UM POVO ENTREGUE À PRÓPRIA SORTE
João Eichbaum
Volta e meia, chamado a dar explicações sobre
passividade das forças armadas diante desse redemoinho político que está
esfarinhando os valores da pátria, o comandante do exército responde
candidamente, como um virtuoso abade em vida contemplativa: “estamos cumprindo
a Constituição” Mas, enquanto as autoridades militares “cumprem a
Constituição”, na qual o que mais enxergam são as regras da disciplina e da
hierarquia, autoridades civis que, por dever de ofício, deveriam pôr em
execução os princípios constitucionais, fazem o contrário.
Quando ações do Poder Judiciário começaram a
bater na porta do Legislativo, caçando réus lá dentro, a resposta veio em forma
de retaliação: projetos de lei, encurtando os poderes de juízes, Ministério
Público e polícia, e transformando em crimes a prática de alguns atos próprios
desses cargos foram tomando conta da pauta.
O uso da atividade legislativa para engendrar
vinganças rasteiras, assim como a venda de leis e de medidas provisórias, tais
como foram denunciadas nas delações, estão longe de comprovar o pleno exercício
dos poderes dentro dos princípios constitucionais.
Nesse jogo, a pátria fica sem “defesa”, seus bens
são malbaratados. O vírus da corrupção infecta o sistema, provoca a hemorragia
da confiança na classe política e a democracia se engasga com o veneno diluído
da propina.
Para completar, aquele que, segundo o art. 142 da
Constituição Federal, tão conhecido dos militares, é o chefe supremo das Forças
Armadas, está enrascado numa investigação que lhe atribui corrupção, obstrução
da justiça e formação de quadrilha. E. para se safar, ele está oferecendo
cargos em troca de votos.
Quer dizer: Michel Temer, o Presidente da República,
está se utilizando do poder que lhe confere a Constituição, para colher benefício
pessoal, desobedecendo expressamente ao princípio da impessoalidade, que deve
presidir a administração pública, conforme o artigo 37 da Constituição Federal.
Enquanto as autoridades das armas cumprem a
Constituição, as de gravata se servem dela como prostituta, para satisfazer
apetites pessoais. E para milhões de outros filhos, a pátria não passa de um
país escuro e pérfido, sem educação, sem saúde, sem moradia, sem segurança e
sem emprego: a Constituição não os acode.
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