JORNALISMO
PARA ANALFABETOS FUNCIONAIS
João
Eichbaum
Durante
o ciclo de palestras “Em Pauta ZH – Debates sobre Jornalismo”, realizado pelo
Grupo RBS, um dos temas focava “os desafios e as oportunidades das
profissionais da imprensa”. O tema, ao que se sabe, teria sido escolhido em
alusão ao Dia Internacional da Mulher. E só havia mulheres no debate – se é que
se pode chamar de debate um blablabá de que só participam pessoas diretamente
interessadas em puxar a brasa para seu assado.
Entre
elas se encontrava a editora do jornal O Globo, Maiá Menezes, que apresentou
pesquisa elaborada pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo, e se
saiu com a seguinte preciosidade: “há uma naturalização de situações de
discriminação no nosso ambiente...”
Sim,
senhores, essa é a linguagem de uma editora de jornal. De certo tem diploma de
jornalista, adquirido numa das tantas faculdades que se multiplicam nesse país,
para enfeitar com o título de jornalista o nome de pessoas que não sabem
escrever. O que quis dizer ela com “naturalização de situações”? Existe uma
ideia clara e bem definida nessa expressão, formada por dois substantivos com
significados completamente distintos, mas conectados por uma preposição?
Pessoas,
sim, podem se “naturalizar”. Mas, “situações”? Ora, ora... Naturalização é o
ato mercê do qual uma pessoa estrangeira adquire a nacionalidade do país onde
reside. Em sentido lato também designa a incorporação de uma palavra ao
vocabulário de país estranho à sua origem. Fora disso, não tem outro sentido a
palavra “naturalização”. Sua etimologia de acepção provém de “natus”,
particípio passado do verbo latino “nascere” (nascer) e não do substantivo
“natura” (natureza).
Da
obscura expressão empregada pela jornalista, só é possível supor o que ela quis
dizer. Talvez tenha sido sua intenção dizer: “a discriminação se tornou
natural, banal, vezeira, se incorporou aos costumes do nosso ambiente”. Mas, se
foi isso que ela quis dizer, não o disse. E se não o disse, foi por pobreza de
vocabulário, por dificuldade de expressão.
Títulos
não engendram habilidade, capacidade profissional, competência no exercício de
qualquer atividade. Há pessoas que, mesmo não tendo facilidade de expressão,
oral ou por escrito, conseguem emprego de jornalistas. Ora, é evidente que o
desnível de aptidão tem seus efeitos. As diferenças começam por aí. E, para
quem não conhece o vernáculo, tais diferenças soam como preconceituosa
discriminação.
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