DE LEIS, SALSICHAS E MINISTROS
João Eichbaum
Sabe o Supremo?
É. Isso mesmo: aquele tribunal onde o que menos tem é juiz. Ou, como diz o professor Hübner Mendes, aquele tribunal onde se pratica “uma farsa, um teatro contraproducente”, aquele castelo do narcisismo, onde todo mundo quer ser “insigne” e para onde converge o apetite de todos os advogados que sejam capazes de abdicar da própria personalidade, do próprio caráter, e do último fio de virtude que possam ter, para desfrutarem de uma glória sem tormentos e sem sustos. Aquele tribunal, enfim, onde a ciência se deixa envenenar pela vaidade.
Pois para lá foi o Gilmar Mendes. Sabe o Gilmar Mendes?
É. Um que foi presidente desse Tribunal.
O cara era Advogado Geral da União, no tempo do FHC, e dava as dicas sobre questões indígenas ao Nelson Jobim, essa pecinha que até ministro da Justiça já foi, e também foi ministro do tal de Supremo e agora anda brincando de soldado.
Pois o Gilmar Mendes, já no tempo da Advocacia Geral da União, aprontava das suas.
O jurista Dalmo Dallari advogava em favor dos índios e foi aí que conheceu de perto essa figurinha, o tal de Gilmar.
“Tive uma péssima impressão dele nas reuniões em que nos encontramos; eu defendendo os índios, e ele desenvolvendo uma argumentação típica de grileiro de luxo, de quem vê o índio como empecilho ao desenvolvimento nacional” – disse Dallari para a revista Piauí.
Ao mesmo tempo em que era funcionário público, o Gilmar Mendes tinha – e tem ainda - uma empresa, uma faculdade particular, que é chamada pelo pomposo nome de “Instituto Brasiliense de Direito Público”.
Então ele, como advogado geral da União, fazia o seguinte: contratava a própria empresa para ministrar cursos e palestras a servidores da dita AGU (Advocacia Geral da União), com dinheiro que saía do bolso do contribuinte. Ou seja, saía do bolso do contribuinte e entrava no bolso do Gilmar.
Em contundente artigo publicado, na Folha de São Paulo, chamando isso de corrupção, o jurista Dalmo Dallari, mostrou para todos os bons entendedores do país que o Gilmar Mendes não carregava um dos requisitos fundamentais, exigidos pela Constituição Federal, para que alguém possa ser ministro do Supremo Tribunal Federal, a tal “reputação ilibada”.
É claro que o doutor Dalmo Dallari foi processado. Mas o processo foi arquivado. E o Gilmar Mendes que, àquela altura do processo, já era ministro do Supremo Tribunal Federal, nem recorreu. Porque o que ele queria mesmo era a “reputação” que flui da toga de ministro do STF.
Como ele se tornou ministro o povo não sabe, da mesma forma que não sabe como são feitas as salsichas e as leis.
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