Morreu o Daniel
Paulo Marinho
Estou de luto. Semana passada morreu um ente meu, muito próximo, o Daniel Boone. Bem, não ele propriamente, mas o ator americano Fess Parker, que encarnou o personagem nos anos 60 e 70 num seriado na tevê. A gente falava Daniel Bum. Não importa. Quem tem menos de 35 não vai lembrar-se dele mesmo. No entanto, quem tem mais, haverá de se recordar do grande Daniel Bum. Para os padrões de hoje, política e ecologicamente super corretos, ele seria demonizado. Primeiro, porque viveu boa parte da vida vendendo peles de animais, principalmente gordos castores, os quais caçava habilmente com armadilhas dentuças. Depois, porque não podia ver um índio, que já ia metendo, sem pestanejar, uma bala na testa, com um espingardão de um metro e meio de cano. Nós, os meninos de doze, treze, a-do-rá-va-mos. Aliás, quando ele não matava uma meia dúzia de shawnees ou pelava uma renca de castores, o seriado não tinha graça. O Bum era bruto. Tão bruto que na abertura do programa (ecologistas, respirem fundo) já ia rachando pelo meio um pinheiro em pé, com uma machadada precisa, bem no miolo da árvore.
O Bum real, verdadeiro, foi um herói americano, daqueles típicos: lutou pela independência, ajudou a colonizar o país, além de dizimar com esmero a fauna, a flora e a indiada. Tudo o que faz americano lamber os beiços. Mas, quem disse que nos importávamos? O que queríamos era ter uma machadinha daquelas, o trabuco, um amigo índio (sim, no seriado ele tinha um fiel companheiro, o Mingo, um índio Cherokee educadíssimo, a cara da Baby Consuelo, só que sem botox) e um chapéu de pelos. Pausa para o chapéu de pelos. Vou confessar: uma das minhas maiores frustrações é nunca ter tido – além de um colete de couro malhado que o Tarcísio Meira usava na novela Irmãos coragem – um chapéu igual ao do Bum. O adereço era um mão-pelada praticamente inteiro enfiado na cabeça dele, completamente morto, diga-se, com o focinho para frente, bigodinhos incluídos e o rabo bicolor, balançando nas costas. Coisa linda. Tenho certeza que aquele chapéu foi o sonho de consumo de uma geração inteira, como é hoje um X-box.
Agora eu, já velhusco, fuçando na semiótica, aprendo os sistemas de significação dos fenômenos culturais, o que me faz entender que o seriado, como todos os seriados naquele tempo, aliás, era pura propaganda do americano bastantão e tale cosa. O que quer dizer que nós, os guris vidrados, acotovelados na frente da tevê para ver o Bum e o Mingo não passávamos de um bando de sórdidos ratazanos de laboratório. Felicíssimos, claro, torcendo avidamente para o Daniel, com seu chapéu de mão-pelada. Já nem sei se havia algo educativo naquilo tudo, embora o Mingo se saísse de vez em quando com frases a la Paulo Coelho, como “a paciência é uma virtude”, enquanto escalpelava um desafeto.
Os singelos seriados terminaram. Todavia, desconfio que a exportação televisiva de ideologias continue. Principalmente da idiotia coletiva via dos realities shows, como o Big Brother. E eu duvido, honestamente, que daqui a 30 anos alguém vá se lembrar de algum destes “heróis” modernos, como a eles se refere aquele cascarrento do Pedro Bial. Ignorância por ignorância, prefiro as dubladas. E fico com a ampla e contundente simbologia da machadinha do falecido Bum. O gosto podia ser duvidoso, mas a gente engolia sem remorso.
Acadêmico de Direito PUC-GO
dogmaetabu@hotmail.com
quarta-feira, 31 de março de 2010
terça-feira, 30 de março de 2010
CRÔNICAS DE AMORES PERDIDOS
PEQUENO CONTO DE OUTONO
Paulo Wainberg
Mil-folhas!
Acordou com um desejo alucinado de comer mil-folhas. Sentou na cama, desnorteado pelo sono.
Eram cinco da madrugada e ele precisava comer um mil-folhas.
Ligou para Jurema, atendeu um homem com voz de sono, intrigado quando pediu para falar com a Jurema, naquela hora. Escutou ruídos típicos de quem acorda, tosses leves, suspiros e gemidos... e ela atendeu:
– Quem é?
– Sou eu Jurema, o Alípio, lembra de mim?
– Alípio! Onde você anda? Aconteceu alguma coisa? Ligando a essa hora, são cinco da manhã!
– Jurema, você lembra de uma confeitaria onde a gente ia comer mil-folhas?
– Alípio, tu tá louco?
– Jurema, pelo amor de Deus, você lembra?
– Claro que lembro, Alípio, ficava ali na esquina da rua 5 com a Avenida 3!
– Será que ela ainda existe, Jurema? A gente ia lá de madrugada, lembra? Saía do motel e ia comer mil-folhas recém saído do forno...
– Lembro sim, Alípio, até que você não apareceu mais...
– Eu sei Jurema, nunca te expliquei o que aconteceu, mas foi grave, pode acreditar.
– Não tão grave assim, pois você ainda está vivo, canalha!
Ouviu a voz do homem, querendo saber quem era e o que estava acontecendo. Jurema mandou ele ficar quieto.
– Jurema, vamos lá agora, vamos comer mil-folhas juntos.
– Você está louco, Alípio, nunca mais comerei mil-folhas com você, nunca mais quero falar com você, nunca mais quero ver você!
– Jurema, ainda é possível, nós podemos recuperar o tempo perdido, os sonhos, projetos, nosso futuro.
– Alípio, eu sou casada e tenho três filhos. Adeus.
Ouviu o clique do telefone sendo desligado.Permaneceu com o fone no ouvido, o sinal de ocupado gritando o seu fracasso.
Então era isso, então era assim.
Evocou as manhãs nascendo, o ar doce e semi-frio do outono, o recheio do mil-folhas desmanchando em sua boca, o riso feliz de Jurema e os beijos trocados “para sentir o gosto de doce na boca do outro”.
Provavelmente a confeitaria não existe mais, tanto tempo passou, ele passou do tempo, e Jurema, como estaria sendo mãe de três filhos, o tempo também a castigara? Ela era feliz?
“Bobagem”, pensou, “quem se preocupa com felicidade, nesta altura da vida?”.
Por que mesmo abandonara Jurema? Ele gostava dela, disso tinha certeza. Mas um dia sumiu, não deixou recado e não atendeu aos chamados dela. Por que? Eles se amavam, tinham a vida diante deles, o futuro para comemorar, dez mil manhãs de outono para usufruir.
Jamais entendeu o medo que o consumia, diante de decisões definitivas que a vida lhe cobrava.
Se ele não tivesse sumido, com toda certeza a confeitaria onde comiam mil-folhas ainda existiria, os confeiteiros seriam os mesmos, a aguardá-los nas madrugadas outonais, uma tarefa agradável e obrigatória da profissão.
A confeitaria dos mil-folhas não ousaria fechar, caso ele não houvesse abandonado Jurema.
Nunca mais comeu mil-folhas.
Esquecera.
E agora, passado tanto tempo, desperta na madrugada de outono com o desejo, lembranças de Jurema, vontade de voltar ao passado.
E se, por milagre, a confeitaria ainda existir? Cinco da madrugada, o horário exato em que os primeiros mil-folhas saiam do forno. E se ele fosse até lá? Sim, se ele fosse até aquela esquina, olhasse para o prédio e sentisse o aroma de sempre, na madrugada de outono?
Levantou da cama, mas não se vestiu. Caminhou em direção a cozinha, sabendo que perdera seu tempo, que perdera seu espaço e que sua velocidade, há muito, não era a mesma.
“Uma equação de Einstein”, pensou, amargurado.
Abriu a porta da geladeira: uma garrafa de vodca pela metade e um pedaço de salame italiano.
Hesitou por segundos, cogitando ainda de ir em busca da confeitaria. E sucumbiu a si mesmo, pois não tinha energia nem vontade. Seria uma busca inútil, mesmo que a encontrasse.
Jurema não estaria com ele, não a Jurema que ele amara e abandonara.
Colocou a garrafa de vodca sobre a mesa e segurou, pela ponta, o um quarto de salame italiano restante, inadequadamente gelado.
Sentou, com um suspiro encheu o copo de vodca e, bebericando e mordiscando, consumiu ambos, a vodca e o salame.
Ligeiramente embriagado, voltou à cama vazia, puxou o cobertor e dormiu.
Paulo Wainberg
Mil-folhas!
Acordou com um desejo alucinado de comer mil-folhas. Sentou na cama, desnorteado pelo sono.
Eram cinco da madrugada e ele precisava comer um mil-folhas.
Ligou para Jurema, atendeu um homem com voz de sono, intrigado quando pediu para falar com a Jurema, naquela hora. Escutou ruídos típicos de quem acorda, tosses leves, suspiros e gemidos... e ela atendeu:
– Quem é?
– Sou eu Jurema, o Alípio, lembra de mim?
– Alípio! Onde você anda? Aconteceu alguma coisa? Ligando a essa hora, são cinco da manhã!
– Jurema, você lembra de uma confeitaria onde a gente ia comer mil-folhas?
– Alípio, tu tá louco?
– Jurema, pelo amor de Deus, você lembra?
– Claro que lembro, Alípio, ficava ali na esquina da rua 5 com a Avenida 3!
– Será que ela ainda existe, Jurema? A gente ia lá de madrugada, lembra? Saía do motel e ia comer mil-folhas recém saído do forno...
– Lembro sim, Alípio, até que você não apareceu mais...
– Eu sei Jurema, nunca te expliquei o que aconteceu, mas foi grave, pode acreditar.
– Não tão grave assim, pois você ainda está vivo, canalha!
Ouviu a voz do homem, querendo saber quem era e o que estava acontecendo. Jurema mandou ele ficar quieto.
– Jurema, vamos lá agora, vamos comer mil-folhas juntos.
– Você está louco, Alípio, nunca mais comerei mil-folhas com você, nunca mais quero falar com você, nunca mais quero ver você!
– Jurema, ainda é possível, nós podemos recuperar o tempo perdido, os sonhos, projetos, nosso futuro.
– Alípio, eu sou casada e tenho três filhos. Adeus.
Ouviu o clique do telefone sendo desligado.Permaneceu com o fone no ouvido, o sinal de ocupado gritando o seu fracasso.
Então era isso, então era assim.
Evocou as manhãs nascendo, o ar doce e semi-frio do outono, o recheio do mil-folhas desmanchando em sua boca, o riso feliz de Jurema e os beijos trocados “para sentir o gosto de doce na boca do outro”.
Provavelmente a confeitaria não existe mais, tanto tempo passou, ele passou do tempo, e Jurema, como estaria sendo mãe de três filhos, o tempo também a castigara? Ela era feliz?
“Bobagem”, pensou, “quem se preocupa com felicidade, nesta altura da vida?”.
Por que mesmo abandonara Jurema? Ele gostava dela, disso tinha certeza. Mas um dia sumiu, não deixou recado e não atendeu aos chamados dela. Por que? Eles se amavam, tinham a vida diante deles, o futuro para comemorar, dez mil manhãs de outono para usufruir.
Jamais entendeu o medo que o consumia, diante de decisões definitivas que a vida lhe cobrava.
Se ele não tivesse sumido, com toda certeza a confeitaria onde comiam mil-folhas ainda existiria, os confeiteiros seriam os mesmos, a aguardá-los nas madrugadas outonais, uma tarefa agradável e obrigatória da profissão.
A confeitaria dos mil-folhas não ousaria fechar, caso ele não houvesse abandonado Jurema.
Nunca mais comeu mil-folhas.
Esquecera.
E agora, passado tanto tempo, desperta na madrugada de outono com o desejo, lembranças de Jurema, vontade de voltar ao passado.
E se, por milagre, a confeitaria ainda existir? Cinco da madrugada, o horário exato em que os primeiros mil-folhas saiam do forno. E se ele fosse até lá? Sim, se ele fosse até aquela esquina, olhasse para o prédio e sentisse o aroma de sempre, na madrugada de outono?
Levantou da cama, mas não se vestiu. Caminhou em direção a cozinha, sabendo que perdera seu tempo, que perdera seu espaço e que sua velocidade, há muito, não era a mesma.
“Uma equação de Einstein”, pensou, amargurado.
Abriu a porta da geladeira: uma garrafa de vodca pela metade e um pedaço de salame italiano.
Hesitou por segundos, cogitando ainda de ir em busca da confeitaria. E sucumbiu a si mesmo, pois não tinha energia nem vontade. Seria uma busca inútil, mesmo que a encontrasse.
Jurema não estaria com ele, não a Jurema que ele amara e abandonara.
Colocou a garrafa de vodca sobre a mesa e segurou, pela ponta, o um quarto de salame italiano restante, inadequadamente gelado.
Sentou, com um suspiro encheu o copo de vodca e, bebericando e mordiscando, consumiu ambos, a vodca e o salame.
Ligeiramente embriagado, voltou à cama vazia, puxou o cobertor e dormiu.
segunda-feira, 29 de março de 2010
VARIAÇÕES EM TORNO DO TEMA FIADASPUTAS
UM CASO DE CALAMIDADE PÚBLICA
João Eichbaum
A notícia está na página política, mas bem que poderia estar numa coluna de humor.
A cidade de São Leopoldo, no Rio Grande do Sul, que se gaba de ter uma das maiores universidades do país, a UNISINOS, tem como prefeito um desses políticos que gostam de posar de arautos da decência. Currículo dele: Ari Vanazzi, político de profissão. Ele pertence ao PT, partido que, como qualquer outro da linha populista, quando está poder, se vale do maior multiplicador de votos que se conhece, chamado empreguismo. É uma mina, pois atrás de cada companheiro empregado existe, no mínimo, uma família: mulher ou marido, pais, irmãos, avós, tios, primos, etc.
Preparando a eleição de sua sucessora em São Leopoldo, o prefeito quis continuar usando o mesmo método, que o reelegeu, mas dessa vez se deu mal: a lei municipal que ele bolou, criando centenas de “cargos em comissão” foi denotada no Tribunal de Justiça, porque tava bichada: inconstitucional.
Agora, a Prefeitura terá que demitir todos os apadrinhados acoitados na folha de pagamento do município. São quase quatrocentos.
E o prefeito tá num rebolado nada gracioso. Quer declarar “estado de emergência”, anunciando, para quem quiser acreditar, que os serviços públicos vão entrar em colapso. E quer também “dialogar” com o Ministério Público e o Judiciário para saber, entre outras coisas, como deve ser feita uma lei de acordo com a Constituição.
Bom, a lista dos quase quatrocentos “cargos em comissão”, como bem dizem os números, é enorme. Mas vale apenas mencionar alguns dos “cargos” que exigem a decretação de “estado de emergência”: “diretores de diretoria” (sim, é como vocês estão lendo, não me enganei, não), assessores de tudo, inclusive de direito, (todo mundo sabe o que faz um “aspone”) diretores de “núcleo”, “chefes de equipe”, e por aí vai: só cacique. De índio o prefeitura não precisa. Ah, antes que me esqueça, dois cargos de “diretores” no gabinete da “primeira dama” (que deveria, na realidade, ser chamada de “quarta” dama, pelo número de mulheres que o extrovertido prefeito já emplacou no seu currículo).
A resposta que o Ministério Público dará ao prefeito, certamente, será essa: crie os cargos técnicos necessários para o funcionamento da máquina pública, a serem preenchidos por pessoas capazes, especialistas, com formação apropriada, através de concurso público; crie cargos de “assessores de direito”, que os mais capazes, escolhidos através de concurso, lhe ensinarão como se faz uma lei constitucional. Enquanto isso, os “companheiros bacharéis comissionados” deverão freqüentar um curso de alfabetização, para aprenderem a ler o art. 37, inc. V, da Constituição Federal.
De certa forma, concordo: mais do que “estado de emergência”, é de calamidade pública o caso do município de São Leopoldo, inundado por incompetência, semvergonhice, desperdício de dinheiro público e muita, muita, muita ignorância. O que, convenhamos, não combina com a cidade que se gaba de ter uma das “melhores universidades” do país.
João Eichbaum
A notícia está na página política, mas bem que poderia estar numa coluna de humor.
A cidade de São Leopoldo, no Rio Grande do Sul, que se gaba de ter uma das maiores universidades do país, a UNISINOS, tem como prefeito um desses políticos que gostam de posar de arautos da decência. Currículo dele: Ari Vanazzi, político de profissão. Ele pertence ao PT, partido que, como qualquer outro da linha populista, quando está poder, se vale do maior multiplicador de votos que se conhece, chamado empreguismo. É uma mina, pois atrás de cada companheiro empregado existe, no mínimo, uma família: mulher ou marido, pais, irmãos, avós, tios, primos, etc.
Preparando a eleição de sua sucessora em São Leopoldo, o prefeito quis continuar usando o mesmo método, que o reelegeu, mas dessa vez se deu mal: a lei municipal que ele bolou, criando centenas de “cargos em comissão” foi denotada no Tribunal de Justiça, porque tava bichada: inconstitucional.
Agora, a Prefeitura terá que demitir todos os apadrinhados acoitados na folha de pagamento do município. São quase quatrocentos.
E o prefeito tá num rebolado nada gracioso. Quer declarar “estado de emergência”, anunciando, para quem quiser acreditar, que os serviços públicos vão entrar em colapso. E quer também “dialogar” com o Ministério Público e o Judiciário para saber, entre outras coisas, como deve ser feita uma lei de acordo com a Constituição.
Bom, a lista dos quase quatrocentos “cargos em comissão”, como bem dizem os números, é enorme. Mas vale apenas mencionar alguns dos “cargos” que exigem a decretação de “estado de emergência”: “diretores de diretoria” (sim, é como vocês estão lendo, não me enganei, não), assessores de tudo, inclusive de direito, (todo mundo sabe o que faz um “aspone”) diretores de “núcleo”, “chefes de equipe”, e por aí vai: só cacique. De índio o prefeitura não precisa. Ah, antes que me esqueça, dois cargos de “diretores” no gabinete da “primeira dama” (que deveria, na realidade, ser chamada de “quarta” dama, pelo número de mulheres que o extrovertido prefeito já emplacou no seu currículo).
A resposta que o Ministério Público dará ao prefeito, certamente, será essa: crie os cargos técnicos necessários para o funcionamento da máquina pública, a serem preenchidos por pessoas capazes, especialistas, com formação apropriada, através de concurso público; crie cargos de “assessores de direito”, que os mais capazes, escolhidos através de concurso, lhe ensinarão como se faz uma lei constitucional. Enquanto isso, os “companheiros bacharéis comissionados” deverão freqüentar um curso de alfabetização, para aprenderem a ler o art. 37, inc. V, da Constituição Federal.
De certa forma, concordo: mais do que “estado de emergência”, é de calamidade pública o caso do município de São Leopoldo, inundado por incompetência, semvergonhice, desperdício de dinheiro público e muita, muita, muita ignorância. O que, convenhamos, não combina com a cidade que se gaba de ter uma das “melhores universidades” do país.
sexta-feira, 26 de março de 2010
COM A PALAVRA, JANER CRISTALDO
CADÊ A PAPISA JOANA?
A cortesã mais famosa do Vaticano foi certamente Lucrécia Bórgia, amante do pai, o papa Alexandre VI, e também de seu irmão, o cardeal César Bórgia.
Rodrigo de Bórgia, como se chamava o pontífice eleito em 1492, graças à compra dos votos dos cardeais, foi quem patrocinou o famoso baile das castanhas, em que sessenta prostitutas nuas dançaram para os cardeais no Vaticano. Foram jogadas castanhas ao chão, e as bailarinas tinham de apanhá-las. Mas não com as mãos, diga-se de passagem. Foram concedidos prêmios aos homens que copulassem com mais mulheres naquela noite memorável.
Se o leitor quiser uma abordagem ficcional sobre Alexandre VI, pode procurar nas locadoras o belíssimo filme Contos Imorais, de 1974, do cineasta polonês Walerian Borowczyk. Enquanto Savonarola queima na fogueira, por ter denunciado os hábitos libertinos do Vaticano, uma Lucrécia nua (interpretada pela radiante Florence Bellamy), espichada sobre um corrimão do Vaticano, atende ao mesmo tempo o papa e o cardeal, estes devidamente paramentados com as vestes eclesiásticas. Tudo muito sacro e solene.
Isso sem falar no papado de Sérgio III, que inaugurou o período chamado pelos historiadores de pornocracia, como também de "reinado das prostitutas".
Mas o melhor da crônica é a história da papisa Joana. Segundo cronistas, no século IX uma mulher teria assumido a curul pontifícia, como sucessora do papa Leão IV, com o nome de João VIII. Originária da Alemanha, vestiu-se de homem e assumiu o nome de João da Inglaterra. Ficou na história como a papisa Joana. Em uma procissão da basílica de São Pedro até Latrão, acometido das dores do parto, o papa caiu do cavalo e fraturou o crânio, tendo morte imediata.A partir daí, as eleições papais exigiram a verificação do sexo do candidato. Antes da sagração, o eleito era instalado numa cadeira furada, o estercorário. O camerlengo passava então a mão pelo buraco, para examinar os documentos. Em caso positivo, proferia as palavras rituais: habemus papam.
Para a Igreja, tanto a papisa quanto o estercorário não passam de lenda, logo esta Igreja que considera como fato a virgindade de Maria e sua assunção aos céus. Si non è vero è ben trovato. Lenda ou fato, vale a imagem.
Falar nisso, está faltando um filme nas telas do Brasil. Ano passado, o cineasta alemão Sönke Wortmann filmou o romance histórico A Papisa Joana, de Donna Woolfolk Cross, publicado em 1996. O filme foi concluído em julho passado e entrou nas telas alemãs em outubro. Cá neste país, sempre apressado em lançar abacaxis politicamente corretos tipo Avatar, sequer se ouve falar do filme de Wortmann.
Para os leitores que quiserem mais informações, avanço alguns títulos. Devo ter mais em minha biblioteca, mas estes já dão uma boa idéia do assunto:Histoire de l'inquisition au Moyen Âge, de Henry Charles Lea, Paris, Robert Lafont, 2004 - um clássico, o precursor de toda a literatura sobre a Inquisição. 1458 páginas. Recomendo vivamente.Enciclopedia de los herejes y las herejías, de Leonard George, Barcelona, Ediciones Robinbook, 1998.La véritable histoire des papes, Jean Mathieux-Rosay, Paris, Jacques Grancher, 1991.La chair, le diable et le confesseur, de Guy Bechtel, Paris, Librairie Plon, 1994.The Female Pope, por Rosemary & Darroll Pardoe, Wellingorough, Crucible, 1988. Tradução ao espanhol: El Papa mujer - El misterio de la Papisa Juana, Barcelona, Ediciones Martinez Roca, 1990.La Papisa Juana, de Emmanuel Royidis, Buenos Aires, Editorial Sudamericana, 1973.
A cortesã mais famosa do Vaticano foi certamente Lucrécia Bórgia, amante do pai, o papa Alexandre VI, e também de seu irmão, o cardeal César Bórgia.
Rodrigo de Bórgia, como se chamava o pontífice eleito em 1492, graças à compra dos votos dos cardeais, foi quem patrocinou o famoso baile das castanhas, em que sessenta prostitutas nuas dançaram para os cardeais no Vaticano. Foram jogadas castanhas ao chão, e as bailarinas tinham de apanhá-las. Mas não com as mãos, diga-se de passagem. Foram concedidos prêmios aos homens que copulassem com mais mulheres naquela noite memorável.
Se o leitor quiser uma abordagem ficcional sobre Alexandre VI, pode procurar nas locadoras o belíssimo filme Contos Imorais, de 1974, do cineasta polonês Walerian Borowczyk. Enquanto Savonarola queima na fogueira, por ter denunciado os hábitos libertinos do Vaticano, uma Lucrécia nua (interpretada pela radiante Florence Bellamy), espichada sobre um corrimão do Vaticano, atende ao mesmo tempo o papa e o cardeal, estes devidamente paramentados com as vestes eclesiásticas. Tudo muito sacro e solene.
Isso sem falar no papado de Sérgio III, que inaugurou o período chamado pelos historiadores de pornocracia, como também de "reinado das prostitutas".
Mas o melhor da crônica é a história da papisa Joana. Segundo cronistas, no século IX uma mulher teria assumido a curul pontifícia, como sucessora do papa Leão IV, com o nome de João VIII. Originária da Alemanha, vestiu-se de homem e assumiu o nome de João da Inglaterra. Ficou na história como a papisa Joana. Em uma procissão da basílica de São Pedro até Latrão, acometido das dores do parto, o papa caiu do cavalo e fraturou o crânio, tendo morte imediata.A partir daí, as eleições papais exigiram a verificação do sexo do candidato. Antes da sagração, o eleito era instalado numa cadeira furada, o estercorário. O camerlengo passava então a mão pelo buraco, para examinar os documentos. Em caso positivo, proferia as palavras rituais: habemus papam.
Para a Igreja, tanto a papisa quanto o estercorário não passam de lenda, logo esta Igreja que considera como fato a virgindade de Maria e sua assunção aos céus. Si non è vero è ben trovato. Lenda ou fato, vale a imagem.
Falar nisso, está faltando um filme nas telas do Brasil. Ano passado, o cineasta alemão Sönke Wortmann filmou o romance histórico A Papisa Joana, de Donna Woolfolk Cross, publicado em 1996. O filme foi concluído em julho passado e entrou nas telas alemãs em outubro. Cá neste país, sempre apressado em lançar abacaxis politicamente corretos tipo Avatar, sequer se ouve falar do filme de Wortmann.
Para os leitores que quiserem mais informações, avanço alguns títulos. Devo ter mais em minha biblioteca, mas estes já dão uma boa idéia do assunto:Histoire de l'inquisition au Moyen Âge, de Henry Charles Lea, Paris, Robert Lafont, 2004 - um clássico, o precursor de toda a literatura sobre a Inquisição. 1458 páginas. Recomendo vivamente.Enciclopedia de los herejes y las herejías, de Leonard George, Barcelona, Ediciones Robinbook, 1998.La véritable histoire des papes, Jean Mathieux-Rosay, Paris, Jacques Grancher, 1991.La chair, le diable et le confesseur, de Guy Bechtel, Paris, Librairie Plon, 1994.The Female Pope, por Rosemary & Darroll Pardoe, Wellingorough, Crucible, 1988. Tradução ao espanhol: El Papa mujer - El misterio de la Papisa Juana, Barcelona, Ediciones Martinez Roca, 1990.La Papisa Juana, de Emmanuel Royidis, Buenos Aires, Editorial Sudamericana, 1973.
quinta-feira, 25 de março de 2010
APRESENTAÇÃO DESNECESSÁRIA
Este blog, a partir de hoje, está mais enriquecido. O estilo escorreito, a palavra fácil e o texto cativante (o leitor fica preso nele até a última linha) do Paulo Marinho me deslumbram há mais de uma década. Suas crônicas nos jornais do Grupo Sinos me imantaram de tal modo que não descansei, enquanto não o conheci pessoalmente. Ele é o tipo de escritor que desperta esse sentimento na gente: tenho que conhecer esse cara, pra ver se ele tem a cara das crônicas que escreve. Por isso, a desnecessidade de apresentação: as crônicas nos apresentam seu autor.
Quero repartir com meus amigos a alegria de lê-lo. De lá de Goiânia, onde se arranchou, Paulo Marinho vai nos divertir, nos fazer pensar e, quem sabe, até chorar.
Exéquias
Paulo Marinho
A carreata com o cadáver do doutor Cazuza descia a ladeira solenemente. O morto finara-se na tarde anterior, de uma insólita congestão de arroz de carreteiro. A viúva, madame Eurápia, cuidou para que o último e agonizante pedido dele – de que os amigos, à guisa de despedida, circundassem com ele a praça da cidade antes do enterro – fosse cumprido à risca.
Aconteceu que na ladeira oposta, em igual formação, desciam os componentes de outro cortejo, festejando os recém casados Herculano e Eufrasina. Estes formavam séquito semelhante àquele que acompanhava o falecido Cazuza, a diferenciar-se somente pela barulheira que protagonizavam, com fogos e buzinações. Também vinham à indiana, embora mais desordenados.
Então, aconteceu: ambas as fileiras chegaram simultaneamente no cruzamento ali existente. Não se sabe se quem avançou a preferencial foi o carro com o esquife, por desatenção do funerário Argemiro, ou se foi o do noivo, Herculano, que estava mais preocupado em esfregar as coxas de Eufrasina, do que com o trajeto. O que se viu foram os automóveis embarafustando-se entre si, como nervosas formigas antes de um aguaceiro.
Depois de rodarem lado a lado, ultrapassando-se, cortando-se as frentes, a maioria rompeu para destinos opostos. Enquanto alguns dos convidados dos nubentes acostavam na capela mortuária, os vários tristonhos coevos do morto foram parar na sede social do Clube Comercial, preparado para a festa de casamento. Inclusive o defunto.
No Clube, os do velório, embora surpreendidos com o salão enfeitado, com a alegria reinante, principalmente com a bandinha tocando polcas, acabaram aceitando o chope, e colocaram-se ao lado do caixão (estrategicamente posicionado onde deveria estar o bifê) com sua melhor cara de enterro. Os do casório que lograram chegar ao lugar certo, ao verem a urna funerária, pensando se tratar de uma brincadeira, davam vivas à ocasião, rindo aos borbotões.
Na capela, os convidados para o casório, sem se dar conta da confusão, apearam dos carros e se perfilaram num corredor polonês, misturados entre parentes do morto, a espera dos noivos. Os do velório não entendiam a alegria destes, que esfregavam as mãos e se cutucavam a todo o instante, portando inexplicáveis e largos sorrisos. Entenderam muito menos quando a viúva, ao surgir choramingando, quase foi soterrada por uma chuva de grãos de arroz, o que para a coitada foi como falar de corda em casa de enforcado. Acometida de um ataque de fúria, a pobre investiu contra a turba, derrubando o bolo de casamento, que acabara de ser acomodado no estrado onde deveria estar o falecido. Ato contínuo, madrinhas da noiva se atracaram nas carpideiras.
No clube, primos do morto saíam aos socos com garçons. Abandonado, o doutor Cazuza jazia sem os sapatos, os quais rodavam para lá e para cá em meio ao caos, angariando fundos para a lua de mel dos pombinhos, que por sua vez, alheios a tudo, se amavam loucamente numa cova aberta no cemitério. Um horror, um horror.
Quero repartir com meus amigos a alegria de lê-lo. De lá de Goiânia, onde se arranchou, Paulo Marinho vai nos divertir, nos fazer pensar e, quem sabe, até chorar.
Exéquias
Paulo Marinho
A carreata com o cadáver do doutor Cazuza descia a ladeira solenemente. O morto finara-se na tarde anterior, de uma insólita congestão de arroz de carreteiro. A viúva, madame Eurápia, cuidou para que o último e agonizante pedido dele – de que os amigos, à guisa de despedida, circundassem com ele a praça da cidade antes do enterro – fosse cumprido à risca.
Aconteceu que na ladeira oposta, em igual formação, desciam os componentes de outro cortejo, festejando os recém casados Herculano e Eufrasina. Estes formavam séquito semelhante àquele que acompanhava o falecido Cazuza, a diferenciar-se somente pela barulheira que protagonizavam, com fogos e buzinações. Também vinham à indiana, embora mais desordenados.
Então, aconteceu: ambas as fileiras chegaram simultaneamente no cruzamento ali existente. Não se sabe se quem avançou a preferencial foi o carro com o esquife, por desatenção do funerário Argemiro, ou se foi o do noivo, Herculano, que estava mais preocupado em esfregar as coxas de Eufrasina, do que com o trajeto. O que se viu foram os automóveis embarafustando-se entre si, como nervosas formigas antes de um aguaceiro.
Depois de rodarem lado a lado, ultrapassando-se, cortando-se as frentes, a maioria rompeu para destinos opostos. Enquanto alguns dos convidados dos nubentes acostavam na capela mortuária, os vários tristonhos coevos do morto foram parar na sede social do Clube Comercial, preparado para a festa de casamento. Inclusive o defunto.
No Clube, os do velório, embora surpreendidos com o salão enfeitado, com a alegria reinante, principalmente com a bandinha tocando polcas, acabaram aceitando o chope, e colocaram-se ao lado do caixão (estrategicamente posicionado onde deveria estar o bifê) com sua melhor cara de enterro. Os do casório que lograram chegar ao lugar certo, ao verem a urna funerária, pensando se tratar de uma brincadeira, davam vivas à ocasião, rindo aos borbotões.
Na capela, os convidados para o casório, sem se dar conta da confusão, apearam dos carros e se perfilaram num corredor polonês, misturados entre parentes do morto, a espera dos noivos. Os do velório não entendiam a alegria destes, que esfregavam as mãos e se cutucavam a todo o instante, portando inexplicáveis e largos sorrisos. Entenderam muito menos quando a viúva, ao surgir choramingando, quase foi soterrada por uma chuva de grãos de arroz, o que para a coitada foi como falar de corda em casa de enforcado. Acometida de um ataque de fúria, a pobre investiu contra a turba, derrubando o bolo de casamento, que acabara de ser acomodado no estrado onde deveria estar o falecido. Ato contínuo, madrinhas da noiva se atracaram nas carpideiras.
No clube, primos do morto saíam aos socos com garçons. Abandonado, o doutor Cazuza jazia sem os sapatos, os quais rodavam para lá e para cá em meio ao caos, angariando fundos para a lua de mel dos pombinhos, que por sua vez, alheios a tudo, se amavam loucamente numa cova aberta no cemitério. Um horror, um horror.
quarta-feira, 24 de março de 2010
NÓS, PRIMATAS
FREIRAS EM CASA DE MASSAGEM
João Eichbaum
Ela não tinha segundo grau completo, nem profissão. Em compensação era dona de um belo corpo: esguio e bem traçado. No rosto claro, tendo como pano de fundo os cabelos negros, o que chamavam a atenção eram os olhos puxados.
Tocava-lhe administrar o parco orçamento da família, cuja receita era composta pelos proventos mínimos de aposentadoria do pai e das eventuais faxinas domésticas a cargo da mãe. Resultado: “déficit” mensal galopante.
Resolveu partir para a batalha então, botou casa de massagem.
Ah, antes que me esqueça, era noiva e o noivo, por motivos que nem é preciso explicar, não podia saber do tino dela para esse tipo de negócio. Para todos os efeitos iria trabalhar numa estética feminina. A fim de evitar flagrante do noivo, embora nem o endereço ele soubesse, foi com o nome de estética que montou o comércio das atividades ardentes sem roupa. E mais: fez convênio com salão de beleza, que não operava com massagens, para que lhe enviassem as damas necessitadas por estresse, dores na coluna, ou simples necessidade de relaxamento. Negócio fechado, à base de 50% de comissão.
Tudo com hora marcada, para não haver encontro de damas interessadas em massagem e machos interessados em sexo, na sala de espera. As “gurias” por ela contratadas tinham muitas horas de voo e sabiam encenar, ao receber as pessoas: ficavam com os machos e mandavam para ela as moças e senhoras.
Como hoje em dia não há mulheres inocentes em matéria de sexo, porque as novelas ensinam tudo, os gemidos ardentes na sala do lado, ligeiramente abafados pela música de fundo, não provocavam a mínima reação das clientes.
Até que um dia o salão de beleza encaminhou para massagem um grupo de freiras de uma escola.
Aí, sim, a coisa enroscou. As gurias não podiam gemer, nem sinalizar, com decibéis ardentes, os orgasmos profissionais. Quando os homens abriam a boca para reclamar, elas estavam orientadas a lhes colocar carinhosamente a mão ou outra coisa na boca, para que eles calassem, enquanto se divertiam, tal e qual se faz com uma criança que ameaça chorar.
Enquanto isso, na sala ao lado, separada por “divisórias”, as freirinhas, nuas, mostrando os seios durinhos, os corpos branquinhos, mas sarados, nenhuma balofa com jeito de madre superiora, se entregavam aos toques mágicos das mãos dela, suspiravam com ingênuo prazer, algumas até cochilavam, quem sabe sonhando com aquilo que o Espírito Santo fez na Virgem Maria.
Aos poucos, porém, os machos foram sabendo da massagem paralela e, à medida que o sabiam, se afastavam. Não só o sexo sem conteúdo, isto é, sem gemidos, como a possibilidade de baterem de cara com alguma amiga de sua mulher ou com a freira diretora da escola, os foram afastando da casa. Eles iam lá à procura de coisas diferentes, mas não tão diferentes assim, como o sexo abafado, sem os rumores pertinentes, que exige esforço quase sobrenatural.
Desgostosas com a grana magra que começou a pintar, as “gurias”, aos poucos, foram abandonando o barco. No fim, ficou só ela para atender freiras e machos, e enfrentou o maior dilema: não podia dispensar as freiras para atender só os machos, mas não podia também dispensar os machos para atender só as freiras. Quando se deu por conta, estava também estressada, pisando em ovos, por medo que a farsa fosse descoberta.
Fechou a casa e foi vender “empréstimos” para aposentados. É possível que você, algum dia, seja abordado por ela. Então, tenha compaixão e faça um empréstimo, que será descontado dos seus proventos de aposentadoria.
João Eichbaum
Ela não tinha segundo grau completo, nem profissão. Em compensação era dona de um belo corpo: esguio e bem traçado. No rosto claro, tendo como pano de fundo os cabelos negros, o que chamavam a atenção eram os olhos puxados.
Tocava-lhe administrar o parco orçamento da família, cuja receita era composta pelos proventos mínimos de aposentadoria do pai e das eventuais faxinas domésticas a cargo da mãe. Resultado: “déficit” mensal galopante.
Resolveu partir para a batalha então, botou casa de massagem.
Ah, antes que me esqueça, era noiva e o noivo, por motivos que nem é preciso explicar, não podia saber do tino dela para esse tipo de negócio. Para todos os efeitos iria trabalhar numa estética feminina. A fim de evitar flagrante do noivo, embora nem o endereço ele soubesse, foi com o nome de estética que montou o comércio das atividades ardentes sem roupa. E mais: fez convênio com salão de beleza, que não operava com massagens, para que lhe enviassem as damas necessitadas por estresse, dores na coluna, ou simples necessidade de relaxamento. Negócio fechado, à base de 50% de comissão.
Tudo com hora marcada, para não haver encontro de damas interessadas em massagem e machos interessados em sexo, na sala de espera. As “gurias” por ela contratadas tinham muitas horas de voo e sabiam encenar, ao receber as pessoas: ficavam com os machos e mandavam para ela as moças e senhoras.
Como hoje em dia não há mulheres inocentes em matéria de sexo, porque as novelas ensinam tudo, os gemidos ardentes na sala do lado, ligeiramente abafados pela música de fundo, não provocavam a mínima reação das clientes.
Até que um dia o salão de beleza encaminhou para massagem um grupo de freiras de uma escola.
Aí, sim, a coisa enroscou. As gurias não podiam gemer, nem sinalizar, com decibéis ardentes, os orgasmos profissionais. Quando os homens abriam a boca para reclamar, elas estavam orientadas a lhes colocar carinhosamente a mão ou outra coisa na boca, para que eles calassem, enquanto se divertiam, tal e qual se faz com uma criança que ameaça chorar.
Enquanto isso, na sala ao lado, separada por “divisórias”, as freirinhas, nuas, mostrando os seios durinhos, os corpos branquinhos, mas sarados, nenhuma balofa com jeito de madre superiora, se entregavam aos toques mágicos das mãos dela, suspiravam com ingênuo prazer, algumas até cochilavam, quem sabe sonhando com aquilo que o Espírito Santo fez na Virgem Maria.
Aos poucos, porém, os machos foram sabendo da massagem paralela e, à medida que o sabiam, se afastavam. Não só o sexo sem conteúdo, isto é, sem gemidos, como a possibilidade de baterem de cara com alguma amiga de sua mulher ou com a freira diretora da escola, os foram afastando da casa. Eles iam lá à procura de coisas diferentes, mas não tão diferentes assim, como o sexo abafado, sem os rumores pertinentes, que exige esforço quase sobrenatural.
Desgostosas com a grana magra que começou a pintar, as “gurias”, aos poucos, foram abandonando o barco. No fim, ficou só ela para atender freiras e machos, e enfrentou o maior dilema: não podia dispensar as freiras para atender só os machos, mas não podia também dispensar os machos para atender só as freiras. Quando se deu por conta, estava também estressada, pisando em ovos, por medo que a farsa fosse descoberta.
Fechou a casa e foi vender “empréstimos” para aposentados. É possível que você, algum dia, seja abordado por ela. Então, tenha compaixão e faça um empréstimo, que será descontado dos seus proventos de aposentadoria.
terça-feira, 23 de março de 2010
CRÔNICAS NÃO POLÍTICAS
APENAS UMA QUESTÃO DE GOSTO
Paulo Wainberg
Tenho certeza e, sempre que posso, reafirmo, como um princípio categórico e norma de vida: mulher, política, religião, tamanho de seios, marca de automóvel, rabanetes, beterrabas, futebol, cor de batom, rúcula, cinema, Fórmula Um e sorvete de maracujá, dentre várias outras coisas, não se discute.
A única coisa sobre a qual se pode discutir, sem risco de arrumar uma briga, um inimigo ou levar um soco na cara é: Gosto!
Gosto, podemos discutir valentemente, expressar nossa preferência sem ofender, magoar e irritar o oponente.
Fiel a esse princípio, sinto-me à vontade para dizer que não gosto do Partido dos Trabalhadores, dos seus membros, de seus diretores, de seus representantes públicos, prefeitos, deputados, senadores, desculpem o palavrão.
Não gosto do modo como eles destorcem a verdade para provar suas teses, da mania de desqualificar os oponentes para ganhar a discussão, da soberba, típica de quem se sente o dono da verdade, do viés autoritário que norteia suas condutas.
Não gosto da maneira como eles corrompem e se corrompem, da forma como mentem e da absoluta intransigência com opiniões contrárias. Não é uma questão particular, não falo de um ou de outro. Falo do todo. E não gosto do todo.
Não gosto do modo como eles aparelham o Estado, não gosto do plano de poder, não gosto de suas alas e correntes, inclusive e sobretudo a stalinista com seus bigodudos, a castrista com seus barbudos e as agrárias com seus movimentos armados.
Aos mais apressados, atenção! Estou falando de uma questão de Gosto, não se trata de Política, podemos discutir meu Gosto à vontade, sem receio de nos engalfinharmos, caso o Gosto de Vossas Senhorias seja diferente do meu.
Não gosto do MST, um dos braços armados do PT e não gosto do CPERS, um dos braços desarmados do PT.
Para quem não sabe, o CPERS/Sindicato é o sindicato dos professores, aqui no RS, especialista em promover greves inúteis, que causam transtornos a alunos, famílias e população. Não que não tenha direito à greve.
Gosto do direito dos trabalhadores de fazer greve, desde que seja uma greve corporativa, destinada a reais mudanças, quando elas são necessárias.
Não gosto da greve inútil, sabidamente destinada ao fracasso, quando exige o impossível, quando recusam a negociação, coisa que, lamento dizer a quem gosta, é uma especialidade do CEPERS/Sindicato.
Greve para desestabilizar o governo e garantir lucros eleitorais futuros.
Salvo quando, uma única vez, o PT governou o Rio Grande do Sul e atrasou o Estado em pelo menos 15 anos (aí já é opinião, me arrisco a receber pauladas...).
Então, o CPERS/Sindicato agia com doçura amena, pois identificava a ‘vontade política’ do Governo em resolver as suas pautas reinvidicatórias e aceitava a impossibilidade real de cumpri-las, com tênues protestos engambelatórios, na falsa tentativa de aparentar independência.
Para o CPERS/Sindicato os demais governos não atendem suas pautas de reivindicações por falta de vontade política: Os governantes que não pertencem ao PT querem que os professores morram de fome, querem que os trabalhadores em educação não tenham o mínimo necessário para exercerem sua função.
Não gosto disso, acho uma falácia, mais um grande sofisma petista a torturar meu coração.
Mas o que não gosto mesmo, no CPERS/Sindicato, é que eles não admitem ser chamados de professores!!!
Exatamente, minha senhora! O seu filho, na escola, não tem aula com professores e sim com Trabalhadores em Educação, nova designação que o sindicato dos professores usa para definir sua profissão!
Se a moda pega, os escritores devem abandonar a qualificação de escritores, exigindo serem chamados de Trabalhadores em Letras Literárias
Eletricistas serão Trabalhadores em Fiação e Voltagem.
Cantores líricos serão Trabalhadores em Melodrama (estrito senso), ‘Melo’ é garganta e drama é drama, portanto Ópera.
Prostituas passarão a ser Trabalhadoras em Fornecimento de Sexo Remunerado e gigolôs serão conhecidos como Trabalhadores em Explorar Prostitutas.
Eu mesmo deixarei de ser advogado e me transformarei num Trabalhador em Encontrar as Leis que Favorecem os Meus clientes.
Trabalhadores em Educação, distinto público, é dose!
Para o meu gosto, ressalto.
Por favor, não se enerve.
Veja-se que a preposição “em”, logo após a palavra Trabalhadores, é um achado lingüístico, um preciosismo ortográfico a distinguir, nobremente, meros trabalhadores, comuns, no comercio, bancos e até mesmo, ó horror, trabalhadores donos de empresas, daqueles exponenciais trabalhadores em educação’.
“Trabalhadores em Educação” possui tom erudito, um que se adquire ao afirmar que está estudando “a consciência política” em T.S.Eliott”, a “abrangência etno-mitológica em Wagner”, o “estilo epistolar em Rilke”, ou o “argumento pré-natal do ego no uso da palavra ‘joie’ em Jean-Luc Goddard”.
Por isso, ao chamar um membro do CPERS de ‘professor’, prepare-se para forte retaliação. Para a barulhenta entidade, professor que se preze não é professor, é trabalhador em educação!
Imagine a sala de aula: o aluno ergue o braço e pergunta:
– Dona trabalhadora em educação de geografia, não entendi onde ficam os limites do País!
– Dona trabalhadora em educação de educação física, não consigo fazer mais abdominais!
– ‘Seu’ trabalhador em educação de matemática, o que é mesmo um logaritmo?
– Professora, posso ir ao banheiro?
– Ponha-se daqui para fora, seu mal-educado. Direto para a Secretária! Como ousa me chamar de professora? Não sabe que sou uma trabalhadora em educação?
Ou, na reunião de pais e mestres, o pai, preocupado:
– Senhora trabalhadora em educação, Diretora da Escola, como vamos resolver o problema da segurança na saída das aulas?
Não gosto dos eufemismo petistas, de suas linhas doutrinárias, de suas cartilhas ideológicas, de seus dogmas, de seu cinismo e de sua política de baixo nível e maquiavélica, diante da qual vale tudo para ganhar cargos, eleições e, na pior hipótese, ocupar espaços na mídia.
Petistas jamais admitirão que jogam segundo o preceito ‘o fim justifica os meios’ e valem-se de sofismas mis, a demonstrar que o óbvio não é que parece.
Não que eu goste disso em outros partidos. Não gosto mesmo!
Não gosto do saco de gatos oportunista do PMDB, nem de seus eternos senadores e deputados, os mesmo que deram aparência institucional à Ditadura militar.
Também não gosto da vaidade pavonesca, vazia, oca e inerte do PSDB, fundado para ser o lado ‘ético’ do PMDB (quaquaqua, desculpe, não pude conter o riso)
Mas os outros, pelo menos, fazem menos barulho a respeito das próprias (e falsas) virtudes. E quando são descobertas suas falcatruas, não estão desiludindo ninguém, porque há muito abandonaram a idéia de vender idoneidade ao interesse público, eleitores e cidadãos em geral.
O tema me conduz, inevitavelmente, ao Presidente Lula e à questão que não paro de me fazer: gosto ou não gosto dele?
E, com toda sinceridade, acho que gosto mais do que desgosto.
Para início da discussão sobre Gosto, considero Lula uma espécie de gênio não lapidado da política.
E ainda bem que é não lapidado.
Um pouco mais de polimento e de cultura e estaríamos diante de um dos mais encantadores e tirânicos aspirantes à Ditador que o mundo já produziu.
Porém, assim como ele é, afirmando e negando, como se fossem banalidades, questões essenciais da política e da economia, em linguagem simples e repetitiva, usando e abusando de metáforas incongruentes e parábolas sem sentido, com encantador carisma, Lula galga, Lula sobe, Lula postula e Lula consegue.
Nunca antes, na história deste País, um Presidente da República visitou Israel.
Dentre os inúmeros dogmas lulistas, de originalidade primitiva, este é totalmente verdadeiro.
E ele chega lá com a maior simplicidade, dá um discurso dizendo ser favorável ao Estado de Israel independente e ao Estado Palestino independente, como se, nunca antes neste Planeta, um Presidente de um País tivesse feito tal afirmação.
E comporta-se sem nenhum constrangimento, nem mesmo o de ter recebido o presidente do Irã que, pública e manifestamente nega a ocorrência do Holocausto nazista e prega a destruição definitiva de Israel. E de, com ele, ter estabelecido relações diplomáticas e convênios de mútua cooperação comercial.
Assim como não se constrange ao afirmar que os dissidentes do regime de Cuba são terroristas, ao apoiar ditaduras tão cruéis quanto anacrônicas dos irmãos Castro em Cuba, da Coréia do Norte e das pretensões dignas de filmes de pastelão, de títeres como Hugo Chaves e Evo Morales, além do cara aquele do Equador, cujo nome esqueci e não vou me dar ao trabalho de procurar no Google.
A diferença é que, nas comédias de pastelão, o efeito é a gargalhada. Nos governos desses indivíduos está o desrespeito aos direitos, aos direitos humanos, à democracia e à liberdade. Incluindo-se, no rol, o racismo quase explícito, manifestado pela discriminação de minorias e censura.
Lula, cujo pensamento político moldou-se na luta sindical, contra o capitalismo, o liberalismo, o neo-liberalismo e a globalização, entretanto e como se não fosse com ele, adota e implanta uma política econômica no País exatamente de acordo com tudo aquilo que, antes, era contra. Inclusive o FMI, cuja conta foi uma das primeiras que pagou e para quem, hoje, empresta.
Lula, que quando explodiu a crise do mensalão, veio à televisão dizer-se traído, afirmar ao Pais a sua total ignorância sobre o caso, demitiu seu ministro-chefe da casa civil, o plenipotenciário José Dirceu e exigiu mudanças radicais no comando de seu partido, o PT. E agora, ultrapassada a fase aguda da crise, admite que foi informado do esquema em reunião com Roberto Jefferson e várias testemunhas.
Lula, que, nos seus bons tempos sindicais, só faltou chamar José Sarney de demônio do mal e que, agora que o País sabe que, nisso Lula tinha razão, exige que seus aliados levem em consideração que “Sarney tem uma história a ser respeitada” e que o Senado não pode ignorar essa história.
Planando – no aerolula – sobre todas e tamanhas contradições, Lula é o Presidente que tem o maior índice de aceitação na história deste País.
Por que? Porque ele é um bom Presidente, porque a economia vai bem, porque a miséria diminui, o desemprego diminui, o analfabetismo diminui e a Polícia Federal não dá sossego aos corruptos.
A Humanidade nos mostra que as pessoas são julgadas, não pelo que pensam, não pelo que querem, e sim pelo que fazem.
Lula faz, faz muito. Erra e acerta. Mas está sempre fazendo. Vocês podem não gostar da bolsa-família, por exemplo. Mas quem a recebe gosta, sente-se agradecido e adquire, ainda que de forma rudimentar, noção de inclusão, de pertencer, de cidadania.
Pode-se não gostar das tentativas de protagonizar de Lula, mas ele está protagonizando.
Pode-se não gostar da ida de Lula a Israel, mas ele foi. Pode-se não gostar da ida de Lula aos territórios palestinos, mas ele foi. E pode-se não gostar do que parece ser um indício de megalomania, quando Lula se coloca à frente e à disposição para contribuir com o fim do conflito no Oriente Médio, mas ele se colocou.
É por essas e por outras, fiel ao meu Gosto e respeitando o seu, é que me posiciono, ‘duela a quien duela’: não voto em absolutamente ninguém do PT, nem mesmo para síndico do meu edifício, caso eu morasse num, nem mesmo para chefe da minha torcida organizada, caso eu tivesse uma, nem mesmo para presidente da Associação dos Amigos da Bocha, caso eu jogasse bocha.
Não há hipótese.
Questão de Gosto, discutível portanto, sem ofensa e sem bofetada.
Mas, provavelmente, com toda a força da minha consciência, votaria no Lula, em outro futuro.
Paulo Wainberg
Tenho certeza e, sempre que posso, reafirmo, como um princípio categórico e norma de vida: mulher, política, religião, tamanho de seios, marca de automóvel, rabanetes, beterrabas, futebol, cor de batom, rúcula, cinema, Fórmula Um e sorvete de maracujá, dentre várias outras coisas, não se discute.
A única coisa sobre a qual se pode discutir, sem risco de arrumar uma briga, um inimigo ou levar um soco na cara é: Gosto!
Gosto, podemos discutir valentemente, expressar nossa preferência sem ofender, magoar e irritar o oponente.
Fiel a esse princípio, sinto-me à vontade para dizer que não gosto do Partido dos Trabalhadores, dos seus membros, de seus diretores, de seus representantes públicos, prefeitos, deputados, senadores, desculpem o palavrão.
Não gosto do modo como eles destorcem a verdade para provar suas teses, da mania de desqualificar os oponentes para ganhar a discussão, da soberba, típica de quem se sente o dono da verdade, do viés autoritário que norteia suas condutas.
Não gosto da maneira como eles corrompem e se corrompem, da forma como mentem e da absoluta intransigência com opiniões contrárias. Não é uma questão particular, não falo de um ou de outro. Falo do todo. E não gosto do todo.
Não gosto do modo como eles aparelham o Estado, não gosto do plano de poder, não gosto de suas alas e correntes, inclusive e sobretudo a stalinista com seus bigodudos, a castrista com seus barbudos e as agrárias com seus movimentos armados.
Aos mais apressados, atenção! Estou falando de uma questão de Gosto, não se trata de Política, podemos discutir meu Gosto à vontade, sem receio de nos engalfinharmos, caso o Gosto de Vossas Senhorias seja diferente do meu.
Não gosto do MST, um dos braços armados do PT e não gosto do CPERS, um dos braços desarmados do PT.
Para quem não sabe, o CPERS/Sindicato é o sindicato dos professores, aqui no RS, especialista em promover greves inúteis, que causam transtornos a alunos, famílias e população. Não que não tenha direito à greve.
Gosto do direito dos trabalhadores de fazer greve, desde que seja uma greve corporativa, destinada a reais mudanças, quando elas são necessárias.
Não gosto da greve inútil, sabidamente destinada ao fracasso, quando exige o impossível, quando recusam a negociação, coisa que, lamento dizer a quem gosta, é uma especialidade do CEPERS/Sindicato.
Greve para desestabilizar o governo e garantir lucros eleitorais futuros.
Salvo quando, uma única vez, o PT governou o Rio Grande do Sul e atrasou o Estado em pelo menos 15 anos (aí já é opinião, me arrisco a receber pauladas...).
Então, o CPERS/Sindicato agia com doçura amena, pois identificava a ‘vontade política’ do Governo em resolver as suas pautas reinvidicatórias e aceitava a impossibilidade real de cumpri-las, com tênues protestos engambelatórios, na falsa tentativa de aparentar independência.
Para o CPERS/Sindicato os demais governos não atendem suas pautas de reivindicações por falta de vontade política: Os governantes que não pertencem ao PT querem que os professores morram de fome, querem que os trabalhadores em educação não tenham o mínimo necessário para exercerem sua função.
Não gosto disso, acho uma falácia, mais um grande sofisma petista a torturar meu coração.
Mas o que não gosto mesmo, no CPERS/Sindicato, é que eles não admitem ser chamados de professores!!!
Exatamente, minha senhora! O seu filho, na escola, não tem aula com professores e sim com Trabalhadores em Educação, nova designação que o sindicato dos professores usa para definir sua profissão!
Se a moda pega, os escritores devem abandonar a qualificação de escritores, exigindo serem chamados de Trabalhadores em Letras Literárias
Eletricistas serão Trabalhadores em Fiação e Voltagem.
Cantores líricos serão Trabalhadores em Melodrama (estrito senso), ‘Melo’ é garganta e drama é drama, portanto Ópera.
Prostituas passarão a ser Trabalhadoras em Fornecimento de Sexo Remunerado e gigolôs serão conhecidos como Trabalhadores em Explorar Prostitutas.
Eu mesmo deixarei de ser advogado e me transformarei num Trabalhador em Encontrar as Leis que Favorecem os Meus clientes.
Trabalhadores em Educação, distinto público, é dose!
Para o meu gosto, ressalto.
Por favor, não se enerve.
Veja-se que a preposição “em”, logo após a palavra Trabalhadores, é um achado lingüístico, um preciosismo ortográfico a distinguir, nobremente, meros trabalhadores, comuns, no comercio, bancos e até mesmo, ó horror, trabalhadores donos de empresas, daqueles exponenciais trabalhadores em educação’.
“Trabalhadores em Educação” possui tom erudito, um que se adquire ao afirmar que está estudando “a consciência política” em T.S.Eliott”, a “abrangência etno-mitológica em Wagner”, o “estilo epistolar em Rilke”, ou o “argumento pré-natal do ego no uso da palavra ‘joie’ em Jean-Luc Goddard”.
Por isso, ao chamar um membro do CPERS de ‘professor’, prepare-se para forte retaliação. Para a barulhenta entidade, professor que se preze não é professor, é trabalhador em educação!
Imagine a sala de aula: o aluno ergue o braço e pergunta:
– Dona trabalhadora em educação de geografia, não entendi onde ficam os limites do País!
– Dona trabalhadora em educação de educação física, não consigo fazer mais abdominais!
– ‘Seu’ trabalhador em educação de matemática, o que é mesmo um logaritmo?
– Professora, posso ir ao banheiro?
– Ponha-se daqui para fora, seu mal-educado. Direto para a Secretária! Como ousa me chamar de professora? Não sabe que sou uma trabalhadora em educação?
Ou, na reunião de pais e mestres, o pai, preocupado:
– Senhora trabalhadora em educação, Diretora da Escola, como vamos resolver o problema da segurança na saída das aulas?
Não gosto dos eufemismo petistas, de suas linhas doutrinárias, de suas cartilhas ideológicas, de seus dogmas, de seu cinismo e de sua política de baixo nível e maquiavélica, diante da qual vale tudo para ganhar cargos, eleições e, na pior hipótese, ocupar espaços na mídia.
Petistas jamais admitirão que jogam segundo o preceito ‘o fim justifica os meios’ e valem-se de sofismas mis, a demonstrar que o óbvio não é que parece.
Não que eu goste disso em outros partidos. Não gosto mesmo!
Não gosto do saco de gatos oportunista do PMDB, nem de seus eternos senadores e deputados, os mesmo que deram aparência institucional à Ditadura militar.
Também não gosto da vaidade pavonesca, vazia, oca e inerte do PSDB, fundado para ser o lado ‘ético’ do PMDB (quaquaqua, desculpe, não pude conter o riso)
Mas os outros, pelo menos, fazem menos barulho a respeito das próprias (e falsas) virtudes. E quando são descobertas suas falcatruas, não estão desiludindo ninguém, porque há muito abandonaram a idéia de vender idoneidade ao interesse público, eleitores e cidadãos em geral.
O tema me conduz, inevitavelmente, ao Presidente Lula e à questão que não paro de me fazer: gosto ou não gosto dele?
E, com toda sinceridade, acho que gosto mais do que desgosto.
Para início da discussão sobre Gosto, considero Lula uma espécie de gênio não lapidado da política.
E ainda bem que é não lapidado.
Um pouco mais de polimento e de cultura e estaríamos diante de um dos mais encantadores e tirânicos aspirantes à Ditador que o mundo já produziu.
Porém, assim como ele é, afirmando e negando, como se fossem banalidades, questões essenciais da política e da economia, em linguagem simples e repetitiva, usando e abusando de metáforas incongruentes e parábolas sem sentido, com encantador carisma, Lula galga, Lula sobe, Lula postula e Lula consegue.
Nunca antes, na história deste País, um Presidente da República visitou Israel.
Dentre os inúmeros dogmas lulistas, de originalidade primitiva, este é totalmente verdadeiro.
E ele chega lá com a maior simplicidade, dá um discurso dizendo ser favorável ao Estado de Israel independente e ao Estado Palestino independente, como se, nunca antes neste Planeta, um Presidente de um País tivesse feito tal afirmação.
E comporta-se sem nenhum constrangimento, nem mesmo o de ter recebido o presidente do Irã que, pública e manifestamente nega a ocorrência do Holocausto nazista e prega a destruição definitiva de Israel. E de, com ele, ter estabelecido relações diplomáticas e convênios de mútua cooperação comercial.
Assim como não se constrange ao afirmar que os dissidentes do regime de Cuba são terroristas, ao apoiar ditaduras tão cruéis quanto anacrônicas dos irmãos Castro em Cuba, da Coréia do Norte e das pretensões dignas de filmes de pastelão, de títeres como Hugo Chaves e Evo Morales, além do cara aquele do Equador, cujo nome esqueci e não vou me dar ao trabalho de procurar no Google.
A diferença é que, nas comédias de pastelão, o efeito é a gargalhada. Nos governos desses indivíduos está o desrespeito aos direitos, aos direitos humanos, à democracia e à liberdade. Incluindo-se, no rol, o racismo quase explícito, manifestado pela discriminação de minorias e censura.
Lula, cujo pensamento político moldou-se na luta sindical, contra o capitalismo, o liberalismo, o neo-liberalismo e a globalização, entretanto e como se não fosse com ele, adota e implanta uma política econômica no País exatamente de acordo com tudo aquilo que, antes, era contra. Inclusive o FMI, cuja conta foi uma das primeiras que pagou e para quem, hoje, empresta.
Lula, que quando explodiu a crise do mensalão, veio à televisão dizer-se traído, afirmar ao Pais a sua total ignorância sobre o caso, demitiu seu ministro-chefe da casa civil, o plenipotenciário José Dirceu e exigiu mudanças radicais no comando de seu partido, o PT. E agora, ultrapassada a fase aguda da crise, admite que foi informado do esquema em reunião com Roberto Jefferson e várias testemunhas.
Lula, que, nos seus bons tempos sindicais, só faltou chamar José Sarney de demônio do mal e que, agora que o País sabe que, nisso Lula tinha razão, exige que seus aliados levem em consideração que “Sarney tem uma história a ser respeitada” e que o Senado não pode ignorar essa história.
Planando – no aerolula – sobre todas e tamanhas contradições, Lula é o Presidente que tem o maior índice de aceitação na história deste País.
Por que? Porque ele é um bom Presidente, porque a economia vai bem, porque a miséria diminui, o desemprego diminui, o analfabetismo diminui e a Polícia Federal não dá sossego aos corruptos.
A Humanidade nos mostra que as pessoas são julgadas, não pelo que pensam, não pelo que querem, e sim pelo que fazem.
Lula faz, faz muito. Erra e acerta. Mas está sempre fazendo. Vocês podem não gostar da bolsa-família, por exemplo. Mas quem a recebe gosta, sente-se agradecido e adquire, ainda que de forma rudimentar, noção de inclusão, de pertencer, de cidadania.
Pode-se não gostar das tentativas de protagonizar de Lula, mas ele está protagonizando.
Pode-se não gostar da ida de Lula a Israel, mas ele foi. Pode-se não gostar da ida de Lula aos territórios palestinos, mas ele foi. E pode-se não gostar do que parece ser um indício de megalomania, quando Lula se coloca à frente e à disposição para contribuir com o fim do conflito no Oriente Médio, mas ele se colocou.
É por essas e por outras, fiel ao meu Gosto e respeitando o seu, é que me posiciono, ‘duela a quien duela’: não voto em absolutamente ninguém do PT, nem mesmo para síndico do meu edifício, caso eu morasse num, nem mesmo para chefe da minha torcida organizada, caso eu tivesse uma, nem mesmo para presidente da Associação dos Amigos da Bocha, caso eu jogasse bocha.
Não há hipótese.
Questão de Gosto, discutível portanto, sem ofensa e sem bofetada.
Mas, provavelmente, com toda a força da minha consciência, votaria no Lula, em outro futuro.
segunda-feira, 22 de março de 2010
VARIAÇÕES EM TORNO DO TEMA FIADASPUTAS
PAZ? QUE PAZ?
João Eichbaum
O torneiro mecânico de profissão, Luiz Inácio, mais conhecido por Lula, atualmente ocupando a presidência da república de um desses países da América latrina, num arroubo insuperável de egolatria, pegou a sua leva-tudo (alguém ainda se lembra das bolsinhas leva-tudo, que outros preferiam chamar de perde-tudo? Para quem não sabe era uma bolsinha em que o pessoal metia tudo o que podia dentro: dinheiro, cheques, pente, perfume, agenda, espelho, preservativo, papel higiênico, etc.), pois o Lula pegou a sua leva-tudo, e no meio de todas essas coisas que referi, além de sua retórica de torneiro mecânico sem ensino fundamental, completou os espaços com paz e se mandou para o oriente médio, para terminar de uma vez por todas com o ódio que se votam reciprocamente judeus e palestinos.
Certamente, durante a viagem, pensou: “nunca antes, neste mundo houve um presidente tão cheio de paz como eu”.
E lá chegando, com sua língua pegada, fez discursos. Não sei se foi pelos discursos que seus assessores das Relações Exteriores fizeram, ou se foi pelas bobagens que ele costuma dizer quando não se atém ao que lhe escreveram, (chamou de “Salim” o senhor Samir Rifai, primeiro ministro da Jordânia, à qual qualificou de “país pobre”, e voltou a dizer que no Brasil os árabes são chamados de turcos), o certo é que ele não agradou e foi boicotado. Não por todos, diga-se, a bem da verdade. Mas, que não foi essa unanimidade que ele se acha, não foi. Mesmo porque o mundo todo sabe que ele trocou beijos, abraços e afagos com a ditadura assassina dos irmãos Castro e deu de ombros para os prisioneiros políticos cubanos.
Outro dia falei das poucas luzes do Lula, na contramão de um comentarista de futebol, que o tem por inteligente. Pois, com essa viagem ao oriente médio o Luiz Inácio me encheu de razão.
Realmente, tentar a paz entre palestinos e judeus é o mesmo que tentar encher uma bolsinha leva-tudo de paz. Só o Lula não sabia disso e ninguém o advertiu de sua pequenez.
Se deu mal, é claro. Se achava que o mundo ia ignorar seu pouco caso pelos direitos humanos desrespeitados em Cuba, e que poderia chegar a ser Secretário Geral da ONU, se deu mal. E tanto se deu mal que, não demorou muito e –pluft – lá estava sendo disparado um foguete contra um Kibutz.
João Eichbaum
O torneiro mecânico de profissão, Luiz Inácio, mais conhecido por Lula, atualmente ocupando a presidência da república de um desses países da América latrina, num arroubo insuperável de egolatria, pegou a sua leva-tudo (alguém ainda se lembra das bolsinhas leva-tudo, que outros preferiam chamar de perde-tudo? Para quem não sabe era uma bolsinha em que o pessoal metia tudo o que podia dentro: dinheiro, cheques, pente, perfume, agenda, espelho, preservativo, papel higiênico, etc.), pois o Lula pegou a sua leva-tudo, e no meio de todas essas coisas que referi, além de sua retórica de torneiro mecânico sem ensino fundamental, completou os espaços com paz e se mandou para o oriente médio, para terminar de uma vez por todas com o ódio que se votam reciprocamente judeus e palestinos.
Certamente, durante a viagem, pensou: “nunca antes, neste mundo houve um presidente tão cheio de paz como eu”.
E lá chegando, com sua língua pegada, fez discursos. Não sei se foi pelos discursos que seus assessores das Relações Exteriores fizeram, ou se foi pelas bobagens que ele costuma dizer quando não se atém ao que lhe escreveram, (chamou de “Salim” o senhor Samir Rifai, primeiro ministro da Jordânia, à qual qualificou de “país pobre”, e voltou a dizer que no Brasil os árabes são chamados de turcos), o certo é que ele não agradou e foi boicotado. Não por todos, diga-se, a bem da verdade. Mas, que não foi essa unanimidade que ele se acha, não foi. Mesmo porque o mundo todo sabe que ele trocou beijos, abraços e afagos com a ditadura assassina dos irmãos Castro e deu de ombros para os prisioneiros políticos cubanos.
Outro dia falei das poucas luzes do Lula, na contramão de um comentarista de futebol, que o tem por inteligente. Pois, com essa viagem ao oriente médio o Luiz Inácio me encheu de razão.
Realmente, tentar a paz entre palestinos e judeus é o mesmo que tentar encher uma bolsinha leva-tudo de paz. Só o Lula não sabia disso e ninguém o advertiu de sua pequenez.
Se deu mal, é claro. Se achava que o mundo ia ignorar seu pouco caso pelos direitos humanos desrespeitados em Cuba, e que poderia chegar a ser Secretário Geral da ONU, se deu mal. E tanto se deu mal que, não demorou muito e –pluft – lá estava sendo disparado um foguete contra um Kibutz.
quinta-feira, 18 de março de 2010
NÓS, PRIMATAS
POR BAIXO OU POR CIMA?
João Eichbaum
Me tornaram cristão sem darem a mínima para o que eu poderia pensar a respeito: desde bebê fui amestrado na arte de acreditar no deus judaico-cristão e na Igreja Católica. Quando me dei por conta, estava inteiramente embriagado por dogmas, ritos e todo o caudal de preconceitos contra as demais religiões. Toda a minha inocência, no sentido mais amplo da palavra, tinha sido absorvida e aproveitada pela força da doutrina que, antes de qualquer coisa, me metia medo do inferno.
Acreditando, irrestritamente, em tudo o que viesse da religião católica, incenso, água benta, círio pascal, santinho, eu tinha os padres como os verdadeiros “representantes de Deus na terra”, e assim os venerava. Para mim eles eram criaturas de outro mundo, escolhidos pelo deus judaico-cristão, por serem superiores às nossas forças. E era por isso que tínhamos de lhes confessar os nossos pecados.
Um dia fui tomado pelo rubor da indignação e quase parti pra briga contra um amiguinho, gente da minha idade, quando ele me disse que sua irmã não ia mais à igreja, porque, durante a confissão, o padre lhe havia indagado se ela gostava mais de pecar de pé ou deitada.
Por muito tempo me recusei a acreditar na versão do meu amigo. A minha fé era inexpugnável e os padres era criaturas santas.
Até que a história, a vida e a biologia me ensinaram que não é bem assim, porque para o animal não há vida sem sexo, nem sexo sem vida: a função sexual é como qualquer outra função fisiológica, faz parte da natureza animal.
Hoje dou inteiro crédito ao meu amigo. Pela telinha do confessionário, o padre deve ter levado o maior calor, vendo aquela talhe de Vênus ainda virgem, os seios empinadinhos, a carinha de anjo e a bundinha de artista. E sentiu todo o apelo da natureza debaixo da batina.
Na verdade só agora está indo pro beleléu a versão mentirosa dos votos de castidade. Digo só agora porque as pessoas, de um modo geral, se interessam apenas por notícias de jornal e televisão. Quem conhece história sabe dos costumes dissolutos de papas e outros religiosos, sobre os quais Janer Cristaldo nos passou um alentado “trailer” na crônica de ontem. Agora, com a imprensa em cima, o povo todo toma conhecimento das aventuras sexuais de padres, monsenhores e bispos. Começou nos Estados Unidos e se espalhou pelo mundo o desmascaramento dos padres comedores e comidos.
E é claro que o Brasil não podia ficar fora dessa. A última notícia vem das Alagoas do Collor e do Calheiros, onde o monsenhor Barbosa, um ancião de 82 anos, foi filmado em transa com um rapaz de 19, seu antigo coroinha. Justamente a sodomia, abominação oficial do décimo sexto Bento e um dos motivos bíblicos de destruição de cidades!
82 anos, senhores! O Viagra, como Jesus Cristo, faz milagres: levanta morto!
Ops, peraí, agora me assalta um dúvida dos infernos, a mim e a todos quantos não tiveram oportunidade de ver o pornô sacerdotal: o “representante de Deus” estava por baixo ou por cima?
João Eichbaum
Me tornaram cristão sem darem a mínima para o que eu poderia pensar a respeito: desde bebê fui amestrado na arte de acreditar no deus judaico-cristão e na Igreja Católica. Quando me dei por conta, estava inteiramente embriagado por dogmas, ritos e todo o caudal de preconceitos contra as demais religiões. Toda a minha inocência, no sentido mais amplo da palavra, tinha sido absorvida e aproveitada pela força da doutrina que, antes de qualquer coisa, me metia medo do inferno.
Acreditando, irrestritamente, em tudo o que viesse da religião católica, incenso, água benta, círio pascal, santinho, eu tinha os padres como os verdadeiros “representantes de Deus na terra”, e assim os venerava. Para mim eles eram criaturas de outro mundo, escolhidos pelo deus judaico-cristão, por serem superiores às nossas forças. E era por isso que tínhamos de lhes confessar os nossos pecados.
Um dia fui tomado pelo rubor da indignação e quase parti pra briga contra um amiguinho, gente da minha idade, quando ele me disse que sua irmã não ia mais à igreja, porque, durante a confissão, o padre lhe havia indagado se ela gostava mais de pecar de pé ou deitada.
Por muito tempo me recusei a acreditar na versão do meu amigo. A minha fé era inexpugnável e os padres era criaturas santas.
Até que a história, a vida e a biologia me ensinaram que não é bem assim, porque para o animal não há vida sem sexo, nem sexo sem vida: a função sexual é como qualquer outra função fisiológica, faz parte da natureza animal.
Hoje dou inteiro crédito ao meu amigo. Pela telinha do confessionário, o padre deve ter levado o maior calor, vendo aquela talhe de Vênus ainda virgem, os seios empinadinhos, a carinha de anjo e a bundinha de artista. E sentiu todo o apelo da natureza debaixo da batina.
Na verdade só agora está indo pro beleléu a versão mentirosa dos votos de castidade. Digo só agora porque as pessoas, de um modo geral, se interessam apenas por notícias de jornal e televisão. Quem conhece história sabe dos costumes dissolutos de papas e outros religiosos, sobre os quais Janer Cristaldo nos passou um alentado “trailer” na crônica de ontem. Agora, com a imprensa em cima, o povo todo toma conhecimento das aventuras sexuais de padres, monsenhores e bispos. Começou nos Estados Unidos e se espalhou pelo mundo o desmascaramento dos padres comedores e comidos.
E é claro que o Brasil não podia ficar fora dessa. A última notícia vem das Alagoas do Collor e do Calheiros, onde o monsenhor Barbosa, um ancião de 82 anos, foi filmado em transa com um rapaz de 19, seu antigo coroinha. Justamente a sodomia, abominação oficial do décimo sexto Bento e um dos motivos bíblicos de destruição de cidades!
82 anos, senhores! O Viagra, como Jesus Cristo, faz milagres: levanta morto!
Ops, peraí, agora me assalta um dúvida dos infernos, a mim e a todos quantos não tiveram oportunidade de ver o pornô sacerdotal: o “representante de Deus” estava por baixo ou por cima?
quarta-feira, 17 de março de 2010
VARIAÇÕES EM TORNO DO TEMA FIADASPUTAS
MANDA QUEM PODE, OBEDECE QUEM PRECISA
João Eichbaum
A origem da organização da sociedade é o poder. E a origem do poder é o próprio homem, naturalmente.
No curso da evolução da espécie humana, que é constante, ainda não foi possível definir, concretamente, como fato histórico, as primeiras manifestações de poder: onde, como e quando o poder se impôs pela primeira vez, na história da humanidade.
Aquilo que hoje chamamos de liderança sempre existiu, como um dos fatores coadjuvantes da seleção natural da espécie.
É permitido supor que, ao magnetismo pessoal, à arte de convencer – ingredientes básicos da liderança – tenha precedido a força física, a imposição do poder pela violência.
Seja como for, a liderança, a supremacia de uns seres sobre os outros é o mais antigo componente da história do homem.
O medo, a fraqueza, a conveniência, a apatia sempre cederam espaço para a força, para o exercício do magnetismo pessoal, para a imposição de interesses determinados.
A partir dessas considerações, se pode afirmar que a primeira liderança, na espécie humana, foi imposta pelo medo. Sem outra forma de se comunicar, a não ser pela violência, o homem primitivo, por isso mesmo, não tinha outro modo de se impor, de se alçar acima de seus pares, senão através do medo.
E tal como acontece entre os irracionais, os animais racionais sentem medo, movidos pelo instinto de sobrevivência, o mais forte de todos os instintos na espécie animal.
Assim, os mais ousados se impunham pelo medo, enquanto os mais fracos obedeciam, faziam tudo o que o líder ousado determinava: caçavam e coletavam por ele, garantiam a sobrevivência dele, enquanto ele próprio só desfrutava do poder.
Da violência o homem nunca se livrou, exatamente porque nunca se livrou do medo: como um cordeirinho entrega todos os seus pertences, sua mulher e até sua filha ao malfeitor que o põe na mira do revólver.
Essa é a violência não oficial.
Da violência oficial a mais conhecida hoje em dia é a praticada pelos irmãos Fidel e Raul Castro, amicíssimos do Lula. Mas além dela temos também a violência fiscal, que nos ameaça com cadeia, se não pagarmos os impostos, para que os do MST e os do bolsa- família possam viver sem trabalhar.
Conclusão: da violência praticada pelos “líderes”, seja sob que forma for, nunca nos livraremos.
João Eichbaum
A origem da organização da sociedade é o poder. E a origem do poder é o próprio homem, naturalmente.
No curso da evolução da espécie humana, que é constante, ainda não foi possível definir, concretamente, como fato histórico, as primeiras manifestações de poder: onde, como e quando o poder se impôs pela primeira vez, na história da humanidade.
Aquilo que hoje chamamos de liderança sempre existiu, como um dos fatores coadjuvantes da seleção natural da espécie.
É permitido supor que, ao magnetismo pessoal, à arte de convencer – ingredientes básicos da liderança – tenha precedido a força física, a imposição do poder pela violência.
Seja como for, a liderança, a supremacia de uns seres sobre os outros é o mais antigo componente da história do homem.
O medo, a fraqueza, a conveniência, a apatia sempre cederam espaço para a força, para o exercício do magnetismo pessoal, para a imposição de interesses determinados.
A partir dessas considerações, se pode afirmar que a primeira liderança, na espécie humana, foi imposta pelo medo. Sem outra forma de se comunicar, a não ser pela violência, o homem primitivo, por isso mesmo, não tinha outro modo de se impor, de se alçar acima de seus pares, senão através do medo.
E tal como acontece entre os irracionais, os animais racionais sentem medo, movidos pelo instinto de sobrevivência, o mais forte de todos os instintos na espécie animal.
Assim, os mais ousados se impunham pelo medo, enquanto os mais fracos obedeciam, faziam tudo o que o líder ousado determinava: caçavam e coletavam por ele, garantiam a sobrevivência dele, enquanto ele próprio só desfrutava do poder.
Da violência o homem nunca se livrou, exatamente porque nunca se livrou do medo: como um cordeirinho entrega todos os seus pertences, sua mulher e até sua filha ao malfeitor que o põe na mira do revólver.
Essa é a violência não oficial.
Da violência oficial a mais conhecida hoje em dia é a praticada pelos irmãos Fidel e Raul Castro, amicíssimos do Lula. Mas além dela temos também a violência fiscal, que nos ameaça com cadeia, se não pagarmos os impostos, para que os do MST e os do bolsa- família possam viver sem trabalhar.
Conclusão: da violência praticada pelos “líderes”, seja sob que forma for, nunca nos livraremos.
terça-feira, 16 de março de 2010
VARIAÇÕES EM TORNO DO TEMA FIADASPUTAS
“NUNCA DANTES NA HISTÓRIA DESTE PAÍS..."
João Eichbaum
Detesto comentaristas de futebol. Mas, contraditoriamente, os ouço, só para me certificar de que não estou enganado: eles só dizem besteiras. E são tão imbecis, tão idiotas, que se têm por entendidos em futebol.
Ora, futebol é ininteligível. Ninguém entende de futebol, pela pura e simples razão de que futebol não tem lógica, cada jogo é um jogo, cada jogo é uma história que jamais se repete. Hoje um jogador faz maravilhas e amanhã não joga nada. E assim por diante.
Mas, a minha intenção não é comentar futebol e já fui longe demais. Só queria dizer que comentarista de futebol não tem nada na cabeça. E foi exatamente de um comentarista de futebol que ouvi essa frase: o presidente Lula é um homem inteligente. Não é culto, mas é inteligente.
Ora, o limite da inteligência é exatamente a cultura. O homem inteligente se dá conta de que necessita ampliar o seu saber, a sua cultura. O homem burro, pelo contrário, se satisfaz com a própria ignorância. Porque sua inteligência é tão curta que ele não enxerga um palmo além do nariz.
Pois o Lula é exatamente assim. Chegou a presidente porque se cercou de gente esperta e sem escrúpulos, como o são os políticos em geral, mas especialmente os políticos do norte e nordeste (Calheiros, Sarney, Collor, só para ficar nesses aí). Tais políticos, se valendo da ignorância do Lula, que não sabe falar, que não sabe refletir, que diz o que lhe vem pela boca, sem ser comandado pelo pensamento, encontraram nele o político que o povão gosta: aquele que é ignorante como ele. E que faz o que povão gosta: dá camisinha pro povo transar, dá pílula do dia seguinte pra quem já transou, dá bolsa-família pra quem transou sem camisinha e sem pílula e por isso teve filho, sustenta a vagabundagem e as desordens dos “sem-terra”, distribui empregos públicos para a companheirada e se gaba de não ter estudado.
É tudo o que o povão quer.
As pessoas inteligentes, mesmo que não tenham cultura, sabem definir conceitos, que podem ser aproveitados e são, sobretudo, hábeis no trato com os outros.
De tudo quanto disse o Lula, até hoje, nada se aproveitou, salvo para o humor, e sua habilidade só pode ser comparada à de um elefante numa vidraçaria. A mais recente de suas manifestações, comparando os presos políticos de Cuba a criminosos comuns, bem revela as qualidades do torneiro mecânico feito presidente.
Realmente, “nunca dantes, na história deste país”, tivemos um presidente de tão poucas luzes, a serviço dos energúmenos da esquerda, de mãos dadas com as aproveitadoras raposas da política brasileira.
João Eichbaum
Detesto comentaristas de futebol. Mas, contraditoriamente, os ouço, só para me certificar de que não estou enganado: eles só dizem besteiras. E são tão imbecis, tão idiotas, que se têm por entendidos em futebol.
Ora, futebol é ininteligível. Ninguém entende de futebol, pela pura e simples razão de que futebol não tem lógica, cada jogo é um jogo, cada jogo é uma história que jamais se repete. Hoje um jogador faz maravilhas e amanhã não joga nada. E assim por diante.
Mas, a minha intenção não é comentar futebol e já fui longe demais. Só queria dizer que comentarista de futebol não tem nada na cabeça. E foi exatamente de um comentarista de futebol que ouvi essa frase: o presidente Lula é um homem inteligente. Não é culto, mas é inteligente.
Ora, o limite da inteligência é exatamente a cultura. O homem inteligente se dá conta de que necessita ampliar o seu saber, a sua cultura. O homem burro, pelo contrário, se satisfaz com a própria ignorância. Porque sua inteligência é tão curta que ele não enxerga um palmo além do nariz.
Pois o Lula é exatamente assim. Chegou a presidente porque se cercou de gente esperta e sem escrúpulos, como o são os políticos em geral, mas especialmente os políticos do norte e nordeste (Calheiros, Sarney, Collor, só para ficar nesses aí). Tais políticos, se valendo da ignorância do Lula, que não sabe falar, que não sabe refletir, que diz o que lhe vem pela boca, sem ser comandado pelo pensamento, encontraram nele o político que o povão gosta: aquele que é ignorante como ele. E que faz o que povão gosta: dá camisinha pro povo transar, dá pílula do dia seguinte pra quem já transou, dá bolsa-família pra quem transou sem camisinha e sem pílula e por isso teve filho, sustenta a vagabundagem e as desordens dos “sem-terra”, distribui empregos públicos para a companheirada e se gaba de não ter estudado.
É tudo o que o povão quer.
As pessoas inteligentes, mesmo que não tenham cultura, sabem definir conceitos, que podem ser aproveitados e são, sobretudo, hábeis no trato com os outros.
De tudo quanto disse o Lula, até hoje, nada se aproveitou, salvo para o humor, e sua habilidade só pode ser comparada à de um elefante numa vidraçaria. A mais recente de suas manifestações, comparando os presos políticos de Cuba a criminosos comuns, bem revela as qualidades do torneiro mecânico feito presidente.
Realmente, “nunca dantes, na história deste país”, tivemos um presidente de tão poucas luzes, a serviço dos energúmenos da esquerda, de mãos dadas com as aproveitadoras raposas da política brasileira.
segunda-feira, 15 de março de 2010
CRÔNICAS FIRULENTAS
COISANDO
Paulo Wainberg
Quando a coisa aperta é melhor sair de perto.
A coisa, para quem não sabe, pertence ao obscuro e complexo mundo das incompreensões.
A coisa circula no âmbito do imponderável, quando a coisa é invocada tudo se compreende e nada se explica.
Quem não diz coisa com coisa diz tudo e nada ao mesmo tempo o que, francamente, não significa, mas diz muito.
As coisas da vida nos colocam diante do inevitável, revelam nossa resignação e a esperança de que, algum dia, as coisas melhorem.
A coisa é também a síntese dos grandes volumes, das quantidades indefinidas, da miscelânea de objetos.
Expressa também desejos ocultos, intenções camufladas e projetos confusos:
– Vou deixar minhas coisas aqui neste canto. É só por uns dias...
A quantidade de coisas contidas nas coisas que vão ficar naquele canto é imensa e ‘por uns dias’ é um eufemismo a esconder a verdade:
– Quando der eu venho buscar.
O drama anunciado para o dono daquele canto, quando precisar dele para guardar as próprias coisas, faz parte do repertório interminável da coisa.
– Sinto uma coisa, aqui dentro, toda vez que olho para você.
– Sei lá, quando você me toca me dá uma coisa....
– Não incomoda menino! Que coisa!
– Ih, é melhor sair de perto. Ela hoje está com a coisa.
– Era uma coisa enorme, indefinida, foi chegando, chegando...
– O que você quer comer?
– Qualquer coisa.
– Ontem vi a Laurinha no carro do Gerson. Aí tem coisa.
Quando você se depara com a coisa, pode crer, sua vida não será a mesma. A coisa tem esse poder, renovador e destruidor, e, diante da coisa feita, não adianta espernear: é assim que são as coisas.
A coisa inflou-se de tal modo que não é mais suficiente para a própria diversidade
Criou-se a loisa para que você possa, nas suas divagações, perder-se entre coisas e loisas.
Quando as coisas se encontram há sempre o risco de uma gravidez indesejada.
Entre uma coisa e outra vai se levando a vidinha porque sempre tem uma coisa para atrapalhar.
No mundo atual, que se explode o tempo todo, o melhor é olhar a coisa de frente e, quanto mais se faz isso, mais a coisa aperta.
Para encerrar uma discussão, com certeza você já disse:
– Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.
E seu interlocutor, com ar grave, concorda, ainda que nada se conclua da afirmação. Ocorre que, quando o debate chega a esse ponto, nada mais há para ser dito.
É uma frase excelente para resumir o nada.
Reconheço que gostar de uma coisa e odiar outra coisa é um atributo humano, por exemplo:
– Não estou gostando dessa coisa –, referindo-se a um massacre na favela.
Ou:
– A coisa foi extraordinária –, falando na vitória do seu time.
A coisa é a coisa é a coisa é a coisa dá um refrão para samba-enredo, mas ninguém ousa utilizar, pois com a coisa não se brinca.
Por fim, definitivamente, de forma categórica, sem lero-lero, tititi ou blábláblá, recomendo, meu amigo, que vá saindo de baixo, que a coisa está cada dia mais preta.
Paulo Wainberg
Quando a coisa aperta é melhor sair de perto.
A coisa, para quem não sabe, pertence ao obscuro e complexo mundo das incompreensões.
A coisa circula no âmbito do imponderável, quando a coisa é invocada tudo se compreende e nada se explica.
Quem não diz coisa com coisa diz tudo e nada ao mesmo tempo o que, francamente, não significa, mas diz muito.
As coisas da vida nos colocam diante do inevitável, revelam nossa resignação e a esperança de que, algum dia, as coisas melhorem.
A coisa é também a síntese dos grandes volumes, das quantidades indefinidas, da miscelânea de objetos.
Expressa também desejos ocultos, intenções camufladas e projetos confusos:
– Vou deixar minhas coisas aqui neste canto. É só por uns dias...
A quantidade de coisas contidas nas coisas que vão ficar naquele canto é imensa e ‘por uns dias’ é um eufemismo a esconder a verdade:
– Quando der eu venho buscar.
O drama anunciado para o dono daquele canto, quando precisar dele para guardar as próprias coisas, faz parte do repertório interminável da coisa.
– Sinto uma coisa, aqui dentro, toda vez que olho para você.
– Sei lá, quando você me toca me dá uma coisa....
– Não incomoda menino! Que coisa!
– Ih, é melhor sair de perto. Ela hoje está com a coisa.
– Era uma coisa enorme, indefinida, foi chegando, chegando...
– O que você quer comer?
– Qualquer coisa.
– Ontem vi a Laurinha no carro do Gerson. Aí tem coisa.
Quando você se depara com a coisa, pode crer, sua vida não será a mesma. A coisa tem esse poder, renovador e destruidor, e, diante da coisa feita, não adianta espernear: é assim que são as coisas.
A coisa inflou-se de tal modo que não é mais suficiente para a própria diversidade
Criou-se a loisa para que você possa, nas suas divagações, perder-se entre coisas e loisas.
Quando as coisas se encontram há sempre o risco de uma gravidez indesejada.
Entre uma coisa e outra vai se levando a vidinha porque sempre tem uma coisa para atrapalhar.
No mundo atual, que se explode o tempo todo, o melhor é olhar a coisa de frente e, quanto mais se faz isso, mais a coisa aperta.
Para encerrar uma discussão, com certeza você já disse:
– Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.
E seu interlocutor, com ar grave, concorda, ainda que nada se conclua da afirmação. Ocorre que, quando o debate chega a esse ponto, nada mais há para ser dito.
É uma frase excelente para resumir o nada.
Reconheço que gostar de uma coisa e odiar outra coisa é um atributo humano, por exemplo:
– Não estou gostando dessa coisa –, referindo-se a um massacre na favela.
Ou:
– A coisa foi extraordinária –, falando na vitória do seu time.
A coisa é a coisa é a coisa é a coisa dá um refrão para samba-enredo, mas ninguém ousa utilizar, pois com a coisa não se brinca.
Por fim, definitivamente, de forma categórica, sem lero-lero, tititi ou blábláblá, recomendo, meu amigo, que vá saindo de baixo, que a coisa está cada dia mais preta.
sexta-feira, 12 de março de 2010
NÓS, PRIMATAS
INFIDELIDADES
João Eichbaum
Numa crônica na qual exorciza aquilo que ela chama de “infidelidade” dos homens, ou seja, a terceirização das atividades de cama que competem à patroa, Marta Medeiros, depois de considerar que essa “infidelidade” está abrandando, perdendo o vigor, acaba prometendo o troco, assim se referindo às mulheres: “hoje, independentes financeiramente, com a sociedade as reverenciando e conhecedoras de truques para não envelhecer jamais, as mulheres já não têm por que ficar aturando desaforo. Se a linha de ônibus deles (dos machos) é freqüente, a nossa também, basta fazer um sinal”.
Não sei se é para achincalhar ou o quê, ela começa a crônica, invocando uma pesquisa, segundo a qual os homens “fiéis” são mais inteligentes. Será que as mulheres são fiéis por serem mais inteligentes?
É claro que, lendo a crônica, me lembrei daquela música, que não sei de quem é, nem quem é que canta: “mulher não trai, mulher se vinga”.
É mais ou menos isso que diz a Marta Medeiros, com outras palavras. As mulheres, tendo grana própria, lugar na sociedade, produtos de beleza, silicone e academia, podem ficar com tudo em cima e, se levarem corno, partirão para a desforra: bastará fazer um sinal.
Tudo isso é verdade. Os costumes evoluíram. Ou involuiram. Do casamento de véu e grinalda, “até que a morte vos separe”, o pessoal passou simplesmente e viver junto, a dividir a mesma cama com o namorado ou namorada, o noivo ou a noiva, sem muita frescura. A partir daí, parece que ninguém se sente obrigado à fidelidade. Só que Marta esqueceu de um detalhe: para trair, os homens precisam de outra mulher. Então, a chamada “infidelidade” masculina sempre teve a participação da mulher. Empatado o jogo.
Na verdade, os homens não mudaram. Continuam agindo como agiam antes, com a diferença de que agora é bem mais fácil pular a cerca, porque a vizinha também gosta do brinquedo.
Essa é que é a realidade, mormente porque os meios de comunicação, dentre os quais se ressalta a televisão, incentivam a instabilidade dos relacionamentos de todas as formas, quer com os BBB da vida, quer com as novelas e outros programas com apelo fortemente sexual.
A passividade anterior das mulheres, sua conformidade com as aventuras dos maridos era o que, na realidade, freava um pouco os costumes. Desde o momento em que elas partiram para o troco, porém, a coisa desandou, a ponto de não se encontrar mais virgens em idade núbil no mercado.
João Eichbaum
Numa crônica na qual exorciza aquilo que ela chama de “infidelidade” dos homens, ou seja, a terceirização das atividades de cama que competem à patroa, Marta Medeiros, depois de considerar que essa “infidelidade” está abrandando, perdendo o vigor, acaba prometendo o troco, assim se referindo às mulheres: “hoje, independentes financeiramente, com a sociedade as reverenciando e conhecedoras de truques para não envelhecer jamais, as mulheres já não têm por que ficar aturando desaforo. Se a linha de ônibus deles (dos machos) é freqüente, a nossa também, basta fazer um sinal”.
Não sei se é para achincalhar ou o quê, ela começa a crônica, invocando uma pesquisa, segundo a qual os homens “fiéis” são mais inteligentes. Será que as mulheres são fiéis por serem mais inteligentes?
É claro que, lendo a crônica, me lembrei daquela música, que não sei de quem é, nem quem é que canta: “mulher não trai, mulher se vinga”.
É mais ou menos isso que diz a Marta Medeiros, com outras palavras. As mulheres, tendo grana própria, lugar na sociedade, produtos de beleza, silicone e academia, podem ficar com tudo em cima e, se levarem corno, partirão para a desforra: bastará fazer um sinal.
Tudo isso é verdade. Os costumes evoluíram. Ou involuiram. Do casamento de véu e grinalda, “até que a morte vos separe”, o pessoal passou simplesmente e viver junto, a dividir a mesma cama com o namorado ou namorada, o noivo ou a noiva, sem muita frescura. A partir daí, parece que ninguém se sente obrigado à fidelidade. Só que Marta esqueceu de um detalhe: para trair, os homens precisam de outra mulher. Então, a chamada “infidelidade” masculina sempre teve a participação da mulher. Empatado o jogo.
Na verdade, os homens não mudaram. Continuam agindo como agiam antes, com a diferença de que agora é bem mais fácil pular a cerca, porque a vizinha também gosta do brinquedo.
Essa é que é a realidade, mormente porque os meios de comunicação, dentre os quais se ressalta a televisão, incentivam a instabilidade dos relacionamentos de todas as formas, quer com os BBB da vida, quer com as novelas e outros programas com apelo fortemente sexual.
A passividade anterior das mulheres, sua conformidade com as aventuras dos maridos era o que, na realidade, freava um pouco os costumes. Desde o momento em que elas partiram para o troco, porém, a coisa desandou, a ponto de não se encontrar mais virgens em idade núbil no mercado.
quinta-feira, 11 de março de 2010
BBB 2010 (IDÉIA DE RITA LEE)
A cantora e ativista Rita Lee teve uma daquelas idéias brilhantes, dignas do seu gênio criativo.Reclamando da inutilidade de programas como o Big Brother Brasil, ela deu a seguinte sugestão:
- Colocar todos os pré-candidatos à Presidência da República trancados em uma casa, debatendo e discutindo seus respectivos programas de governo, sem marqueteiros, sem assessores, sem máscaras e sem discursos ensaiados.A cada semana, o público votaria e eliminaria um candidato.No final do programa, o vencedor ganharia o cargo público máximo do País.Além de acabar com o enfadonho e repetitivo horário político, a população conheceria o verdadeiro caráter dos candidatos.Assim, quem financiaria essa casa seria o repasse de parte do valor dos telefonemas que a casa receberia e ninguém mais precisaria corromper empreiteiras ou empresas de lixo sob a alegação de cobrir o 'fundo de campanha'.
Aplausos para Rita Lee
A cantora e ativista Rita Lee teve uma daquelas idéias brilhantes, dignas do seu gênio criativo.Reclamando da inutilidade de programas como o Big Brother Brasil, ela deu a seguinte sugestão:
- Colocar todos os pré-candidatos à Presidência da República trancados em uma casa, debatendo e discutindo seus respectivos programas de governo, sem marqueteiros, sem assessores, sem máscaras e sem discursos ensaiados.A cada semana, o público votaria e eliminaria um candidato.No final do programa, o vencedor ganharia o cargo público máximo do País.Além de acabar com o enfadonho e repetitivo horário político, a população conheceria o verdadeiro caráter dos candidatos.Assim, quem financiaria essa casa seria o repasse de parte do valor dos telefonemas que a casa receberia e ninguém mais precisaria corromper empreiteiras ou empresas de lixo sob a alegação de cobrir o 'fundo de campanha'.
Aplausos para Rita Lee
quarta-feira, 10 de março de 2010
NÓS, PRIMATAS
UM AUTÊNTICO PRIMATA
João Eichbaum
Não. Não vou falar de futebol, porque tenho leitores que não apreciam muito esse tipo de esporte e dele só sabem que existe a rivalidade Gre-Nal, com milhares de fanáticos para cada lado, e a seleção brasileira.
Vou falar de um jogador do Internacional, chamado Walter.
Nascido em Pernambuco, Walter veio parar nas chamadas “categorias de base” do Inter, não sei como, nem quem o trouxe. De família paupérrima, lá deixou a mãe e os irmãos e aqui ficou internado nas dependências do clube, ganhando cama, comida e pouco mais que um salário mínimo. Excelente jogador, exibiu suas qualidades esportivas há coisa de dois anos atrás, quando integrava a equipe de juniores do Inter, numa competição estadual. Daquele certame em diante ele despontou, mas também desapontou. De estatura reforçada e tendência para engordar, passou dos limites do peso, porque não tinha limites para comer. O clube o confinou numa dieta, até que voltou para o peso normal e lhe deu oportunidade para aparecer em alguns jogos na equipe principal. Nesse ínterim, porém, ele sofreu uma lesão que o deixou afastado dos jogos, durante algum tempo.
Ao retornar, foi reintegrado na equipe e, mais uma vez, mostrou dotes futebolísticos acima dos jogadores comuns. Tanto que, no último jogo pela Taça Libertadores, partiu dos pés dele, numa jogada de craque, a vitória do Inter.
Mas, depois disso, veio o pior. Walter, revoltado contra tudo e contra todos, se homisiou no apartamento, com a namorada, não compareceu mais aos treinos, rejeitou a assistência do pessoal especializado do clube, rejeitou a imprensa e, desde então, não fala com quem quer que seja.
Entrevistada, a mãe dele, queixou-se da vida, da falta de dinheiro, dizendo que já não tem dinheiro para o gás, a luz vai ser cortada e o condomínio está atrasado.
Walter ganha atualmente CR$ 15.000,00 do Inter. Para onde vai o seu dinheiro?
Walter, como a maioria quase absoluta dos jogadores de futebol, não tem cultura, não tem sequer o curso fundamental, não tem preparo psicológico: passou de um salário mínimo para R$ 15.000,00 e o dinheiro não chega.
E nunca vai chegar, ganhe ele quanto ganhar. A pobreza, a miséria, não o educaram para ser rico, nem para a fama. Em outras palavras, o rapaz não completou o seu ciclo de evolução social.
A evolução social é tão necessária para o ser humano, quanto a evolução física, responsável pelo estágio em que ele se encontra hoje. Sem a evolução social, sem sair do casulo do “ego”, o homem fica em descompasso com o seu ambiente, descompasso esse que pode desembocar em atitudes doentias, como a do jogador Walter.
Em outras palavras, sem evolução o homem continua mais perto de suas origens. E como a banana do macaco-homem é o dinheiro, nunca haverá dinheiro que chegue.
João Eichbaum
Não. Não vou falar de futebol, porque tenho leitores que não apreciam muito esse tipo de esporte e dele só sabem que existe a rivalidade Gre-Nal, com milhares de fanáticos para cada lado, e a seleção brasileira.
Vou falar de um jogador do Internacional, chamado Walter.
Nascido em Pernambuco, Walter veio parar nas chamadas “categorias de base” do Inter, não sei como, nem quem o trouxe. De família paupérrima, lá deixou a mãe e os irmãos e aqui ficou internado nas dependências do clube, ganhando cama, comida e pouco mais que um salário mínimo. Excelente jogador, exibiu suas qualidades esportivas há coisa de dois anos atrás, quando integrava a equipe de juniores do Inter, numa competição estadual. Daquele certame em diante ele despontou, mas também desapontou. De estatura reforçada e tendência para engordar, passou dos limites do peso, porque não tinha limites para comer. O clube o confinou numa dieta, até que voltou para o peso normal e lhe deu oportunidade para aparecer em alguns jogos na equipe principal. Nesse ínterim, porém, ele sofreu uma lesão que o deixou afastado dos jogos, durante algum tempo.
Ao retornar, foi reintegrado na equipe e, mais uma vez, mostrou dotes futebolísticos acima dos jogadores comuns. Tanto que, no último jogo pela Taça Libertadores, partiu dos pés dele, numa jogada de craque, a vitória do Inter.
Mas, depois disso, veio o pior. Walter, revoltado contra tudo e contra todos, se homisiou no apartamento, com a namorada, não compareceu mais aos treinos, rejeitou a assistência do pessoal especializado do clube, rejeitou a imprensa e, desde então, não fala com quem quer que seja.
Entrevistada, a mãe dele, queixou-se da vida, da falta de dinheiro, dizendo que já não tem dinheiro para o gás, a luz vai ser cortada e o condomínio está atrasado.
Walter ganha atualmente CR$ 15.000,00 do Inter. Para onde vai o seu dinheiro?
Walter, como a maioria quase absoluta dos jogadores de futebol, não tem cultura, não tem sequer o curso fundamental, não tem preparo psicológico: passou de um salário mínimo para R$ 15.000,00 e o dinheiro não chega.
E nunca vai chegar, ganhe ele quanto ganhar. A pobreza, a miséria, não o educaram para ser rico, nem para a fama. Em outras palavras, o rapaz não completou o seu ciclo de evolução social.
A evolução social é tão necessária para o ser humano, quanto a evolução física, responsável pelo estágio em que ele se encontra hoje. Sem a evolução social, sem sair do casulo do “ego”, o homem fica em descompasso com o seu ambiente, descompasso esse que pode desembocar em atitudes doentias, como a do jogador Walter.
Em outras palavras, sem evolução o homem continua mais perto de suas origens. E como a banana do macaco-homem é o dinheiro, nunca haverá dinheiro que chegue.
terça-feira, 9 de março de 2010
CRÔNICAS ESPIRITUAIS
IMPRESSÕES PERDIDAS
Paulo Wainberg
Há uns dez anos, levado por juvenil curiosidade, fui consultar uma enciclopédia para saber o significado e a origem do Impressionismo, movimento artístico surgido na França no Século XIX.
Era uma época atípica, ou típica, talvez, quando, em casamentos, vernissages, batizados, velórios e feiras livres, falava-se de pintura e pintores como fala de cavalos de corrida o turfista, como fala de nocautes o boxeador, como fala de pintura o leigo, porém investidor.
Conhecia, ou pessoalmente ou por ouvir falar, alguns artistas locais como Xico Stockinger, Fernando Baril (sem acento no ‘a’ que é o certo) Vasco Prado, Clara Pechansky, Zorávia Betiol, Iberê Camargo, Liana Timm, vários outros que estou esquecendo, na época artistas plásticos incipientes, outros consagrados, a maioria recebendo merecida consagração atual, como nomes importantes e definitivos das artes plásticas contemporâneas.
Além, bem além, dos raros que, naquele tempo viajavam para a Europa, ouvia falar em Monet, Manet, Renoir, Jeu de Paume, um Louvre imprescindível, Degàs, Matisse – os impressionistas – nomes e palavras inescrutáveis para mim, misteriosas e distantes. Sentia-me, nessas rodas, totalmente por fora, idiota excluído, um mamute entre elefantes, um javali entre porcos-espinhos, um zumbi entre mortos-vivos.
Intolerável!
Está certo, foi há mais, bem mais, muito mais de dez anos, vinte ou trinta, e olhe lá.
Talvez quarenta...
Com absoluta certeza não havia computador nem Internet. Para saber, o compêndio era indispensável. E para ter uma idéia superficial, a enciclopédia era o caminho rápido.
Optei pela enciclopédia. Compêndios pesavam muito e não fui feito para carregar peso.
E lá fui eu consultar a Enciclopédia Jackson, a melhor, mais completa e acessível enciclopédia d’antão. No índice geral localizei rapidamente o verbete Impressionismo, volume e página.
Interessante: na época eu não usava óculos.
“Impression Du Soleil Levant”, “Impressão, Nascer do Sol”, um dos primeiros quadros de Claude Monet.
Monet pintou vistas de Paris em várias horas do dia, estudando as mutações coloridas do ambiente e sua luminosidade; recebe uma crítica pungente do não menos pungente pintor e escritor Louis Leroy, que declarou simplesmente: “Pensava eu, se estou impressionado é porque há uma impressão. E que liberdade, que suavidade de pincel! Um papel de parede é mais elaborado do que essa cena marinha”, numa tradução mais ou menos livre do francês.
Monet e seus colegas, apesar do tom pejorativo inicial, adotaram o termo impressionismo, certo de que estavam criando uma nova escola, uma verdadeira revolução no mundo das artes.
Eu sou sincero, não me atrevo a mentir para vocês: Não tenho mais certeza de ter lido isso tudo na Enciclopédia Jackson há trinta e cinco anos. Talvez, ao longo dos anos, tenha lido mais sobre o Impressionismo, seus autores, suas técnicas e estilo. Com certeza sim, principalmente após ter visto os quadros, ao vivo e a cores, no Jeu de Paume, em Paris, anos bem mais tarde daquela primeira curiosidade.
Recordo, com certeza, que uma crítica maldosa deu origem ao nome do revolucionário movimento, justamente aquela acima citada.
Há cerca de dez anos – agora sim -, por volta do ano 2000, estava eu olhando a vista, de uma das janelas do meu escritório, e tive uma idéia reveladora.
Para quem não conhece: meu escritório fica no sétimo andar de um edifício, no Centro de Porto Alegre, exatamente em frente a Praça da Alfândega, aquela onde se realiza anualmente a Feira do Livro.
Das minhas janelas vejo a copa das árvores da Praça, Ipês, Jacarandás e outras marcas, assisto seus passeios e transeuntes. Mais ao fundo, à esquerda o prédio histórico onde se localiza o MARGS, e do lado direito o prédio, também histórico, onde se localiza o Museu Histórico, com sua torre parisiense e o grande relógio, redondo e verde, a marcar as horas de trabalho e devaneio.
Ainda mais ao fundo, enxergo o portal de entrada do Cais do Porto, marcado por uma linha reta de palmeiras imensas, tudo desembocando nas águas de prata do Rio Guaíba, com suas ilhotas onde o verde da vegetação prevalece.
Mal descrita, insuficiente para a sua realidade, o que consigo ver das minhas janelas é uma visão soberba, ao mesmo tempo estimulante e relaxante, para os melhores e piores momentos.
Qual foi a idéia reveladora que tive naquela tarde, há dez anos? Fazer um estudo fotográfico, em preto e branco, da mesma paisagem, com fotos tiradas do mesmo lugar, ao longo das diversas horas, do amanhecer ao entardecer, percorrendo as quatro estações do ano. Seria o meu “Impressões de uma mesma Paisagem”, para meu consumo e satisfação.
Trouxe de casa uma máquina fotográfica e um tripé, sobre a qual fixei o instrumento, e comprei três rolos de filme Kodak, preto e branco, trinta e seis poses cada um.
E pus-me a fotografar, aleatoriamente, inspirado ou não, imaginando que teria umas noventa fotos ao final da experiência e o registro definitivo do que minha visão observava, daquele lugar.
Não me exigiu o menor esforço, não me deu nenhum trabalho.
Quase um ano depois, ao bater a última foto do terceiro rolo, mandei os três para revelação, coisa que demorava dois dias, no mínimo, naquela época.
Quando mandei buscar, recebi três envelopes contendo, cada um, um rolo de filme e nenhuma foto. Nenhuma foto! Os filmes haviam queimado.
Mal acreditei.
“Todo esse trabalhão para nada”, pensei, mas logo lembrei que não tivera trabalho algum. Conformado, tirei a máquina do tripé e, olhando para ela, descobri uma pequena fenda no encaixe da abertura para colocar os filmes e, por ali, entrou a luz que vedou as minhas fotos.
Traído pela tecnologia. Traído pela falta de atenção. Traído por uma fenda de luz.
Joguei os filmes e a máquina no lixo, guardei o tripé num armário e nunca mais tirei uma fotografia.
Não, meu querido, não foi trauma, foi falta de oportunidade, pura e simplesmente. Logo surgiram as máquinas digitais sem filme, celulares que tiram fotografia e a experiência toda serviu apenas para contá-la, hoje, nesta crônica.
Moral da história? Quem não guarda não tem.
Paulo Wainberg
Há uns dez anos, levado por juvenil curiosidade, fui consultar uma enciclopédia para saber o significado e a origem do Impressionismo, movimento artístico surgido na França no Século XIX.
Era uma época atípica, ou típica, talvez, quando, em casamentos, vernissages, batizados, velórios e feiras livres, falava-se de pintura e pintores como fala de cavalos de corrida o turfista, como fala de nocautes o boxeador, como fala de pintura o leigo, porém investidor.
Conhecia, ou pessoalmente ou por ouvir falar, alguns artistas locais como Xico Stockinger, Fernando Baril (sem acento no ‘a’ que é o certo) Vasco Prado, Clara Pechansky, Zorávia Betiol, Iberê Camargo, Liana Timm, vários outros que estou esquecendo, na época artistas plásticos incipientes, outros consagrados, a maioria recebendo merecida consagração atual, como nomes importantes e definitivos das artes plásticas contemporâneas.
Além, bem além, dos raros que, naquele tempo viajavam para a Europa, ouvia falar em Monet, Manet, Renoir, Jeu de Paume, um Louvre imprescindível, Degàs, Matisse – os impressionistas – nomes e palavras inescrutáveis para mim, misteriosas e distantes. Sentia-me, nessas rodas, totalmente por fora, idiota excluído, um mamute entre elefantes, um javali entre porcos-espinhos, um zumbi entre mortos-vivos.
Intolerável!
Está certo, foi há mais, bem mais, muito mais de dez anos, vinte ou trinta, e olhe lá.
Talvez quarenta...
Com absoluta certeza não havia computador nem Internet. Para saber, o compêndio era indispensável. E para ter uma idéia superficial, a enciclopédia era o caminho rápido.
Optei pela enciclopédia. Compêndios pesavam muito e não fui feito para carregar peso.
E lá fui eu consultar a Enciclopédia Jackson, a melhor, mais completa e acessível enciclopédia d’antão. No índice geral localizei rapidamente o verbete Impressionismo, volume e página.
Interessante: na época eu não usava óculos.
“Impression Du Soleil Levant”, “Impressão, Nascer do Sol”, um dos primeiros quadros de Claude Monet.
Monet pintou vistas de Paris em várias horas do dia, estudando as mutações coloridas do ambiente e sua luminosidade; recebe uma crítica pungente do não menos pungente pintor e escritor Louis Leroy, que declarou simplesmente: “Pensava eu, se estou impressionado é porque há uma impressão. E que liberdade, que suavidade de pincel! Um papel de parede é mais elaborado do que essa cena marinha”, numa tradução mais ou menos livre do francês.
Monet e seus colegas, apesar do tom pejorativo inicial, adotaram o termo impressionismo, certo de que estavam criando uma nova escola, uma verdadeira revolução no mundo das artes.
Eu sou sincero, não me atrevo a mentir para vocês: Não tenho mais certeza de ter lido isso tudo na Enciclopédia Jackson há trinta e cinco anos. Talvez, ao longo dos anos, tenha lido mais sobre o Impressionismo, seus autores, suas técnicas e estilo. Com certeza sim, principalmente após ter visto os quadros, ao vivo e a cores, no Jeu de Paume, em Paris, anos bem mais tarde daquela primeira curiosidade.
Recordo, com certeza, que uma crítica maldosa deu origem ao nome do revolucionário movimento, justamente aquela acima citada.
Há cerca de dez anos – agora sim -, por volta do ano 2000, estava eu olhando a vista, de uma das janelas do meu escritório, e tive uma idéia reveladora.
Para quem não conhece: meu escritório fica no sétimo andar de um edifício, no Centro de Porto Alegre, exatamente em frente a Praça da Alfândega, aquela onde se realiza anualmente a Feira do Livro.
Das minhas janelas vejo a copa das árvores da Praça, Ipês, Jacarandás e outras marcas, assisto seus passeios e transeuntes. Mais ao fundo, à esquerda o prédio histórico onde se localiza o MARGS, e do lado direito o prédio, também histórico, onde se localiza o Museu Histórico, com sua torre parisiense e o grande relógio, redondo e verde, a marcar as horas de trabalho e devaneio.
Ainda mais ao fundo, enxergo o portal de entrada do Cais do Porto, marcado por uma linha reta de palmeiras imensas, tudo desembocando nas águas de prata do Rio Guaíba, com suas ilhotas onde o verde da vegetação prevalece.
Mal descrita, insuficiente para a sua realidade, o que consigo ver das minhas janelas é uma visão soberba, ao mesmo tempo estimulante e relaxante, para os melhores e piores momentos.
Qual foi a idéia reveladora que tive naquela tarde, há dez anos? Fazer um estudo fotográfico, em preto e branco, da mesma paisagem, com fotos tiradas do mesmo lugar, ao longo das diversas horas, do amanhecer ao entardecer, percorrendo as quatro estações do ano. Seria o meu “Impressões de uma mesma Paisagem”, para meu consumo e satisfação.
Trouxe de casa uma máquina fotográfica e um tripé, sobre a qual fixei o instrumento, e comprei três rolos de filme Kodak, preto e branco, trinta e seis poses cada um.
E pus-me a fotografar, aleatoriamente, inspirado ou não, imaginando que teria umas noventa fotos ao final da experiência e o registro definitivo do que minha visão observava, daquele lugar.
Não me exigiu o menor esforço, não me deu nenhum trabalho.
Quase um ano depois, ao bater a última foto do terceiro rolo, mandei os três para revelação, coisa que demorava dois dias, no mínimo, naquela época.
Quando mandei buscar, recebi três envelopes contendo, cada um, um rolo de filme e nenhuma foto. Nenhuma foto! Os filmes haviam queimado.
Mal acreditei.
“Todo esse trabalhão para nada”, pensei, mas logo lembrei que não tivera trabalho algum. Conformado, tirei a máquina do tripé e, olhando para ela, descobri uma pequena fenda no encaixe da abertura para colocar os filmes e, por ali, entrou a luz que vedou as minhas fotos.
Traído pela tecnologia. Traído pela falta de atenção. Traído por uma fenda de luz.
Joguei os filmes e a máquina no lixo, guardei o tripé num armário e nunca mais tirei uma fotografia.
Não, meu querido, não foi trauma, foi falta de oportunidade, pura e simplesmente. Logo surgiram as máquinas digitais sem filme, celulares que tiram fotografia e a experiência toda serviu apenas para contá-la, hoje, nesta crônica.
Moral da história? Quem não guarda não tem.
segunda-feira, 8 de março de 2010
NÓS, PRIMATAS
UMA DOUTORA MUITO DESINIBIDA
João Eichbaum
Na semana passada uma notícia que prendeu a atenção dos gaúchos foi a do “sequestro de um casal de médicos”, anunciada na manchete da Zero Hora.
O “casal”, na verdade, não era um casal, do ponto de vista politicamente correto, casal casado de papel passado e lembrança da paróquia. Nem era um “casal de médicos”. Ela, sim, pediatra, mas ele, apenas estudante de medicina. Ela, uma loira, dessas de não se jogar fora, bem falante, com 34 anos. Ele, um cara quieto, tímido, de poucas palavras.
A desinibição dela foi tanta, que não escondeu detalhes picantes do seqüestro. São suas palavras textuais, falando, sem cara de nojo, sobre os seqüestradores, com a naturalidade de quem descreveria a devoção deles, rezando o rosário diante duma imagem da Virgem Maria: “passaram a noite bebendo uísque, assistindo a filmes pornôs, se masturbando”.
Confesso que fiquei chocado. Num momento desses, nenhuma pessoa, atormentada pelo horror, iria ressaltar as circunstâncias paralelas de um seqüestro. Mas a doutora Melissa – esse o nome dela – descreveu tudo, nada escondeu, não fez como a maioria das vítimas que “pedem para não ser identificadas”. Ao contrário dessas vítimas - muitos homens entre elas - que se borram de medo, a doutora Melissa soltou o verbo, deixou rolar muita fotografia, mostrou sua beleza, da qual emana uma discreta e, por isso mesmo, inquietante sensualidade. Tudo ao lado do seu “namorado”, um estudante quatro anos mais moço do que ela e que, ao que tudo indica, não tinha um puto vintém nos bancos. Ela é que tinha o dinheiro que os seqüestradores procuravam e que fez a polícia sair correndo, para atender a ocorrência.
Querem que eu seja bem franco? Ele não passa de um zero à esquerda.
Ah, e tem mais: ela despediu uma babá de seu filho porque a surpreendeu na cama com o namorado - casualmente um dos seqüestradores. Do pai do menino, que tem quatro anos, seu currículo não diz patavina.
Um personalidade instigante essa, a doutora Melissa, mais desinibida que muitos machos sem colhão que andam por aí, se escondendo, por medo de revelar a identidade, depois de terem sido assaltados.
Ah, antes que me esqueça: ela é do Alegrete, onde o gaúcho usa bota, espora, bombacha, bigode e costeletas, ao invés dessa frescura chamada tatuagem.
Calha bem na foto a doutora Melissa, no Dia Internacional da Mulher.
João Eichbaum
Na semana passada uma notícia que prendeu a atenção dos gaúchos foi a do “sequestro de um casal de médicos”, anunciada na manchete da Zero Hora.
O “casal”, na verdade, não era um casal, do ponto de vista politicamente correto, casal casado de papel passado e lembrança da paróquia. Nem era um “casal de médicos”. Ela, sim, pediatra, mas ele, apenas estudante de medicina. Ela, uma loira, dessas de não se jogar fora, bem falante, com 34 anos. Ele, um cara quieto, tímido, de poucas palavras.
A desinibição dela foi tanta, que não escondeu detalhes picantes do seqüestro. São suas palavras textuais, falando, sem cara de nojo, sobre os seqüestradores, com a naturalidade de quem descreveria a devoção deles, rezando o rosário diante duma imagem da Virgem Maria: “passaram a noite bebendo uísque, assistindo a filmes pornôs, se masturbando”.
Confesso que fiquei chocado. Num momento desses, nenhuma pessoa, atormentada pelo horror, iria ressaltar as circunstâncias paralelas de um seqüestro. Mas a doutora Melissa – esse o nome dela – descreveu tudo, nada escondeu, não fez como a maioria das vítimas que “pedem para não ser identificadas”. Ao contrário dessas vítimas - muitos homens entre elas - que se borram de medo, a doutora Melissa soltou o verbo, deixou rolar muita fotografia, mostrou sua beleza, da qual emana uma discreta e, por isso mesmo, inquietante sensualidade. Tudo ao lado do seu “namorado”, um estudante quatro anos mais moço do que ela e que, ao que tudo indica, não tinha um puto vintém nos bancos. Ela é que tinha o dinheiro que os seqüestradores procuravam e que fez a polícia sair correndo, para atender a ocorrência.
Querem que eu seja bem franco? Ele não passa de um zero à esquerda.
Ah, e tem mais: ela despediu uma babá de seu filho porque a surpreendeu na cama com o namorado - casualmente um dos seqüestradores. Do pai do menino, que tem quatro anos, seu currículo não diz patavina.
Um personalidade instigante essa, a doutora Melissa, mais desinibida que muitos machos sem colhão que andam por aí, se escondendo, por medo de revelar a identidade, depois de terem sido assaltados.
Ah, antes que me esqueça: ela é do Alegrete, onde o gaúcho usa bota, espora, bombacha, bigode e costeletas, ao invés dessa frescura chamada tatuagem.
Calha bem na foto a doutora Melissa, no Dia Internacional da Mulher.
quinta-feira, 4 de março de 2010
VARIAÇÕES EM TORNO DO TEMA FIADASPUTAS
O julgamento do CNJ e a fragilidade das nossas instituições
Waldir Serafim
As Instituições públicas no Brasil estão tão desmoralizadas que até uma decisão, como a do CNJ, que afastou dez magistrados de Mato Grosso, nós torcemos e comemoramos. Cuiabá inteira torcia pela punição, como se fosse uma lavagem da alma. Como se aquele resultado fosse alvejar de vez todas as sujeiras escondidas nos obscuros escaninhos das repartições públicas. Fossem outros os personagens desse lamentável episódio, a torcida seria a mesma. O que estava em julgamento no do CNJ não eram aqueles magistrados, nem mesmo o poder judiciário de Mato Grosso, eram as instituições públicas e, principalmente, os agentes políticos.Pesquisas realizadas por diversos institutos revelam que a percepção negativa das instituições, que atinge 2/3 da população, perspassa todos os segmentos sociais, não distinguindo nível de renda, escolaridade e distribuição regional. O cidadão acredita na democracia, mas não acredita nas instituições democráticas que dá sustentação ao sistema, e menos ainda nos agentes políticos. Traduz-se num paradoxo a natureza contraditória entre a desconfiança nas instituições e o apoio à democracia. E isso influi, inclusive, na disposição do cidadão em participar do processo democrático de escolha dos seus governantes. Torna-se presa fácil de líderes populistas que trabalham com a emoção do eleitor para sobrepujar a razão. O eleitor é iludido com promessas vazias, de soluções milagrosas de curto prazo, que só leva a mais frustração e descrença.Mesmo depois de passadas duas décadas da promulgação da Constituição de 1988 (constituição cidadã, conforme Ulisses Guimarães), constata-se a não consolidação plena do sistema democrático, pela fragilidade das instituições. A democracia se fragiliza a cada vez que o cidadão se sente fraudado pelo comportamento anti-republicano dos agentes políticos; quando o cidadão constata que não existe impessoalidade na aplicação da justiça; quando os serviços públicos prestados não atendem seus objetivos ou quando viceja a sensação de impunidade. A democracia se fragiliza quando o Presidente da República afronta e desafia o Congresso Nacional e o TCU (Tribunal de Contas da União) ao decidir, autocraticamente, destinar dinheiro do orçamento para obras com irregularidades apontadas pela instituição ou quando a Justiça Eleitoral, subserviente, finge não ver a campanha eleitoral extemporânea, e à custa do erário, da ministra Dilma.O poder judiciário per se é o último baluarte da democracia. Quando não tem ninguém mais a quem recorrer o cidadão recorre à justiça. Sem um poder judiciário forte, independente, isento e atuante, não existe democracia, não existe cidadania. Quando o judiciário fracassa, não resta ao cidadão senão a alternativa de entregar sua proteção a grupos que agem à margem da lei. É a falência do estado de direito. Portanto, ao invés de comemorar a decisão do CNJ nós devíamos chorar e lamentar. Uma democracia não existe sem instituições fortes, consolidadas.
Waldir Serafim é economista em Mato Grosso.
Viram só? Os juízes do Mato Grosso não “dividiram” com os juízes do Conselho Nacional de Justiça e se deram mal.
João Eichbaum
RETORNAREMOS segunda-feira DIA 8 DE MARÇO
Waldir Serafim
As Instituições públicas no Brasil estão tão desmoralizadas que até uma decisão, como a do CNJ, que afastou dez magistrados de Mato Grosso, nós torcemos e comemoramos. Cuiabá inteira torcia pela punição, como se fosse uma lavagem da alma. Como se aquele resultado fosse alvejar de vez todas as sujeiras escondidas nos obscuros escaninhos das repartições públicas. Fossem outros os personagens desse lamentável episódio, a torcida seria a mesma. O que estava em julgamento no do CNJ não eram aqueles magistrados, nem mesmo o poder judiciário de Mato Grosso, eram as instituições públicas e, principalmente, os agentes políticos.Pesquisas realizadas por diversos institutos revelam que a percepção negativa das instituições, que atinge 2/3 da população, perspassa todos os segmentos sociais, não distinguindo nível de renda, escolaridade e distribuição regional. O cidadão acredita na democracia, mas não acredita nas instituições democráticas que dá sustentação ao sistema, e menos ainda nos agentes políticos. Traduz-se num paradoxo a natureza contraditória entre a desconfiança nas instituições e o apoio à democracia. E isso influi, inclusive, na disposição do cidadão em participar do processo democrático de escolha dos seus governantes. Torna-se presa fácil de líderes populistas que trabalham com a emoção do eleitor para sobrepujar a razão. O eleitor é iludido com promessas vazias, de soluções milagrosas de curto prazo, que só leva a mais frustração e descrença.Mesmo depois de passadas duas décadas da promulgação da Constituição de 1988 (constituição cidadã, conforme Ulisses Guimarães), constata-se a não consolidação plena do sistema democrático, pela fragilidade das instituições. A democracia se fragiliza a cada vez que o cidadão se sente fraudado pelo comportamento anti-republicano dos agentes políticos; quando o cidadão constata que não existe impessoalidade na aplicação da justiça; quando os serviços públicos prestados não atendem seus objetivos ou quando viceja a sensação de impunidade. A democracia se fragiliza quando o Presidente da República afronta e desafia o Congresso Nacional e o TCU (Tribunal de Contas da União) ao decidir, autocraticamente, destinar dinheiro do orçamento para obras com irregularidades apontadas pela instituição ou quando a Justiça Eleitoral, subserviente, finge não ver a campanha eleitoral extemporânea, e à custa do erário, da ministra Dilma.O poder judiciário per se é o último baluarte da democracia. Quando não tem ninguém mais a quem recorrer o cidadão recorre à justiça. Sem um poder judiciário forte, independente, isento e atuante, não existe democracia, não existe cidadania. Quando o judiciário fracassa, não resta ao cidadão senão a alternativa de entregar sua proteção a grupos que agem à margem da lei. É a falência do estado de direito. Portanto, ao invés de comemorar a decisão do CNJ nós devíamos chorar e lamentar. Uma democracia não existe sem instituições fortes, consolidadas.
Waldir Serafim é economista em Mato Grosso.
Viram só? Os juízes do Mato Grosso não “dividiram” com os juízes do Conselho Nacional de Justiça e se deram mal.
João Eichbaum
RETORNAREMOS segunda-feira DIA 8 DE MARÇO
quarta-feira, 3 de março de 2010
NÓS, PRIMATAS
SIMPLESMENTE COMPLICADO
João Eichbaum
Gostei do título. Gostei tanto do título que o aproveitei para esta crônica. “Simplesmente Complicado” é o título de um baita filme, que está sendo exibido nesta semana. E bota complicação nisso: trata-se de um casal divorciado há 10 anos. O marido deixou a mulher e os três filhos, por causa de outra. A mulher abandonada, ao invés de sair em busca de outro relacionamento, procurou se dedicar aos filhos e à administração de seu negócio, que lhe rendeu dinheiro e sucesso. O marido infiel casou com aquela mulher que foi a causa da ruptura do casamento, por sinal uma bela mulher, uma morenaça de endoidar, e constituiu família com ela.
Dez anos depois, enquanto os filhos do primeiro casamento, já adultos, estavam se formando e se profissionalizando, o marido andava às voltas com um guri tinhoso, de cinco anos, começando tudo de novo e ainda fazendo tratamento para engravidar a bela morena, já quarentona, mas com tudo em cima.
Aí, por um acaso, se encontra com a ex-mulher, cinquentona e, bêbados ambos, acabam indo para a cama.
A partir desse acontecimento, que podia ter ficado por isso mesmo, ele percebeu que estava apaixonado pela ex-mulher, descobrindo nela qualidades que antes não vira, ou não valorizara. A ex-mulher passou a ser a “outra”, com a qual ele se encontrava furtivamente, se escondendo dos filhos e da mulher atual.
Mas, a vida é assim: hoje a pessoa está só, sem ninguém, e quando aparece alguém a coisa desanda, porque surge também outro amor, no paralelo.
Foi isso exatamente que aconteceu com a ex-mulher, que agora era a “amante” do ex- marido: tinha um terceiro dando em cima dela e ela começou a vacilar entre o ex-marido e o atual pretendente.
Bem, não vou contar todo o filme, quando mais não seja porque não o assisti até o fim, para não me decepcionar, talvez. Mas o que vi durante o filme já me bastou para mostrar pela enésima vez a instabilidade emocional do ser humano, sua eterna insatisfação amorosa, sua busca por algo que dure para sempre. Sem contar o trauma dos filhos, a cura do trauma e a recidiva desse trauma para estragar a vida deles, que já estava nos eixos. Tudo gerado pela irresponsável instabilidade afetiva do primata macho, tornado homem sem que pudesse abdicar da animalidade.
Vale a pena conferir, para rir muito. Aceito que me contem o final.
João Eichbaum
Gostei do título. Gostei tanto do título que o aproveitei para esta crônica. “Simplesmente Complicado” é o título de um baita filme, que está sendo exibido nesta semana. E bota complicação nisso: trata-se de um casal divorciado há 10 anos. O marido deixou a mulher e os três filhos, por causa de outra. A mulher abandonada, ao invés de sair em busca de outro relacionamento, procurou se dedicar aos filhos e à administração de seu negócio, que lhe rendeu dinheiro e sucesso. O marido infiel casou com aquela mulher que foi a causa da ruptura do casamento, por sinal uma bela mulher, uma morenaça de endoidar, e constituiu família com ela.
Dez anos depois, enquanto os filhos do primeiro casamento, já adultos, estavam se formando e se profissionalizando, o marido andava às voltas com um guri tinhoso, de cinco anos, começando tudo de novo e ainda fazendo tratamento para engravidar a bela morena, já quarentona, mas com tudo em cima.
Aí, por um acaso, se encontra com a ex-mulher, cinquentona e, bêbados ambos, acabam indo para a cama.
A partir desse acontecimento, que podia ter ficado por isso mesmo, ele percebeu que estava apaixonado pela ex-mulher, descobrindo nela qualidades que antes não vira, ou não valorizara. A ex-mulher passou a ser a “outra”, com a qual ele se encontrava furtivamente, se escondendo dos filhos e da mulher atual.
Mas, a vida é assim: hoje a pessoa está só, sem ninguém, e quando aparece alguém a coisa desanda, porque surge também outro amor, no paralelo.
Foi isso exatamente que aconteceu com a ex-mulher, que agora era a “amante” do ex- marido: tinha um terceiro dando em cima dela e ela começou a vacilar entre o ex-marido e o atual pretendente.
Bem, não vou contar todo o filme, quando mais não seja porque não o assisti até o fim, para não me decepcionar, talvez. Mas o que vi durante o filme já me bastou para mostrar pela enésima vez a instabilidade emocional do ser humano, sua eterna insatisfação amorosa, sua busca por algo que dure para sempre. Sem contar o trauma dos filhos, a cura do trauma e a recidiva desse trauma para estragar a vida deles, que já estava nos eixos. Tudo gerado pela irresponsável instabilidade afetiva do primata macho, tornado homem sem que pudesse abdicar da animalidade.
Vale a pena conferir, para rir muito. Aceito que me contem o final.
terça-feira, 2 de março de 2010
COM A PALAVRA, JANER CRISTALDO
PRESCRIÇÕES DE MEU UROLOGISTA
Quem me acompanha, sabe de meu apreço por leituras de teologia, religiões e história do cristianismo. Para meus desafetos, isto é sinal que ainda não encontrei uma fé e estou vivendo uma crise espiritual.
Nada disso. Desde há muito sou ateu e convivo serenamente com esta condição. No dia em que deixei de acreditar em Deus e nas coisas do além, fui tomado por uma extraordinária sensação de liberdade. Se hoje leio livros sobre teologia ou religiões, por um lado os leio para divertir-me. Nada mais divertido do que ver as acrobacias intelectuais dos teólogos para justificar o injustificável, para provar o improvável.
Por outro lado, estas leituras me ajudam a entender o Ocidente e as circunstâncias em que vivo. Ninguém conseguirá entender este nosso mundinho se não conhecer a história do cristianismo.Um de meus pavores é estar em algum lugar público, esperando algo ou mesmo nada esperando, sem ter nada para ler. Quando saio à rua, me muno de jornais e livros. Considero que um homem bebendo solitário em um bar, sem nada para ler, é um bêbado em potencial. Ou, no mínimo, um homem vazio. Já um homem que bebe tendo um livro nas mãos é outra coisa. É um leitor que bebe enquanto lê. Este medo de estar sem leitura em lugares públicos até ganhou um nome, criado por esses construtores contumazes de palavras: biblioagorafobia.
Biblioagorafobo desde o berço, me sinto no deserto se sento em algum café ou bar sem leitura em punho. Meu urologista também.Sempre o encontro nos cafés de meu bairro. Temos algo em comum: ele está sempre absorto, mergulhado em leituras, alheio ao universo que o cerca. Não que leia sobre medicina. Ele lê em todas as direções. E particularmente sobre religiões e história das religiões. É leitor entusiasta, daqueles que se entregam a um bom livro com o mesmo prazer de gourmet que degusta um bom prato. Sempre que nos encontramos, trocamos bibliografias. Em nosso último encontro, prescreveu-me dois livros.O primeiro foi História do Cristianismo – para compreender melhor nosso tempo, antologia de ensaios organizada por Alain Corbin. Onde leio, já na introdução:“O cristianismo impregna, com maior ou menor evidência, a vida cotidiana, os valores e as opções estéticas até mesmo dos que o ignoram. Ele contribui para o desenho da paisagem dos campos e das cidades. Às vezes, ganha destaque no noticiário. Contudo, os conhecimentos necessários à interpretação dessa presença se apagam com rapidez. Com isso, a incompreensão aumenta.
“Admirar o monte Saint-Michel e os monumentos de Roma, de Praga ou de Belém, deleitar-se com a música de Bach ou de Messiaen, contemplar quadros de Rembrandt, apreciar verdadeiramente certas obras de Stendhal ou de Victor Hugo implica poder decifrar as referências cristãs que constituem a beleza desses lugares e obras-primas. Entender os debates mais recentes sobre a colonização, as práticas humanitárias, a bioética, o choque de culturas também supõe um conhecimento do cristianismo, dos elementos fundamentais da sua doutrina, das peripécias que marcaram sua história, das etapas da sua adaptação ao mundo”.
É o tipo de livro que me agrada ler. Não que me traga algo de novo. Mas é como repassar uma aula, aula que nunca tive. Na escola, estudamos no máximo uma doutrina religiosa. Jamais se estuda história das religiões. Os proselitistas sabem que estudar história das religiões é perder a fé.
Mergulhei com entusiasmo na prescrição de meu urologista e a recomendo a meus leitores.
A segunda prescrição foi outro livro, completamente alheio a este tema, mas também fundamental para entendermos o mundo em que vivemos. O Livro dos Números – uma história ilustrada da matemática, de Peter Bentley. E soberbamente ilustrado, com farta iconografia. Números têm muito a ver com religião. Neste livro descubro, entre outras coisas, que nosso calendário está incorreto ao celebrar o primeiro aniversário de Cristo no dia em que ele nasceu. Ocorre que na época não se tinha a noção de zero.“Em 2 d.C., Cristo tinha um ano. Em 3 d.C., tinha dois. (De fato, o calendário é provavelmente muito mais impreciso ainda, pois, segundo Mateus, capítulo 2, o rei Herodes estava vivo quando Jesus nasceu, e os registros históricos mostram que Herodes morreu em 4 a.C.) Portanto, nosso calendário é um pouquinho atrapalhado.
Como não tivemos zero algum, o início do século II foi na verdade 101 d.C. As recentes celebrações do milênio ocorreram a um ano inteiro de distância do devido momento – o ano 2001 d.C. ocorreu na realidade 2.000 anos depois do nascimento (percebido) de Cristo. Talvez devêssemos aprender a contar a partir de zero”.
Isto é só aperitivo. O autor continua perseguindo o desenvolvimento da matemática na história, ilustrando sua tese com a biografia e achados dos grandes nomes da área. É livro tão importante para entender o mundo como uma história das religiões.Tim-tim, leitor! Eu, que pouco ou nada entendo do universo matemático, estou mergulhando com gosto neste livro. Recomendo vivamente.
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Quem me acompanha, sabe de meu apreço por leituras de teologia, religiões e história do cristianismo. Para meus desafetos, isto é sinal que ainda não encontrei uma fé e estou vivendo uma crise espiritual.
Nada disso. Desde há muito sou ateu e convivo serenamente com esta condição. No dia em que deixei de acreditar em Deus e nas coisas do além, fui tomado por uma extraordinária sensação de liberdade. Se hoje leio livros sobre teologia ou religiões, por um lado os leio para divertir-me. Nada mais divertido do que ver as acrobacias intelectuais dos teólogos para justificar o injustificável, para provar o improvável.
Por outro lado, estas leituras me ajudam a entender o Ocidente e as circunstâncias em que vivo. Ninguém conseguirá entender este nosso mundinho se não conhecer a história do cristianismo.Um de meus pavores é estar em algum lugar público, esperando algo ou mesmo nada esperando, sem ter nada para ler. Quando saio à rua, me muno de jornais e livros. Considero que um homem bebendo solitário em um bar, sem nada para ler, é um bêbado em potencial. Ou, no mínimo, um homem vazio. Já um homem que bebe tendo um livro nas mãos é outra coisa. É um leitor que bebe enquanto lê. Este medo de estar sem leitura em lugares públicos até ganhou um nome, criado por esses construtores contumazes de palavras: biblioagorafobia.
Biblioagorafobo desde o berço, me sinto no deserto se sento em algum café ou bar sem leitura em punho. Meu urologista também.Sempre o encontro nos cafés de meu bairro. Temos algo em comum: ele está sempre absorto, mergulhado em leituras, alheio ao universo que o cerca. Não que leia sobre medicina. Ele lê em todas as direções. E particularmente sobre religiões e história das religiões. É leitor entusiasta, daqueles que se entregam a um bom livro com o mesmo prazer de gourmet que degusta um bom prato. Sempre que nos encontramos, trocamos bibliografias. Em nosso último encontro, prescreveu-me dois livros.O primeiro foi História do Cristianismo – para compreender melhor nosso tempo, antologia de ensaios organizada por Alain Corbin. Onde leio, já na introdução:“O cristianismo impregna, com maior ou menor evidência, a vida cotidiana, os valores e as opções estéticas até mesmo dos que o ignoram. Ele contribui para o desenho da paisagem dos campos e das cidades. Às vezes, ganha destaque no noticiário. Contudo, os conhecimentos necessários à interpretação dessa presença se apagam com rapidez. Com isso, a incompreensão aumenta.
“Admirar o monte Saint-Michel e os monumentos de Roma, de Praga ou de Belém, deleitar-se com a música de Bach ou de Messiaen, contemplar quadros de Rembrandt, apreciar verdadeiramente certas obras de Stendhal ou de Victor Hugo implica poder decifrar as referências cristãs que constituem a beleza desses lugares e obras-primas. Entender os debates mais recentes sobre a colonização, as práticas humanitárias, a bioética, o choque de culturas também supõe um conhecimento do cristianismo, dos elementos fundamentais da sua doutrina, das peripécias que marcaram sua história, das etapas da sua adaptação ao mundo”.
É o tipo de livro que me agrada ler. Não que me traga algo de novo. Mas é como repassar uma aula, aula que nunca tive. Na escola, estudamos no máximo uma doutrina religiosa. Jamais se estuda história das religiões. Os proselitistas sabem que estudar história das religiões é perder a fé.
Mergulhei com entusiasmo na prescrição de meu urologista e a recomendo a meus leitores.
A segunda prescrição foi outro livro, completamente alheio a este tema, mas também fundamental para entendermos o mundo em que vivemos. O Livro dos Números – uma história ilustrada da matemática, de Peter Bentley. E soberbamente ilustrado, com farta iconografia. Números têm muito a ver com religião. Neste livro descubro, entre outras coisas, que nosso calendário está incorreto ao celebrar o primeiro aniversário de Cristo no dia em que ele nasceu. Ocorre que na época não se tinha a noção de zero.“Em 2 d.C., Cristo tinha um ano. Em 3 d.C., tinha dois. (De fato, o calendário é provavelmente muito mais impreciso ainda, pois, segundo Mateus, capítulo 2, o rei Herodes estava vivo quando Jesus nasceu, e os registros históricos mostram que Herodes morreu em 4 a.C.) Portanto, nosso calendário é um pouquinho atrapalhado.
Como não tivemos zero algum, o início do século II foi na verdade 101 d.C. As recentes celebrações do milênio ocorreram a um ano inteiro de distância do devido momento – o ano 2001 d.C. ocorreu na realidade 2.000 anos depois do nascimento (percebido) de Cristo. Talvez devêssemos aprender a contar a partir de zero”.
Isto é só aperitivo. O autor continua perseguindo o desenvolvimento da matemática na história, ilustrando sua tese com a biografia e achados dos grandes nomes da área. É livro tão importante para entender o mundo como uma história das religiões.Tim-tim, leitor! Eu, que pouco ou nada entendo do universo matemático, estou mergulhando com gosto neste livro. Recomendo vivamente.
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segunda-feira, 1 de março de 2010
NÓS, PRIMATAS
O ESTERCO DO DIABO (II)
João Eichbaum
Noticia a Zero Hora que, enviando mensagem ao excelentíssimo e reverendíssimo senhor bispo Geraldo Lyrio Rocha, presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o pastor alemão Joseph Ratzinger, mais conhecido como Papa Bento XVI, lembrando que a Quaresma é um período propício para a reconciliação com Deus, pediu aos fiéis para “se libertarem da escravidão do dinheiro”, a propósito do tema da “campanha da fraternidade”.
Bom, dois reparos.
Primeiro: os outros períodos do calendário cristão, que não a Quaresma, são menos “propícios para a reconciliação com Deus”? Será que durante a Quaresma o deus judaico-cristão está com o humor mais favorável para um papo-cabeça? E no resto do ano?
Segundo: é possível viver sem dinheiro?
Comecemos pelo Vaticano. Sem dinheiro, como viveria o Papa? Como sustentaria a guarda suíça, como conservaria as magníficas obras de arte de que se apoderou a Igreja Católica, prometendo a vida eterna para os artistas? E o fabuloso museu do Vaticano? E a preciosíssima biblioteca? A própria cidade do Vaticano, como sobreviveria? E os empregados, os padres, os bispos, as freiras que lá vivem, o que fariam sem dinheiro?
Que o papa nos mostre como é possível se livrar do dinheiro, começando por ele próprio. Faça ele uma experiência e depois nos passe a fórmula.
Nós, que não recebemos esmolas, nem doações, e jamais pilhamos impérios; nós, que precisamos trabalhar para viver, porque somos incapazes de inventar lorotas para engambelar as pessoas, prometendo-lhes que irão viver para sempre, desde que nos passem o “dízimo” de seus rendimentos, nós sabemos perfeitamente que, desde que o sistema de troca foi substituído pelo dinheiro, já não podemos viver sem ele.
Isso é escravidão? Sim, sem dúvida. A gente é escravo de tudo aquilo de que depende, e nós dependemos substancialmente do dinheiro, para viver.
O Papa, a exemplo de Jesus Cristo, não trabalha, não ganha o dinheiro biblicamente, isto é, com o suor do seu rosto. Há gente que trabalha para lhe passar dinheiro. É por isso que ele não se sente “escravo” do dinheiro.
Mas a inconseqüência verbal do papa vai mais adiante. Ele termina sua mensagem ao presidente da CNBB, pedindo as “melhores bênçãos de Deus” para seus irmãos e amigos do Brasil.
Então quer dizer que esse Deus tem todo o tipo de “bênçãos”, numa graduação que vai das piores às melhores?
Por isso é que há gente que não se arrisca a pedir bênção. Pode vir uma das piores.
João Eichbaum
Noticia a Zero Hora que, enviando mensagem ao excelentíssimo e reverendíssimo senhor bispo Geraldo Lyrio Rocha, presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o pastor alemão Joseph Ratzinger, mais conhecido como Papa Bento XVI, lembrando que a Quaresma é um período propício para a reconciliação com Deus, pediu aos fiéis para “se libertarem da escravidão do dinheiro”, a propósito do tema da “campanha da fraternidade”.
Bom, dois reparos.
Primeiro: os outros períodos do calendário cristão, que não a Quaresma, são menos “propícios para a reconciliação com Deus”? Será que durante a Quaresma o deus judaico-cristão está com o humor mais favorável para um papo-cabeça? E no resto do ano?
Segundo: é possível viver sem dinheiro?
Comecemos pelo Vaticano. Sem dinheiro, como viveria o Papa? Como sustentaria a guarda suíça, como conservaria as magníficas obras de arte de que se apoderou a Igreja Católica, prometendo a vida eterna para os artistas? E o fabuloso museu do Vaticano? E a preciosíssima biblioteca? A própria cidade do Vaticano, como sobreviveria? E os empregados, os padres, os bispos, as freiras que lá vivem, o que fariam sem dinheiro?
Que o papa nos mostre como é possível se livrar do dinheiro, começando por ele próprio. Faça ele uma experiência e depois nos passe a fórmula.
Nós, que não recebemos esmolas, nem doações, e jamais pilhamos impérios; nós, que precisamos trabalhar para viver, porque somos incapazes de inventar lorotas para engambelar as pessoas, prometendo-lhes que irão viver para sempre, desde que nos passem o “dízimo” de seus rendimentos, nós sabemos perfeitamente que, desde que o sistema de troca foi substituído pelo dinheiro, já não podemos viver sem ele.
Isso é escravidão? Sim, sem dúvida. A gente é escravo de tudo aquilo de que depende, e nós dependemos substancialmente do dinheiro, para viver.
O Papa, a exemplo de Jesus Cristo, não trabalha, não ganha o dinheiro biblicamente, isto é, com o suor do seu rosto. Há gente que trabalha para lhe passar dinheiro. É por isso que ele não se sente “escravo” do dinheiro.
Mas a inconseqüência verbal do papa vai mais adiante. Ele termina sua mensagem ao presidente da CNBB, pedindo as “melhores bênçãos de Deus” para seus irmãos e amigos do Brasil.
Então quer dizer que esse Deus tem todo o tipo de “bênçãos”, numa graduação que vai das piores às melhores?
Por isso é que há gente que não se arrisca a pedir bênção. Pode vir uma das piores.
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