terça-feira, 2 de junho de 2009

O FIM

João Eichbaum

Por mais que se ande de avião, ninguém consegue evitar aquele incômodo friozinho na barriga, quando a aeronave começa a sacudir, se precipita para um nível de altitude inferior, parece que vira de um lado para outro, como se estivesse perdendo o equilíbrio. São as chamadas turbulências. Passada a turbulência, o avião retoma o seu prumo, tudo se torna normal.
Mas, e quando essa turbulência não tem fim? Quando o próprio pessoal de bordo não consegue esconder a preocupação, quando qualquer tentativa de produzir calma soa no vazio, porque o pavor está acima de qualquer sentimento?
Nessa hora em que cada passageiro pressente o fim, como é que uma pessoa consegue dominar o pavor? Como é que alguém, nesse momento de tortura, consegue afugentar o desespero, se desvencilhar da própria covardia?
Como a criatura humana encara o espetáculo horrendo da morte eminente, tendo plena consciência do fim, é um mistério que nunca desvendaremos. Na certa, as pessoas rezam, muitos gritam, implorando o auxílio do seu “deus”, o Deus judaico-cristão, Alá, Buda, seja qual for o “deus” que lhe impuseram como um valor inquestionável desde a infância e no qual depositam toda a esperança de um milagre.
Mas esse “deus” não vem em socorro de ninguém. Ninguém se salva. Pobres e ricos, homens e mulheres, velhos e moços, plebeus e nobres, famosos e anônimos, justos e pecadores, inocentes criancinhas, ninguém se salva.
E a esperança de todos aqueles que clamam pelo socorro de um “deus” também é destroçada pelo último estrondo de uma aeronave que se desintegra no espaço ou é engolida pelo mar.

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