ATO BÍBLICO EM
VÉSPERAS DE NATAL
A mitologia cristã
criou o Natal. Os governos criaram o décimo terceiro salário, e as empresas inventaram
as férias coletivas. Juntando tudo isso, dá praia.
Por essas e por outras,
o Natal é quase um sinônimo de praia. E praia significa ajuntamento. Pobres,
remediados, ricos e bilionários, ingênuos, safados, santos e bandidos se juntam
lá. E cada um faz o que sabe e o que gosta.
A madame tinha ido
para a praia como essa gente toda, e lá testemunhou aquele ato bíblico que
Deus, embora não gostando, mandou botar no livro sagrado. Está em Gênesis,
capítulo 38, versículos 9 e 10, para quem quiser ver. Pois a referida madame
não fez nada diferente de Deus: não gostou do ato bíblico, mas postou no
facebook.
Caminhava a mui distinta
senhora pela rua silenciosa, que só permitia ouvir os raivosos bramidos do mar.
A postagem do facebook não diz que roupa ela vestia: se apresentava uma
discreta aparência, ou se estava metida à força num shortinho, desses que
causam arrepios e podem comprometer até a castidade do Santo Padre, o Papa.
Ela não prestou
atenção no veículo que trafegava na direção contrária à que ela tomava. Só se
deu conta, quando ele parou perto dela. Antes de abrir o vidro, o motorista
sorriu um sorriso amável e fez um aceno para que a senhora se aproximasse.
Solícita, supondo que o desconhecido fosse um turista errante, perdido por ali,
atendeu ao aceno, pronta para dar as informações que lhe fossem solicitadas. É
o que ela diz ter pensado: o motorista queria lhe pedir o favor de prestar
alguma informação, certamente.
Mas, quando se
aproximou do veículo ela viu, através do vidro aberto, o ato bíblico. Com a mão
esquerda, o motorista levantou a camisa para mostrar a mão direita empregada em
domar a concupiscência pelo método manual. Digamos assim, para não usar
literalmente a expressão da queixosa no facebook, que calha mais em BBB da Globo do que em crônica
respeitosamente bíblica.
Então, tanto Deus como
a madame postaram para o público um ato do qual não gostaram. E ambas as
postagens merecem reparos. Deus se vingou do pobre do Onan, porque odeia
desperdício de esperma. Sua vingança foi maior do que o pecado.
A madame que, ao invés
de chamar a polícia, preferiu contar seu estupro virtual no facebook, passou a
atrair sobre si apimentada bisbilhotice. E no próximo encontro com as amigas,
certamente terá que debulhar pormenores de que não se ocuparia o delegado. Algumas
vão perguntar sobre o visual do motorista: se era um garotão sarado, desses a
quem mulher nenhuma nega sorriso, ou se era um velho babão, com ralos cabelos
brancos sobre a careca reluzente, queimada pelo sol. Entre sorrisinhos e piscar
de olhos iluminados, outras vão perguntar pelo diâmetro e pela dimensão do
instrumento manejado pelo cidadão. E ninguém vai se lembrar do Onan, que Deus
matou por questões de espermatozoides desperdiçados. Afinal, é Natal, tempo de
amor e praia.