ONDE A DIGNIDADE NÃO TEM LUGAR
João Eichbaum
O jogo do poder funciona assim: ou tu aderes
ao sistema, ou o sistema te cospe fora. É desse modo que o valhacouto do poder
se fecha, deixa de fora os bem intencionados e trama a espoliação do grupo
social, enganado pelo direito de votar. Dos benefícios em causa própria à
corrupção é um passo. Assim, é alijada de todo sistema a virtude fundamental,
exigida de qualquer governante ou detentor de poder: a dignidade.
Em
qualquer campanha política, tanto em Porto Alegre como nos Estados Unidos, o
homem mostra o que ele realmente é: mentiroso, bajulador, hipócrita, idólatra
do próprio ego e escravo do ódio. É claro que, num espaço ocupado por tanta
animalidade, não sobra lugar para a dignidade.
A morte de Plínio Zalewski, coordenador da
campanha de um dos candidatos a prefeito de Porto Alegre, trouxe à baila essa
realidade que nunca esteve no foco dos noticiários, dos comentários e das
críticas: o quanto a ganância pelo poder requer de animalidade.
As religiões cristãs atribuem a Jesus
Cristo uma utopia. Ele pregava o “amor ao próximo” para uma espécie de animal que
jamais cultivou o mínimo exigido por sua própria natureza gregária: o respeito
a seu semelhante, que é um sinal de dignidade.
No caso de Porto Alegre, foi exatamente a
falta de respeito ao próximo, que desembocou numa tragédia. As queixas de
perseguição e imolação moral, que ficaram num bilhete empapado em sangue, ao lado
do corpo de Zalewki, representam o testamento de quem foi arrastado para o
túnel da morte, pela inescrupulosa ganância na busca do poder.
A campanha, antes uma guerra, se
transformou em clima de velório depois da morte do coordenador. Se haverá
arrependimentos, pedidos de desculpas, batidas de “mea culpa” no peito, não se
sabe. Se os houver, não passará de hipocrisia para conquistar eleitores, porque
a ambição pelo poder é mais forte do que qualquer sentimento verdadeiro.
A dignidade exigiria, isso sim, que ambos
os candidatos, responsáveis pelo clima de odioso antagonismo criado na
campanha, abrissem mão de suas candidaturas. Se persistirem na busca pelo
poder, eles comprovarão a tese de que na política não há lugar para a dignidade.
Mas, se desistirem de concorrer, mostrarão que o autor destas mal traçadas
linhas não sabe o que diz.
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