BEZERROS
DE OURO
João
Eichbaum
No
Egito, onde, submetido às infâmias da vida, servia e era tratado como escravo,
o povo judeu não tinha ideias próprias, não tinha formação, não tinha como
alimentar seu intelecto, porque lhe faltava o essencial: o exercício do
raciocínio. Despido de vontade própria, recebia as ordens e as executava, tinha
o que comer, o que beber e o que vestir, e assim ia levando a vida.
Aí
apareceu Moisés, com a história de uma terra onde corria leite e mel. Evidentemente,
quem não consegue raciocinar, assimila qualquer fantasia, adere ao delírio, vai
atrás da conversa de qualquer parlapatão. Com a mirífica promessa, Moisés
ganhou a confiança daquela pobre gente e a levou deserto afora.
Mas,
a rotina, sempre a mesma coisa, o mesmo maná caindo do céu todos os dias, além
da proibição de matar, furtar e desejar a mulher do próximo, aborreceu o
pessoal. Então resolveram criar um deus próprio, que não se metesse na vida
deles e a quem poderiam adorar de corpo presente, ao invés de Javeh, que nunca
aparecia: um bezerro de ouro, que valeria, em peso, mil vezes mais que J.
Cristo, vendido por míseros 30 dinheiros.
Quem conhece a história do homem, não pode
deixar de comparar o episódio bíblico com aquela aglomeração na frente do
Sindicato dos Metalúrgicos em São Bernardo do Campo, na sexta e no sábado
últimos. Era sexta-feira, um dia útil, dia em que as pessoas normais se ocupam
das atividades das quais advem o suprimento de suas necessidades.
Quem,
além dos pendurados em “cargo de comissão”, estaria lá, então? Irresponsáveis
que, desdenhando as obrigações de família, perdiam um dia de trabalho só para
dar apoio ao Lula? Desempregados? Alguns, certamente. Mas, não muitos. Donde
sairiam tantos desempregados, tendo que pagar passagem de ônibus, quando mal
lhes dá para viver o auxílio-desemprego?
Os
pobres nobres, aqueles enobrecidos e dignificados pelo trabalho, não estavam
lá. Estavam sim os jornaleiros do caos, os mercenários da baderna, do
quebra-quebra, das invasões, protestos, depredações. Ao relento, aos pés do
palanque, estavam eles. Em cima, estavam os expertos políticos e sindicalistas profissionais,
que remuneram os mercenários a tanto por arruaça, abrigam-nos sob lonas e lhes
dão o tom: vaiar, aplaudir, atacar, quebrar ou retroceder.
Tudo
a ver com o povo judeu resgatado do Egito: gente pobre, ignorante, que não
atingiu a plena capacidade de raciocínio, porque não frequentou a escola, onde
se desatam os primeiros exercícios da razão. Agora está a depender de
fantasias: para viver, tem que adorar bezerros de ouro e a eles se submeter.
Quem viu a Gleisi Hoffman comunicar àquela gente que Lula precisava se
entregar, tem prova real dessa submissão e sabe agora o que é “massa de
manobra”: o Lula se entregou.
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