O DIREITO DE TREPAR,
SEM PAGAR IMPOSTO
João Eichbaum
Para surpreender proxenetas, traficantes e
outros tipos de vagabundos, nada melhor do que dar uma batida na zona às sete
da matina. A partir daquela hora, quem trabalha não fica no putedo. Foi com
esse pensamento que o delegado de polícia e sua equipe chegaram no cabaré da
Maria *Apolônia, de manhã cedinho.
Macho nenhum gosta de ser tirado da cama,
depois de viver as delícias da companhia de uma mina. Mas, aquele provecto
senhor, além da raiva natural, deve ter sentido um nó nas tripas, quando ouviu
batidas na porta do quarto: “abram, é a polícia”!
Pediram-lhe a carteira profissional. Não
tinha. Pediram-lhe a identidade. Negou-se. “Então vamos lhe apreender os
documentos do carro”, ameaçou o delegado. Aí, sentindo-se dominado pelos
fiscais de Satanás, o flagrado entregou o documento: a proprietária do veículo
era a Mitra Diocesana.
Sem carteira profissional para provar que
trabalhava, sem identidade para mostrar quem era, e na posse de veículo que não
era dele, o sujeito teve que se explicar, para não ser preso. Então, falou sem
rodeios, sem as parábolas que costumava usar no sermão: “sou padre”.
É assim que funciona. Resguardada no
infame privilégio da isenção fiscal, a Igreja empresta seu nome para que os
profissionais do púlpito desfrutem o melhor da vida, sem os ônus daqueles que
trabalham e são sugados pelo fisco. Ela explora os crentes, cobrando-lhes o
dízimo por um lugarzinho no céu, e depois, por meio de figuras cobertas de
insígnias episcopais, vem defender os coitadinhos contra os tentáculos da PEC
241, de cujo conteúdo jurídico não tem a mais puta ideia.
Não se nega aos padres o direito de
trepar, mas se lhes nega o direito à hipocrisia da castidade e do celibato,
como se nega à Igreja o direito de se esconder atrás de suas riquezas,
construídas pela isenção de impostos e pelo dízimo, e de lá fazer discursos em
favor dos pobres.
*Se quiserem conhecer melhor essa personagem, leiam “Esse Circo
Chamado Justiça”, da autoria deste que vos escreve.
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