MINISTRO DE QUÊ MESMO?
João Eichbaum
O senhor Torquato Jardim
era uma ilustre figura desconhecida. Aquela parte importante da população
brasileira, que trabalha e paga imposto, nunca tinha ouvido falar nele. Seu
nome de matuto do sertão só mereceu alguma menção em conversas de bar e de
taxistas, quando apareceu nas telas e nas manchetes como o novo ministro da
Justiça.
E o que mais chamou
atenção nele foi aquele jeito de quem não tem vergonha de arrotar em banquete
chique e refinado. Soltou o verbo, dando palpites sobre o julgamento de Temer
no TSE, qualificando de incensurável a conduta do presidente na conversa com
Joesley Batista e questionando as prisões provisórias.
A desenvoltura do então
futuro ministro sobre temas que não dizem respeito às funções específicas do
Ministério da Justiça levou o senador Álvaro Dias a perguntar: mas ele foi
nomeado ministro ou advogado do Temer?
Em entrevista concedida
para a jornalista Daniela Lima, da Folha de São Paulo, o descontraído Torquato,
perguntado se estava vendo o risco de Temer não concluir o mandato, respondeu:
“de jeito nenhum. A questão é econômica e não política”.
Então tá. Para começo de
conversa, o presidente fala às escondidas com um sujeito que alardeia poder
econômico para dobrar juízes e procuradores da República e usa circunlóquios
recheados de quintas intenções. O papo é cheio de subentendidos, sinal de bem
aparada intimidade entre os dois. No ato seguinte, dias depois, surge um “homem
da confiança do presidente” levando uma mala de dinheiro.
De todo esse enredo nasce
a abertura de inquérito e pedidos de impeachment contra o presidente, além do afastamento
de um senador. Enquanto isso, partidos aliados do governo o abandonam, e no
Legislativo já se iniciam manobras na direção do ponto final do governo Temer.
Nesse quadro, revelando
uma visão zarolha da atual realidade do país, já que não pode dizer que foi
enganado pelos anjos, o ministro enxerga apenas uma “questão econômica”. Isso
leva a pensar que toda sua atenção esteja concentrada no dinheiro da mala:
afinal, economia tem muito a ver com dinheiro...
Pior ainda foi sua equívoca reação à pergunta
sobre um dos mais angustiantes problemas vividos pelos brasileiros: a falta de
segurança. A resposta do doutor pode ter levado muita gente a questionar a
desgraça de viver neste país. “Minha experiência na segurança pública – disse o
ministro - foi ter duas tias e eu próprio assaltados em Brasília e no Rio de
Janeiro”...
Falou.
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