MAIS UMA DO LULA
João Eichbaum
Olhem só o que disse o Lula, se referindo à imprensa, puto da vida com as notícias sobre as semvergonhices do Senado, patrocinadas pela turma do Sarney: “Não consigo entender porque a predileção pela desgraça. Há tanta coisa boa no cotidiano do povo brasileiro, mas o que está estampado é a desgraça”.
Então tá combinado: semvergonhice e corrupção agora são sinônimos de “desgraça”. E mais, não importa que os senadores estejam metendo a mão à vontade no dinheiro do povo brasileiro, porque o dito povo é feliz, “tem tanta coisa boa no cotidiano”.
Eu acho que ele disse “cutidiano”. Senão, vejamos.
Qual é mesmo a “coisa boa” no cotidiano do brasileiro? As estradas entupidas por engarrafamentos? O aperto nos trens de subúrbio no Rio de Janeiro? O caos no trânsito em São Paulo? O frio para quem mora na rua e debaixo das pontes? A falta de hospitais? As filas do SUS? A miséria do salário mínimo? O desemprego ?A bandidagem solta pelas ruas? A insegurança?
Vamos parar por aí. A lista seria imensa, quase infinita.
Mas, para o Lula, o brasileiro tem muita coisa boa no cotidiano e, portanto, esse povo divertido e feliz não tem necessidade de se inteirar sobre as falcatruas praticadas pelos colegas do Lula, os políticos, principalmente se esses forem seus aliados. É um erro da imprensa, mais do que erro, é pura maldade da imprensa noticiar tais coisas para um povo feliz.
A imprensa deve ficar calada, segundo o Lula. O povo não deve ficar sabendo que os políticos são corruptos. O povo não deve ficar sabendo onde vai parar o dinheiro dos impostos que ele recolhe, sobretudo o imposto que é retirado do seu salário.
Dize-me com quem andas, dir-te-ei que manhas hás – já dizia um antigo ditado. E esse ditado se aplica literalmente ao Lula. Antes, quando ele era um operário, um Inácio qualquer, ou um nordestino que não tinha emprego na sua terra, certamente não diria que a imprensa estava exagerando ao noticiar as “desgraças”, ou seja, os desmandos dos políticos. Mas agora que chegou ao poder, agora que se igualou ao Sarney, ao Temer, ao Renan Calheiros, ao Collor e todos os demais safados desta república, agora a imprensa não pode noticiar tais “desgraças”.
A embriaguez do poder e o uso do dinheiro público para benefícios pessoais foram moléstias contra as quais o Lula não se vacinou. A companhia dos políticos corruptos (com perdão da redundância, como diria o Paulo Wainberg) é o que faz as delícias da vida do ex-sindicalista. O resto é lorota, é coisa da imprensa, que ignora a felicidade do povo brasileiro, sempre levando no “cutidiano”.
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