CONVERSA DE BÊBADO
João Eichbaum
Em conversa que mais
tinha de papo de bêbado do que de confabulação revolucionária, o antigo
açougueiro Joesley Batista e o diretor executivo da empresa JBS, Eduardo Saud,
insinuaram servilismo de ministros e comentaram com pitadas de malícia os
encontros de três figurões do Judiciário e do Executivo.
Da conversa se extrai um
trecho, que é mais picante pelo que não diz: "porque ele falou da Carmen
Lúcia, da Carmen Lúcia que vai lá falar do... com a Dilma e tal, os três juntos,
taltaltal. 'Ah, então ele tem mesmo essa intimidade?'. Os cara... falei não é
mentira não".
Com a indignação de
donzela ofendida, a presidente do Supremo Tribunal Federal, Carmen Lúcia, botou
a boca no trombone, cobrando providências da Polícia Federal e da Procuradoria
Geral da República “para que sejam apuradas as citações feitas a ministros do
STF, a fim de que não fique qualquer sombra de dúvida sobre a dignidade deste
Supremo e a honorabilidade de seus integrantes...”
Só para lembrar: Joesley
e Eduardo Saud foram premiados com isenção de processo penal, por haverem
delatado meio mundo, inclusive o presidente Michel Temer. A delação, homologada
pelo honorável STF, os deixou por aí, belos e faceiros, contando bravatas e
botando dúvida sobre virgindades institucionais.
Não é necessário muito
talento nem grau de doutor para reconhecer, na conversa dos dois, coisa de
falastrões sem currículo intelectual, social e moral que lhes empreste
credibilidade: não dizem coisa com coisa, da gramática só aproveitam as
reticências.
Seus diálogos, embebidos
em futilidade, sem um mínimo de conteúdo aproveitável, passam longe de qualquer
ideia de conversa séria. Qualquer bêbado, em mesa de bar, jogando conversa
fora, diria as mesmas besteiras.
Mas, por qual razão, as
conversas deles ontem, compradas com o benefício da delação premiada, tinham o
poder de gerar provas inclusive contra o presidente e hoje machucam, causam
estupefação e indignação? Donde extraem elas seu poder explosivo?
A resposta não pode ser
outra: eles têm o dinheiro, essa força que compra, cala, amedronta o poder
institucional, doma o arbítrio e cria rabo em figurões. Não é qualquer bêbado
que consegue essa façanha.
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