segunda-feira, 31 de janeiro de 2011
CRÔNICAS IMPUDICAS
João Eichbaum
Já começou.
Nessa semana a casa de um juiz de direito de Venâncio Aires foi alvejada a tiros. No corpo da notícia, admite o delegado de polícia que o atentado possa ter sido uma tentativa de intimidação ao trabalho do juiz ou mesmo uma espécie de vingança pelo descontentamento com alguma decisão proferida pelo magistrado. “Soa como uma advertência. Nesse momento a gente não descarta nada. Assim como pode ter partido de um criminoso perigoso, pode ter sido um ato de destempero”, aponta. “O que ficou claro é que a intenção não era acertar ninguém, mas assustar.”
Aos poucos, isso irá se tornar comum, se não forem tomadas imediatas providências. Não me refiro à segurança dos magistrados. Refiro-me à segurança de suas decisões.
Há dois fatores que, nos últimos tempos, estão influindo fortemente nas sentenças: a incompetência e a irresponsabilidade.
A incompetência – e não me refiro à incompetência como termo jurídico e sim como termo comum – está se alastrando pelos processos, começando no primeiro grau e desembocando no segundo.
A multiplicação desordenada das faculdades de direito, antes de atingir a advocacia, comprometendo a qualidade dos serviços profissionais, atinge a magistratura. Tantos são os candidatos que, entre número tão grande, haverá muitos sortudos que, de cruzinha em cruzinha, são capazes de gabaritar uma prova. Há também aqueles e principalmente aquelas que investem na decoreba. E aí é fácil também acertar cruzinhas.
O problema vem depois. O juiz que não sabe raciocinar e não sabe escrever terá imensas dificuldades ao se deparar diante de fatos concretos, para os quais não acenam as questões postas nos concursos. As cruzinhas, que são exigidas nas provas objetivas, afastam o candidato do exercício da argumentação discursiva. O resultado vem depois que o candidato, aprovado, se torna juiz, tem muito poder na mão e nada na cabeça.
O pior ainda acontece. Os juízes têm o direito de escolher seus “secretários”, os tribunais facilitam também a escolha de “estagiários”, que podem fazer qualquer coisa, até redigir sentenças.
Então vem a irresponsabilidade: os juízes entregam suas decisões nas mãos de secretárias e estagiárias, ou secretários ou estagiários, conforme o sexo do magistrado, o sexo e o gosto, diga-se de passagem.
O resultado são sentenças e decisões pífias, que acabam prejudicando ambas as partes.
É claro, quem assina as sentenças são os juízes e juízas e todo mundo pensa que são eles que as proferem.
Parece que os prejudicados agora já estão tomando consciência de que justiça não é coisa séria, não é atividade de pessoas cultas e responsáveis, como era antigamente. E começaram a reagir.
Ou alguém aí está pensando que os tiros na casa do juiz foram simples brincadeira, passatempo?
sexta-feira, 28 de janeiro de 2011
COM A PALAVRA, JANER CRISTALDO
Nunca fui imigrante, caro. Não invadi países pobres da Europa. Pelo contrário, sempre busquei os países ricos. Sem falar que não invadi país nenhum. Na Suécia, onde estudei língua sueca e cinema, entrei pela porta da frente e saí pela porta da frente. Desta estada, resultou um livro sobre a Suécia – o primeiro a ser escrito por um jornalista brasileiro - e três traduções de autores suecos, inéditos no Brasil.Na França, fui convidado pelo ministério da Cultura para fazer um doutorado na Université de la Sorbonne Nouvelle. Recebi uma generosa bolsa do governo francês, com duração de quatro anos, coisa que nunca me foi concedida em meu país. Mais ainda: metade de meu aluguel era pago pelo Estado, sem que sequer eu requeresse tal benefício. Era concedido a todo estrangeiro que tivesse família e estivesse em situação legal no país.
Não invadi a Espanha. Recebi bolsa do Instituto de Cooperación Iberoamericana (ICI), para estudar língua e literatura espanholas em Madri. Não invadi a Alemanha. Fui convidado pela Inter Nationes para duas viagens culturais pelo país e pelo Senado de Berlim, para a cobertura da Berlinale. Não invadi a Tunísia. Fui convidado pela Mairie de Tunis para a cobertura do Festival de Cartago. Na antiga Iugoslávia, fui hóspede de uma adorável macedônia. Muito mais países visitei na Europa. Nunca os invadi. Sempre neles estive a convite ou com meu dinheiro.
Jamais fiz trabalho braçal na Europa. Durante os quatro anos que vivi em Paris, escrevi crônicas diárias para a Cia. Jornalística Caldas Júnior, de Porto Alegre, elaborei minha tese e traduzi quase toda a obra ficcional de Ernesto Sábato. “Limpei” muito prato, é verdade. Nos bons restaurantes de Paris, Berlim, Viena, Roma e Madri, Dubrovnik e Skopje.
O fato de Ratzinger ter manifestado suas condolências às vítimas de abusos sexuais não o exime da comprovada conivência com os crimes de pedofilia. Lula fazia o mesmo. Enquanto denunciava em público a corrupção, em privado afagava sua camarilha de corruptos. Nada de novo sob o sol, como diz o Koelet. Sim, o “famigerado Janer Cristaldo” chama Bento XVI e João Paulo II de defensores de pedófilos. Chama e comprova. Sim, afirmei que o canibal Jeffrey Dahmer praticou um gesto que está nos fundamentos da cultura cristã. Mais ainda, é exercido diariamente em todos os países do Ocidente.
No Deuteronômio, um dos principais livros da Bíblia, a hipótese é aventada como ameaça: “Então, na angústia do assédio com que o teu inimigo te apertar, irás comer o fruto de teu ventre: a carne dos filhos e filhas que Javé teu Deus te houver dado”. Em Jeremias, enciumado com os cultos a Baal, Javé anuncia os dias em que o vale de Ben-Enom se chamará Vale da Matança: “Eu farei que eles devorem a carne de seus filhos e a carne de suas filhas: eles se devorarão mutuamente na angústia e na necessidade com que os oprimem seus inimigos e aqueles que atentam contra a sua vida”.
Nos cinco poemas das Lamentações, livro atribuído a Jeremias, cujo tema central é a destruição de Jerusalém, volta o tema recorrente: “As mãos de mulheres compassivas fazem cozer seus filhos; eles serviram-lhes de alimento na ruína da filha de meu povo”.
Em Ezequiel, contemporâneo mais jovem de Jeremias, que denuncia a perversidade de Jerusalém e proclama a iminência de seu assédio e destruição, Javé volta a lembrar: “Farei no meio de ti o que nunca fiz e como não tornarei a fazer, isto por causa de todas tuas abominações. Por esta razão os pais devorarão os filhos, no meio de ti, e os filhos devorarão os pais”.De fato, o canibalismo só ocorre no Segundo Reis. A fome impera durante o cerco de Samaria, quando uma mulher diz à outra: “Entrega teu filho, para que o comamos hoje, que amanhã comeremos o meu”. A primeira mãe cozinha seu filho e o divide com a segunda e, no dia seguinte, lhe pede: “Entrega teu filho para o comermos”. Mas a outra foge ao trato e esconde o filho.
Maldição no Antigo Testamento, no Novo o canibalismo se torna virtude. Durante a Santa Ceia, Cristo oferece seu corpo e seu sangue para que os participantes entrem em contato com o sacrifício, comendo do sacrificado. É o que os católicos romanos chamam de transubstanciação. Todo católico, quando comunga, não está bebendo o vinho ou comendo o pão como símbolos do corpo de Cristo. Está, de fato, bebendo o sangue e comendo a carne do Cristo.
No sacramento do altar, depois da consagração, não há senão o corpo e o sangue de Cristo. A doutrina da igreja Católica é clara. Segundo Santo Ambrósio, “antes da benção há uma espécie que, depois da consagração, se transforma no corpo de Cristo”. Santo Hilário confirma: “sobre a verdade concernente ao corpo e sangue de Cristo, não há lugar para dúvidas. Pois, conforme a afirmação mesma do Senhor e nossa fé, a sua carne é verdadeiramente comida e o seu sangue verdadeiramente bebido. Assim como Cristo é verdadeiramente filho de Deus, assim a carne que recebemos é verdadeiramente carne de Cristo, e a bebida é verdadeiramente seu sangue”.
São Tomás, na Suma Teológica, encerra a discussão, com uma ressalva: “que o corpo e sangue de Cristo estão verdadeiramente no sacramento do altar, não podemos aprendê-lo nem pelos sentidos nem pelo intelecto; mas só pela fé, que se apoia na autoridade divina”.
O Doutor Angélico vê na eucaristia a suprema celebração da amizade: “E porque é próprio por excelência à amizade, conviver com os amigos, Cristo nos prometeu como prêmio sua presença corporal. Por isso ele próprio disse: O que come minha carne e bebe meu sangue, esse fica em mim e eu nele. Logo, este sacramento é o máximo sinal da caridade e o sublevamento de nossa esperança pela união tão familiar de Cristo conosco”. E quem achar que a Eucaristia é um símbolo do corpo e carne de Cristo é herege. Muita gente foi para a fogueira por pensar assim.
O caso de Davi e Jônatas pode admitir interpretações. Mas o rei foi claro: “Angustiado estou por ti, meu irmão Jônatas; muito querido me eras! Maravilhoso me era o teu amor, ultrapassando o amor de mulheres”. E isso que Davi tinha não poucas mulheres. Em II Samuel - 5:13, lemos: “E tomou Davi mais concubinas e mulheres de Jerusalém, depois que viera, de Hebrom; e nasceram a Davi mais filhos e filhas”.
Quando Davi deixa dez concubinas para guardarem sua casa, seu filho Absalão, para afrontar o pai, viola as dez concubinas perante os olhos de todo Israel. Nesta ambiência moral, ser homossexual é o de menos. Não vejo porque tanto escândalo da parte dos católicos quando se atribui ao sábio rei Davi esta atitude. Gesto bem mais imoral e condenável foi Davi ter mandado Urias para a morte. Ainda há quem pretenda defender Davi da inócua fama de ser homossexual, mas faz vistas grossas ao fato de ter mandado assassinar um de seus generais, para ficar com sua mulher, Betsabá.
Sim, saí do Mídia sem Máscara por ter sido censurado. Em função de um artigo sem maiores implicações religiosas, onde eu afirmava que Cristo havia nascido em Nazaré, não em Belém. O pretexto foi esse, mas ao que tudo indica o conflito surgiu de outra crônica, na qual eu discutia a opinião dos teólogos sobre a crucial questão do destino do prepúcio de Cristo, se havia ficado na terra ou subido aos céus. Hoje o MSM, para captar publicidade do Google, divulga sites que negam a divindade do Cristo.
Pecunia non olet. Dinheiro não tem cheiro. Se pagar bem, que mal tem?
quinta-feira, 27 de janeiro de 2011
CRÔNICAS IMPUDICAS
João Eichbaum
Não basta que a mulher de César seja honesta, ele tem que parecer honesta.
Não, não pensem que eu vou mexer com a libido de vocês, que vou falar de uma gata nova, com um bom par de ubres sem silicone e rostinho de boneca sem botox. Nada disso, o caso é outro, aqui o nosso César atual se chama Tarso.
Acontece que a mulher do Tarso, que é o César gaúcho atual - e leva muito jeito de César, porque quer estar em toda a parte, sempre como dono da verdade, só falta registrar em cartório que a verdade é propriedade sua, exclusiva – a mulher do Tarso, dizia eu, andava num carro que não é dela, é do governo, e tinha como motorista um brigadiano, que não é pago por ela, mas por todos nós, que trabalhamos.
Na rua Dona Laura, perto da Avenida Goethe ela desceu e, logo em seguida, o motorista foi atacado por assaltantes, que levaram o carro, o carro que foi comprado com o nosso dinheiro, e que ela usa com a gasolina que nós pagamos.
A notícia do jornal não esclarece o que é que a mulher do Tarso fazia com o carro que não é dela. Ela tinha “um compromisso oficial”, diz, simplesmente, a notícia.
Que tipo de “compromisso”? Custava dizer?
Vocês acham que é um começo (menos de um mês) auspicioso para um governo que não tem outra palavra na boca senão “transparência”?
Está parecendo honesta a mulher do Tarso, se não vem a público para esclarecer toda a verdade? Afinal, o governador é ele, o Tarso; ela não passa de mulher do Tarso. Ou será que foi nomeada para algum cargo no governo?
É bom que se esclareça: a Constituição, que traça as regras básicas e essenciais do Estado, ignora a figura da “primeira dama” ou do “primeiro macho”. Portanto, oficialmente, a lei não lhe impõe compromissos ou responsabilidades.
Do episódio se tiram duas conclusões: a primeira, que começou muito mal esse governo na área da segurança; segunda: o PT não parece honesto. Em decorrência disso, a mulher do Tarso, que é do PT, não precisa parecer honesta.
Bem, depois daquele primeiro “ato administrativo” do Tarso, convocando sessão extraordinária da Assembléia, cujos custos saem dos nossos bolsos, para aumentar o salário da companheirada, também à nossa custa, tudo se pode esperar.
E ainda tem gaúcho que estufa o peito e sai cantando por aí afora: “sirvam nossas façanhas de modelo a toda a terra”.
quarta-feira, 26 de janeiro de 2011
CRÔNICAS IMPUDICAS
João Eichbaum
Povão é essa massa informe, sudorífera, insossa e insípida, mas colorida, que não tem rosto, nem identidade, mas, em qualquer parte do mundo, é facilmente identificável. É a coisa mais difundida e mais criativa que existe sobre a face da terra.
Difundida, eu disse, e repito, porque em qualquer parte do mundo a gente encontra o povão. Criativa, porque tudo o que nos governa, de fato, ou imaginariamente, é coisa criada pelo povão.
A primeira coisa que o povão criou foram os deuses. Diante da própria fraqueza, diante de sua irrecusável finitude, dentro da qual se concentram infinitos desejos, o povão não encontra nada que lhe possa expandir essa finitude. E começou a criar deuses. Mas, não contente em criar deuses, criou também aquilo que a gente hoje chama de “lideres”. Porque os deuses criados não falavam, não apareciam para ninguém, não davam o mínimo sinal de sua existência.
Os “lideres”, então, aqueles que se auto-intitulavam representantes dos deuses ou canais de comunicação com as entidades divinas, foram, aos poucos, aperfeiçoando, as figuras dos deuses, adaptando-os aos desejos do povão, que sendo povo, por ser informe, não conseguia dar forma a coisa nenhuma, nem aos deuses por ele próprio criados.
Aí, então surgiam os líderes, um dos quais, até hoje é festejado como tal: Moisés.
Invocando sua condição de comunicador oficial do deus judaico, Moisés delineou a imagem daquele deus que seria, mais tarde, adotado pelos cristãos e por quase toda a humanidade, chamado simplesmente de Deus. Deus é o nome dele. Nome próprio, por isso se escreve com letra maiúscula.
Mas, o que eu queria dizer mesmo é que o povão, essa figura que enche estádios de futebol, engarrafa o trânsito, entope saguões de aeroportos, se esparrama pelas praias, enche os supermercados em tempos de Natal, de dia de mãe e de namorados, assiste o BBB e as novelas da Globo, faz fila pra tudo, nos bancos, no INSS, no SUS, em qualquer concurso que dê prêmios, como sena e outros tipos de estelionatos, é quem cria os líderes, essa canalhada que nos governa e é capaz de eleger para presidente da república uma cara que não passaria nem em concurso de auxiliar de serviços gerais. Ou seja, o povão é que cria e sustenta os canalhas e depois ainda se queixa deles, ou lhes dá oitenta e sete por cento de aprovação.
Mas tudo isso é a propósito duma coisa. Vocês se lembram de um tal de Sérgio Morais, que foi eleito pelo povão de Santa Cruz do Sul e disse que estava se lixando para o povo?
Pois esse cara foi reeleito pelo povão, o povão de Santa Cruz do Sul. Esse povão amorfo e sem cara que, além de eleger para prefeita a mulher do Sérgio Morais, uma tal de Kelly (nome de guerra, que as freiras e as prostitutas, para não serem identificadas, usam) ainda elegeu o filho dele, para deputado estadual. Um tal de Marcelo.
Esse é o povão.
Ou vocês pensavam que, pelo título da crônica, eu queria elogiar o povão?
que não tem rosto, nem identidade, mas, em qualquer parte do mundo, é facilmente identificável. É a coisa mais difundida e mais criativa que existe sobre a face da terra.
Difundida, eu disse, e repito, porque em qualquer parte do mundo a gente encontra o povão. Criativa, porque tudo o que nos governa, de fato, ou imaginariamente, é coisa criada pelo povão.
A primeira coisa que o povão criou foram os deuses. Diante da própria fraqueza, diante de sua irrecusável finitude, dentro da qual se concentram infinitos desejos, o povão não encontra nada que lhe possa expandir essa finitude. E começou a criar deuses. Mas, não contente em criar deuses, criou também aquilo que a gente hoje chama de “lideres”. Porque os deuses criados não falavam, não apareciam para ninguém, não davam o mínimo sinal de sua existência.
Os “lideres”, então, aqueles que se auto-intitulavam representantes dos deuses ou canais de comunicação com as entidades divinas, foram, aos poucos, aperfeiçoando, as figuras dos deuses, adaptando-os aos desejos do povão, que sendo povo, por ser informe, não conseguia dar forma a coisa nenhuma, nem aos deuses por ele próprio criados.
Aí, então surgiam os líderes, um dos quais, até hoje é festejado como tal: Moisés.
Invocando sua condição de comunicador oficial do deus judaico, Moisés delineou a imagem daquele deus que seria, mais tarde, adotado pelos cristãos e por quase toda a humanidade, chamado simplesmente de Deus. Deus é o nome dele. Nome próprio, por isso se escreve com letra maiúscula.
Mas, o que eu queria dizer mesmo é que o povão, essa figura que enche estádios de futebol, engarrafa o trânsito, entope saguões de aeroportos, se esparrama pelas praias, enche os supermercados em tempos de Natal, de dia de mãe e de namorados, assiste o BBB e as novelas da Globo, faz fila pra tudo, nos bancos, no INSS, no SUS, em qualquer concurso que dê prêmios, como sena e outros tipos de estelionatos, é quem cria os líderes, essa canalhada que nos governa e é capaz de eleger para presidente da república uma cara que não passaria nem em concurso de auxiliar de serviços gerais. Ou seja, o povão é que cria e sustenta os canalhas e depois ainda se queixa deles, ou lhes dá oitenta e sete por cento de aprovação.
Mas tudo isso é a propósito duma coisa. Vocês se lembram de um tal de Sérgio Morais, que foi eleito pelo povão de Santa Cruz do Sul e disse que estava se lixando para o povo?
Pois esse cara foi reeleito pelo povão, o povão de Santa Cruz do Sul. Esse povão amorfo e sem cara que, além de eleger para prefeita a mulher do Sérgio Morais, uma tal de Kelly (nome de guerra, que as freiras e as prostitutas, para não serem identificadas, usam) ainda elegeu o filho dele, para deputado estadual. Um tal de Marcelo.
Esse é o povão.
Ou vocês pensavam que, pelo título da crônica, eu queria elogiar o povão?
terça-feira, 25 de janeiro de 2011
COM A PALAVRA, JANER CRISTALDO
O papa Bento XVI, acobertador de pedófilos, afirmou há pouco que as autoridades do governo, a sociedade e as instituições italianas devem recuperar suas raízes morais. "A vocação singular que a cidade de Roma exige hoje de vocês, autoridades de governo, é que ofereçam um bom exemplo da positiva e útil interação entre seu saudável status leigo e a fé cristã", disse a policiais de Roma. Como se o Vaticano, hoje, tivesse alguma autoridade para reprovar a conduta moral de quem quer que seja.
A crítica do papa é endereçada a Silvio Berlusconi, que teria pago pelos serviços de Ruby, uma prostituta marroquina. Ainda há pouco, uma outra prostituta de luxo, Nadia Macri, disse à TV italiana RAI ter recebido 5.000 euros do premiê para participar de uma orgia no dia 24 de abril do ano passado. Ruby teria participado da "festa" e recebido a mesma quantia.
Em Antrosano, pequeno povoado dos Abruzios, o pároco Aldo Antonelli convocou uma greve de missas, em protesto pela “cumplicidade da hierarquia católica com a política suja”. Dom Antonelli não se referia à cumplicidade do Vaticano com os crimes de pedofilia, mas sua leniência com as orgias de Berlusconi. Ao qual pode se reprovar muita coisa, menos pagar mal às moças que lhe oferecem seus préstimos.
Nos primórdios da Igreja, havia uma grande dificuldade para declarar santo algum crente. Pouco se sabia sobre ele. Hoje, a dificuldade é inversa: sabe-se demais sobre o candidato a santo. Bento XVI está lutando pela beatificação de seu antecessor, João Paulo II. Vamos aos fatos.
Segundo The New York Times, o cardeal Joseph Ratzinger – hoje papa Bento XVI, é bom lembrar - não fez nada para impedir em 1980 que um padre acusado de pedofilia retomasse o sacerdócio em uma outra paróquia na Alemanha. No final de 1979 em Essen, Alemanha, o padre Peter Hullermann foi suspenso após várias queixas de pais que o acusavam de pedofilia. Uma avaliação psiquiátrica ressaltou seus instintos pedófilos.
Algumas semanas depois, em janeiro de 1980, Ratzinger, que era na época arcebispo de Munique, dirigiu uma reunião durante a qual a transferência do padre de Essen para Munique foi aprovada. O futuro pontífice recebeu alguns dias depois uma nota na qual foi informado de que o padre Hullermann havia retomado o serviço pastoral.Em 1986, o mesmo padre foi declarado culpado de ter agredido sexualmente meninos em uma outra paróquia de Munique, após a transferência para a cidade bávara. Semana passada, novas acusações de pedofilia vieram à tona, envolvendo o início e o fim de seu sacerdócio. Segundo o jornal, "este caso é particularmente interessante porque ele revela que na época o cardeal Ratzinger estava em posição de lançar de processos contra o padre, ou pelo menos, de fazer com que não tivesse mais contato com crianças".
Nada fez. O futuro papa acobertou ainda abusos sexuais de um padre americano, Lawrence Murphy, acusado de ter abusado de 200 crianças surdas de uma escola do Wisconsin (norte dos Estados Unidos), entre 1950 e 1972. Segundo o jornal novaiorquino, o então prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé abriu mão de iniciar os trâmites contra o padre acusado de ter abusado de crianças surdas.
Vamos a seu antecessor, o Karol Wojtyla, mais conhecido como João Paulo II. Além de notório acobertador de pedófilos - sobre sua mesa haviam-se acumulado acusações de pedofilia contra milhares de sacerdotes e também queixas pelo encobrimento desses delitos por alguns prelados nos EUA, Irlanda, Itália, Áustria e inclusive na Espanha - foi o grande protetor do sacerdote mexicano Marcial Maciel, o fundador dos Legionários de Cristo. Acusado de abusar sexualmente de mais de 20 seminaristas - incluindo os próprios filhos - Maciel teve filhos com várias mulheres e, como um outro santo moderno, o Martin Luther King, foi plagiador emérito: plagiou descaradamente o livro de cabeceira da legião, intitulado Saltério de Meus Dias, e impôs a toda a organização um quarto voto de silêncio para se proteger de denúncias. Um de seus antigos colaboradores o acusa inclusive de ter envenenado seu tio-avô, o bispo Guízar, que apoiou a bem-sucedida carreira eclesiástica do sobrinho no México dos anos 1930.
Deste santo senhor, temos fartas fotos sendo abençoado pelo papa João Paulo II, recebido em audiência especial no Vaticano. Centenas de denúncias sobre o padre Maciel chegaram à mesa de Wojtyla. O papa as desprezou. Maciel enchia praças e estádios de futebol em suas viagens pelo mundo. Era merecedor da benção papal.
Verdade que Ratzinger o expulsou do Vaticano, obrigando o padre Maciel a levar "uma vida reservada de oração e penitência, renunciando a qualquer forma de ministério público". Punição no mínimo carinhosa para um notório pedófilo.
Maciel morreu em janeiro de 2008, no México. Segundo os jornais, Maciel não só teve aventuras amorosas, como em Madri vivia uma filha sua, com nome, sobrenome e um número concreto em luxuosos apartamentos na Calle de Los Madroños. A garota, já madura, chama-se Norma Hilda e fez um pacto de silêncio em troca de uma pensão vitalícia. Quem selou o acordo e cuidou de que a rocambolesca história acabasse aí foi o secretário de Estado do Vaticano, cardeal Tarcisio Bertone, durante uma visita semioficial à Espanha. Ocorreu nos primeiros dias de fevereiro do ano passado. O dinheiro não foi obstáculo. Há décadas que em ambientes hostis o grupo de Maciel é conhecido com ironia como os Milionários de Cristo.
O cardeal Tarcisio Bertone é aquele impoluto senhor que, em fevereiro do ano passado, afirmava ser necessário que os padres pedófilos reconhecessem "suas culpas, já que das provas pode surgir a renovação interior”. Na época do abuso sexual das 200crianças surdas em Wisconsin, Ratzinger presidia a Congregação para a Doutrina da Fé e Bertone era seu vice. Oito meses depois da denúncia, cardeal Bertoni encarregou os bispos de Wisconsin de instruir um processo canônico secreto que teria podido levar ao afastamento do padre Murphy.Bertone, segundo o NYT, encerrou o processo depois que padre Murphy escreveu pessoalmente ao então cardeal Ratzinger que não deveria ser submetido a processo porque estava arrependido e em precárias condições de saúde: “Quero simplesmente viver aquilo que me resta na dignidade de meu sacerdócio”, escreveu o padre, já perto de sua morte, o que ocorreu em 1998.
Se estava arrependido, não precisa levar a frente o processo. Não se tratou exatamente, no caso, de uma ação entre amigos. Mas de uma ação entre cardeais. Vai, meu filho, teus pecados te são perdoados.
Volto ao santo padre Marcial Maciel. A benção que lhe foi dada por João Paulo II desrecomenda qualquer santificação. Mesmo assim, Bento XVI quer beatificá-lo. Beatificar criminosos está se tornando norma no Vaticano. João Paulo II não beatificou aquela vigarista albanesa, Agnes Bojaxhiu, mais conhecida como madre Teresa de Calcutá, vigarista de alto bordo e apoiadora de ditadores como Envers Hodja e Baby Doc?
Um papa protetor de pedófilos quer santificar seu antecessor, outro notório protetor de pedófilos. Canonização está se tornando não uma ação entre amigos, mas um conluio de vigaristas. A Santa Madre Igreja Católica Apostólica Romana tem dias insólitos pela frente. Em seu hagiológio, poderemos ver um santo abraçando um pedófilo.
segunda-feira, 24 de janeiro de 2011
CRÔNICAS VINGATIVAS
PAULO WAINBERG
http://paulowainberg.wordpress.com
Twitter:@/paulowainberg
Devido a milhares de pedidos que três leitores tiveram a gentileza de me passar, volto ao sistema antigo de enviar a crônica diretamente a você, sem prejuízo do blog, onde elas estarão postadas, juntamente com os demais textos que lá estão e permanecerão.
Porém sou mentalmente cruel e não vou poupar ninguém. Se você pensou que, agora, estaria livre de ir ao meu blog, prepare-se.
A partir da semana que vem, entra no ar o PSICOPSION, um folhetim que terá um capítulo diário.
Seguindo a antiga fórmula dos folhetins, cada capítulo vai terminar de um jeito que você ficará louco para saber o que acontecerá em seguida e, portanto, obrigatoriamente você lerá hoje e mal conseguirá dormir, esperando por amanhã.
Isto é demais, estou me divertindo com a tua tortura, nunca pensei que eu fosse assim, tão maquiavelicamente sádico.
É muito bom. Melhor do que isso só um sorvete com duas bolas, uma de passas ao rum e outra de chocolate. Ah, e uma torneira por perto porque odeio ficar melecado nos dedos.
Com sorvete.
Hoje é sexta feira, dia próprio para falar de um assunto que muito tem me incomodado: a água da piscina lá de casa.
Na minha casa tem uma piscina. Já estava lá quando comprei a casa, há séculos. Desde então tem acontecido um evento, repetido, reincidente, permanente e anual.
Eu, é claro, jamais pensei em cuidar pessoalmente da piscina, examinar o cloro, Ph (é isso?), densidade, peneira, limpeza, nem mesmo o motor eu ligo.
Por que? Já expliquei, minha filha, não sou homem de execução, sou homem de organização. Não me peçam para fazer, me peçam para pensar e dizer como é que se faz.
Querer que eu faça é algo parecido como pedir ao cabeça de área que arme o time, ele não vai conseguir. Ou que o armador seja cabeça de área, é a mesma coisa.
Desta forma, tem uma pessoa contratada que vai lá em casa duas vezes por semana para cuidar das entranhas tecnológicas da piscina, permitindo que a água esteja sempre límpida, bonita e banhável.
Orgulhosamente afirmo que, durante os meses de outono, inverno e primavera, quando é impossível tomar banho de piscina, salvo se você gosta de se congelar, o sistema funciona perfeitamente, dá gosto ficar olhando a água cristalina, brilhando sob os raios de sol ou encrespadas por pingos da chuva.
Chega o verão e, aí, começa o drama.
Por alguma razão, mal esquenta, sabe aquele dia apetitoso para entrar na piscina?, a água esverdeia. Esverdeia de um modo absoluto, um verde escuro, mais escuro do que garrafa, a sensação é de que, a qualquer momento sairá daquela água um ser gosmento e monstruoso que lá ficou, hibernando.
O mais dramático é que o encarregado de cuidar da minha piscina é o mesmo há sei lá quantos anos e, todas as vezes, ele me dá uma explicação técnica, detalhada e profunda:
– Tem que por cloro e ligar o motor, doutor.
– Mas tu não pões o cloro e liga o motor?
– Claro que sim.
– Então...?
E ele me dá um sorriso, diz qualquer coisa e me promete que, para o fim-de-semana a água vai estar perfeita.
Sucede que, descobri há pouco no Google, a contagem do tempo dos limpadores de piscina é diferente, eles usam um calendário próprio e um relógio personalíssimo, daí que o fim de semana que ele fala não corresponde ao fim de semana normal.
Em suma, como diria o Papa, hoje de manhã havia um cardume nadando na minha piscina, juro. Alguns peixes mal conseguiam afundar, de tão densa e verde está a água.
Imagino que, anualmente, meu tratador de piscina faz experiências químicas nela, acho que ele sonha em transformar a água numa grande gelatina, sei lá o que ele pensa, o que ele faz, o que ele deseja.
Meu único consolo, na atual situação, é saber que mal termine o verão, a água estará novamente clara, límpida, cristalina, ótima para um banho gelado ao sopro do Minuano!
Por que estas coisas acontecem comigo? Por que?
Por causa disto sou assim cruel. E como não posso esfaquear, dar seis tiros na cabeça, esquartejar e incinerar meu querido tratador de piscinas, me vingo como posso, obrigando você a ler meu blog todos os dias, para saber a continuação da história.
Talvez este seja o fim de semana adequado à cronologia do tratador de piscina. Se for, minha água estará limpa e tratada e, no momento de maior calor do domingo de tarde, estarei dentro dela, tomando um drinque – cerveja gelada é claro, e comendo uma carne.
Mas para você será tarde demais. Estás agora, meu filho, sob a maldição do meu folhetim.
sexta-feira, 21 de janeiro de 2011
CRÔNICAS IMPUDICAS
João Eichbaum
A OAB, finalmente, vai fazer alguma coisa que preste: quer ajuizar ação de inconstitucionalidade da lei que concede pensão vitalícia aos ex-governadores do Estado, bem como às suas caras metades sobreviventes.
Ouvidos alguns dos beneficiários, a gente não sabe se ri ou se chora.
O Pedro Simon, esse senhor que outra coisa não faz na vida há quase sessenta anos, senão política, isto é, nada, se saiu com essa: com os “míseros” subsídios de senador, que incluem passagens aéreas, refeições, contas de telefone, moradia, além de gratificações por sessões extraordinárias, etc. ele não conseguia pagar as contas, por isso teve que se valer também da pensão de ex-governador.
Ora, senhor Pedro Simon, conte outra, vá chorar em outra freguesia. Se o senhor, com tudo pago, recebendo liquido por volta de dezessete mil reais, não consegue pagar as contas, me diga, o que resta para quem ganha salário mínimo? E, além disso, o senhor prova que não sabe administrar nem o orçamento pessoal. Como é que foi “governador”?
O Collares, Alceu Collares, foi pior. Saiu atropelando a OAB, com os seguintes dizeres: “ se olhasse o umbigo, iam ver que crime estão cometendo com o exame da Ordem. É o maior absurdo da história do direito brasileiro. A Ordem dos Advogados, numa verdadeira reserva de mercado, toma a decisão de jogar no lixo as faculdades sob a alegação de que a quantidade de cursos prejudica a qualidade do ensino do direito”...
Tem alguma coisa a ver o cu com as têmporas, senhor Collares? Com essa pequenez de raciocínio como é que o senhor chegou a “governador”?
E o Tarso Genro que deve sua vida política à advocacia, se saiu com essa: “ nossa querida Ordem dos Advogados do Brasil, que esteve à frente de grandes questões constitucionais do país assume uma pauta de passagens aéreas de funcionários do TCU, que as utilizam para ir à sua casa e voltar. Ou então assume como pauta absoluta, na minha opinião de desconstituição do Poder Legislativo e do Poder Judiciário, a questão dos salários dos deputados ou dos ministros”...
“Assumir uma pauta”... Que vernáculo, hein, senhor Tarso!
Mas como sempre, como político formado nas categorias de base do PT, fez o que todo o petista faz: um blá, blá, blá sem sentido, sem pé nem cabeça. No fundo, criticou a OAB porque ela aponta falcatruas e imoralidades e agora está querendo botar a mão no dinheirão que ele já conta para a aposentadoria.
Precisa dizer mais sobre os políticos, minha gente? Precisa dizer que eles não tem intimidade alguma com a moralidade? Precisa dizer que nenhum deles tem moral para criticar a quem quer que seja?
Sim, ainda é preciso dizer uma coisa: o que lhes falta em competência e moralidade eles compensam com safadeza.
quinta-feira, 20 de janeiro de 2011
ESSE CIRCO CHAMADO JUSTIÇA
Como é belo e frutífero o amor entre um desembargador e uma estagiária! Pena que nós, contribuintes, não possamos também merecer o epíteto de gigolôs da Fazenda Pública!
João Eichbaum
MULHER DE DESEMBARGADOR EXONERADA É RECONTRATADA
A mulher do presidente do Tribunal de Justiça de Pernambuco, desembargador José Fernandes de Lemos, foi exonerada cargo de chefe de gabinete de outro desembargador da corte por determinação da Corregedora Nacional de Justiça, ministra Eliana Calmon. Depois disso, Juliana Maria Dias da Costa de Lemos foi nomeada para exercer cargo em comissão no Tribunal de Contas do Estado, como informa o blog do jornalista Frederico Vasconcelos.
Relações públicas, Juliana ingressou no TJ-PE como estagiária em 2002 e passou a ocupar a função de oficial de gabinete do desembargador Leopoldo Raposo no mesmo mês em que casou com o atual presidente do TJ-PE, em outubro de 2007, segundo documentos que estão nos autos do processo.
Por sua vez, a mulher de Raposo, Maria Ismênia Pires Leite Padilha, ocupava o cargo de assessora técnica judiciária no gabinete do presidente do tribunal desde agosto de 2009. Maria Ismênia foi exonerada por ato simultâneo ao que afastou Juliana.
Para a corregedora nacional, o exercício desses cargos em comissão caracterizaria nepotismo, vedado pela Resolução 7/2005, do Conselho Nacional de Justiça, e pela Súmula Vinculante 13, do Supremo Tribunal Federal.
A ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal, negou liminar em Mandado de Segurança apresentado pelas duas mulheres dos desembargadores, que pretendiam ver suspensa a decisão de Eliana Calmon. Juliana e Maria Ismênia alegaram que a decisão da corregedora teria desrespeitado o devido processo legal, pois não fora assegurado a elas o exercício do contraditório e da ampla defesa.
Em recurso administrativo pedindo à corregedora reconsideração, do qual o TJ-PE posteriormente desistiu, o presidente do tribunal alegou que houve invasão de privacidade e viu risco de "dano de difícil reparação às servidoras".
Ele sustentou que Juliana foi contratada para cargo comissionado em 8 de março de 2006, ou seja, antes de casar. Alegou, ainda, que houve violação da intimidade alheia: "A manutenção da decisão hostilizada, caracterizando uma alteração de posição prudente até aqui adotada pelo c. CNJ, implicará na determinação de que a administração instale um regime policialesco, para investigação e controle das relações amorosas de seus servidores, invadindo a intimidade dos mesmos, numa evidente ofensa ao artigo 5º, X, da Constituição Federal".
Anuário da Justiça São Paulo 2010: a mais completa radiografia do Judiciário Paulista
quarta-feira, 19 de janeiro de 2011
COM A PALAVRA, JANER CRISTALDO
Do Lourival Marques de Souza, recebi:
Saudações, Janer!
Li sua crônica sobre essa palhaçada de acordo e me senti menos só, assim digamos, em minha repulsa ao mesmo.Você diz que Portugal não gostou do acordo e não o está respeitando, apesar de tê-lo ratificado e entrado em período de transição. Bem, a maioria da população lusa parece realmente estar procedendo assim, mas a imprensa local, em sua maioria, está sendo tão covarde quanto a nossa e adotando a nova grafia. Quando acesso o site de algum jornal de lá e vejo escrito "direto", Egito", "autoestrada", "antissocial", me dá urticárias! Além do que, fico decepcionado também com a postura do governo de lá, que já decidiu que a partir do ano letivo 2011/2010 a rede de ensino deverá alfabetizar as novas gerações de acordo com a nova grafia. Ou seja: de nada adianta a resistência da atual geração se as futuras aprenderem a escrever à la Houaiss...Não que eu escreva de acordo com a grafia pré-acordo européia! Afinal, sou brasileiro e aprendi a seguir a grafia brasileira, óbvio. Mas é que eu adoro ler textos de lá, com suas consoantes mudas, que para mim são riquíssimas heranças etimológicas, que aqui no Brasil jamais deveríamos ter perdido. As consoantes mudas parecem ser o X da questão em Portugal. Até hoje, os lusos têm convivido muito bem com elas, não hanendo nenhum motivo para eliminá-las. Além disso, restou uma incoerência: já que querem tanto eliminar as letras mudas, por que não eliminam também o "h" inicial??? Já pensou que coisa mais linda, escrever "omem", "orário", "ipótese", "élice", rsrsrsrs??? Aí, a justificativa que li para a preservação do "h" mudo é a da questão etimológica. Ora, mas as demais consoantes mudas também não existem por questão etimológica??? Qual é a deles, então???Eu bem que queria ter sua certeza de que o acordo vai fracassar em Portugal, mas sei não! Parece que os lusos não têm a mesma fibra dos ingleses, que sem dúvida alguma mandariam os americanos àquele lugar se estes propusessem uma unificação ortográfica da língua inglesa. Triste ver um país milenar como Portugal curvando-se ante a malandragem de um lingüista oportunista de um país como o nosso, que só tem tamanho, mas não assusta ninguém...
Last but not least: como sabemos, o inglês tem um monte de palavras com consoantes mudas, e até hoje ninguém se preocupou em extingui-las, ou então qualquer projeto dessa natureza tem morrido na casca no mundo anglófono...
Abraços de seu leitor irremediável,
Lourival M. de Souza Jr.
terça-feira, 18 de janeiro de 2011
COM A PALAVRA, JANER CRISTALDO
O acordo ortográfico ideado por Antonio Houaiss diz finalmente ao que vem. Leio na Veja que o governo abriu licitação para a compra de 10 milhões de dicionários que serão distribuídos em cerca de um milhão de salas de aulas da rede pública ainda este ano. É a primeira compra de dicionários desde 2006 – ou seja, os que estão hoje disponíveis são pré-acordo ortográfico.Isto é só o começo. Depois terão de ser transpostos à nova norma os livros didáticos, os paradidáticos e toda a literatura nacional já publicada. Mais as eventuais reedições de traduções. A indústria editorial deve estar esfregando as mãos de felicidade. A negociata é de proporções colossais.
Portugal, a nação onde a língua nasceu, não gostou do acordo. E continua escrevendo como dantes. Um Conselho de Ministros deu um prazo – 2014 – para que os lusos passem a escrever segundo o acordo. Até lá, muita água ainda há de correr sob a ponte sobre o Tejo.A tentativa de unificação das diferentes variantes do português, além de inútil, é estúpida. Mesmo que se unifique a grafia, resta o que mais diferencia as línguas. Me atenho ao português e brasileiro, já que desconheço as variantes de Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Angola, Moçambique, Guiné-Bissau ou Timor-Leste.
Quando passo em Lisboa, tenho às vezes vontade de falar outra língua, para comunicar-me melhor. Certa vez, em uma estação de trens, perguntei a um luso onde ficava os banheiros.- O senhor quer banhar-se?Não, respondi. Queria apenas urinar.- Ah! O mingitório. Fica ali.Tente traduzir este anúncio de metrô:Senhor utente: se for descer na paragem tal, dirija-se aos carros à frente do comboioPode traduzir. Mas já será outra língua. Ou ainda, este anúncio nos banheiros:Antes de sair, carregue no autoclismoAutoclismo é a descarga. Nos cafés, você não pede um café, mas uma bica. Mais surpreso você ainda ficará ao encontrar em uma ementa – isto é, cardápio – pratos como bifanas e safadinhas, pregos e sopa de grelos, febras de bacorinho ou punhetas de bacalhau.
E por aí vai. De que serve unificar a grafia, quando os idiomas já são dois? Quando falo em língua brasileira, nunca falta um fanático para me corrigir: língua portuguesa. Não é o que pensam os tradutores da Europa e dos Estados Unidos. Nos créditos de uma tradução, encontramos tradução do português. Ou do brasileiro. Já fui inclusive convidado para traduzir uma tradução do português ao brasileiro. Como a tarefa não me entusiasmou, recusei.
O acordo ortográfico é um embuste, cujo primeiro beneficiário foi Antonio Houaiss. Antes mesmo de o acordo ser assinado, seu dicionário já estava redigido segundo as novas normas. A indústria editorial brasileira logo percebeu as vantagens. Terá mercado cativo para as próximas décadas.
A eliminação de acentos só serve a analfabetos que não sabiam lidar com a língua. A eliminação do acento em pára, do verbo parar, torna confusas as manchetes. O saudoso Nestor de Hollanda dizia ser o acento diferencial fundamental para a compreensão do discurso. A virgem diz: ai. A viúva diz: aí.
Quando vejo escrito plateia, assembleia, Coreia, assim sem acento, minha tendência é pronunciar platêia, assemblêia, Corêia. Resumindo: a reforma revelou-se confusa, incoerente e só serve para dar lucros ao mundo editorial.
A universidade e os jornais foram covardes. Poderiam tranqüilamente recusar-se à proposta absurda. Os editores, é claro, jamais se recusariam. De minha parte, resisto. Continuo a escrever na boa e velha grafia e ninguém vai demover-me disto.
Jozé Joaqim Leão de Qorpo Santo, nos estertores do século XIX, em sua Ensiqlopedia ou seis mezes de uma enfermidade, fez uma proposta mais radical, coerente e sensata. Ocorre que, além de ser gaúcho, era tido como louco.
Houaiss fala uma linguagem que os editores entendem: lucro.
segunda-feira, 17 de janeiro de 2011
CRÔNICAS IMPUDICAS
João Eichbaum
Não há como ficar indiferente diante dos descalabros da natureza, que atingem seres humanos, gerando o desespero e a dor.
Aí, enquanto se esvai em piedade, a gente vê, surgindo do meio dos escombros e da devastação, um pobre diabo que perdeu amigos, vizinhos, talvez parentes, em razão dos acessos de fúria dos elementos naturais, não totalmente feliz, mas, pelo menos, bastante aliviado, dizendo para os repórteres de televisão que o iluminam com seus refletores: “ foi Deus que me salvou”.
Então, não dá para fugir da pergunta: o que é que ele tem de melhor que os outros, que foram levados pelas águas e engolidos pela lama, para se sentir um privilegiado, para se ter como um protegido exclusivo desse “Deus”? Quais são os critérios desse “Deus” para deixar uns com vida, se sentindo privilegiados, outros sofrendo, e outros enterrados na lama?
Não, meus amigos. Racionalmente, não há explicação. A única explicação possível é a ignorância, porque nem eles, os privilegiados, teriam razões para justificar essa específica e particular condescendência divina.
Estou me referindo, evidentemente, aos últimos acessos de fúria da natureza, que resolveu embolar tudo num mesmo golpe: pobres e ricos da região serrana do Rio de Janeiro.
Não é preciso dizer que os fatos desencadearam uma comoção nacional e internacional. Nós, seres humanos, que não somos deuses, nos condoemos com o sofrimento dos outros, mesmo que os não conheçamos. Nós, seremos humanos, que não somos deuses, jamais permitiríamos, se isso estivesse ao nosso alcance, que o sofrimento atingisse nossos semelhantes – desde que não fossem nossos inimigos, é claro.
Mas, o “Deus” das pessoas que nele acreditam permite tudo...
Bem, mas se esse deus não faz coisa nenhuma para reparar os estragos, pelo menos nós temos governantes que são pagos exatamente para zelar pelo “bem comum”, com a obrigação de atenuar sofrimentos e remediar prejuízos. Para isso nós, que trabalhamos, contribuímos com parte do nosso trabalho.
E os governantes compram aviões, helicópteros, etc..., etc... com o nosso dinheiro. O exército, a marinha e a aeronáutica do Nelson Jobim estão cheios de helicópteros. O que fazem com eles? Ah, os governantes e os comandantes e os ministros os usam para viagens e para sobrevoar os locais de tragédias.
Mas, onde estavam esses helicópteros? Como é que se explica que, havendo pessoas isoladas do mundo, sem água, sem mantimentos, não aparecessem helicópteros para os resgatar ou, pelos menos, para lhes alcançar água e alimentos? Como é que se explica que os helicópteros das empresas de comunicação chegavam naqueles locais e dos helicópteros da Dilma e do Nelson Jobim não se tivesse notícia?
Será que o povo brasileiro elegeu a incompetência, mais uma vez?
Ainda bem que existe o Ministério Público, no Estado do Rio Grande do Sul: ele vai proporcionar a primeira visita oficial da Dilma. Sabem para quê? Para homenagear as vítimas do holocausto judeu.
Certamente porque no Brasil não há vítimas dignas de homenagem, não há vítimas de estradas e pontes sem segurança, não há vítimas de avalanches, não há vítimas da violência, não há, enfim, vítimas do mau uso do dinheiro público, vítimas da incompetência e da safadeza dos governantes.
Por isso, o Ministério Público do Rio Grande do Sul, que não tem nada para fazer, resolver importar vítimas, convidando a Dilma, para homenageá-las.
Ainda bem. A Dilma, como comunista, sabe tudo de direitos humanos...
sexta-feira, 14 de janeiro de 2011
ESSE CIRCO CHAMADO JUSTIÇA
João Eichbaum
Sabe o Supremo?
É. Isso mesmo: aquele tribunal onde o que menos tem é juiz. Ou, como diz o professor Hübner Mendes, aquele tribunal onde se pratica “uma farsa, um teatro contraproducente”, aquele castelo do narcisismo, onde todo mundo quer ser “insigne” e para onde converge o apetite de todos os advogados que sejam capazes de abdicar da própria personalidade, do próprio caráter, e do último fio de virtude que possam ter, para desfrutarem de uma glória sem tormentos e sem sustos. Aquele tribunal, enfim, onde a ciência se deixa envenenar pela vaidade.
Pois para lá foi o Gilmar Mendes. Sabe o Gilmar Mendes?
É. Um que foi presidente desse Tribunal.
O cara era Advogado Geral da União, no tempo do FHC, e dava as dicas sobre questões indígenas ao Nelson Jobim, essa pecinha que até ministro da Justiça já foi, e também foi ministro do tal de Supremo e agora anda brincando de soldado.
Pois o Gilmar Mendes, já no tempo da Advocacia Geral da União, aprontava das suas.
O jurista Dalmo Dallari advogava em favor dos índios e foi aí que conheceu de perto essa figurinha, o tal de Gilmar.
“Tive uma péssima impressão dele nas reuniões em que nos encontramos; eu defendendo os índios, e ele desenvolvendo uma argumentação típica de grileiro de luxo, de quem vê o índio como empecilho ao desenvolvimento nacional” – disse Dallari para a revista Piauí.
Ao mesmo tempo em que era funcionário público, o Gilmar Mendes tinha – e tem ainda - uma empresa, uma faculdade particular, que é chamada pelo pomposo nome de “Instituto Brasiliense de Direito Público”.
Então ele, como advogado geral da União, fazia o seguinte: contratava a própria empresa para ministrar cursos e palestras a servidores da dita AGU (Advocacia Geral da União), com dinheiro que saía do bolso do contribuinte. Ou seja, saía do bolso do contribuinte e entrava no bolso do Gilmar.
Em contundente artigo publicado, na Folha de São Paulo, chamando isso de corrupção, o jurista Dalmo Dallari, mostrou para todos os bons entendedores do país que o Gilmar Mendes não carregava um dos requisitos fundamentais, exigidos pela Constituição Federal, para que alguém possa ser ministro do Supremo Tribunal Federal, a tal “reputação ilibada”.
É claro que o doutor Dalmo Dallari foi processado. Mas o processo foi arquivado. E o Gilmar Mendes que, àquela altura do processo, já era ministro do Supremo Tribunal Federal, nem recorreu. Porque o que ele queria mesmo era a “reputação” que flui da toga de ministro do STF.
Como ele se tornou ministro o povo não sabe, da mesma forma que não sabe como são feitas as salsichas e as leis.
quinta-feira, 13 de janeiro de 2011
CRÔNICA DE PAULO WAINBERG
Prurido não tinha mapas na míngua. Dizia o que queria salto e bombom, para quem quisesse ou não quisesse ouvir.
Milho púnico de uma rica matilha de fazendeiros boianos foi morar, ainda pepino, no Gril de Pandeiro, para cursar a estola fundamental dos compadres capuchinos integrantes da corrente da Copus Rei.
Lá aprendeu a vergastar-se, mesmerilhar-se e auto-flanelar-se para purificar a sua palma secadora, evitando supimpamente entregar-se às tentações do Quiabo, em especial as da Marnie, a cadela que ladra.
Assim, Prurido cumpriu seu intestino até chegar à idade de emprestar o prostibular.
Foi quando a coisa mudou.
Desde pequeno Prurido revelara seu tom para a moratória. Era capaz de obstruir crases grandiloquentes, com a voz trave e protuberante com que fora adotado, encantando a todos que o estultavam. Sempre que aparecia, as pessoas pediam: mangusto! Mangusto! E lá ia Prurido a mangustar, soltando a foz e deitando felação.
Engessou no urso de Censos Formais almejando tornar-se um mundialito conhecido psicopata.
Logo no primeiro campestre, graças à influenza de Ritalina, uma garça e osa morena, abandonou de vez os encilhamentos estribilhados no colégio dos capuchinhos e foi surtir as malícias do complexo, nos braços cornudos e queijos delonga da marota, onde cedeu muito bem.
Quando Ritalina perguntou-lhe o qu causou aquelas meretrizes nas bostas, o ranhos discernidos pelo torto e vesgões na tele, Prurido desconectou, aquilo era coisa do malpassado, que ela não se menstruasse com o histérico dele que, felinamente, já estava aquecido.
O tempo passou e Prurido, recebendo a Áurea de melhor aluno, coçou o pau na Ceratomina de Fornicatura, iniciando no dia seguinte a busca do seu sonho.
Deu-se porém que, quando era a valer, a moratória de Prurido revelou-se azia, sem escorbuto. Ele tinha pinhões sobre todas as coisas, mas nenhuma valia um corcel sentado. Criava fezes fanáticas a despeito de lemas absortos que de nada prestavam e para nada serviam.
Em pouco tempo viu-se que o jumento prestado no dia da coçação do pau de nada valia e tudo o que ele dizia não passava de lotérica batata. Ritalina encheu o naco e largou dele que ficou a ver pavios, logo ingerindo em corcunda compressão que lhe tirou o canino de viver.
Por pouco não locupletou-se.
Felizmente para ele, Prurido ainda tinha a moratória, arte que dominava a rodo, mesmo que de nada resultasse de prático, dunga, zangado e dengoso.
Como supreme de frango esboço arreganhou-se dos terçóis e ejaculou-se da lama onde, durante dias deixara-se alquebrar, prostático.
Decidido foi à puta, pronto para enfarinhar o que desse ou o que sobe, deitando felação a morto e a retreta até que, diante de um campanário, finalmente foi olvido.
Havia ali uma suruba de agrimensores sem trena, protestando contra a falta de feridas do Inferno Estadual. A suruba orvalhou ante a voz rotunda de paroxítono de Prurido.
Ele subiu ao tamanco, tomou o mastrombone sem rio com mamão esquerda e começou a felar:
- Meu Ovo! Putanheiros! Não ficaremos a mercedes dos interesses dos poltrões! Não escalaremos diante do desplugue ofídial e, se necessário for partiremos à puta arcada, incisivo! Não me venha o Restaurante negar nossa flauta de velhos baiões porque, punidos ninguém nos vaginará! Nossa classe canalha por maiores calvários e conexos de baralho, direito constipacional dos agrimensores sem trela. À puta, meu ovo! À mortalha, putanheiros! Todos os dias os pontais noticiam gatos atrozes praticados pelos morgues ofidiais, desrespeitando os safados direitos que conquilhamos à custa de muito fluor e gangue, simplesmente gnomiando nossas cólicas menstruais. Bosta! Temos que dar um chega nisto! E o excremento é agora, chá, bosta de milongas! Nossa noz não cagará até perfunctarmos nosso peito. Vamos nos dar as mães e iniciar uma canetada pelas nuas da trindade para que o resto do ovo saiba que nossa puta é pústula. Enfrente, putanheiros porque o ovo, unido, jamais será curtido.
E foi assim que Prurido descobriu seu verdadeiro intestino: liderar as traças, trocando a puta alçada pela felação.
Quando Ritalina, toda arreganhada, veio pedir cordão, doidivanas para realçar o cachorro, ele simplesmente disse cão até porque já havia se acantonado com uma marota requinte que jamais usava alcinha.
quarta-feira, 12 de janeiro de 2011
ESSE CIRCO CHAMADO JUSTIÇA
João Eichbaum
Se os doutores do Judiciário perdem para o semialfabetizado Lula, de quem irão eles ganhar? A credibilidade do Lula atingiu os píncaros dos 87%, enquanto a da Justiça não passou de míseros 33%.
Estudo realizado pela Fundação para Pesquisa e Desenvolvimento da Administração, Contabilidade e Economia (Fundace), com sede em Ribeirão Preto (SP) revela que o Índice de Confiança na Justiça (ICJ) entre os advogados paulistas é de apenas 34,68%. Já na avaliação da população em geral, esse índice é de 33%, conforme pesquisa realizada pela Escola de Direito da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Isso quer dizer que apenas três, em cada dez pessoas, confiam na Justiça.
Diante de índices tão sombrios, o que poderiam alegar os juízes?
Ora, eles procuraram uma desculpa da qual não poderiam fugir e admitiram que o grande mal da justiça é a morosidade. E, fazendo coro à falta de criatividade do seu chefe, Cezar Peluso, apontaram uma solução que há muito vêm tentando: a supressão de muitos recursos.
Ou seja, eles querem entregar aos juízes de primeiro grau um poder absoluto de decisão.
Logo para quem? Para os juízes de primeiro grau, justamente os menos preparados, os menos qualificados, os menos maduros, os mais embriagados com o poder, os mais deslumbrados com sua posição social, os mais embevecidos com a própria autoridade, essa coisa divina e maravilhosa, que é ser juiz.
Não, meus amigos. Não é a morosidade que projeta a justiça como instituição pouco confiável.
O que falta nos juízes são duas coisas: qualificação e responsabilidade.
Fruto de uma deficiência que vem desde os bancos escolares, a falta de qualificação dos juízes não é suprida através de uma formação específica. O atrativo dos altos subsídios embebeda mocinhos e mocinhas, que outra coisa não querem senão um belo salário com muito poder. Então eles se entregam aos cursinhos que os vão preparando apenas para aprender a concorrer, sem enriquecê-los com a cultura necessária para julgar. Resultado: vencida a barreira daquele concurso em que, ao fazerem cruzinhas, mais contam com a sorte do que com o raciocínio, esses mocinhos e mocinhas saem julgando, sem terem noções primárias de silogismo. E acomodados na vitaliciedade, podem cometer imensas tolices, porque não são civilmente responsáveis por seus erros.
Essa é a verdade: a maioria dos juízes não tem preparo, nem qualificação para julgar.
Que a justiça é lenta, todo mundo sabe. Mas, se a espera pela justiça compensasse, ela seria confiável. Não é confiável porque, além de morosa, é injusta, ineficiente, sem estofo científico, composta, na maioria, por gente que só quer enxergar o próprio umbigo.
terça-feira, 11 de janeiro de 2011
COM A PALAVRA, JANER CRISTALDO
Os jornais descobriram que dois filhos e um neto de Lula, na calada do final de mandato, foram contemplados com passaportes diplomáticos. O que elimina toda essa burocracia com vistos, particularmente quando os marmanjos quiserem ir à Disneylândia. O comum dos mortais grama durante semanas – quando não meses – para obter um visto para os Estados Unidos. Os rebentos de Sua Alteza poderão ir direto para o aeroporto, sem preocupar-se com essas mesquinharias, como tirar visto e entrar em filas em aeroportos, que só atormentam o cidadão comum. Tampouco precisarão pagar os 190 reais à Polícia Federal pela expedição do documento. Aliás, nem precisarão enfrentar filas na Polícia Federal, como os demais mortais.
Ocorre que, neste Brasil, quando alguém goza de um privilégio indevido, está longe de ser o único. Qualquer corrupção que um jornalista encontrar traz atrás de si uma fieira de corrupções outras. Logo descobriu-se que também um pastor evangélico, que tampouco nada tinha a ver com serviços diplomáticos, também fora contemplado com um desses passes mágicos. E se dois filhos e um neto do ex-presidente, mais um pastor evangélico, gozam de tais mordomias, é óbvio que não serão os únicos privilegiados do país.
O Estadão de ontem desfia o resto. O jornal teve acesso à relação de ofícios que tratam da emissão de passaportes diplomáticos e de vistos que passaram pelo órgão nos últimos dois anos. Os destinos das viagens, inclusive agora, em pleno recesso parlamentar, são os mais variados: Miami, Las Vegas, Nova York, Atlanta, Dubai, Vancouver, Buenos Aires, Austrália, Japão, entre outros lugares.
Filhos de deputados que vão passar um período de estudos no exterior também aproveitam para viajar com o passaporte especial. Ainda segundo o Estadão, apenas de 2009 para cá, foram solicitados 662 vistos para viagens de deputados e parentes que têm o documento especial. Desses, 577 foram para "turismo". Apenas 69 cumpriam o objetivo de missão oficial, a trabalho.Se alguém imagina que passaporte diplomático é apanágio dos detentores do poder e de seus filhotes, em muito se engana. Em dezembro passado, o deputado Carlos Leréia, do impoluto PSDB, pediu passaporte diplomático e visto para ele, a mulher e três filhos viajarem para Miami. Viajariam de 3 a 17 de janeiro deste ano, no recesso parlamentar. Já o deputado Décio Lima, do PT catarinense, pediu passaporte diplomático e visto para ele e sua mulher irem a Las Vegas, entre 10 e 25 de janeiro, certamente para representarem o país junto aos cassinos da cidade.
Pela legislação, os membros do Congresso e seus "dependentes" têm direito ao documento. O que a legislação não prevê é se este privilegiado passaporte pode ser usado para turismo.
A OAB está pedindo que os filhos do ex-presidente devolvam seus documentos. Profunda injustiça, que aos céus clama reparação. Por que teriam de devolver seus passes mágicos apenas os filhos do Supremo Mandatário, enquanto filhos de reles deputados continuam usufruindo do privilégio?
Para Marco Aurélio Garcia, assessor de Assuntos Internacionais da Presidência, o caso é irrelevante. " Acho o tema de uma irrelevância absoluta. Imagino que possa agradar aqueles 3% ou 4% que consideram o governo Lula ruim e péssimo ". O que resta saber é se agradará os 80% que acham o governo Lula divino maravilhoso, mas mesmo assim terão de enfrentar filas quilométricas nos consulados do México ou Estados Unidos, só porque não são filhos do presidente.- Existe uma coisa no Brasil que são as leis – continuou -. Se isso está de acordo com a lei, não vejo nenhum problema.
Acontece que não está de acordo com a lei, e o assessor devia saber disto. Mas certamente é preconceito contra a família do humilde ex-operário que chegou à Presidência da República. Só pode ser.
segunda-feira, 10 de janeiro de 2011
CRÔNICAS IMPUDICAS
João Eichbaum
O senhor Luiz Inácio Lula da Silva, que já é “ex”, foi um retirante, que veio do nordeste, em busca de emprego em São Paulo.
Não sei como conseguiu o emprego. Sem formação técnica, alfabetizado pela metade, chegou a ser “torneiro mecânico”, se tornou sindicalista, enrolou muita gente com seu vocabulário de torneiro mecânico, e foi eleito “líder” E chegou onde queria: à presidência da República.
É claro que, experimentando o gosto do poder, o jeito de ser rico, não conseguiu abdicar desse gosto. Ele e a dona Mariza agora estão noutra, não são mais povo.
Esgotado seu tempo como “presidente da república” continuou se sentindo dono do poder, que o povo ignorante, ou interesseiro, lhe confiou.
Apeado da presidência da república, continuou tirando proveito da função, como se nada tivesse acontecido.
Seus filhos, no apagar das luzes de seu governo, conseguiram o que milhões de brasileiros jamais vão conseguir: passaporte diplomático. Um desses filhos dele, o mais velho, jamais teria direito a esse tipo de passaporte, porque a lei não ampararia sua pretensão.
Mas o “ex- torneiro mecânico” conseguiu essa vantagem para os filhos, graças ao seu exercício na função pública.
Não contente com isso, mal saído da presidência da república, o ex torneiro mecânico se instalou num próprio da União, para desfrutar férias, com cama, mesa e roupa lavada patrocinadas pelos que trabalham e não ocupam, nem destroem propriedades privadas neste país.
Então, ele recebeu dois benefícios: o passaporte diplomático para os filhos e umas férias à custa do erário.
Onde está o Ministério Público nesta hora? O Ministério Público que gosta de freqüentar manchetes e se exibe como cura para todos os males desta república?
O Ministério Público não ta nem aí.
E no entanto o Código Penal estabelece, no seu art. 317:
“...receber para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida...
Pena: reclusão de um a oito anos.”
Pois o dito Luiz Inácio recebeu vantagens para si e para seus filhos, indevidamente, porque nem ele nem seus rebentos fariam jus ao que receberam, quando já estava fora da função...
Senhores membros do MP Federal, os senhores conhecem realmente o Direito Penal?
Se não conhecem, recolham-se à própria a insignificância, mas se o conhecem, mostrem que são independentes e corajosos, enquadrem o indivíduo acima qualificado nos rigores da lei, como o fariam com qualquer brasileiro: art. 317 do Código Penal.
sexta-feira, 7 de janeiro de 2011
CRÔNICAS IMPUDICAS
João Eichbaum
São duas as manchetes de que os jornais andam cheios, ultimamente – e faturando, claro, em cima desses assuntos: a volta do Ronaldinho para o Brasil e a volta (ou não) do Battisti para a Itália.
Cada qual a seu modo, as pessoas se interessam por um ou outro assunto, ou pelos dois, se forem gremistas e, ao mesmo tempo, petistas.
Então não posso ficar de fora, para não parecer alienado. Vou dar o meu pitaco.
O Ronaldinho, para quem não se lembra, deu uma de bandido para com o Grêmio, que o formou, certamente lhe matou a fome muitas vezes, colocou-o na vitrine do mundo para o futebol. Pois, não ligando nada para isso, o Ronaldinho, ou melhor o Assis, irmão e “empresário”do dito, mandou o Grêmio pastar (também, quem mandou ser burro) se encheu de grana e glória. Agora, em fim de carreira, sem aquela bola toda que jogava na sua adolescência, já não tem mercado na Europa..
E o Grêmio o quer de volta, que nem marido cornudo que, mesmo com os cornos à mostra, quer a traidora de volta a seus braços.
O Battisti, bandido na Itália, acusado de vários crimes, foi preso no Brasil. Depois de uma de suas sessões teatrais, o tribunal aquele que faz de conta, decidiu e, ao mesmo tempo, não decidiu: Battisti pode ser extraditado, mas as extradição fica por conta do Lula.
O Lula, então, decidiu, o que o Supremo não teve culhão para decidir: o Battisti não vai ser extraditado. Fez isso e se mandou, deixou a presidência e o pepino para a Dilma.
Agora o Peluso, presidente do tribunal faz de conta, não quer soltar o Battisti e mandou o pepino adiante, para o Gilmar Mendes.
As palhaçadas do Grêmio e as do Supremo se assemelham: o Grêmio não teve cacife jurídico para ganhar uma grana com o Ronaldinho, e o Supremo não teve cacife jurídico para extraditar o bandido italiano. Tanto que o escore do Supremo foi de futebol de salão: 5x4, demonstrando que não há unanimidade e que os ministros não estão com essa bola toda que pensam. Exatamente como o Ronaldinho que quer o que já não vale.
Agora temos aí duas novelas.
Então sugiro ao Grêmio: vai à Itália, fala com o Berlusconi e propõe a troca: o Ronaldinho pelo Battisti. No taco, para não haver prejuízo.
Será um final feliz, tipo Globo, para ambas as novelas. E a gente vai se livrar dessas manchetes criadas por falta de criatividade jurídica, tanto do Grêmio como do Supremo.
A coisa se resolveria pela malandragem porque, por meio de juristas, não tem jeito. Estão aí o Assis e o Lula para não me deixarem mentir: quem manda no mundo são os malandros.
quinta-feira, 6 de janeiro de 2011
ESSE CIRCO CHAMADO JUSTIÇA
João Eichbaum
O Supremo Tribunal Federal recebe, diariamente, uma enxurrada de processos a que se acrescem, a cada ano que passa, milhares.
Sendo apenas onze os ministros, é humanamente impossível dar conta de todos os processos.
Mas, pior do que isso, dos onze ministros sempre há algum doente, algum em férias, algum gozando licença, algum desfilando em universidades ou seminários, algum viajando, seja para o exterior, seja pelo país afora, muitas vezes embolsando diárias, que nós, os contribuintes, pagamos.
E há também os ministros que fazem parte do Superior Tribunal Eleitoral, do Conselho Nacional de Justiça, ou que integram “comissões” para mudar os códigos.
Vários dos ministros são professores. Um deles, o Gilmar Mendes, é sócio duma empresa chamada “Instituto Brasiliense de Direito Público”, donde ele colhe dividendos e onde dá aulas.
Então, donde é que os senhores ministros tiram tempo para julgar?
Boa pergunta. Mas a resposta, para quem não é imbecil, está na ponta da língua: eles não julgam todos os processos. Eles só julgam aqueles processos que lhes dão oportunidade de aparecer na televisão, devidamente paramentados, a tal de TV Justiça. Ali, eles dão aula, teatralizam, jogam para a platéia, fazem charme, chegam até a discordar um do outro. E ali também, é claro, dão vexame, pedindo vistas e sentando em cima dos processos, sabe-se lá porquanto tempo ou ainda, perdendo tempo com julgamentos “empatados”, que não servem para coisa nenhuma.
Os restantes, os demais processos ficam à mercê dos “assessores”. Pode ser até que o ministro dê a sua opinião: julga esse procedente, aquele improcedente. Mas, para dizer isso, ele, quando muito, dá uma rápida olhada no processo, se lhe sobrar tempo, entre uma viagem e outra, entre uma aula e uma conferência, entre uma reunião na sua “comissão” e a sessão do Conselho Nacional de Justiça, onde aufere um nada desprezível “jeton”. Senão, ouve o assessor e lhe dá plenos poderes.
Aí o assessor, que não é bobo, e deve ter sua cota de produção, pede para os estagiários fazerem uma coleta de jurisprudência para dar ou negar provimento. E cola aqui, cola ali e os processos são deletados monocraticamente.
Vocês entendem agora porque onze ministros, que nunca são onze, conseguem se livrar de milhares de processos por ano?
Mas há alguns ingredientes, digamos, “extra”, que ninguém ignora. Há os velhos advogados de Brasília, amicíssimos dos ministros, ou mais amigos ainda dos “assessores”. Há aqueles advogados de renome, os antigos ministros, que sabem de cor e salteado como funciona a coisa e há também – isso não pode ficar de fora – os filhos dos ministros, advogados que têm entrada franca, copa livre no Supremo.
É assim que funciona a Justiça, no seu mais alto escalão, onde só a vaidade tem lugar garantido e cadeira perpétua.
Só se engana quem quer. Só acredita em Justiça quem ainda não abdicou de acreditar em papai noel e cegonha.
quarta-feira, 5 de janeiro de 2011
COM A PALAVRA, JANER CRISTALDO
A notícia é antiga, surgiu nos jornais no cair do ano passado. O padre belga François Houtart, católico e marxista, candidato ao prêmio Nobel da Paz, foi denunciado por crimes de pedofilia no passado. Teve de retirar sua candidatura. Quem deve estar de luto são os petistas e demais esquerdistas gaúchos, que nutriam amizade e veneração pelo padre pedófilo. Que, não por acaso, foi um dos arquitetos do Forum Social Mundial de Porto Alegre.
Costumo afirmar que o prêmio concedido pela Noruega é um contubérnio de vigaristas, embusteiros e terroristas. Sem ir mais longe: Arafat, Dalai Lama, Luther King, Rigoberta Menchú, madre Tereza de Calcutá. Se você quiser conhecer canalhas ilustres, dê uma passada de olhos no ror de prêmios Nobel da Paz. Só faltava um pedófilo para ornar a galeria. Padre Houtart quase chegou lá. Não fosse a denúncia de uma irmã da vítima, o líder das esquerdas católicas e comunistas teria sido galardoado com a comenda de humanista.
Mas nem só as esquerdas gaúchas estão de luto. Leio no Globo que o comitê criado para impulsionar a candidatura de Houtart ao Nobel lamentou o ocorrido e disse que "milhares de pessoas" de 74 países participaram da campanha para recolher assinaturas de apoio e reconhecimento ao trabalho de Houtart no movimento de justiça social e antiglobalização. Não debitemos ao PT gaúcho a cumplicidade com o pedófilo. Milhares de pessoas de 74 países também o apóiam.
Padre Houtart, além de pedófilo, é de uma desonestidade intelectual exemplar. Pertence a essa raça de hipócritas que acha que alguém pode ser católico e comunista, ateu e cristão ao mesmo tempo. Coerência é algo que não importa, dizia-me uma petista há algum tempo. Só pode não importar. Se importasse, ninguém ousaria assumir tal despautério.
A notícia é antiga, dizia. O que há de novo na história é a defesa histérica do padre católicomarxistapedófilo feita hoje na imprensa por Plínio de Arruda Sampaio, candidato do PSOL à Presidência da República nas últimas eleições."Padre Houtart: reafirmo meu apoio", assim titula Sampaio sua defesa do padre belga. “Os padres são seres humanos de carne e osso, como todos os demais e, conseqüentemente, sujeitos às mesmas fraquezas que todos nós. Como foi possível que um homem bom, generoso, valente como Houtart tenha caído nesse pecado? Evidentemente por que se trata de um ser humano”. Então tá! Se ser pedófilo faz parte da condição humana, me parece não existir muito sentido nesse escândalo que a imprensa tem feito em torno aos estupros praticados pelos vulturinos sacerdotes do Vaticano. Continua o líder do PSOL:“Significa a revelação do vexaminoso fato, que foi um erro indicá-lo para o prêmio Nobel da Paz? Entendo que não. A indicação de uma pessoa a esse prêmio não significa que ela deva ser santa e imaculada. Tais qualidades são exigíveis para os candidatos a santos de altar. Para o Nobel da Paz, o que se exige é a demonstração de que o candidato contribuiu com seu pensamento ou suas ações práticas para a solução pacífica de conflitos sociais e políticos. Neste plano, Houtart foi impecável”. Ou seja, praticar o embuste de declarar-se católico e comunista virou sinônimo de impecabilidade. Não é que embusteiros não mereçam o Nobel. A lista de contemplados está cheia deles. Mas uma coisa é um Nobel na cadeia por razões políticas, por lutar contra o totalitarismo, como é o caso da birmanesa Aung San Suu Kyi. Outra bastante diferente é estar no cárcere por ter violado um menino.
Impertérrito, Sampaio continua: “Ao noticiar o fato, os jornais mencionaram recente artigo no qual manifestei meu apoio do valoroso jesuíta ao prêmio. O fato novo não me obriga a retirar uma única vírgula daquele artigo. Houtart contribuiu com seus livros e atuação nos diversos foros e movimentos nos quais milita ativamente, para um mundo mais igualitário e democrático - condições indispensáveis à pacificação. O que sim, acrescentaria àquele artigo é a expressão do meu sentimento de pesar pela exposição de uma figura tão digna e respeitável à execração popular. Sem dúvida, o crime cometido não pode ser abafado e nem ficar impune. Contudo, isso não impede que nós, seus admiradores, levemos ao guerreiro ferido, nosso testemunho de solidariedade”.
Padre Houtart foi promovido de padre pedófilo a guerreiro ferido. Falta agora ouvirmos o ex-frei Leonardo Boff, outro fanzoca incondicional do padre católicomarxistapedófilo.
terça-feira, 4 de janeiro de 2011
ESSE CIRCO CHAMADO JUSTIÇA
João Eichbaum
Os líderes do Poder Judiciário se defendem, com unhas e dentes, contra a crítica que se faz à ineficiência da Justiça, atribuindo-a, unicamente, à lentidão - esse passo de lesma, que a caracteriza, desde priscas eras.
Mas a inteligência deles é tão próxima à de um passarinho, que eles não enxergam onde reside, realmente, a causa da ineficácia de Justiça.
Ora, se os líderes do Judiciário não têm inteligência para descobrir as causas do seu fracasso, o que sobra para os juízes de escalão menor?
Não, meus amigos. Não é a lentidão o maior problema da justiça, mas, sim, a burrice, a ignorância e, em alguns casos, a preguiça.
Se houvesse juízes inteligentes – e inteligência envolve criatividade, sensibilidade e conhecimento científico – não haveria necessidade de recursos. E, não havendo recursos, o processo se encolhe, a decisão final é imediata, a justiça deixa de ser lesma.
Só há recursos porque as sentenças de primeiro grau são pifias, inexpressivas, e no segundo grau, por falta de criatividade ou preguiça, os desembargadores se limitam a copiar os “pareceres” do Ministério Público.
Veja-se esse caso. O réu está preso há oito meses, sem culpa formada. A falta de sensibilidade dos juízes, a deficiência de conhecimento deles, que nega liberdade ao acusado, (basta saber que a prisão preventiva é uma exceção, a regra é a da liberdade) leva a um recurso (não no sentido exato do termo, mas a um sucedâneo, que é o “habeas corpus”), na instância superior.
Lá, o desembargador manda ouvir o Ministério Público e se louva no parecer do agente dessa instituição, que é a titular da ação penal, a interessada direta na condenação do réu. É claro que o Ministério Público não quer saber da liberdade de ninguém.
Mas, o desembargador não enxerga isso e se limita a copiar o “parecer” do Ministério Público, contra a soltura do acusado, explicando no seu “voto” que o faz para a “evitação de despicienda tautologia”.
Cheguei, agora, onde queria: na “falta de conhecimento cientifico” – eufemismo que, para pessoas cultas, serve para expressar o grau de cultura dos membros do Poder Judiciário.
“Evitação” provém do latim: “evitatio, onis”, mas é um vocábulo que só existe nos dicionários, porque já caiu em desuso no vernáculo. Será que o desembargador Newton Brasil de Leão, assim como os desembargadores Nereu Giacomelli e Odone Sanguiné” , da 3ª Câmara Criminal do TJRGS, conhecem a etimologia da palavra? Algum deles, alguma vez, terá sabido declinar alguma palavra da terceira declinação da língua de Cícero? Será que algum deles sabe o que significa “terceira declinação”?
“Despicienda”, desembargadores Leão, Giacomelli e Sanguiné, é adjetivo (algum dos senhores saberia elaborar um conceito de “adjetivo”?) que tem origem no verbo “despicio, despexi, despectum, despicere” (desprezar, menosprezar, olhar com desprezo) e é empregado no gerundivo, (será que algum “doutor” da terceira câmara criminal do TJRGS sabe o que é gerundivo?) para significar “o que deve ser desprezado, abominado”. E não é sinônimo de “desnecessário”, como pretende quem não conhece a etimologia da palavra.
Os senhores sabiam disso?
E tautologia, senhores desembargadores, é uma figura de gramática, que se refere a repetições dentro do mesmo texto.
Figura de gramática, senhores desembargadores, e não substantivo comum que sirva como sinônimo de “repetição”. Tautologia só se emprega quando o texto exige análise (lato sensu) ou crítica gramatical. “Repetição” se utiliza em qualquer circunstância. A primeira é um termo científico, a segunda, um vocábulo comum.
A desastrada expressão “evitação de despicienda tautologia” certamente foi copiada de algum acórdão qualquer, sem que os senhores se tivessem entregado ao trabalho de analisá-la. Tal qual o fizeram com o “parecer” do Ministério Público, negando liberdade para quem está há mais de oito meses na prisão, sem culpa formada.
Seria mais fácil e mais correto escrever no acórdão, a fim de esconder a falta de criatividade de Vossas Excelências (excelência em quê, mesmo?):“para evitar repetição”.
O adjetivo “desnecessário”, cujo emprego caberia corretamente, no caso, seria “desnecessário” porque toda a repetição é “desnecessária”. E não “despicienda”. “Despicienda” é a falta de criatividade de quem é pago para julgar e não julga, se limitando a copiar asneiras.
segunda-feira, 3 de janeiro de 2011
CRÔNICAS IMPUDICAS
João Eichbaum
Recebi ontem esse e-mail: “Acordemos! Hoje é o primeiro dia de um outro Brasil. Uma pátria menos ingênua. Uma nação mais ciente. Um povo menos idiota. Graças aos ensinamentos dos "velhos" gregos, teremos aumentadas as tensões positivas que levarão "estepaiz" a um ponto de fuga não desenhado pela régua e pelo compasso das elites dominates, não esquadrinhado pela canalha que o comanda. Ave Faoro! Ave Rui!Acorda Brasil do Alemão! Acorda Brasil da Brasília Teimosa! Acorda Brasil do Itapoã! A tua virtude é o teu pecado. O teu desejo é a tua sina. "Brasil, mostra a tua cara!" E que os brasileiros de bem a esbofeteem, no ultraje descoberto, aos 600 anos!Sonhemos pelos nossos netos! Almejemos pelos nosso filhos! Ajamos pela consciência da própria covardia! Não viemos, se não para mudar o nosso "destino"! Não estamos, se não para fazer diferente! Coragem! Perseverança! Porque esta é a mais revolucionária das virtudes!”
Essa, não, colega!
“Primeiro dia de um outro Brasil”? Com o Sarney ao lado da Dilma? Com o Sarney de tantos governos, de governos das mais variadas ideologias, a começar pelo regime de 1964, ao qual o dito Sarney serviu com o mais descarado servilismo, passando dali para a turma do PT, com quem se aliou e com quem se misturou nas mais desavergonhadas safadezas?
“Uma pátria menos ingênua”? Com o mesmo Sarney? Com o José Dirceu e toda a turma do PT, que se agarrou com unhas e dentes ao poder?
Será menos ingênua essa pátria que vai continuar com o bolsa-família, com o MST, com toda essa quadrilha dos sindicatos que só sabem patrocinar bagunça, com a UNE e tantas outras “ONGS” que recebem milhões do governo, com a finalidade única de respaldá-lo?
Uma nação mais ciente?
Ciente de quê, meu amigo? Nunca fomos tão cientes de tanta safadeza, como nesses últimos anos, sabendo do mensalão, dos cartões corporativos, dos gastos secretos da presidência da república (com letra minúscula, sim, porque foi nisso que se transformou esse cargo)!
E adiantou alguma coisa? Mudaram-se as moscas varejeiras? Não, nem as moscas, nem a merda dessa vez. Ficou tudo como estava, a companheirada mandando ver.
“ Um povo menos idiota”?
Desde quando?
Um povo que deixa no congresso os deputados de sempre e que, para comprovarem o que são, elevaram seus subsídios para níveis estratosféricos, deixou de ser “idiota”? Ou se tornou mais idiota ainda?
O texto do e-mail pode servir para qualquer país, para qualquer povo, menos para o Brasil e para os brasileiros. Nem com ambiguidade poética tipo “a tua virtude é o teu pecado”, “o teu desejo é a tua sina” se vislumbra no texto qualquer coisa parecida com esse país que os portugueses inventaram, mas que foi muito melhorado pela imigração alemã e italiana.
Não conheço pessoalmente o autor do texto. Não sei se é uma pessoa inteligente. Acredito que seu entusiasmo veio depois de algum espumante a mais, festejando o ano novo e a velha Dilma.