sexta-feira, 14 de outubro de 2016

O DIREITO DE TREPAR, SEM PAGAR IMPOSTO

João Eichbaum

Para surpreender proxenetas, traficantes e outros tipos de vagabundos, nada melhor do que dar uma batida na zona às sete da matina. A partir daquela hora, quem trabalha não fica no putedo. Foi com esse pensamento que o delegado de polícia e sua equipe chegaram no cabaré da Maria *Apolônia, de manhã cedinho.

Macho nenhum gosta de ser tirado da cama, depois de viver as delícias da companhia de uma mina. Mas, aquele provecto senhor, além da raiva natural, deve ter sentido um nó nas tripas, quando ouviu batidas na porta do quarto: “abram, é a polícia”!

Pediram-lhe a carteira profissional. Não tinha. Pediram-lhe a identidade. Negou-se. “Então vamos lhe apreender os documentos do carro”, ameaçou o delegado. Aí, sentindo-se dominado pelos fiscais de Satanás, o flagrado entregou o documento: a proprietária do veículo era a Mitra Diocesana.

Sem carteira profissional para provar que trabalhava, sem identidade para mostrar quem era, e na posse de veículo que não era dele, o sujeito teve que se explicar, para não ser preso. Então, falou sem rodeios, sem as parábolas que costumava usar no sermão: “sou padre”.

É assim que funciona. Resguardada no infame privilégio da isenção fiscal, a Igreja empresta seu nome para que os profissionais do púlpito desfrutem o melhor da vida, sem os ônus daqueles que trabalham e são sugados pelo fisco. Ela explora os crentes, cobrando-lhes o dízimo por um lugarzinho no céu, e depois, por meio de figuras cobertas de insígnias episcopais, vem defender os coitadinhos contra os tentáculos da PEC 241, de cujo conteúdo jurídico não tem a mais puta ideia.

Não se nega aos padres o direito de trepar, mas se lhes nega o direito à hipocrisia da castidade e do celibato, como se nega à Igreja o direito de se esconder atrás de suas riquezas, construídas pela isenção de impostos e pelo dízimo, e de lá fazer discursos em favor dos pobres.

*Se quiserem conhecer melhor essa personagem, leiam “Esse Circo Chamado Justiça”, da autoria deste que vos escreve.



Nenhum comentário: