CARANDIRU
João Eichbaum
“Quando invadiram o Carandiru às 16 horas
daquela sexta-feira de primavera, os PMs deram um mergulho no inverno. Centenas
de presos estavam se digladiando havia duas horas em uma batalha entre facções
rivais, que começou por causa de uma briga por três maços de cigarros. Ao
perceberem que a polícia atacaria, os presos suspenderam o conflito. Montaram
barricadas, apagaram as luzes, melaram as escadas com óleo de cozinha e
empunharam seus espetos, barras de ferro e facas, dispostos a enfrentar a tropa
de choque”.
Depois de narrar a selvageria e o ânimo
belicoso dos bandidos do Carandiru contra os PMs que cumpriam seu dever, a
revista “Veja” desta semana critica a anulação do julgamento que condenara os
setenta e quatro policiais pela morte de 111 encarcerados. Além disso, atribui
à ação dos PMs o nascimento da organização criminosa conhecida como PCC.
Contra o voto do desembargador Ivan Sartori,
que absolvia os PMs por legítima defesa, seus colegas preferiram anular o
julgamento do júri, em razão do descumprimento da regra penal que determina a
individualização da pena.
A revista mostra uma estúpida contradição.
Narra a disposição de ataque dos presos e critica a tese de legítima defesa.
Queria o quê? Que os policiais largassem as armas e, com jeito de cordeirinhos,
fossem tentar salvar a alma dos detentos? Que entrassem de mãos abanando na
escuridão daquela filial do inferno, dominada por bandidos?
“Veja” repete o que diz toda a imprensa. Desde
o primeiro momento elegeram os PMs como culpados e canonizaram os malfeitores,
difundindo uma falsa ideia de massacre de inocentes. Os jurados, sucumbindo à
pieguice, à pobreza de raciocínio e à pusilanimidade, condenaram a quem estava
cumprindo com o dever.
O Tribunal de Justiça fez o que devia fazer:
justiça, cumprindo a lei e não lendo jornais ou olhando TV. Se não fosse a
pieguice da imprensa e a verdade enganosa dos direitos humanos, que trata
bandidos como seres lustrosos e dignos, casos como o Carandiru teriam sido
repetidos, evitando, isso sim, o crescimento das organizações criminosas. Morto
não tem vez, não cria nada, não causa problemas para a segurança dos cidadãos.
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