A
BOCA DO HOMEM DA MALA E OS ESFÍNCTERES
João
Eichbaum
Quem tem ânus, tem medo – diz um ditado. Não é bem
ânus, a palavra que o povo usa, mas vá lá... Salvo caprichos ou descuidos da
natureza, toda a espécie humana é dotada daquele acesso para uma cavidade, sem
a qual de nada serviriam as funções do aparelho excretor.
Até alguns dias atrás, era de supor que o Temer
tivesse o dele a salvo de pruridos e protuberâncias. Com aquele ar de doutor,
expedido pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Michel Miguel Elias Temer Lulia, que anda na
boca do povo com o nome de Temer simplesmente, disse alto e bom som que não
temia delações do Loures, seu “homem de confiança”.
Em entrevista para o
jornal Zero Hora, Eliseu Padilha, um corretor que vendia terrenos em Tramandaí
e atualmente é o chefe da casa civil do Michel Temer, confirmava que ao dito
Michel Miguel não fariam a mínima cócega as delações de Loures.
Mas, de certo, ocorreu ao
Rodrigo Janot testar, no presidente, o grau de resistência daquela parte
extremamente sensível, que responde ao poder invencível do medo de toda a
humanidade. E emitiu sinal de perigo, denunciando o Aécio, que tinha descolado
do Joesley Batista uma gorjeta de dois milhões de reais.
E logo em seguida, quando
o povo ainda nem tinha fechado a boca, depois do oh provocado pela denúncia do
Aécio, o dito Janot pediu e conseguiu a prisão de Loures, o “homem da mala”.
Aí, sim, Temer se mexeu,
porque deve ter sentido a ação das fibras do sistema muscular em torno daquele
orifício que a boa educação chama de anal. Ao invés de dar de ombros para a
prisão da “pessoa de sua confiança”, seguindo a vida como se nada tivesse
acontecido, o Michel Miguel Elias mostrou que não é exceção no gênero animal,
nem na espécie humana.
Antes mesmo que a imprensa
noticiasse a prisão de Loures, vazavam informações de que o presidente já
estava aprontando sua tese de defesa, diante de uma possível denúncia contra
ele. Seu argumento chave seria a fragilidade da acusação, baseada numa gravação
sem perícia técnica.
Mas, além disso, Sua
Excelência começou a dar de mão dum velho recurso para tirar o dele da reta: o
oferecimento de cargos, em troca de votos. Quer correr na frente, porque só
pode ser instaurado processo por crime comum contra o Presidente da República mediante
aprovação de dois terços da Câmara dos Deputados.
Resultado: sem que a
pátria se importe com isso, o nabo vai ser enfiado no dos contribuintes, porque
as verbas, que farão a alegria dos convertidos à causa do presidente, saem do
bolso de quem paga imposto.
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