João Eichbaum
Dida Diafat é franco argelino, tem 39 anos, foi onze vezes campeão mundial de artes marciais e atualmente é ator de cinema, trabalhando na França. Diafat prega o esporte como forma de tirar as crianças da miséria.
Na segunda-feira passada ele esteve na Câmara de Vereadores de Porto Alegre, convidado que foi a falar para os edis portoalegrenses sobre suas idéias. Vestindo uma camisa pólo e calça jeans, o visitante contou um pouco de sua vida, salientando que se salvou da pobreza através do esporte. Durante sua explanação –falou em inglês, sendo acompanhado por uma tradutora – chamou à atenção alguns vereadores que “não tavam nem aí” para a palestra dele e conversavam entre si, falavam ao celular, riam. Essas coisas comuns em platéias de ignorantes.
“Nem todos os vereadores, no entanto, – noticia o jornal Zero Hora – engoliram o puxão de orelhas. O decano da Casa, João Dib (PP) aproveitou um aparte para repreender a atitude do estrangeiro, depois da sua saída”.
Segundo o jornal, o vereador, que já foi até prefeito de Porto Alegre, esbravejara solenemente: “ele não estava trajado convenientemente. Eu não merecia ter a atenção chamada por um diabo que veio sei lá de onde. Ele pode ser artista de cinema, mas eu sou vereador de Porto Alegre”.
Decano. Deve ser um velho, carunchado pela esclerose. Já foi até prefeito. E até hoje não aprendeu boas maneiras.
Só quem tem merda na cabeça pode pensar que a aparência tem mais valor do que a essência e que, para ser respeitado, o homem tem que vestir terno e gravata. E só a puerilidade, que é fruto de arrebatamentos senis, pode eleger a condição de “vereador de Porto Alegre” como instrumento de menoscabo contra “um diabo que veio sei lá de onde”.
Se a Câmara é composta por cidadãos desse calibre, com essa falta de educação, com essa deterioração de valores, com essa ignorância sobre princípios primários de dignidade, Porto Alegre não tem nada de que se orgulhar. E aí meus caros, Dida Diafat deve ter pensado: grande merda, ser vereador em Porto Alegre. Cidade da qual saiu, certamente, cagando e andando, para não desperdiçar o pensamento e aproveitando as idéias do vereador.
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