quarta-feira, 11 de novembro de 2015

O ESTELIONATO CRISTÃO

João Eichbaum

 “Jesus, não me deixe morrer, Jesus, Jesus, eu não quero morrer”. Foram as últimas palavras que a avó do menino Thiago Damasceno, de 7 anos, ouviu dele, antes que um aluvião de lama o soterrasse para sempre. Aconteceu em Minas Gerais, onde um delírio da natureza derrubou barragens e transformou em destroços uma vila de pobres.

Pedi, e vos será concedido; buscai, e encontrareis; batei, e a porta será aberta para vós. Pois todo o que pede recebe; o que busca encontra; e a quem bate, se lhe abrirá.

O que está transcrito acima não são promessas de políticos. São afirmações atribuídas a Jesus Cristo, um personagem adotado como deus pelo cristianismo. Delas dão testemunho os chamados evangelistas Mateus, 7: 7-11, e Lucas, 11: 9-13.

O melhor do cristianismo, essa organização cheia de aparatos e efemérides, é seu ensinamento de como viver, de como se relacionar com a vida e com os outros seres humanos: uma tentativa de terminar com a canalhice. Mas, a espalhafatosa propaganda de uma vida eterna não passa de falso tratamento de felicidade, aplicado na doença dos infelizes.

Quem vê jogadores de futebol com as mãos para o alto, pedindo proteção, ou agradecendo pela graça de ter feito um gol, não pode levar a sério as palavras de Jesus Cristo. Principalmente quando um menino, abatido pela extenuante impotência contra a morte, pede em vão para viver.

Se o gol do boleiro vale mais do que os encantos da vida para um menino, alguma coisa está errada: ou Jesus Cristo não existiu, ou não passou de um maníaco. Não resta alternativa: compará-lo a um político seria muita cretinice.


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