quarta-feira, 24 de março de 2010

NÓS, PRIMATAS

FREIRAS EM CASA DE MASSAGEM

João Eichbaum

Ela não tinha segundo grau completo, nem profissão. Em compensação era dona de um belo corpo: esguio e bem traçado. No rosto claro, tendo como pano de fundo os cabelos negros, o que chamavam a atenção eram os olhos puxados.
Tocava-lhe administrar o parco orçamento da família, cuja receita era composta pelos proventos mínimos de aposentadoria do pai e das eventuais faxinas domésticas a cargo da mãe. Resultado: “déficit” mensal galopante.
Resolveu partir para a batalha então, botou casa de massagem.
Ah, antes que me esqueça, era noiva e o noivo, por motivos que nem é preciso explicar, não podia saber do tino dela para esse tipo de negócio. Para todos os efeitos iria trabalhar numa estética feminina. A fim de evitar flagrante do noivo, embora nem o endereço ele soubesse, foi com o nome de estética que montou o comércio das atividades ardentes sem roupa. E mais: fez convênio com salão de beleza, que não operava com massagens, para que lhe enviassem as damas necessitadas por estresse, dores na coluna, ou simples necessidade de relaxamento. Negócio fechado, à base de 50% de comissão.
Tudo com hora marcada, para não haver encontro de damas interessadas em massagem e machos interessados em sexo, na sala de espera. As “gurias” por ela contratadas tinham muitas horas de voo e sabiam encenar, ao receber as pessoas: ficavam com os machos e mandavam para ela as moças e senhoras.
Como hoje em dia não há mulheres inocentes em matéria de sexo, porque as novelas ensinam tudo, os gemidos ardentes na sala do lado, ligeiramente abafados pela música de fundo, não provocavam a mínima reação das clientes.
Até que um dia o salão de beleza encaminhou para massagem um grupo de freiras de uma escola.
Aí, sim, a coisa enroscou. As gurias não podiam gemer, nem sinalizar, com decibéis ardentes, os orgasmos profissionais. Quando os homens abriam a boca para reclamar, elas estavam orientadas a lhes colocar carinhosamente a mão ou outra coisa na boca, para que eles calassem, enquanto se divertiam, tal e qual se faz com uma criança que ameaça chorar.
Enquanto isso, na sala ao lado, separada por “divisórias”, as freirinhas, nuas, mostrando os seios durinhos, os corpos branquinhos, mas sarados, nenhuma balofa com jeito de madre superiora, se entregavam aos toques mágicos das mãos dela, suspiravam com ingênuo prazer, algumas até cochilavam, quem sabe sonhando com aquilo que o Espírito Santo fez na Virgem Maria.
Aos poucos, porém, os machos foram sabendo da massagem paralela e, à medida que o sabiam, se afastavam. Não só o sexo sem conteúdo, isto é, sem gemidos, como a possibilidade de baterem de cara com alguma amiga de sua mulher ou com a freira diretora da escola, os foram afastando da casa. Eles iam lá à procura de coisas diferentes, mas não tão diferentes assim, como o sexo abafado, sem os rumores pertinentes, que exige esforço quase sobrenatural.
Desgostosas com a grana magra que começou a pintar, as “gurias”, aos poucos, foram abandonando o barco. No fim, ficou só ela para atender freiras e machos, e enfrentou o maior dilema: não podia dispensar as freiras para atender só os machos, mas não podia também dispensar os machos para atender só as freiras. Quando se deu por conta, estava também estressada, pisando em ovos, por medo que a farsa fosse descoberta.
Fechou a casa e foi vender “empréstimos” para aposentados. É possível que você, algum dia, seja abordado por ela. Então, tenha compaixão e faça um empréstimo, que será descontado dos seus proventos de aposentadoria.

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