sexta-feira, 8 de setembro de 2017

CONVERSA DE BÊBADO
João Eichbaum
Em conversa que mais tinha de papo de bêbado do que de confabulação revolucionária, o antigo açougueiro Joesley Batista e o diretor executivo da empresa JBS, Eduardo Saud, insinuaram servilismo de ministros e comentaram com pitadas de malícia os encontros de três figurões do Judiciário e do Executivo.

Da conversa se extrai um trecho, que é mais picante pelo que não diz: "porque ele falou da Carmen Lúcia, da Carmen Lúcia que vai lá falar do... com a Dilma e tal, os três juntos, taltaltal. 'Ah, então ele tem mesmo essa intimidade?'. Os cara... falei não é mentira não".

Com a indignação de donzela ofendida, a presidente do Supremo Tribunal Federal, Carmen Lúcia, botou a boca no trombone, cobrando providências da Polícia Federal e da Procuradoria Geral da República “para que sejam apuradas as citações feitas a ministros do STF, a fim de que não fique qualquer sombra de dúvida sobre a dignidade deste Supremo e a honorabilidade de seus integrantes...”

Só para lembrar: Joesley e Eduardo Saud foram premiados com isenção de processo penal, por haverem delatado meio mundo, inclusive o presidente Michel Temer. A delação, homologada pelo honorável STF, os deixou por aí, belos e faceiros, contando bravatas e botando dúvida sobre virgindades institucionais.

Não é necessário muito talento nem grau de doutor para reconhecer, na conversa dos dois, coisa de falastrões sem currículo intelectual, social e moral que lhes empreste credibilidade: não dizem coisa com coisa, da gramática só aproveitam as reticências.

Seus diálogos, embebidos em futilidade, sem um mínimo de conteúdo aproveitável, passam longe de qualquer ideia de conversa séria. Qualquer bêbado, em mesa de bar, jogando conversa fora, diria as mesmas besteiras. 

Mas, por qual razão, as conversas deles ontem, compradas com o benefício da delação premiada, tinham o poder de gerar provas inclusive contra o presidente e hoje machucam, causam estupefação e indignação? Donde extraem elas seu poder explosivo?


A resposta não pode ser outra: eles têm o dinheiro, essa força que compra, cala, amedronta o poder institucional, doma o arbítrio e cria rabo em figurões. Não é qualquer bêbado que consegue essa façanha.

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