quarta-feira, 10 de março de 2010

NÓS, PRIMATAS

UM AUTÊNTICO PRIMATA

João Eichbaum

Não. Não vou falar de futebol, porque tenho leitores que não apreciam muito esse tipo de esporte e dele só sabem que existe a rivalidade Gre-Nal, com milhares de fanáticos para cada lado, e a seleção brasileira.
Vou falar de um jogador do Internacional, chamado Walter.
Nascido em Pernambuco, Walter veio parar nas chamadas “categorias de base” do Inter, não sei como, nem quem o trouxe. De família paupérrima, lá deixou a mãe e os irmãos e aqui ficou internado nas dependências do clube, ganhando cama, comida e pouco mais que um salário mínimo. Excelente jogador, exibiu suas qualidades esportivas há coisa de dois anos atrás, quando integrava a equipe de juniores do Inter, numa competição estadual. Daquele certame em diante ele despontou, mas também desapontou. De estatura reforçada e tendência para engordar, passou dos limites do peso, porque não tinha limites para comer. O clube o confinou numa dieta, até que voltou para o peso normal e lhe deu oportunidade para aparecer em alguns jogos na equipe principal. Nesse ínterim, porém, ele sofreu uma lesão que o deixou afastado dos jogos, durante algum tempo.
Ao retornar, foi reintegrado na equipe e, mais uma vez, mostrou dotes futebolísticos acima dos jogadores comuns. Tanto que, no último jogo pela Taça Libertadores, partiu dos pés dele, numa jogada de craque, a vitória do Inter.
Mas, depois disso, veio o pior. Walter, revoltado contra tudo e contra todos, se homisiou no apartamento, com a namorada, não compareceu mais aos treinos, rejeitou a assistência do pessoal especializado do clube, rejeitou a imprensa e, desde então, não fala com quem quer que seja.
Entrevistada, a mãe dele, queixou-se da vida, da falta de dinheiro, dizendo que já não tem dinheiro para o gás, a luz vai ser cortada e o condomínio está atrasado.
Walter ganha atualmente CR$ 15.000,00 do Inter. Para onde vai o seu dinheiro?
Walter, como a maioria quase absoluta dos jogadores de futebol, não tem cultura, não tem sequer o curso fundamental, não tem preparo psicológico: passou de um salário mínimo para R$ 15.000,00 e o dinheiro não chega.
E nunca vai chegar, ganhe ele quanto ganhar. A pobreza, a miséria, não o educaram para ser rico, nem para a fama. Em outras palavras, o rapaz não completou o seu ciclo de evolução social.
A evolução social é tão necessária para o ser humano, quanto a evolução física, responsável pelo estágio em que ele se encontra hoje. Sem a evolução social, sem sair do casulo do “ego”, o homem fica em descompasso com o seu ambiente, descompasso esse que pode desembocar em atitudes doentias, como a do jogador Walter.
Em outras palavras, sem evolução o homem continua mais perto de suas origens. E como a banana do macaco-homem é o dinheiro, nunca haverá dinheiro que chegue.

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