sexta-feira, 2 de junho de 2017

MINISTRO DE QUÊ MESMO?
João Eichbaum

O senhor Torquato Jardim era uma ilustre figura desconhecida. Aquela parte importante da população brasileira, que trabalha e paga imposto, nunca tinha ouvido falar nele. Seu nome de matuto do sertão só mereceu alguma menção em conversas de bar e de taxistas, quando apareceu nas telas e nas manchetes como o novo ministro da Justiça.

E o que mais chamou atenção nele foi aquele jeito de quem não tem vergonha de arrotar em banquete chique e refinado. Soltou o verbo, dando palpites sobre o julgamento de Temer no TSE, qualificando de incensurável a conduta do presidente na conversa com Joesley Batista e questionando as prisões provisórias.

A desenvoltura do então futuro ministro sobre temas que não dizem respeito às funções específicas do Ministério da Justiça levou o senador Álvaro Dias a perguntar: mas ele foi nomeado ministro ou advogado do Temer?

Em entrevista concedida para a jornalista Daniela Lima, da Folha de São Paulo, o descontraído Torquato, perguntado se estava vendo o risco de Temer não concluir o mandato, respondeu: “de jeito nenhum. A questão é econômica e não política”.

Então tá. Para começo de conversa, o presidente fala às escondidas com um sujeito que alardeia poder econômico para dobrar juízes e procuradores da República e usa circunlóquios recheados de quintas intenções. O papo é cheio de subentendidos, sinal de bem aparada intimidade entre os dois. No ato seguinte, dias depois, surge um “homem da confiança do presidente” levando uma mala de dinheiro.

De todo esse enredo nasce a abertura de inquérito e pedidos de impeachment contra o presidente, além do afastamento de um senador. Enquanto isso, partidos aliados do governo o abandonam, e no Legislativo já se iniciam manobras na direção do ponto final do governo Temer.

Nesse quadro, revelando uma visão zarolha da atual realidade do país, já que não pode dizer que foi enganado pelos anjos, o ministro enxerga apenas uma “questão econômica”. Isso leva a pensar que toda sua atenção esteja concentrada no dinheiro da mala: afinal, economia tem muito a ver com dinheiro...

 Pior ainda foi sua equívoca reação à pergunta sobre um dos mais angustiantes problemas vividos pelos brasileiros: a falta de segurança. A resposta do doutor pode ter levado muita gente a questionar a desgraça de viver neste país. “Minha experiência na segurança pública – disse o ministro - foi ter duas tias e eu próprio assaltados em Brasília e no Rio de Janeiro”...

Falou.

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