terça-feira, 10 de abril de 2018


BEZERROS DE OURO
João Eichbaum
No Egito, onde, submetido às infâmias da vida, servia e era tratado como escravo, o povo judeu não tinha ideias próprias, não tinha formação, não tinha como alimentar seu intelecto, porque lhe faltava o essencial: o exercício do raciocínio. Despido de vontade própria, recebia as ordens e as executava, tinha o que comer, o que beber e o que vestir, e assim ia levando a vida.
Aí apareceu Moisés, com a história de uma terra onde corria leite e mel. Evidentemente, quem não consegue raciocinar, assimila qualquer fantasia, adere ao delírio, vai atrás da conversa de qualquer parlapatão. Com a mirífica promessa, Moisés ganhou a confiança daquela pobre gente e a levou deserto afora.
Mas, a rotina, sempre a mesma coisa, o mesmo maná caindo do céu todos os dias, além da proibição de matar, furtar e desejar a mulher do próximo, aborreceu o pessoal. Então resolveram criar um deus próprio, que não se metesse na vida deles e a quem poderiam adorar de corpo presente, ao invés de Javeh, que nunca aparecia: um bezerro de ouro, que valeria, em peso, mil vezes mais que J. Cristo, vendido por míseros 30 dinheiros.
 Quem conhece a história do homem, não pode deixar de comparar o episódio bíblico com aquela aglomeração na frente do Sindicato dos Metalúrgicos em São Bernardo do Campo, na sexta e no sábado últimos. Era sexta-feira, um dia útil, dia em que as pessoas normais se ocupam das atividades das quais advem o suprimento de suas necessidades.
Quem, além dos pendurados em “cargo de comissão”, estaria lá, então? Irresponsáveis que, desdenhando as obrigações de família, perdiam um dia de trabalho só para dar apoio ao Lula? Desempregados? Alguns, certamente. Mas, não muitos. Donde sairiam tantos desempregados, tendo que pagar passagem de ônibus, quando mal lhes dá para viver o auxílio-desemprego?
Os pobres nobres, aqueles enobrecidos e dignificados pelo trabalho, não estavam lá. Estavam sim os jornaleiros do caos, os mercenários da baderna, do quebra-quebra, das invasões, protestos, depredações. Ao relento, aos pés do palanque, estavam eles. Em cima, estavam os expertos políticos e sindicalistas profissionais, que remuneram os mercenários a tanto por arruaça, abrigam-nos sob lonas e lhes dão o tom: vaiar, aplaudir, atacar, quebrar ou retroceder.
Tudo a ver com o povo judeu resgatado do Egito: gente pobre, ignorante, que não atingiu a plena capacidade de raciocínio, porque não frequentou a escola, onde se desatam os primeiros exercícios da razão. Agora está a depender de fantasias: para viver, tem que adorar bezerros de ouro e a eles se submeter. Quem viu a Gleisi Hoffman comunicar àquela gente que Lula precisava se entregar, tem prova real dessa submissão e sabe agora o que é “massa de manobra”: o Lula se entregou.


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