sexta-feira, 21 de outubro de 2016

ONDE A DIGNIDADE NÃO TEM LUGAR

João Eichbaum

O jogo do poder funciona assim: ou tu aderes ao sistema, ou o sistema te cospe fora. É desse modo que o valhacouto do poder se fecha, deixa de fora os bem intencionados e trama a espoliação do grupo social, enganado pelo direito de votar. Dos benefícios em causa própria à corrupção é um passo. Assim, é alijada de todo sistema a virtude fundamental, exigida de qualquer governante ou detentor de poder: a dignidade.

 Em qualquer campanha política, tanto em Porto Alegre como nos Estados Unidos, o homem mostra o que ele realmente é: mentiroso, bajulador, hipócrita, idólatra do próprio ego e escravo do ódio. É claro que, num espaço ocupado por tanta animalidade, não sobra lugar para a dignidade.

A morte de Plínio Zalewski, coordenador da campanha de um dos candidatos a prefeito de Porto Alegre, trouxe à baila essa realidade que nunca esteve no foco dos noticiários, dos comentários e das críticas: o quanto a ganância pelo poder requer de animalidade.

As religiões cristãs atribuem a Jesus Cristo uma utopia. Ele pregava o “amor ao próximo” para uma espécie de animal que jamais cultivou o mínimo exigido por sua própria natureza gregária: o respeito a seu semelhante, que é um sinal de dignidade.

No caso de Porto Alegre, foi exatamente a falta de respeito ao próximo, que desembocou numa tragédia. As queixas de perseguição e imolação moral, que ficaram num bilhete empapado em sangue, ao lado do corpo de Zalewki, representam o testamento de quem foi arrastado para o túnel da morte, pela inescrupulosa ganância na busca do poder.

A campanha, antes uma guerra, se transformou em clima de velório depois da morte do coordenador. Se haverá arrependimentos, pedidos de desculpas, batidas de “mea culpa” no peito, não se sabe. Se os houver, não passará de hipocrisia para conquistar eleitores, porque a ambição pelo poder é mais forte do que qualquer sentimento verdadeiro.

A dignidade exigiria, isso sim, que ambos os candidatos, responsáveis pelo clima de odioso antagonismo criado na campanha, abrissem mão de suas candidaturas. Se persistirem na busca pelo poder, eles comprovarão a tese de que na política não há lugar para a dignidade. Mas, se desistirem de concorrer, mostrarão que o autor destas mal traçadas linhas não sabe o que diz.


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