sexta-feira, 29 de julho de 2011

VASSILISSA


Janer Cristaldo

Um homem se define por seu trabalho – escrevi há pouco. Se não trabalha, é um inútil. Objeta um leitor:

- Profissão é parte do que uma pessoa é. Não tudo. Possivelmente nem algo com o qual ela se identifica em particular, e sim algo que ela, muitas vezes por contingência do destino, calhou de fazer, e portanto não é algo que representa suas crenças, posições, modo de viver e ações como um todo. Profissão é parte da vida das pessoas. E nem de todas. Se fulano vive de renda ou herança, problema (ou sorte) dele. Isso não define caráter. O que você faz para ganhar seu pão é problema seu, e não vejo por que tenha que ser o que te define como ser humano, seu valor absoluto, ou o que seja que funcione como termômetro de qualidade de fulano.

Ok, leitor. Admitamos que profissão não seja tudo. Pode não definir caráter. Mas quem não trabalha continua sendo um inútil. Já nas primeiras páginas do Gênesis, o Senhor transforma o trabalho em maldição, ao jogar Adão fora do Éden para lavrar a terra.

“E ao homem disse: Porquanto deste ouvidos à voz de tua mulher, e comeste da árvore de que te ordenei dizendo: Não comerás dela; maldita é a terra por tua causa; em fadiga comerás dela todos os dias da tua vida. Ela te produzirá espinhos e abrolhos; e comerás das ervas do campo. Do suor do teu rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra, porque dela foste tomado; porquanto és pó, e ao pó tornarás”.

Para o deus judaico, trabalho é castigo. Felicidade é viver sem fazer nada, numa espécie de paraíso, onde os frutos da terra estão ao alcance da mão. Esta apologia do ócio é retomada no Novo Testamento, mais precisamente em Mateus:

“Olhai as aves do céu, não semeiam nem colhem e nem juntam em celeiros. E no entanto, vosso Pai celeste as alimenta. Aprendei com os lírios do campo, vede como crescem, e não trabalham e nem fiam. E no entanto, nem Salomão em toda a sua glória jamais se vestiu como um deles”.

Pode ser. Mas eu me entediaria como uma ostra se tivesse de passar a vida toda sem fazer nada. Segundo o leitor, as pessoas podem viver de renda ou herança e trabalho não funciona como termômetro de qualidade de ninguém. Permito-me discordar. Um homem que nada faz, para mim, nada é. Há, é claro, algumas diferenças entre ser regente de orquestra e balconista, piloto de Boeing e taxista, chef e padeiro.

A propósito, em meus dias de Santa Maria, tive como companheiro de bar um poeta. Sua meta na vida era fazer poemas. Voltei a encontrá-lo alguns anos mais tarde. Perguntei se ainda fazia poemas.

- Não mais. Agora faço pães.

Aleluia! Os poetas que me desculpem. Mas a humanidade precisa mais de pães do que de poemas. Sem falar que pães são em geral mais saborosos que muitos poemas. Particularmente se falamos de poesia contemporânea.

Há obviamente o trabalho ruim, aquele que não escolhemos e jamais escolheríamos. Há o trabalho que até pode ser agradável, mas é mal pago. Quando comecei a trabalhar em jornal, ganhava apenas oito cruzeiros mais que o contínuo da redação. Mas me sentia muito bem quando, ao final do mês, passava no caixa para receber meus míseros trocados. Com eles, me dedicava a meus prazeres. Raras pessoas no mundo podem orgulhar-se do trabalho que fazem. O segredo do sentir-se bem com a vida é encontrar uma fórmula de chegar lá.

Quando encontro alguém de quem ainda não tenho referências, minha pergunta é: o que você faz? É pergunta que recomendo a toda pessoa que encontra uma outra que ainda não conhece. Se não sabemos o que uma pessoa faz, não sabemos quem ela é. Vive de rendas ou de herança? Pode ser. Mas se não tem uma profissão, pouco ou nada tem a me dizer.

Conheço pessoas que vivem sem nada fazer. Há muita mulher neste mundo que vive de pensão, distribuindo seu ócio entre a academia, o instituto de beleza e a novela das oito. Suas cabeças dão uma boa idéia do vácuo absoluto. Não trabalhar é a fórmula mais eficaz de uma mulher anular-se. Os muçulmanos, que alimentam um medo ancestral ao feminino, sabem disto. E proíbem suas mulheres de trabalhar.

Uma das coisas que me agrada em São Paulo são as mulheres com quem cruzo em meu dia-a-dia. São pessoas que vem ou vão para um trabalho, freqüentam bares e dispensam machos para pagar suas contas. Altivas, são donas dos próprios narizes e gerem suas próprias vidas, sejam minhas gerentas de banco ou as meninas que me servem nos bares ou cafés.

Em meus dias de Santa Catarina, me disse um aluno: meu sonho é ser rico e viver tomando uísque e olhando o mar. Tive pena da mísera espécie humana que ele representava. É possível que tenha chegado lá. Não o invejo.

Tampouco tenho maior apreço por quem pensa só em dinheiro. Dinheiro é bom. Mas se sua busca nos torna a vida desagradável, não é bom. Eu poderia ter enriquecido com a advocacia. Mas não me sentiria bem na pele de um advogado. Optei então pelo jornalismo. Ganhava pouco, mas era ofício que algum prazer me proporcionava. Jornalismo é cachaça. A adrenalina de um fechamento de jornal é algo que vicia. Más vale un gusto que cien pesos, dícen los orientales.

Algum leitor deve ter visto o filme Mediterrâneo, de Gabriele Salvatores. É uma das mais belas mentiras da história do cinema. Pego uma sinopse da Web: durante a Segunda Guerra, com a missão de defender o lugar contra uma possível invasão inimiga, um punhado de soldados é deixado numa pequena ilha do mar da Grécia. Mas, o vilarejo parece abandonado e como não tem nenhum único inimigo a vista os soldados aproveitam o tempo para relaxar um pouco. Porém, a ilha não está deserta e quando os habitantes do local percebem que os soldados italianos são inofensivos, saem de seus esconderijos nas montanhas para dar seqüência a suas pacíficas vidas. Portanto, logo os soldados descobrem que serem deixados para trás em uma paradisíaca ilha grega esquecida por Deus, não é uma coisa tão ruim assim...

O diretor não engana seu público: o filme é dedicado a todos os escapistas do mundo. Ilha grega pode ser uma idéia de paraíso para muita gente. Por uma semana, até concordo. Para toda a vida, seria para mim um inferno. Os italianos se dedicam a um eterno dolce farniente. A única pessoa que parece ter uma profissão na ilha é Vassilissa. Se apresenta alegremente ao batalhão. O capitão pergunta:

- Che lavoro fare?
- Io sono la puta.

E passa a exercer orgulhosamente sua profissão. Os soldados perderam o sentido de suas vidas. Vassilissa não: http://www.youtube.com/watch?v=B9VOQoH-Kb0

A profissão pode não ser das mais nobres. Mas é melhor do que não fazer nada.



quinta-feira, 28 de julho de 2011

A BIBLIA LIDA PELO DIABO

João Eichbaum

O NASCIMENTO DE CAIM, ABEL e SETH

4 E conheceu Adão a Eva, sua mulher, e ela concebeu e pariu a Caim e disse: alcancei do Senhor um varão.

Olha aqui, ó: quando a bíblia fala em “conhecer” ela quer dizer “trepar”.

Quer dizer, os dois só fizeram a primeira pegada depois de terem sido despejados do Jardim do Éden. Só aí é que deu aquela reação genital, pintou o clima. E, mesmo sem saberem como se fazia um bebê, sem precisar amassar barro nem dobrar costela, não teve erro: deu um gurizão chamado Caim, que fez a Eva agradecer a Javé. Não sei porque, depois de todas aquelas pragas dele, que fizeram do parto uma tortura, até o homem inventar a cezariana.

2 E pariu mais a seu irmão Abel. Abel foi pastor de ovelhas. Caim, lavrador de terra.

Deu repeteco porque eles gostaram da novidade, sentiram que era bom fazer filho. Durante o bem-bom, Eva nem se lembrava de que ia se ferrar na hora do parto.

E cresceram ligeirinho os dois, o Caim e o Abel né?

E viram como, naquele tempo, era fácil conseguir emprego? Sem currículo e sem mais nada eles já estavam no mercado de trabalho: pastor de ovelhas e lavrador.

3 E aconteceu ao cabo de dias que Caim trouxe do fruto da terra uma oferta ao Senhor. 4 E Abel também trouxe dos primogênitos de suas ovelhas e da sua gordura e atentou o Senhor para Abel e para sua oferta. 5 Mas para Caim e para sua oferta não atentou.

Só agora vocês se deram conta da história do puxassaquismo? É, foi ali que começou, com o Caim “trazendo ofertas para o Senhor”. Por acaso, Javé não era o Todo Poderoso, o Cara que tinha tudo à hora que quisesse? Não foi Ele que fez o mundo na base do “faça-se isso, faça-se aquilo”, só no gogó?

Para quê iria Ele necessitar de “ofertas”? O que é que ele iria fazer com os “frutos” do Caim? Alguém aí pode me explicar isso?

Bom, quem começou a história das “ofertas”, quer dizer do puxassaquismo, foi o Caim. E se deu mal, por que Javé não tava nem aí pra ele nem pra seus frutos. Ele gostou mesmo dos ovinos e da gordura que lhe trouxe o Abel.

E vocês sabem porque? Porque fruto não tem sangue, não tem vida. E Javé só quer saber de sangue, de vida se esvaindo. Foi por isso que ele inventou a “árvore proibida”, porque sabia que o homem iria desobedecer e, assim, Ele teria motivo para castigá-lo com a morte.

O que interessa a Javé é a morte e é por isso que Ele deixa o homem entregue à própria sorte, para que a morte o apanhe de surpresa ou depois de grande sofrimento. É isso que Ele quer. E esse foi o motivo pelo qual desprezou os frutos do Caim e preferiu os ovinos do Abel: frutos não sofrem; animais, sim.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

GIRA LA COTE

Janer Cristaldo

Leitores me pedem um comentário sobre a morte de Amy Winehouse. Pouco ou nada sei sobre a moça, esse mundo do show-business nada me diz. Leitor de jornais, claro que tropecei várias vezes com seu nome. Apenas tropecei e segui em frente. Ídolos não me interessam. E suicidas não me comovem.

Confesso jamais ter lido ou ouvido qualquer canção de Amy. Fui então procurar “Rehab”, que teria sido um de seus grandes sucessos. Fiquei pasmo. Uma época precisa ser mentalmente muito pobre para cultuar uma letra escrota como aquela. O século parece ter sepultado canções belíssimas como as de Edith Piaf, Jacques Brel, Evert Taube, Sven-Bertill Taube, Mikis Theodorakis, Melina Mercouri, para admirar os vagidos desconexos de uma drogada.

Como meus leitores são em geral pessoas cultas, é bastante provável que desconheçam “Rehab”. Reproduzo então as duas primeiras estrofes, e mais não é necessário.

Tentaram me mandar pra reabilitação
Eu disse "não, não, não"
É, eu estive meio caída, mas quando eu voltar
Vocês vão saber, saber, saber
Eu não tenho tempo
E mesmo meu pai pensando que eu estou bem;
Ele tentou me mandar pra reabilitação
Mas eu não vou, vou, vou
Prefiro ficar em casa com Ray
Não posso ficar 70 dias internada
Por que não há nada
Não há nada que possam me ensinar lá
Que eu não possa aprender com o Sr. Hathaway


Seria o hino perfeito das cracolândias e das assistentes sociais que rejeitam a idéia de mandar os zumbis do crack para casas de recuperação. A propósito, semana passada surgiu na cracolândia paulistana uma imagem com fundo e inscrições em dourado onde se liam: Nossa Senhora do Crack.

A nova santa chegou a sensibilizar D. Odilo Scherer, o cardeal arcebispo de São Paulo. O líder religioso disse em seu Twitter ter ficado comovido com a iniciativa e que ela alerta para o drama dos dependentes químicos. Estes, por sua vez, demonstraram um certo pudor em relação aos símbolos religiosos e, revoltados, acabaram por destruir a imagem. É uma pena. As inscrições bem poderiam ser encimadas por um nome famoso, Amy Winehouse.

Leio hoje no Nouvel Obs entrevista com Alex Foden, que partilhou apartamento e passagens difíceis com a cantora. Segundo o estilista, em seus piores momentos, Amy chegava a gastar mil pounds por dia em droga, para si e para seu entourage. Conta ainda que a cantora, em sua estada nas Caraíbas em dezembro de 2007, foi mula de si mesma, engolindo 2.100 libras de heroína repartidas em sete saquinhos no estômago.

Comentando esta relação constante entre rock e autodestruição, transcrevi em novembro passado excertos de O Livro dos Mortos do Rock, de David Comfort, no qual o autor comenta o chamado Clube dos 27:Quatro morreram aos 27 anos de idade. A maioria teve premonições sobre morrer jovem. “Estarei morto em dois anos”, declarou um deles, sabendo muito bem o que estava dizendo aos 25 anos. “Não tenho certeza se chegarei aos 28”, disse um segundo membro do Clube dos 27. “Nunca vou chegar aos 30”, previu um terceiro.

A morte assombrou a vida da maioria deles desde a infância. As mães de dois deles faleceu em acidente de automóvel. A mãe de outros dois bebia até cair. Aos 5 anos de idade, um deles viu o pai se afogar. Outro astro insistia em dizer que possuía os “genes do suicídio” porque os membros de sua família haviam tirado a própria vida. Cada um possuía uma atração fatal. “Vou ser um músico famoso, me matar e me apagar em uma chama de glória!”, exclamou um. Ele deu ao seu grupo o nome de Nirvana, definindo o termo como “a paz absoluta da morte.”

Outra estrela, estudante do Livro tibetano dos mortos como muitos dos outros, deu à sua banda o nome Grateful Dead. Outro nomeou seu grupo The Doors, uma porta para o outro mundo, além de descrever sua música como um “convite às forças do mal.” Outra lenda viva, obcecada pelo fantasma do “carma instantâneo”, disse que faria o seguinte quando finalmente encontrasse o mensageiro da Morte: “Irei agarrá-lo pelas bochechas e lhe darei um beijo molhado na boca mofada, porque só há uma forma de partir – encarando o vento e rindo pra caralho!.” Outros demonstravam uma curiosidade irresistível sobre a vida além da morte, como observou o meio-irmão do próprio Rei do Rock:“Era como um devaneio para saber até onde ele poderia chegar – era quase como se ele procurasse a morte –, apenas para ver o que havia do outro lado e depois voltar.”

Embora cada um dos Sete tenha alcançado o auge da fama durante uma breve vida, só foram tipificados como imortais após sua autodestruição. O namoro de cada um deles com a morte adquiriu vida própria até assumir proporções mitológicas, tornando-se um tipo de calvário para sua legião de fãs.

Suicidas não me comovem, dizia. Há pessoas que têm sérias razões para matar-se, como doenças terminais ou mesmo impasses políticos. Não é o caso destes ídolos incensados pela mídia, que têm a fortuna nas mãos e a vida pela frente. Se quiserem destruir-se, estejam a gosto. O deplorável, nisto tudo, é a reação da imprensa.

Em junho, morreu um dos grandes escritores do século passado, Ernesto Sábato. Mereceu tímidas notas da imprensa internacional. Ontem ainda, morreu Mihalis Cacoianis, um dos grandes cineastas contemporâneos, diretor de filmes que não morrem, como Zorba, o Grego e Ifigenia. Recebeu não mais que algumas linhas dos jornais. Semana passada, a mezzo-soprano Catherine Jenkins, belíssima e dona de uma voz soberba, apresentou-se em São Paulo. Alguém ficou sabendo? Salvo raros aficionados, ninguém tomou conhecimento da passagem de Jenkins pelo Brasil.

Morre uma drogada britânica, autora de letras medíocres onde canta sua dependência das drogas – como se isto a alguém interessasse – e os jornais do mundo inteiro lhe abrem as páginas. As notícias de sua morte suplantaram as do massacre na Noruega.Triste tempo, este nosso. Já houve dias mais inteligentes.

Em janeiro de 1901, quando Giuseppe Verdi morreu, mais de cem mil italianos acompanharam seu féretro pelas ruas de Milão. Arturo Toscanini conduziu orquestras e coros combinados de toda a Itália em seu funeral.

Hoje, a imprensa celebra o suicídio de mais um mito criado pela própria imprensa. Mito passageiro, que amanhã só será lembrado por ter pertencido ao Clube dos 27. “Va, pensiero” é eterno. “Rehab” dura um segundo. Nosso século trocou o eterno pelo fugaz.Gira la cote.

Quem mais se habilita?

terça-feira, 26 de julho de 2011

A NOVA CLASSE MÉDIA E A IGREJA CATÓLICA

João Eichbaum

Tenho lido manifestações de amigos meus, católicos fervorosos, sobre o pronunciamento do senhor D. Raymundo Damasceno Assis, que suponho seja bispo, pois acaba de assumir a presidência da CNBB ( não confundir com BBB).
Segundo meus amigos, o referido, ou reverendo senhor, teria afirmado que “a nova classe média, ao mesmo tempo em que se afastou das igrejas evangélicas, se aproximou da Igreja Católica”.
Em outras palavras, ele disse o seguinte: só pobre freqüenta as “igrejas evangélicas”.
Por “igrejas evangélicas” tenho as religiões do tipo “Universal do Reino de Deus”, “Deus é amor”, “Igreja do Mover”, entre outras tantas seitas do mesmo naipe, quer dizer, as que têm como objetivo e regra principal “o dízimo”.
Pode ser que o senhor Damasceno tenha razão porque, a julgar pelas aparências, as pessoas que freqüentam tais igrejas são, predominantemente, da classe C, de baixa, para não dizer nula, cultura.
Só pessoas de nível intelectual insatisfatório poderiam ter proporcionado ao bispo Edir Macedo a fortuna de que ele é detentor. Ninguém que seja medianamente inteligente poderá acreditar que esse senhor é um representante legítimo do deus judaico-cristão e que está autorizado, por essa mesma divindade, a recolher dez por cento do miserável salário que os seus crentes recebem por serviços de mão de obra não qualificada
Não sei qual é a do bispo Damasceno de Assis, se ele quer achincalhar as “igrejas evangélicas”, ou se quer promover o governo do PT.
Na verdade, quem se gaba de ter “promovido” grande parte da pobreza para a classe média é o PT. E, ao que parece, o senhor Damasceno de Assis afina pelo mesmo diapasão.
Em suma, o referido epíscopo atrela o crescimento de fiéis da Igreja Católica a um índice econômico.
Ou seja, nada a ver com “evangelização”. Nem poderia ser. De há muito, os padres deixaram de ser “apóstolos” e delegaram suas funções para “ministros” leigos: os ministros fazem exéquias, casamentos, homilias, distribuem comunhão, etc,
E quem “evangeliza” são as catequistas.
Não me perguntem o que fazem os padres. Na contramão das palavras de Cristo “ide, pregai o evangelho”, o bispo presidente da CNBB prefere as estatísticas sociais, a quem saúda, como aliadas, na expansão de seus domínios religiosos

segunda-feira, 25 de julho de 2011

QUANDO O DR. LULA FALA O MUNDO SE ILUMINA

Janer Cristaldo

Lula recebeu sexta-feira no teatro Santa Isabel, em Recife, o título de Dr. Honoris Causa, conferido por três universidades pernambucanas, a Universidade Federal de Pernambuco (UFP), a Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e a Universidade de Pernambuco (UPE). Três vezes doutor.

O título é atribuído à personalidade que se tenha distinguido pelo saber ou pela atuação em prol das artes, das ciências, da filosofia, das letras ou do melhor entendimento entre os povos.
Ao receber o título, o Supremo Apedeuta recebeu também a samarra e o capelo. A samarra vermelha, em alusão à área de Ciências Humanas, cujo centro na UFPE propôs a homenagem. O capelo é o chapéu privativo do reitor, do vice-reitor, dos Professores Eméritos e dos Doutores Honoris Causa. O reitor usa o capelo branco, representando o poder temporal (analogia com a coroa real) e também a samarra branca. E o ex-presidente usará capelo vermelho, compondo o traje com a cor das Ciências Humanas.

Leitores me escrevem, espantados com o evento. Nada de novo sob o sol. Em março passado, Lula recebeu o mesmo título da Universidade de Coimbra. Era de se esperar. Em dezembro de 1989, no jornal A Notícia, de Joinville, muito antes de Lula eleger-se presidente, eu já anunciava seu doutorado: “Queremos construir uma sociedade de classe média, declarava o Dr. Lula no domingo passado”.

Ora, o diploma Honoris Causa só serve para enfeitar cartão de visita e não confere nenhuma capacitação acadêmica a seu portador. É uma das instituições mais desmoralizadas do universo universitário e não raro é concedido a criminosos e vigaristas. Nos anos 90, a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) concedeu o título a Fidel Ruz Castro, o tiranete caribenho. Este senhor, todos conhecemos.

Um outro Honoris Causa menos conhecido é o Dr. Raoni Metuktire. Se alguém não lembra, Raoni é aquele cacique que, nos anos 80, exibia orgulhosamente aos jornais a borduna com que matou onze peões de uma fazenda. Não só permaneceu impune, totalmente alheio à legislação brasileira, como foi recebido com honras de chefe de Estado na Europa. O papa João Paulo II, François Mitterrand e os reis da Espanha, entre outros, o receberam como líder indígena. Raoni, com seus belfos, se deu inclusive ao luxo de expor sua pintura em Paris. Um dos quadros do assassino atingiu US$ 1.600 em uma lista de preços que começava a partir de mil dólares. Em 2008, Raoni recebeu o título de Dr. Honoris Causa pela UFMT (Universidade Federal do Mato Grosso).

Isso de universidades homenagearem assassinos está virando praxe acadêmica.Ou vigaristas. Como Darcy Ribeiro, o grande escroque acadêmico, que se gabava de ter um diploma de Dr. Honoris Causa pela Sorbonne. O senador monoglota sequer sabia por qual universidade foi titulado. O Honoris Causa, Darcy o recebeu em 1978, quando não mais existia a Sorbonne. O diploma foi conferido pela Universidade de Paris VII e entregue em uma sala do prédio da antiga Sorbonne, o que é muito diferente. Darcy Ribeiro, em prosa e verso cantado pelas esquerdas, foi antes de tudo um caso de polícia. Já escrevi sobre o vigarista. Além de gabar-se de ser monoglota, exibia como titulação universitária um diploma da Escola de Sociologia e Política, de São Paulo, curso que jamais foi reconhecido pelo Ministério de Educação e Cultura. Em seu currículo enviado ao Senado, espertamente se intitulou etnólogo, ofício que, como o de antropólogo, prostituta ou psicanalista, ainda não foi regulamentado no Brasil. Gozou de três aposentadorias federais, uma delas pela Universidade de Brasília, com a qual jamais teve vínculo de emprego. Sua carreira é a de um escroc acadêmico.Não bastasse isto, dizia ter fundado a Universidade de Brasília. Não fundou. Nem nela lecionou, embora tenha por ela se aposentado. Segundo o Dr. José Carlos de Almeida Azevedo, ex-reitor da UnB, Darcy nela jamais teve um só aluno e foi “reintegrado” para “aposentar-se”, sem jamais ter vínculo de emprego com a universidade, já que era “requisitado”. A propósito, cito artigo do ex-reitor, publicado em 24/06/96 na Folha de São Paulo:“Servidor do antigo SPI, hoje Funai, e da UFRJ, Darcy apareceu na comissão convocada pelo então ministro da Educação, Clovis Salgado, para cumprir determinação de JK, no sentido de “...fundar Universidade Brasília... em moldes rigorosamente modernos...”. Na comissão, presidida por Pedro Calmon, Darcy era o único que jamais havia concluído, ou iniciado, um curso superior, mas foi Reitor da UnB e ministro da Educação, poucos meses em cada lugar, sem deixar qualquer vestígio do que fez”.

Concluí o ex-reitor:“Ao autoproclamar-se fundador e criador da UnB, beneficiando-se disso ad perpetuam, o Darcy usurpa méritos exclusivos de Juscelino Kubitschek, de seu ministro Clovis Salgado e de Anísio Teixeira, comprovados em relatório oficial do MEC e em depoimento do ministro. O primeiro mandou criar a universidade, compreendendo sua importância; o segundo criou todas as condições, e Anísio a organizou. (...) A construção, institucionalização e consolidação da UnB devem-se aos reitores Caio Benjamin Dias, Amadeu Cury e, em escala menor, a este modesto escriba, que a ela serviram, a convite exclusivo do Conselho da Fundação UnB”.

O senador monoglota dizia ainda ter fundado a Universidade Nacional de Costa Rica. Tampouco a fundou. Aliás, nem existe tal universidade. Conforme nos informa o professor Augostinus Staub, “existe, sim, a Universidade Nacional, na cidade de Herédia, criada em 1970, pelo presbítero Benjamin Nuñez Gutierrez, e não por Darcy Ribeiro”.

Para termos uma idéia da capacitação intelectual deste Honoris Causa, cito esta sua interpretação do Gênesis, que consta do livro Mestiço é que é bom (Editora Revan, Rio, 1997):Aliás, eu preciso contar para vocês uma coisa muito interessante que eu desenvolvi ultimamente, meio literária mas muito bonita. E uma história sobre Eva, eu estive meditando sobre Eva e descobri que Eva é trotskista. É a primeira revolucionária da história. Nós devemos coisas fundamentais a Eva.Primeiro, Eva fundou a foda. Adão era um bestão, estava lá, com aquele penduricalho dele e não sabia o que fazer. Eva disse:- Vem cá Adãozinho.Ele pôs dentro dela e foi aquele gozo, ele teve o orgasmo e, quando deu aquele gozo, o anjão desceu e disse- Deus não gosta, Deus está puto com vocês, fora!E os pôs para fora do Paraíso. O Paraíso era uma merda, não era de matéria plástica porque não existia matéria plástica, era de papel crepom. Porque a flor é o órgão genital das plantas, fode, não poderia ter no paraíso flor fodendo. Era de papel crepom. Quando o anjão pôs eles para fora, obrigou o seguinte:- Vamos fazer o comunismo, vamos fazer o Paraíso lá fora.Eva também foi fazer o comunismo.

Estes são os doutores Honoris Causa que a universidade reverencia. Quanto a Lula, ninguém se surpreenda se um dia for sagrado imortal pela Academia Brasileira de Letras. Depois de Getúlio Vargas, do general Adelita, de Sarney e Paulo Coelho, nada mais surpreende.

Lula aliás já tem o aval da Dra. Marilena Chauí: “quando Lula fala o mundo se ilumina e tudo se esclarece”.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

POLÍTICA

João Eichbaum


Da palavra grega “pólis”, derivam “polités” e “politeía”. “Polis” significa “cidade”, mas num sentido bem amplo, já que naquele tempo cada cidade era o próprio Estado, representando uma coletividade, uma comunidade.
“Polités” era o “cidadão”. “Politeía”, o nome dado aos procedimentos que diziam respeito diretamente à “polis” e, indiretamente, aos “cidadãos”.
É desses vocábulos gregos que deriva a palavra “política”, cujo sentido etimológico se restringe aos procedimentos relativos à administração do Estado, entendido esse em sentido amplo.
Em outras palavras, “política” é o conjunto de normas que se destinam à administração da “coisa pública” - do latim “res publica”.
Da Grécia antiga até aqui, o sentido da palavra continua o mesmo, nada mudou em seu curso etimológico. Mas o que mudou – e como mudou! – foi o modo de se exercer a política. De “ciência”, a política se transformou em “indecência”.
A própria Grécia, berço da ciência da administração pública, hoje já não serve como exemplo. O mau desempenho no exercício da política levou o país ao caos financeiro, de repercussão extremamente negativa na vida dos cidadãos (“politói”).
O Brasil só serviu como exemplo de exercício da política no tempo em que era habitado exclusivamente pelos nativos, que nunca tinham ouvido falar na Grécia, mas viviam organizadamente sob a liderança dos caciques e pajés. Em guerra contra os inimigos, é verdade, como também acontecia no tempo da Grécia antiga, mas respeitando a organização e a hierarquia da comunidade, em convivência pacífica.
A corrupção foi introduzida nessa comunidade ordeira pelos primeiros invasores, os portugueses, que, em troca das bugigangas com que presenteavam os índios, foram surripiando nossas riquezas.
Foi assim que começou a “administração” da coisa pública aqui no Brasil. E com a chegada de Dom João VI, em 1808, se oficializou o mau exercício da política, entre muitas outras barbaridades, com o desalojamento arbitrário de habitantes locais, para abrigar os membros da corte portuguesa. Esse descalabro, no interesse exclusivo dos governantes, foi o marco inicial da “política” deste país, a regra básica que orientou sempre, e continua orientando os “políticos”.
De “política”, desde aqui pisaram os primeiros “civilizados”, nunca tivemos coisa alguma. Mas “politicagem”, que é um vocábulo composto por “política” e “ladroagem”, nunca faltou.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

A BÍBLIA LIDA PELO DIABO

João Eichbaum

20 E Adão deu à sua mulher o nome de Eva, por ser ela mãe de todos os viventes.

É por isso que todo mundo é filho da mãe, filho dessa, filho daquela, e o pai nunca é agredido por meio de ofensas dirigidas aos filhos: não existe sinônimo de filho-da-puta, que sirva para o progenitor.

21 E o Senhor Deus fez túnicas de peles para Adão e sua mulher e com elas os vestiu.

Só agora a galera toda ta sabendo qual foi o primeiro costureiro do mundo.

22 Então disse o Senhor Deus: eis que o homem é como um de Nós, sabendo o que é o bem e o mal; ora, pois, para que não estenda sua mão e tome também da árvore da vida, e coma e viva eternamente... 23 E o Senhor Deus o enviou para fora do jardim do Éden, para lavrar a terra.

O famoso pé-na-bunda: te rala, meu, vai procurar a tua turma.
Quer dizer, o homem não teve a segunda chance, não lhe foi dada a oportunidade de se arrepender, de se emendar, de reconhecer a autoridade de Javé como absoluta. Não teve aquela de cartão amarelo primeiro. Foi cartão vermelho direto.
E ainda tem gente que tem a coragem de chamar o Velho Javé de Pai misericordioso...

24 E havendo lançado fora o homem, pôs querubins ao oriente do Jardim do Éden, e uma espada inflamada que andava ao redor, para guardar o caminho da árvore da vida.

Tudo isso pra segurar o Adão lá fora?
Agora, me diz uma coisa: você é um deus que tudo pode, basta uma palavra para criar o mundo, um sopro no nariz para criar o homem, uma costela para criar a mulher, precisa então botar querubins e espadas de fogo ao redor do jardim, para guardar a sua propriedade? Você não sabe tudo, não vê tudo ao mesmo tempo, não tem ciência de tudo, não tem poder pra estraçalhar qualquer fiadaputa que queira roubar frutas de suas árvores?
Quer dizer que se o Adão entrasse lá, sorrateiramente, e comesse a porra da fruta da árvore da vida, não tinha mais volta, ele seria imortal, e pronto?
Pô, cara, assim não dá! É muita incongruência!

quarta-feira, 20 de julho de 2011

NADA PIOR QUE LEITOR ANALFABETO DA BÍBLIA

Janer Cristaldo

Falo desses pastores de praça, que andam com a Bíblia debaixo do sovaco e nela só lêem o que querem ler, isto é, um moralismo tacanho que satisfaz a seus baixos instintos. Seguido encontro essa gente em minhas andanças. Os piores são os taxistas evangélicos. Ouvem as prédicas dos pastores analfabetos e saem a deitar erudição.
Há uns dois anos, peguei um destes crentes ao sair do Sírio-Libanês. A conversa derivou naturalmente para doença e contei que havia sido curado de um câncer.
- Graças a Deus – disse o fanático.
Graças a Deus umas pivicas, objetei. Curei-me graças a meus médicos. A conversa acabou derivando para religião e para a Bíblia.
Que Bíblia você lê? – perguntei.
Ora, eu leio a Bíblia, disse o taxista.
Sim, mas qual tradução?
Ele embatucou: só existe uma Bíblia.
O pobre diabo não conseguia entender que se só existisse uma Bíblia, ele jamais a conseguiria ler. Se é que a leu, o que duvido.
Outro dia, peguei um outro destes taxistas. Antes do primeiro quilômetro, já me brandiu a Bíblia. Sei lá como, caiu na Maria Madalena. Que estava por ser apedrejada, quando Cristo a defendeu: quem não tiver pecado que atire a primeira pedra.
Tentei objetar que se tratava de uma prostituta, mas não da Maria de Magdala. Claro que ele sequer sabia o que era Magdala. Mas tinha certeza que se tratava da Madalena. Nessa altura, ou você chama o interlocutor de analfabeto... ou retira o time de campo. Como não me apraz a idéia de brigar com taxistas, desisti do papo. Impossível dialogar com fanáticos com certezas.
Me ocorrem estas reflexões a propósito de um pastor evangélico que prega diariamente na Praça da Sé, aqui no centro de São Paulo. Segundo leio no Estadão, suas catilinárias são violentos discursos contra os homossexuais: "Os bicha deixam Deus em segundo plano. São promíscuo, sujo, faz orgia ...". Pelo português, já se pode ter uma idéia da cultura do pastor.Vai daí que, nestes dias de lutas ditas anti-homofobia, sentindo-se ofendidos, gays de passagem, lésbicas e simpatizantes recolheram a luva e reclamaram em um posto policial do que chamam de "baixarias". Ponto para o pastor. Sucesso no YouTube e repercussão na mídia tradicional.
Postado dia 28 passado no YouTube, o embate entre homossexuais e evangélicos na praça já teria tido cerca de 10 mil acessos. Na ocasião, um homem e uma mulher que discordaram do pastor foram xingados de "filhos de satã". Policiais precisaram usar gás de pimenta para evitar agressões. Segundo PMs, há confrontos semanais. "Qualquer pessoa de roupa colorida já é classificada de "criatura do demônio", diz policial.
Há horas venho dizendo que a proposta lei anti-homofobia inevitavelmente vai se chocar com a Bíblia. "A polícia prende nós, só que não pode fazer nada, porque o que a gente prega tá na Bíblia", diz o pastor analfabeto. Que a condenação do homossexualismo está na Bíblia, está. Mas não há momento algum em que a Bíblia chame os homossexuais de filhos de Satã ou criaturas do demônio. O Livro, em momento algum, insulta os homossexuais. Apenas os condena à morte. Homossexuais no masculino, é bom salientar. Mulher com mulher, nada obsta.
Este conflito – o de evangélicos contra homossexuais –, que até há pouco não existia, vai ocorrer cada vez com mais freqüência nos dias futuros. Digo de evangélicos, porque os católicos há muito assumiram suas homossexualidades. E vai ocorrer por uma razão elementar: os homossexuais, com essa história de legislação anti-homofobia, não vão mais aceitar críticas. A bicharada se tornou militante. E nada pior que a militância, seja a favor do que for.
Sempre defendi as opções sexuais de qualquer pessoa, sejam quais forem. Hetero, homo ou bi são definições que pouco me interessam. Que cada um curta seus prazeres e estamos conversados. Mas se alguém não gosta do comportamento homossexual, que esteja a gosto para condená-lo. O que não se admite é ver um pastor analfabeto colocar na Bíblia palavras que na Bíblia não existem. Analfabeto, mas com senso de mídia. Da Praça da Sé foi para o YouTube e para o Estadão. Está deflagrada a luta entre analfabetos e anti-homofóbicos.
Os analfabetos marcaram o primeiro gol.

terça-feira, 19 de julho de 2011

FUTEBOL, RAÇA E DINHEIRO

Hugo Cassel – ABRAJET-SC

Alguns dias atrás, veteranos jogadores no Rio Grande do Sul, promoveram uma partida para arrecadar fundos e beneficiar um colega hospitalizado por amputação de um pé. É de imaginar o drama de alguém que tenha tido nos pés, o instrumento de seu trabalho e sustento da família, mesmo já tendo dependurado as chuteiras. O “matador” centro avante Kita, que tantas alegrias deu a tantas torcidas, jazia abatido, não por algum zagueiro grosso e malvado, mas sim por uma cirurgia errada numa lesão. Esse é apenas um entre tantos daqueles que jogavam a vida em cada lance. Que não acreditavam em “bola”perdida” e tampouco em “tirar o pé” nas repartidas. Não faziam isso por dinheiro. O salário era pequeno e não tinha nada desse absurdo de hoje chamado “direito de imagem”, “direito de arena”, e outros tantos “direitos” que transformaram jogadores de futebol em novos ricos em pouco tempo. O que havia era o compromisso de cada um em fazer o máximo pela camisa que vestia

RAÇA- Isso é o que pedem as torcidas dos clubes e, principalmente das seleções.
Mais de meio século de vivência dentro do futebol, como Presidente de Clube, narrador e comentarista, diretor, diploma de treinador e de árbitro me facultam afirmar que deixou de existir faz tempo, o “amor à camiseta” e, que aquele beijo que muitos jogadores fazem questão de mostrar na televisão. É falso. Algum empenho ainda existe em atletas de categorias inferiores buscando afirmação, mas estes também uma vez assinado um bom contrato, passam a poupar suas preciosas canelas.
Pensam no que podem perder se sofrerem uma lesão séria, mesmo sabendo que apesar disso não estão livres de prejuízos. Um exemplo é o atacante Adriano. Além do mais com salários enormes, gastam com brincos de diamantes, correntes de ouro carros importados e, a única raça que cultua normalmente é uma loira “de cinema” apaixonada por ele desde criancinha. O futebol está cheio desses “craques”.

DINHEIRO- Essa é a mola propulsora de empenho e raça no futebol. Não se espere
que a Seleção Brasileira na Copa America, com jogadores ganhando milhões se arrisquem a uma lesão que represente prejuízo financeiro. O volante Sandro dispensado e que voltou para a Inglaterra com previsão de cirurgia, perderá alguns milhões. Alem de desfalcar seu clube, eis que a CBF não paga um centavo da despesa. Assim que, “Se der para vencer tudo bem. Se não der é “levantar a cabeça” como dizem eles e, esperar pela próxima, quando tudo se repetirá. Sofredor fica o torcedor, mas para jogadores ganhando mais de um milhão por mês, esse “sofrimento” é bem mais suportável. Quem viu a correria da Venezuela contra o Paraguay , com garotos sub-20, ficou impressionado. Apenas o salário de um jogador brasileiro, paga os meninos por três meses.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

A FILOSOFIA DO SENHOR PONDÉ

João Eichbaum

Sempre achei a filosofia uma coisa muito chata. Os filósofos costumam expressar suas idéias através de uma linguagem obscura, eu diria inacessível até. Chego até a pensar que eles não sabem se expressar mesmo, não sabem utilizar adequadamente o instrumento da palavra e se deixam embaralhar pelo pensamento.
Querem saber de uma coisa? Filósofo, para mim, é um cara que se ilustra, para a finalidade única de vender idéias. Mas, o mercado, hoje, não está para idéias, porque o povo corre atrás de comida barata, automóvel popular, e boa vida, e não atrás de elucubrações.
Apesar de não gostar de filosofia, me dei ao trabalho, penoso, diga-se de passagem, de ler a entrevista de um senhor chamado Luiz Felipe Pondé, nas páginas amarelas da Veja da semana passada.
O senhor Pondé é professor da FAAP e da PUC de São Paulo. Quer dizer, ou não prestou concurso para lecionar em faculdades públicas, ou, se o fez, não foi aprovado. Mas escreveu um livro intitulado O Catolicismo Hoje, e isso, independentemente de seu currículo, me chamou a atenção.
Indagado se acredita em Deus, ele se identifica como ex-ateu, e diz que acredita em Deus porque acha “essa uma das hipóteses mais elegantes em relação, por exemplo, à origem do universo”.
Repito, para que não haja dúvidas: o cara se diz, e é considerado, filósofo.
Puxa, como é que um filósofo tem uma explicação tão chinfrin para sua crença num suposto Deus? Por que a versão da existência da divindade é uma das hipóteses “mais elegantes”?
Pergunto para vocês: onde é que fica a filosofia do senhor Pondé? Desde quando elegância combina com filosofia? Desde quando elegância é argumento filosófico? Desde quando é possível construir um silogismo, cuja conclusão seja a elegância?
Mas, tem mais: a origem do universo, do ponto de vista científico, passa longe da filosofia. O universo é uma coisa concreta, material, uma combinação de elementos químicos, sobre os quais a filosofia não tem argumentos para se pronunciar. A origem do universo é um tema que pertence às ciências exatas e não às elucubrações dos filósofos.
Para os filósofos, que não costumam botar os pés no chão e estão mais próximos dos poetas do que dos físicos e dos matemáticos, talvez a versão mais “elegante” seja mesmo a “criação bíblica”: faça-se, isso, faça-se aquilo e blablabá, com direito a descanso no sétimo dia.
Com um direito inteiro de descanso, o filósofo tem tempo para pensar, enquanto coça o saco e tira tatu do nariz. Por isso, adora a versão bíblica.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

CRÔNICAS TEMPORAIS

UMA CITAÇÃO PARA O TEMPO
PAULO WAINBERG

www.http://paulowainberg.wordpress.com

@paulowainberg (Twitter)

Não consigo imaginar o Tempo como uma linha continua porque, às vezes, me pego lá adiante olhando aqui para trás, outras vezes estou aqui atrás, olhando lá para frente.
E quando, graças à uma convulsão cósmica, estou aqui e agora, exatamente neste instante que acabou de passar, penso no instante seguinte que também acabou de passar, e no instante seguinte que acabou de passar no exato momento em que acrescento um ponto neste parágrafo.
Das abstrações humanas, acho o Tempo uma das mais torturantes, não é a toa que na mitologia grega era representado por Chronos (Saturno, na romana), que devorava seus filhos até que aconteceu a revolta dos Titãs, liderada por Zeus.
Se o passado já passou, se o futuro não existe e se o presente é tão infinitamente curto, nada mais me resta, justo eu que odeio citadores, do que encontrar uma citação de peso, que ilustre eruditamente minhas palavras.
Citadores são, por natureza e por definição, chatos. E por excelência.
– Para Freud – Começa o citador. – Manoel Bandeira, no magistral poema.... – segue ele. – Leibowitz gostava de dizer... – Conclui.
Citadores não possuem palavras próprias e foram agraciados com fenomenal memória, graças a qual decoram tudo o que lêem ou escutam, e estão prontos a repetir frases, versos e pensamentos alheios, não importam as circunstâncias, o dia, a hora, o Tempo, afinal.
Pegam você pelo braço, em plena festa e no momento em que a conversa com ela começa a ficar interessante, e lascam, a boca quase encostando em sua orelha:
– Acho que esta aí está dando uma de Madame Sthendal, segundo Flaubert.
Você pensa na Madame Bovary, mas é melhor deixar assim, afinal citadores também são humanos .
Ou:
– Sabe o que Jung diria, numa situação desta?
Todos temos um citador atormentador. Eu, é claro, tenho o meu, mais humilde, um citador de jornal que, ainda por cima, me cutuca quando fala comigo:
– Sabe o que disse o Herald Tribune de Chicago sobre o número de mortos na guerra do Fruzisquistão?
– Não – tento escapar.
– Dois milhões morreram de fogo amigo. Viu? Viu?
E me cutuca, me cutuca, me empurra para o canto, olhar perfunctório e cheio de razão. Só consigo balbuciar:
– Barbaridade.
Porque, como demonstram as estatísticas, ninguém escapa de um citador. Ele persegue a vítima, quando o pobre menos espera, ele está novamente ao teu lado, murmurando que “o mundo sem poesia é como churrasco sem sal” segundo Alexandre Herculano.
Sim, sim, não posso esquecer de acrescentar um aspecto fundamental, na questão: o citador acredita piamente na tua ignorância e, na rara e eventual falta de algo para citar, ele inventa, sem o menor constrangimento:
– Para Sócrates a verdade estava na família. Já Eurípedes achava que não.
E você, que não estudou quando devia, que não fez a lição de casa como sua mãe mandava, que não leu os livros que seu pai dizia para ler, é obrigado a acreditar no citador e a humilhar-se diante do fenômeno de cultura e sabedoria que, neste exato instante que já passou, cutuca tua barriga com o dedo indicador.
Ela, com quem a conversa começava a ficar interessante, sugerindo bons prognósticos para o futuro imediato, há muito sumiu no meio da festa, bem indignada: Você preferiu um citador, então vai te catar.
É triste, é lamentável, justo eu que estava, estou, estarei em busca de uma citação inteligente para dignificar minhas palavras iniciais, não encontro nenhuma.
Não considero o Tempo percorrendo uma linha contínua porque, acho que é porque, tenho certeza, é porque o Tempo é relativo.
Sim, como dizia Einstein.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

A BÍBLIA LIDA PELO DIABO

João Eichbaum

16 E à mulher disse: multiplicarei grandemente a tua dor e a tua conceição; com dor parirás os filhos, e o teu desejo será para o teu marido e ele te dominará.

O que sobrou para a mulher está bem definido: a dor do parto, a fidelidade e a obediência ao marido. Isso que o Velho Javé nem tocou na menstruação, na TPM, na menopausa, essas coisas todas.
Sabem agora a origem dessa tendência do macho de viver pulando cerca? Ta aí, ó, na Bíblia. A fidelidade é um dever bíblico da mulher e não do homem: “só dá pro teu marido”.
E o machismo? Vocês sabem agora donde veio? Não foram os homens que o inventaram, não.
Claro, hoje em dia tudo isso passou a ser ficcional, filosófico. Mas já teve seu tempo.

17 E a Adão disse: porquanto deste ouvidos à voz de tua mulher e comeste do fruto proibido, maldita seja a terra por causa de ti; com dor comerás dela todos os dias de tua vida.18 Ela produzirá também espinhos e cardos, e terás que comer também erva do campo. 19 Com o suor do teu rosto comerás o pão, até que voltes à terra, porquanto dela foste tomado: és pó e em pó te tornarás.

Foi assim que Javé, se sentindo desrespeitado, sem autoridade, saiu atropelando, puto da cara. E a primeira mijada que Adão levou foi por ter dado ouvidos à sua mulher.
Perceberam isso? Donde dá para entender que, ao invés de ter sido gentil, aceitando o que a mulher lhe oferecia, se o Adão desse uns petelecos nela, a história seria diferente e teria acontecido o primeiro divórcio do mundo, ficando o homem com o paraíso, sem precisar pagar pensão. E certamente teria ganhado uma mulher nova do Senhor.
E o resto foi só dureza: vais ter que pegar no batente, terminou a moleza, comerás erva...
É por isso que o povo todo come salada até hoje.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

A RELIGIOSIDADE

João Eichbaum

Quando teve os primeiros lampejos de raciocínio, o “homo erectus”, (leia-se o macaco bípede) inventou a divindade, para explicar os fenômenos que lhe metiam medo, e para os quais sua incipiente razão não encontrava explicações: as tempestades, o raio, o trovão, a fúria das águas, etc.
A divindade, portanto, nasceu do medo, foi criada pelo pavor do primata humano. Uma vez criada, passou de geração em geração, sempre imposta pela força do medo.
Mais tarde, com a evolução das funções cerebrais, que permitiam ao macaco bípede um raciocínio mais amplo, essa divindade furiosa foi lapidada.
Para aplacar o medo da morte, atribuiu-se, então, à divindade uma complacência para com os mortais: além dessa vida de dureza aqui, com dores, sofrimentos, invernos implacáveis, ataques dos inimigos, fúria de animais selvagens, etc, haveria outra vida: a morte seria uma ponte para essa segunda vida.
Assim foi organizada a religião, por algum primata mais esperto, que lhe deu forma, voz e estrutura, com profetas, sacerdotes, ritos, etc.
A ira da divindade, porém, representada pelos fenômenos furiosos da natureza, nunca pôde ser posta de lado. Então, para aplacá-la, os organizadores da religião inventaram os “sacrifícios”. Só a morte dos animais conseguia satisfazer a divindade. Eram pombas, eram cordeiros, bichinhos mansos, os que mais a compraziam.
Os judeus chegaram a ensaiar o sacrifício do homem. Mas não tiveram coragem de levá-lo adiante: depois de ter exigido o sacrifício do filho de Abraão, Javé voltou atrás.
Mas, os cristãos se serviram da idéia e pegaram um Cristo, a quem denominaram “Cordeiro de Deus”, para satisfazer a sede de sangue da divindade inventada pelos judeus.
A sanguinolenta idéia vingou e é celebrada há mais de dois mil anos.
E ninguém – salvo os descrentes – questiona essa sede de sangue atribuída à divindade.
Conclusão: se a morte do Cristo na cruz, se a imolação do chamado “Filho de Deus” ornada com todos os requintes de crueldade faz parte dos “serviços de Deus”, se a divindade se compraz com o sangue e se a violência faz parte do rito religioso, como poderão os homens combatê-la?

terça-feira, 12 de julho de 2011

EX-FREIRINHA RECIDIVOU

Janer Cristaldo

Sou freguês de livreta dos livros da Karen Armstrong. Creio que li todos os publicados no Brasil e mais alguns em espanhol, sobre cristianismo, judaísmo, islamismo, fundamentalismos, Jerusalém, Bíblia. Ex-freira católica, Armstrong se dedicou ao estudo de história das religiões e é excelente guia quando se trata de percorrer os textos sagrados. Tem análises pertinentes sobre o Antigo e Novo testamentos, como também sobre o Alcorão.

Há alguns meses, comentei que iria ler seu último livro publicado no Brasil, Em Defesa de Deus. Em uma resenha publicada no Estadão, fiquei com um pé atrás. A religiosa, que havia abandonado o hábito, parece ter voltado ao redil. Para a ex-freira, religião virou auto-ajuda: “religião é como música. Não se pode explicar, mas se ouve com prazer e, de quebra, ela ainda opera milagres como acalmar bebês, fazer crescer as flores e curar algumas doenças”. Como quiser. Mas desconheço músicas que ordenem a lapidação de mulheres, a morte de homossexuais ou o extermínio dos não-crentes.

Pois acabo de ler o livro. Decepção. A mulher está conclamando seus contemporâneos a crer em um deus moderno. “Na primeira parte deste livro, tento mostrar duas coisas; que, no mundo pré-moderno, pensava-se em Deus de um modo que pode ajudar a resolver algumas questões problemáticas para nós – Escrituras, inspiração, criação, milagres, fé, crença e mistério – e que a religião pode desandar. Na segunda parte, abordo o surgimento do Deus moderno, que lançou por terra muitos pressupostos religiosos tradicionais”.

Ou seja, Armstrong está propondo um deus à la carte. Como o antigo não funciona mais, crie-se um novo para adoração dos crentes. O que me lembra uma das mais geniais charges de Quino. Uma alminha chega ao paraíso e bate na porta. Pedro a atende:
- Sí?
- Buenos dias. Está Diós?
- Cuál? - pergunta Pedro.O crente se indigna:
- Cómo cuál? El único y verdadero.
Pedro vira-se e pergunta:
- Para fanáticos hay alguién de guardia hoy?


Sou como o crente do Quino. Para mim só existe um deus, pelo menos dentro do universo cristão. El único y verdadero! Isso de um deus ao sabor da modernidade é como chegar a um restaurante e pedir ao garçom para modificar um prato. No fundo, uma vontade irresistível de crer. A ex-freirinha recidivou. Se aquele deus antigo não me serve, eu construo um outro. Escreve Armstrong: “O papel da religião, estreitamente relacionado com o da arte, consiste em nos ajudar a ter uma convivência criativa, pacífica e até prazerosa com realidades que não são facilmente explicáveis e com problemas que não conseguimos resolver: mortalidade, dor, sofrimento, desespero, indignação em face da injustiça e da crueldade da vida”.

Ora, pode existir muita arte nas religiões. Mas, diferentemente das artes, as religiões são normativas. Se leio Cervantes ou Shakespeare, não me sinto coagido a matar ou morrer em nome de uma fé, tampouco a ter este ou aquele comportamento, muito menos a afirmar certezas em nome de minhas crenças. A arte propõe. A religião impõe. Shakespeare pode narrar traições e assassinatos, mas não sugere a ninguém matar. Jeová é taxativo. Ordena a Israel matar os amorreus, heteus, ferezeus, cananeus, heveus, jebuseus, mais tribos do que massacrou Maomé. O bom deus dos judeus e cristãos manda massacrar, arrasar, degolar, destruir cidades, matar tudo que respire. Só o santo homem Moisés mandou degolar três mil judeus. No Novo Testamento, no Apocalipse, o Cordeiro volta para exterminar o que sobrou da humanidade. Não vamos encontrar esta incitação ao genocídio em nenhuma outra obra literária.

Sem falar que todos temos, bem ou mal, uma convivência criativa, pacífica e até prazerosa com realidades que não são facilmente explicáveis e com problemas que não conseguimos resolver: mortalidade, dor, sofrimento, desespero, indignação em face da injustiça e da crueldade da vida. Se há problemas que não conseguimos resolver, é porque não têm solução mesmo. Como recuperar-se da morte de uma pessoa a quem um dia adoramos? Não há como. Refugiar-se na crença hipotética de uma vida futura é escapismo.

Continua Armstrong: “No entanto, a religião não funciona automaticamente; requer muito esforço e não leva a nada se é fácil, falsa, idólatra ou complacente. A religião é uma disciplina prática, e seus insights não se devem à especulação abstrata, mas a exercícios espirituais e a uma vida de dedicação. Sem isso, é impossível entender a verdade de suas doutrinas”.

A ex-freirinha, no fundo, está querendo dizer que precisamos fazer um esforço para crer. Algo assim como você se prostar e orar: "quero crer, quero crer, quero crer", e acabar crendo. Ora, isto só funciona com frágeis de espírito. Eu só creio naquilo que minha razão aceita. Armstrong percebe o problema e argumenta: “A revelação não é um fato que ocorreu num passado distante, mas um processo criativo que está em andamento e requer nossa engenhosidade. A revelação não pode nos fornecer informações infalíveis sobre o divino, porque o divino sempre ultrapassa nosso entendimento”.

Bom, se ultrapassa meu entendimento não me serve. Por revelação entendo o que foi revelado, este é o alicerce de todas as religiões. Não podemos ter novos alicerces, conforme as épocas. Revelação é o que está escrito, não pode depender de engenhosidade. Assim fosse, as religiões seriam cambiantes. É o que propõe a teóloga.

Concluindo seu ensaio, Armstrong afirma: “Se um texto bíblico contradiz uma nova descoberta científica, cabe ao exegeta interpretá-lo de outra maneira”. Assumiu definitivamente o vício dos teólogos, o da interpretação. Há rabinos que afirmam que a Torá são as interpretações da Torá. O umbigo da Sulamita, por exemplo, não é o umbigo da Sulamita. Assim como o umbigo é o centro do corpo, o templo de Salomão é o centro do mundo. Então o umbigo de Sulamita é o templo de Salomão. Para os teólogos cristãos, que não conseguem aceitar um livro erótico na Bíblia, a busca de Sulamita pelo amado é o amor da Igreja por Cristo. Assim, no Cântico dos Cânticos, quando Sulamita, morena e formosa, pede a Salomão: "que me beije com os beijos de sua boca!", Sulamita não está sedenta de beijos. É a Santa Madre Igreja Católica que manifesta seu amor ao Cristo. Quando o rei responde: "Minha amada, eu te comparo à égua atrelada ao carro de Faraó!", não está comparando a Igreja a uma égua. Está apenas correspondendo ao amor de sua noiva, a Igreja.

Se um texto bíblico contradiz uma descoberta científica, não cabe nenhuma outra interpretação. Só cabe jogá-lo à famosa lata de lixo da História.

Armstrong envelheceu e entregou os pontos ante a intempérie metafísica.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

O SHOW DA VIDA

DE BOIS E DE HOMENS
João Eichbaum

A libido, já escrevi em outra crônica, é ínsita no ser humano, como em qualquer animal, por uma razão muito simples: ela é o instrumento de perpetuação da espécie. Sem libido não haveria tesão. Sem tesão não haveria cópula (hei, vocês aí, que são da época da “transa”: cópula é aquilo que vocês chamam de “transa”).
E ninguém escapa dessa lei da natureza: quem tem vida, tem libido. Os machos, sempre. As fêmeas, se humanas, só quando não estão com “dor de cabeça”.
Conheci um jovem que tinha síndrome de “down”, cujo zeloso pai o levava, periodicamente, à zona do meretrício (sim, isso já houve, uma vez), para que o rapaz se aliviasse das necessidades impostas pela libido. Só não me perguntem o que fazia o papai, enquanto o filho se saciava com alguma das moças.
Outro dia, num desses dias de inverno, um amigo, tendo que reconstruir um aramado, passou uma tarde inteira açoitado pelo minuano e salpicado por uma dessas garoas que regam o Rio Grande do Sul, nos meses de julho e agosto. O aramado havia sido destruído durante uma briga entre um boi de canga e um touro.
Sabem por que?
O seguinte. Uma das vacas estava no cio e, farejando a oportunidade, um dos touros da fazenda se aproximou da dita cuja, para encetar o namoro. E vocês sabem como é: com touro não tem essa de “preliminares”. Vendo aquela cena, um dos bois, preso num cercado, sentindo que estava sendo passado para trás, não agüentou: furioso, derrubou o arame farpado e, mesmo vertendo listas de sangue, se pôs em luta contra o touro, para conquistar a fêmea, ou a sua parte na dita cuja.
Como vocês podem imaginar, foi feia a briga, uma rebordosa de guampaços de sair chispa. Um corneado e outro prestes a sê-lo se atracaram, bufando.
Então, sobrou para o meu amigo: teve que reconstruir o aramado destruído numa luta provocada pelas exigências da natureza.
A história dos homens está recheada de casos semelhantes. Hoje, até nem tanto. Com a liberação sexual da mulher, os cornos são corneados e nem ficam sabendo. O comportamento sexual dos primatas humanos os está afastando cada vez mais das origens, numa espécie de “trailer” do que irá acontecer: ninguém mais será de ninguém.
Pelo andar da carreta, não será surpresa se o STF brasileiro assim o decidir.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

BIBLIOTECA SEM BÍBLIA NUNCA FOI BIBLIOTECA

Janer Cristaldo

Leitores querem saber o que acho da lei 5.998/11, publicada no Diário Oficial do Executivo desta segunda-feira (04/07) e de autoria do deputado Edson Albertassi (PMDB), que obriga todas as bibliotecas a terem uma bíblia. “O texto não tem a intenção de estabelecer qualquer obrigatoriedade ou constrangimento àqueles que vivem sua espiritualidade em comunidades não cristãs. O que se pretende é garantir o acesso à Bíblia àqueles que assim o desejarem”, salienta o autor. A nova regra determina multa de mil a duas mil Ufirs às bibliotecas que não a respeitarem.
Bom, diria que é redundante. Não posso conceber uma biblioteca pública sem, já não digo uma bíblia, mas várias. Aliás, não consigo conceber nem mesmo uma biblioteca privada sem bíblias. Se chego em uma casa e vejo uma biblioteca, vou logo perguntando: e quantas bíblias você tem? Se não tiver nenhuma, sua biblioteca é capenga. E atenção: quem vos fala é um ateu.
A bíblia é o livro que formata culturalmente o Ocidente. Nele há história e mito, poesia e sociologia, filosofia e – é claro – religião. Foi o primeiro livro que pus no computador, lá pelos anos 90. Havia uma edição digital, que comprei na livraria Ave Maria, aqui do bairro, em cinco disquetões daqueles de 5 ¼. Era a primeira bíblia eletrônica do país e o padre que a digitalizara não se fazia de rogado, cobrava caro pelo seu trabalho. Hoje você encontra bíblias em todos os formatos na rede, e todas grátis.Tenho mais de dez bíblias em minha biblioteca e uma no computador. É bom para comparar versões, pois cada igreja puxa brasa para seu assado. Sem ir mais longe, na Vulgata Cristo tem primos. Já na King James, sem compromisso algum com o dogma romano da virgindade de Maria, Cristo tem irmãos. Tenho inclusive uma versão marxista entre as minhas. É aquela edição pastoral, publicada pelas Edições Paulinas, com imprimatur de Dom Vital J. G. Wilderink. O editor puxa a tradução para conceitos contemporâneos, nitidamente marxistas, e intercala o texto com intertítulos que remetem à luta de classes. Vejamos alguns deles, em Josué, que mais parecem um manual de reforma agrária:- Condição para ter a terra
- Solidariedade na luta
- Os poderosos têm medo de um povo livre
- Etapa final da libertação
- Luta e oposição
- Reação dos poderosos
E por aí vai. Só faltou o “povo unido jamais será vencido”. A bíblia é um livro curioso, raras pessoas conseguem lê-la no original. Temos de confiar nas traduções. E cada tradução é um caso. Bart D. Ehrman, Ph. D. em teologia pela Princeton University, é um desses raros privilegiados que conseguem ler os textos originais do Livro. Bem entendido, textos originais não mais existem. O que existe são cópias de cópias de cópias. Erhman saiu atrás delas, onde quer que se encontrassem. Encontrou manuscritos reproduzidos por copistas influenciados pelas controvérsias políticas, teológicas e culturais de seu tempo. Tanto os erros quanto as mudanças intencionais são muitos nos manuscritos subsistentes, dificultando a reconstituição das palavras originais.
Nesta busca, Erhman acabou perdendo sua fé. Confesso que também perdi a minha ao ler a Bíblia. Por isso os padres, durante muito tempo, não recomendavam sua leitura para menores de trinta anos. Em meu caso, pelo menos, não precisei pesquisar nas bibliotecas do mundo todo. As traduções foram suficientes para libertar-me da religião. A saga de Erhman está em seu ensaio O que Jesus disse? O que Jesus não disse? (Editorial Prestígio, São Paulo), livro que recomendo a crentes e descrentes. E a tradutores. Dei-o de presente a uma amiga tradutora do grego e ela o repassou a seu professor, um padre ortodoxo. Parece que até o pope ficou confuso.Diria que as bibliotecas devem ter não só várias bíblias, como também vários dicionários bíblicos. A Biblia é um livro complexo, cujas partes foram escritas por distintos autores, de distintas línguas, distintas culturas e distintas épocas. Difícil percorrê-la sem um bom mapa. Tenho cinco dicionários bíblicos. O que mais uso é o Dictionnaire de la Bible, de André-Marie Gerard (Robert Laffont, Paris). Excelente. Existe um outro, com uma iconografia soberba, o Dictionnaire Illustré de la Bible (Bordas, Paris). Comprei-o para dar de presente a um amigo. Quando comecei a folheá-lo, mudei de idéia. Meu amigo só o ganharia se eu encontrasse outro exemplar. Por sorte, encontrei.Em português há um muito eficaz, o Dicionário Enciclopédico da Bíblia, editado pela Vozes, Bijbels Woordenboek, no original holandês. É de autoria de uma competente equipe de teólogos holandeses, coordenados por A. Van den Born. Recomendo vivamente. Tenho um outro dicionário, em espanhol, curiosamente de autoria de Isaac Asimov. Útil, mas precário.A lei, como dizia, é redundante.
Biblioteca sem bíblia não merece ser chamada de biblioteca.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

A BÍBLIA LIDA PELO DIABO

João Eichbaum

11 E Deus disse: quem te mostrou que estavas nu? Comeste da árvore de que te ordenei que não comesses? 12 E Adão respondeu: a mulher que me deste por companheira me deu o fruto e eu o comi. 13 E o Senhor Deus se dirigiu à mulher: por que fizeste isso? Ao que a mulher respondeu: a serpente me enganou e eu comi.

O Absoluto não sabia de nada, como um cara que foi presidente do Brasil, um tal de Lula. Tudo tinha se passado ali, debaixo de suas barbas e Ele não sabia de nada. Teve que fazer interrogatório.
E aí começou o jogo de empurra, cada um dando a sua versão: a gata aí me deu a fruta e eu comi. E ela, a primeira gata da história: quem me enganou foi a serpente.
Ninguém quis assumir. Como acontece até hoje.

14 Então o Senhor Deus se dirigiu à serpente: porque fizeste isso maldita serás, mais que toda a besta, mais que todos os animais do campo, sobre o teu ventre andarás e pó comerás por todos os dias de tua vida. 15 E porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua semente e a dela; a mulher te ferirá na cabeça e tu lhe ferirás o calcanhar.

Quer dizer que, antes disso, a serpente andava de pé, cabeça erguida?
Mas, ainda que mal pergunte: sobre o quê se apoiava?
Havia de ser engraçado, né, com aquele rabo fininho, se apoiando nele pra andar pra cá e pra lá.
Bom, uma coisa é certa, além de ter que andar sobre o próprio ventre, a serpente também deixou de falar. Pelo menos eu nunca ouvi nenhuma falando.
Inimizade entre a serpente e a mulher. Por acaso existe amizade entre a serpente e o macho homem? A serpente só pega calcanhar de mulher? De homem, não?
Parece que o rabugento Javé, de tão furioso, já nem sabia o que dizia.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

DEUS E A MISÉRIA HUMANA

Grazie Fernandes

Deus criou o homem à sua imagem e semelhança - está escrito na bíblia.
Mas, não concordo com essa afirmação, apesar de já ter sido eu muito religiosa. E até já tive “experiências” com esse “Deus”.
Já fiz parte de uma religião e já acreditei em Deus, mas hoje já não creio em coisa alguma.
“Deus”, para mim, é simplesmente um ídolo que colocamos em nossas vidas, buscando a “proteção” contra o mal que o próprio homem, no jardim do Éden, começou a conhecer. E penso: será que Deus está no meio da “Justiça” humana, na qual também não acredito?
Pois, a partir desse questão comecei a concluir que, se não há a justiça dos homens, muito menos haverá a de um Deus, que foi inventado pelo próprio homem, para nele se refugiar de seus problemas pessoais, sociais e morais, entre outros.
Só não consigo esquecer um sonho que tive há algum tempo atrás. Estava sentada numa praça, sozinha, e, quando olhei para o céu, vi uns seres de branco, levando crianças e mulheres e depois os homens aqui da terra. Várias pessoas que estavam ao meu redor me perguntavam o que estaria acontecendo, pois ela também presenciavam o mesmo fenômeno. Aí eu respondi que estava ocorrendo o arrebatamento da Igreja, tendo eu ficado na terra para explicar o acontecido.
Acordei assustada, e até hoje penso: será que isso vai acontecer mesmo?
Outro dia, passei por uma experiência que me fez pensar que o homem é um nada, com ou sem o seu “Deus”. Eu estava na frente da empresa onde trabalho e vi uma mulher com dois filhos pequenos, nesse frio de julho, na frente de um quiosque. E fiquei pensando: onde está Deus, o que representa ele diante da ávida miserável dessa mulher e dessas crianças? Ela era magra e estava suja e dava para notar que passava fome, junto com os filhos. Fiquei revoltada e perguntei: por que Deus dá filhos para essas mulheres que não têm nenhuma estrutura, tanto pessoal como profissional, que não têm para elas e muito menos para os filhos?
Revolta-me tudo isso, porque conheço pessoas ricas, cheias de dinheiro, têm tudo na vida, enquanto esse pobres miseráveis nada têm, nem mesmo o que comer. E os mendigos, e os que dormem na rua? Por que Deus não os ajuda?
Enquanto isso, homens ricos gastam seu dinheiro em casa de massagens, quer dizer prostituição, fornicando, e nada lhes acontece da parte de Deus.
Tudo isso me faz chegar a uma conclusão: Deus inventou o homem, uma criatura imunda, sem perfeição nenhuma.

terça-feira, 5 de julho de 2011

O "SHOW DA VIDA"

OS VELHINHOS, DEUS E AS SOBRINHAS DA TIA CARMEN

João Eichbaum

A libido é a pimenta do “show” da vida. Sem ela não haveria procriação, quer dizer, não entraria no ar o “reality show”. Por tal razão ela é ínsita no ser humano, como em qualquer animal. Começa na infância e só abandona o ser vivente em caso de doença ou morte.
Na juventude, tudo bem, o sexo é fácil, e é por isso que as pessoas namoram, se juntam, se casam ou, como diz o povo, trepam, enquanto são jovens, movidas pela paixão, que outra coisa não é senão o ponto de erupção da sexualidade.
Quando chega a velhice, as coisas mudam. Os velhos perdem o viço, criam barriga, as carnes ficam flácidas, as rugas que se lhes desenham no rosto, lembram mapas de rios, decai a potência sexual. Quer dizer, eles broxam. Mas a sensualidade os não abandona. Como dizia minha tia: eles perdem a força, mas não perdem a cisma.
Hoje, para quem tem dinheiro, já não existe impotência sexual. Os transplantes de pênis, o Viagra e outros similares estão disponíveis nas farmácias.
Mas, os aposentados do INSS, que sobrevivem com um salário minimo, estão fora dessa faixa. O que ganham, mal dá para pagar as contas, os remédios, o aluguel, sem contar os empréstimos consignados, com que o governo federal os engana.
Então, temos duas espécies de velhos: os que podem e os que não podem fazer sexo.
E aí vem a segunda diferença: aqueles que podem, embora não tenham atrativo físico algum, compram sexo. O cara encosta seu carrão ali na Olavo Bilac, entrega-o para um manobrista e vai se divertir na casa de uma criatura de Deus conhecida como tia Carmen. Lá encontra as sobrinhas dela, plenas de juventude e sensualidade, de peitos salientes e traseiros viçosos, mostrando as coxas, todas fornidas, e convidando para um papinho. E diante de seus olhares teatralmente cobiçosos, os velhinhos endinheirados mordem as iscas, esquecem os amores extintos, e se deixam envenenar pela concupiscência. Uma maravilha para quem, no inverno da vida, ainda pode aproveitá-la.
Mas, e os outros, os aposentados do INSS? Feios, impotentes, o rosto riscado por sinais de fatiga e fracasso, tresandando a odores de incontinência urinária, e sem dinheiro, o que lhes resta?
O que sobra para alguns, volta e meia, o que eu sei, é a cadeia, por importunarem menininhas.
E Deus, por que figura no título desta crônica?
Ah, porque os velhinhos endinheirados, a tia Carmen e suas sobrinhas, quando indagados sobre a vida, respondem sem pestanejar: tudo bem, graças a Deus.
Enquanto isso, os velhinhos do INSS, diante da mesma pergunta, não têm outra resposta senão “ah, vai se levando...”
Aí, então, vem a minha pergunta: por que, nem do ponto de vista moral, consegue Deus justificar seus métodos, que impedem uma distribuição equânime da felicidade?
De qualquer maneira, tudo está no “script” do “show” da vida.

O "SHOW DA VIDA

segunda-feira, 4 de julho de 2011

C'EST BIEN TOUT CE QUI FINIT BIEN

Janer Cristaldo


Observação:

Para alertar leitores que, por acaso, não tenham tido a atenção voltada para o caso, fartamente explorado na imprensa: Dominique Strauss-Kahn, homem rico e poderoso presidente do FMI, potencial candidato à presidência da França se enredou com uma camareira de um hotel em Nova Yorque: foi denunciado por ela de a ter estuprado, depois de fazer um oral com a dita. A polícia encontrou esperma do poderoso ricaço na roupa da camareira, que se chama Nafissatou Diallo, e é africana. Dominique foi em cana, escandalizou o mundo. Agora veio uma versão diferente: não era nada disso, a camareira era prostituta e só queria arrancar um grana legal do cara.
Vejam o que diz Janer sobre o caso.
João Eichbaum


Pois até eu caí no conto da Nafissatou Diallo. Ainda há pouco escrevi: “Isto sem falar nas sumidades que um dia abraçaram o poderoso responsável pelo FMI, Dominique Strauss-Kahn. Que acabou se revelando um vulgar puxador de saias. A affaire revela o caráter destes senhores".

Mas fiquei com um pé atrás: “Como pode, um homem que com um estalar de dedos teria as mulheres que quisesse, atacar uma camareira de hotel? De potestade do planeta a prisioneiro em uma cela de 12 metros quadrados em Rikers Island. De candidato preferencial à Presidência da França a personagem do Law & Order. Foi preso pela Special Victimes Unit, como no seriado. Profundo mistério!”

O mistério foi desvendado. Segundo o que os investigadores descobriram, tudo não passou de armação. Mas Strauss- Kahn baixou a guarda. Consta que seu esperma estava na roupa da moça. Se não houve estupro, relação consentida parece ter havido. A menos que o esperma também seja armação.

Quando estive em Nova York, funcionários do hotel me advertiram que não é conveniente entrar em um elevador quando nele há só uma mulher. Você arrisca ir em cana ao pisar no térreo. Executivos preferem esperar outro elevador. Imagine ficar só no quarto com uma camareira. Ainda mais quando se é milionário, diretor do FMI e candidato potencial ao governo da França. Nas reportagens sobre a affaire, li que os hóspedes costumam sair do quarto quando a camareira entra. Seguro morreu de velho. Ficar no quarto é tentar o demônio.

Ainda mais se houve sexo. Os homens que detém o poder deveriam ser mais cautos. Ou se leva uma vida escancaradamente libertina, como Berlusconi. Ou melhor ser continente. Fosse eu presidente da República, penso que levaria vida mais ou menos casta. A tentação da chantagem é muito grande.

Que o diga Fernando Henrique Cardoso. Foi enrolado por uma jornalista vigarista, que lhe debitou um filho. O ex-presidente, ingênuo, acreditou que era seu e o assumiu. Agora descobriu que não é. Mas assumido está. A fulana, por sua vez, foi teúda e manteúda na Europa por vários anos. É a lei do baixo ventre. Um filho pode ser um excelente investimento. Melhor que jogar nas Bolsa, que está sujeita a chuvas e trovoadas. José de Alencar foi outro a cair no golpe. Verdade que, em seus dias de guri, jamais imaginaria que seria vice-presidente da República. A família preferiu cremar seu corpo, para evitar essas inconveniências reveladas pelo DNA.

Situação semelhante ocorreu com o bispo paraguaio Don Fernando Lugo, el semental de la Pátria! Onde boleia a perna vai deixando filho feito, como se diz lá no Sul. Caudilho como Sua Eminência não foi jamais sonhado nem mesmo pela imaginação fértil de Roa Bastos, Garcia Márquez, Alejo Carpentier ou Andrés Rivera. Nem mesmo pelo esperpêntico Don Ramón del Valle-Inclán. Príncipe da Igreja, bispo emérito de San Pedro, presidente do Paraguai e pai de três filhos, segundo as primeiras notícias. De seis ou nove, segundo outras fontes. De dezessete, segundo a oposição. Um bispo-presidente com dezessete filhos ficção alguma concebeu. Só mesmo a realidade da América Latina. Ou talvez só mesmo o Paraguai. Difícil imaginar que em algum outro país do continente um prelado conseguisse eleger-se presidente.

O bispo emérito de San Pedro, ao manter relações com uma menina de 16 anos, transgrediu o Código Penal, ao cometer estupro segundo a legislação de seu país. (Para salvar o que podia ser salvo, a moça declarou que a relação ocorreu aos 26 anos. Melhor não arriscar a mandar para o cárcere quem lhe provê seu sustento). Como religioso, transgrediu o Código Canônico, ao desobedecer a seu voto de castidade, professado não ante os homens, mas ante seu Deus, se é que Don Fernando nele acredita, o que muito me espantaria.

O cenário era bom demais para ser desperdiçado. A elite branca européia e colonizadora estuprando a negrinha oprimida africana. A impoluta polícia americana mandando para Rikers Island, sem contemplação alguma, uma alta autoridade européia. Festa para as esquerdas e para as feministas. Na edição de hoje, o New York Post fala de uma fonte que indicaria que a guineana era de fato uma prostituta, reputada por receber gorjetas de um montante extraordinário por sua função. Ainda segundo a mesma fonte, Nafitassou Dialo se beneficiaria de gastos com beleza que seriam cobertos “por homens que a ela não estão particularmente ligados”. Nos últimos dois anos, várias pessoas depositaram em sua conta bancária nada menos que cem mil dólares, em dinheiro líquido.

Enfim, c’est bien tout ce que finit bien, dizem os franceses. Strauss-Kahn, que renunciou à direção do FMI e a sua candidatura à presidência da França, se souber jogar bem, ainda tem chances de substituir Sarkozy.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

O VOTO DO FUX (conclusão)

João Eichbaum

Julgar é uma tarefa que só deveria ser confiada aos deuses. Os homens, ou melhor, os primatas, os parentes dos chimpanzés e dos bonobos, com uma carga genética bem mais próxima desses primos do que de qualquer ente divino, estão muito longe de reunir as qualidades e as virtudes que se exigiriam de um juiz.
Por reconhecer, ainda que indiretamente, mas não confessadamente, suas fraquezas, suas imperfeições, marcadas pela animalidade, os primatas que vestem a toga adquirem certos hábitos, nos quais buscam uma diferença, um “quid” que os possa distinguir dos demais primatas.
A linguagem é um dos instrumentos para os quais apelam, a fim de fazer essa diferença. Como os bacharéis e doutores de hoje, vitimas que são da péssima formação humanística a que foram submetidos, não têm pleno domínio do vernáculo, têm imensa dificuldade de construir uma frase correta, com sujeito, predicado e objeto definidos, do ponto de vista gramatical, eles inventam vocábulos e emprestam significados pessoais, subjetivos a muitas palavras.
Resultado: se perdem no emaranhado do seu vocabulário infiel à etimologia e ignoram regras elementares de gramática.
O “voto do Fux”, analisado nesta coluna, é a prova disso.
Alçado pela imprensa, por seus pares e pelo mundo dos bacharéis e doutores em geral, à condição de “intelectual do direito”, o senhor Luiz Fux quis fzer jus a tal promoção, mostrando que é “diferente”. E desandou a escrever coisas que, analisadas do ponto de vista gramatical, não passam de um amontoado de vocábulos sem sentido, sem expressão, verdadeiros ingredientes da ambigüidade.
Confesso que foi uma tortura ler o “voto do Fux”. Por isso, entreguei os pontos. E mais: meus leitores precisam de coisas melhores para preencher seu precioso tempo.
Deixemos o Fux e suas confusões de lado, por ora.