,
doutor"....
Como Juiz pelo nosso interior, presidi muitos
júris de brigas com morte em cancha de carreiras. O Júri era uma
festa. Enchia de gente no Clube do Comércio, onde fazia os Júris, e
a Brigada, fechava a rua na frente, pois, ficava apinhada de povo, e se vendia
pipoca, cachorro quente e se o júri varava a madrugada, então, sim, ferviam
milho verde no panelão e serviam quentão. Este milho verde cozido na água
fervente, e fica gostoso de comer a espiga bem cozida se chama em "
lunfardo" ( dialeto do povo arrabalero portenho de B. Aires) de
" El Choclo" e que tem um tango clássico famoso, dos mais tocados,
nos inicios do tango, de autoria do grande pilar do tango, Eduardo
Arollas, do início do século passado.
O Júri não julga o fato em si´,
que está em debate, em verdade, o Júri julga o comportamento anterior e a
conduta social, familiar e no vizindário o proceder de réu e da vítima.
O Júri no interior quando bem conduzido e bem
feito e respeitado o réu, os familiares do réu e da vítima ( com lugares
reservados nobres para sentar no salão) etc...e tudo o mais que cerca o
Tribunal do Juri, ainda é o lugar do debate e da sensação da cidade. Os
vizinhos, lá do campo e da colônia onde aconteceu o fato vêm todos assistir.
Aqui em P. Alegre, praticamente, tem Júri
todos os dias, no Forum Central, nos dois Tribunais do Júri, mas passa
despercebido, até o trabalho e o debate de promotores e advogados de defesa no
plenário, nem a imprensa noticia.
Nério "dei Mondadori" Letti.
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