João Eichbaum
Todo o primata humano se desenvolve ou, como se costuma dizer num jargão pra lá de batido, cresce, na medida de suas aptidões. As pessoas têm inclinações, sentem maiores facilidades para fazer algumas coisas e outras tantas dificuldades, talvez bem maiores, para outras coisas.
Um alfaiate, por exemplo. Um alfaiate, uma costureira, para mim, e para muitos de nós, são artistas, verdadeiros artistas, porque fazem coisas que nós, que não somos alfaiates ou costureiros, não fazemos.
Um pianista, que pessoa admirável é um pianista. E quem é que não gostaria de ser admirável?
No entanto, poucos são os pianistas, porque a maioria ou não tem aptidão para o teclado ou se dá mal com a partitura.
Fiquemos nesses exemplos, para demonstrar que a aptidão é que aperfeiçoa as pessoas, os primatas humanos, no exercício do seu papel como integrantes da espécie.
Essa aptidão é necessária, para o sucesso, em qualquer ramo de atividade.
Por exemplo, a atividade política. Qual é mesma a aptidão que torna certos políticos cada vez mais elegíveis?
Ora, bolas, todo mundo sabe: a aptidão para enganar, para mentir. O político que não sabe mentir, que não sabe enganar, não se elege ou, se for eleito uma vez, não o será uma segunda.
Exemplo típico é o Lula. Quando deputado saiu esbravejando por aí contra seus colegas, afirmando que o Congresso era composto por quinhentos picaretas. Enquanto os políticos se lembravam desse conceito que sobre eles fazia o mecânico Luiz Inácio, o dito não se elegeu. Quando, porém, a coisa caiu no esquecimento, o Lula não só foi eleito, como se tornou uma espécie de Messias da política brasileira. Não porque fosse honesto, sincero, como na vez em que disse que os deputados não passavam de picaretas.
Não. Ele se tornou carismático, porque não teve o mínimo escrúpulo com o dinheiro público: distribuiu-o para os “picaretas” em troca de apoio e para o pessoal do nordeste, por onde começou essa instituição conhecida como “bolsa-família”.
E saiu como herói. E elegeu a Dilma.
Só que a Dilma nunca foi eleita para coisa nenhuma. E vocês sabem por que? Porque ela era uma política por convicção de idéias, porque acreditava no comunismo. E isso só não lhe bastaria para ser eleita, porque lhe faltava o ingrediente da safadeza.
Mas, na sombra do Lula e com o dinheiro público, que o Lula tinha na mão, ela foi eleita. Ele mentia, o povo acreditava nele e a Dilma foi eleita.
Agora, a Dilma demonstra que não tem aptidão para a política. Começou fazendo faxina e aí não agradou os picaretas, demonstrando, para quem ainda não acreditava nisso, que, para ser político, tem que ser desonesto apadrinhando a corrupção.
Se ela não distribuir “mensalão”, direta ou indiretamente, nada feito. O Brasil continuará como está, jogando fora o dinheiro de quem trabalha, para enriquecer políticos, ou para acomodar preguiçosos.
A menos que ela, a Dilma, esqueça que é presidente da República, e se convença de que sua aptidão é para faxineira.
quarta-feira, 31 de agosto de 2011
terça-feira, 30 de agosto de 2011
A QUEM PERTENCE O CADÁVER DO JUDEU AQUELE DE NAZARÉ?
Janer Cristaldo
Essa, agora! Os papistas brasileiros se reservam direitos exclusivos à imagem de um judeu, que teria nascido há dois milênios em Nazaré. Digo teria nascido, afinal sua existência até hoje suscita dúvidas. Leio no Estadão que o outdoor de um site de relacionamentos, especializado em relações extraconjugais, está provocando polêmica no Rio. A propaganda tem a imagem do Cristo Redentor ao lado dos dizeres: "Tenha um caso agora! Arrependa-se depois". A Arquidiocese encaminhou o assunto para o departamento jurídico e estuda as medidas que tomará.
"A Arquidiocese repudia com veemência essa propaganda com uso do Cristo, cujo direito de imagem pertence à Cúria. Ainda mais em um anúncio que prega o adultério", afirmou o porta-voz da Arquidiocese, Adionel Carlos da Cunha. O padre Omar Raposo, pároco do Santuário Cristo Redentor, disse que a propaganda provocou "indignação". "Ficamos todos perplexos. A Igreja defende uma proposta de valorização da família, do equilíbrio. E esse site aposta no contrário, na relativização da família", afirmou.
Pelo jeito, padre Raposo não leu os evangelhos. Está em João: Então os escribas e fariseus trouxeram-lhe uma mulher apanhada em adultério; e pondo-a no meio, disseram-lhe: Mestre, esta mulher foi apanhada em flagrante adultério. Ora, Moisés nos ordena na lei que as tais sejam apedrejadas. Tu, pois, que dizes? Isto diziam eles, tentando-o, para terem de que o acusar. Jesus, porém, inclinando-se, começou a escrever no chão com o dedo. Mas, como insistissem em perguntar-lhe, ergueu-se e disse- lhes: Aquele dentre vós que está sem pecado seja o primeiro que lhe atire uma pedra. E, tornando a inclinar-se, escrevia na terra. Quando ouviram isto foram saindo um a um, a começar pelos mais velhos, até os últimos; ficou só Jesus, e a mulher ali em pé. Então, erguendo-se Jesus e não vendo a ninguém senão a mulher, perguntou-lhe: Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou? Respondeu ela: Ninguém, Senhor. E disse-lhe Jesus: Nem eu te condeno; vai-te, e não peques mais.
Segundo Laís Ranna, a vice-presidente do site no Brasil, a escolha do Cristo, teve a intenção de "provocar as pessoas". Apesar da reação da Cúria, a empresa não pretende retirar a propaganda da Barra da Tijuca. Há cerca de dois anos, a arquidiocese encaminhou uma notificação judicial à Columbia Pictures pelo uso da imagem do Cristo no filme 2012. No caso do filme, houve um acordo.
Só o que faltava! Os católicos romanos, que roubaram o antigo livro dos judeus, se pretendem agora detentores exclusivos sobre os direitos de imagem daquele outro judeu dissidente. O judaísmo, depois do egípcio Akhenaton, aderiu ao monoteísmo. Há uns dois mil anos atrás, surgiu um maluco que também se proclamou deus. Não bastasse isto, havia uma terceira entidade divina, o Paráclito. Constantino, imperador romano, andava à procura de um deus poderoso para consolidar seu império. Viu que Jeová tinha futuro. Ocorre que, em Roma, os cristãos estavam cultuando três deuses, o Pai, o Filho e o Espírito Santo. O paganismo, expulso pela porta, havia voltado voando pelas janelas.
Para suprimir este retorno a crenças pagãs, o primeiro Concílio de Nicéia, realizado em 325 - sob a égide de Constantino, é claro - decretou o dogma da Trindade. Deus é três mas é um só. Não tente entender: é mistério. Não tente descrer: é dogma. Isso sem falar em Maria, que goza de uma condição de deusa, à semelhança dos outros três. O Ocidente monoteísta tem hoje, em verdade, quatro deuses.
Mas não era disto que pretendia falar, e sim do atrevimento da Cúria carioca, que pretende gerir a imagem do Cristo. Por que não processam então os evangélicos, que usam e abusam do nome do judeu aquele? É que vigaristas mantêm entre si um acordo entre canalhas. Padre respeita padre, não importa a qual religião pertençam. Todos vivem da mesma empulhação
Essa, agora! Os papistas brasileiros se reservam direitos exclusivos à imagem de um judeu, que teria nascido há dois milênios em Nazaré. Digo teria nascido, afinal sua existência até hoje suscita dúvidas. Leio no Estadão que o outdoor de um site de relacionamentos, especializado em relações extraconjugais, está provocando polêmica no Rio. A propaganda tem a imagem do Cristo Redentor ao lado dos dizeres: "Tenha um caso agora! Arrependa-se depois". A Arquidiocese encaminhou o assunto para o departamento jurídico e estuda as medidas que tomará.
"A Arquidiocese repudia com veemência essa propaganda com uso do Cristo, cujo direito de imagem pertence à Cúria. Ainda mais em um anúncio que prega o adultério", afirmou o porta-voz da Arquidiocese, Adionel Carlos da Cunha. O padre Omar Raposo, pároco do Santuário Cristo Redentor, disse que a propaganda provocou "indignação". "Ficamos todos perplexos. A Igreja defende uma proposta de valorização da família, do equilíbrio. E esse site aposta no contrário, na relativização da família", afirmou.
Pelo jeito, padre Raposo não leu os evangelhos. Está em João: Então os escribas e fariseus trouxeram-lhe uma mulher apanhada em adultério; e pondo-a no meio, disseram-lhe: Mestre, esta mulher foi apanhada em flagrante adultério. Ora, Moisés nos ordena na lei que as tais sejam apedrejadas. Tu, pois, que dizes? Isto diziam eles, tentando-o, para terem de que o acusar. Jesus, porém, inclinando-se, começou a escrever no chão com o dedo. Mas, como insistissem em perguntar-lhe, ergueu-se e disse- lhes: Aquele dentre vós que está sem pecado seja o primeiro que lhe atire uma pedra. E, tornando a inclinar-se, escrevia na terra. Quando ouviram isto foram saindo um a um, a começar pelos mais velhos, até os últimos; ficou só Jesus, e a mulher ali em pé. Então, erguendo-se Jesus e não vendo a ninguém senão a mulher, perguntou-lhe: Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou? Respondeu ela: Ninguém, Senhor. E disse-lhe Jesus: Nem eu te condeno; vai-te, e não peques mais.
Segundo Laís Ranna, a vice-presidente do site no Brasil, a escolha do Cristo, teve a intenção de "provocar as pessoas". Apesar da reação da Cúria, a empresa não pretende retirar a propaganda da Barra da Tijuca. Há cerca de dois anos, a arquidiocese encaminhou uma notificação judicial à Columbia Pictures pelo uso da imagem do Cristo no filme 2012. No caso do filme, houve um acordo.
Só o que faltava! Os católicos romanos, que roubaram o antigo livro dos judeus, se pretendem agora detentores exclusivos sobre os direitos de imagem daquele outro judeu dissidente. O judaísmo, depois do egípcio Akhenaton, aderiu ao monoteísmo. Há uns dois mil anos atrás, surgiu um maluco que também se proclamou deus. Não bastasse isto, havia uma terceira entidade divina, o Paráclito. Constantino, imperador romano, andava à procura de um deus poderoso para consolidar seu império. Viu que Jeová tinha futuro. Ocorre que, em Roma, os cristãos estavam cultuando três deuses, o Pai, o Filho e o Espírito Santo. O paganismo, expulso pela porta, havia voltado voando pelas janelas.
Para suprimir este retorno a crenças pagãs, o primeiro Concílio de Nicéia, realizado em 325 - sob a égide de Constantino, é claro - decretou o dogma da Trindade. Deus é três mas é um só. Não tente entender: é mistério. Não tente descrer: é dogma. Isso sem falar em Maria, que goza de uma condição de deusa, à semelhança dos outros três. O Ocidente monoteísta tem hoje, em verdade, quatro deuses.
Mas não era disto que pretendia falar, e sim do atrevimento da Cúria carioca, que pretende gerir a imagem do Cristo. Por que não processam então os evangélicos, que usam e abusam do nome do judeu aquele? É que vigaristas mantêm entre si um acordo entre canalhas. Padre respeita padre, não importa a qual religião pertençam. Todos vivem da mesma empulhação
segunda-feira, 29 de agosto de 2011
A TESTOSTERONA E A CASTIDADE
João Eichbaum
Se perguntarem a qualquer adolescente de hoje o que é “castidade”, ele não saberá explicar. Não saberá o significado, porque o seu vocabulário é extremamente pobre, nem saberá explicar através de sua experiência, porque não sabe também o que é viver sem sexo.
Castidade é o que a Igreja exige de seus clérigos: a abstenção do sexo.
Tanto padres, como freiras e irmãos leigos fazem votos ou promessas de “castidade”. A “castidade” é a condição fundamental para que alguém possa se dedicar exclusivamente ao serviço da Igreja.
Pura hipocrisia, é claro. Ninguém vive sem sexo. A sexualidade faz parte da natureza humana porque, sem ela, a raça humana desapareceria.
Não é um privilégio do animal homem. Todos os animais, por exigência da perpetuação da espécie, são dotados de sexualidade. O sexo é uma necessidade fisiológica como qualquer outra. A testosterona é um ingrediente químico que, em maior ou menor grau, integra a composição do ser animal.
Será que alguém escapa a seu arrebatamento? Até hoje, não há qualquer comprovação científica nesse quesito.
Ao exigir dos clérigos a abstinência sexual, portanto, a Igreja violenta a natureza e nega a ordem de Javé: crescei e multiplicai-vos.
O resultado desse binômio testosterona-castidade só pode ser um: a hipocrisia.
Só os idiotas, os que não têm um mínimo conhecimento da fisiologia animal, acreditam que padres e freiras e irmãos leigos, sem um homem ou sem uma mulher a seu lado, na solidão de seus quartos ou de suas celas, não atendam aos apelos ardentes da natureza, quando instados por ela.
A mais deslavada mentira é a que nega a sexualidade, apregoando que a testosterona fica esturricada por força da oração.
Por isso é difícil acreditar na Igreja. Se ela nega a força da sexualidade, uma coisa tão óbvia, que mexe com cada ser vivente, que força terão, para quem coloca o raciocínio em primeiro lugar, os seus dogmas?
Compare-se a Igreja Católica com as demais religiões, as evangélicas.
Por que, nas outras religiões, não há escândalos, pedofilia, por exemplo? Por que, na história das outras religiões, o sexo não desempenhou um papel tão negativo como na história da Igreja Católica? Por que é que as orgias sexuais ocorridas no Vaticano fazem parte da história da Igreja Católica, enquanto nas outras religiões é um tema desconhecido?
A resposta é uma só: a hipocrisia. A Igreja Católica tapa o sol com a peneira e mente, tentando convencer seus fiéis de que o papa, os cardeais, os bispos, arcebispos e o clero em geral não satisfazem suas necessidades sexuais, porque são “humanos diferentes”, cândidos eleitos de Deus.
Que o papa, com oitenta e mais anos, não tome Viagra vá lá. Mas isso não quer dizer que a química da testosterona não mexa com sua santidade, levando-o a desfiar suas fraquezas perante um confessor que, por seu turno, confessa seus orgasmos para outro colega, com medo de “perder a alma”.
E assim anda o círculo vicioso do perdão dos “pecados”.
A questão não se reduz a essa simplicidade, de defender o celibato eclesiástico ou de pedir sua revogação. O furo é mais em cima. A questão básica, da qual dependem todas as outras, é uma só: que a Igreja Católica deixe de ser hipócrita e não comprometa o “Espírito Santo”, a quem credita todas suas inspirações.
Logo o “Espírito Santo”, que sabe tudo de testosterona: emprenhou a Virgem, sem fazer o “papai e mamãe”.
sexta-feira, 26 de agosto de 2011
GAÚCHOS ERGUEM MONUMENTO A ASSASSINO A SOLDO DE MOSCOU
Janer Cristaldo
Há dois dias, eu comentava a reedição pela Companhia das Letras de Vida de Luís Carlos Prestes, o Cavaleiro da Esperança – ode da maior prostituta das letras nacionais, Jorge Amado, ao mais estúpido dos gaúchos.
De Porto Alegre, Marco Aurélio Antunes me envia esta alvissareira notícia: Desenhado e doado por Oscar Niemeyer em 2008, o projeto do Memorial Luís Carlos Prestes receberá nesta quinta-feira, 25, às 17h, a assinatura final do arquiteto. Com o ato, a prefeitura estará autorizada a liberar o início de construção do prédio que eterniza a memória desse ícone da história porto-alegrense e brasileira. O prefeito José Fortunati, o presidente da Federação Gaúcha de Futebol (FGF), Francisco Noveletto, o arquiteto responsável pela execução da obra, Hermes Teixeira da Rosa, representantes da Corrente Prestista e familiares de Prestes participam do encontro com o arquiteto no Rio de Janeiro. A construção do Memorial Luís Carlos Prestes será feita pela FGF como contrapartida pela cessão de uso do terreno para a nova a sede da entidade, que servirá como base administrativa e de operações voltadas à Copa do Mundo de 2014. A área, de 10 mil m², está localizada na Av. Edvaldo Pereira Paiva esquina com a Av. Ipiranga e abrigará os dois prédios. Para o prefeito Fortunati o memorial representa dois marcos fundamentais para a cidade. "A iniciativa ergue espaço de um resgate histórico necessário e será o primeiro projeto de Niemeyer a ser executado na Capital".
A obra deve iniciar até o final do ano e ficará pronta em prazo de 18 meses. Obviamente, deve ter dedo do capitão-de-mato Tarso Genro nesta homenagem ao celerado. Tarso sempre manifestou seu fascínio por Prestes e o tem como um de seus ídolos. Também é normal que Niemeyer, o fóssil comunossauro, seja o autor do projeto.
O Muro caiu há mais de duas décadas em Berlim. No Brasil, continua em pé. Resgate histórico necessário é o nome novo dado pelo prefeito para mentira histórica colossal. Porto Alegre não tem memorial algum dedicado a gaúchos que, bem ou mal, tiveram sua importância, como Getúlio Vargas, Erico Verissimo ou Mário Quintana. Existe a casa Mário Quintana, é verdade, cabide de empregos instalado no hotel em que vivia, pobremente, o Quintana. O poeta morreu na miséria. Mas seu nome serviu como pretexto a gordos salários a um monte de vagabundos.
Em Santa Catarina, há mais de dez anos, foi armado outro destes embustes. Em dezembro de 2000, foi lançado o filme Zé Perri no Campeche, que pretende que Saint-Exupéry tenha feito escala naquela praia, em seus vôos pelo Correio Sul. O filme, que se pretendia um documentário, tem até o Pequeno Príncipe como personagem.
Ora, não há documentação alguma sobre a passagem do escritor francês em Santa Catarina. O que há são histórias de um pescador, que o teria conhecido. E é óbvio que as histórias não são dele. Que noção teria um pescador do Campeche das dimensões de Saint-Exupéry?
A ficção é criação certamente de universitários, que querem dar à ilha uma projeção que não tem. Os ilhéus adoram dar-se importância. Já fizeram de uma vivandeira, a Anita, uma heroína.
Falei em Campeche não por acaso. Foi por lá que entraram Luís Carlos Prestes e Olga Benario no Brasil, pagos por Moscou para instalar no país uma republiqueta soviética.
Mais um pouco de audácia, catarinas: por que não erguer um monumento ao Cavaleiro da Esperança? Seria bem mais verossímil que a lenda de Saint-Exupéry. Ou melhor: para que intermediários? Por que não um monumento a Stalin?
Tarso Genro, que um dia escreveu no caderno Mais da Folha de São Paulo sobre a “ventura stalinista”, nem precisaria chamar o Niemeyer. Bastaria importar uma daquelas estátuas colossais que foram dedicadas ao tirano e hoje jazem abandonadas em um parque em Moscou.
Que velhos comunistas ergam monumentos a assassinos, isto se entende. Eles precisam justificar suas biografias. O que não se entende é como os gaúchos não reajam ante tais embustes.
Pelo jeito, não há mais vida inteligente no Rio Grande do Sul.
Há dois dias, eu comentava a reedição pela Companhia das Letras de Vida de Luís Carlos Prestes, o Cavaleiro da Esperança – ode da maior prostituta das letras nacionais, Jorge Amado, ao mais estúpido dos gaúchos.
De Porto Alegre, Marco Aurélio Antunes me envia esta alvissareira notícia: Desenhado e doado por Oscar Niemeyer em 2008, o projeto do Memorial Luís Carlos Prestes receberá nesta quinta-feira, 25, às 17h, a assinatura final do arquiteto. Com o ato, a prefeitura estará autorizada a liberar o início de construção do prédio que eterniza a memória desse ícone da história porto-alegrense e brasileira. O prefeito José Fortunati, o presidente da Federação Gaúcha de Futebol (FGF), Francisco Noveletto, o arquiteto responsável pela execução da obra, Hermes Teixeira da Rosa, representantes da Corrente Prestista e familiares de Prestes participam do encontro com o arquiteto no Rio de Janeiro. A construção do Memorial Luís Carlos Prestes será feita pela FGF como contrapartida pela cessão de uso do terreno para a nova a sede da entidade, que servirá como base administrativa e de operações voltadas à Copa do Mundo de 2014. A área, de 10 mil m², está localizada na Av. Edvaldo Pereira Paiva esquina com a Av. Ipiranga e abrigará os dois prédios. Para o prefeito Fortunati o memorial representa dois marcos fundamentais para a cidade. "A iniciativa ergue espaço de um resgate histórico necessário e será o primeiro projeto de Niemeyer a ser executado na Capital".
A obra deve iniciar até o final do ano e ficará pronta em prazo de 18 meses. Obviamente, deve ter dedo do capitão-de-mato Tarso Genro nesta homenagem ao celerado. Tarso sempre manifestou seu fascínio por Prestes e o tem como um de seus ídolos. Também é normal que Niemeyer, o fóssil comunossauro, seja o autor do projeto.
O Muro caiu há mais de duas décadas em Berlim. No Brasil, continua em pé. Resgate histórico necessário é o nome novo dado pelo prefeito para mentira histórica colossal. Porto Alegre não tem memorial algum dedicado a gaúchos que, bem ou mal, tiveram sua importância, como Getúlio Vargas, Erico Verissimo ou Mário Quintana. Existe a casa Mário Quintana, é verdade, cabide de empregos instalado no hotel em que vivia, pobremente, o Quintana. O poeta morreu na miséria. Mas seu nome serviu como pretexto a gordos salários a um monte de vagabundos.
Em Santa Catarina, há mais de dez anos, foi armado outro destes embustes. Em dezembro de 2000, foi lançado o filme Zé Perri no Campeche, que pretende que Saint-Exupéry tenha feito escala naquela praia, em seus vôos pelo Correio Sul. O filme, que se pretendia um documentário, tem até o Pequeno Príncipe como personagem.
Ora, não há documentação alguma sobre a passagem do escritor francês em Santa Catarina. O que há são histórias de um pescador, que o teria conhecido. E é óbvio que as histórias não são dele. Que noção teria um pescador do Campeche das dimensões de Saint-Exupéry?
A ficção é criação certamente de universitários, que querem dar à ilha uma projeção que não tem. Os ilhéus adoram dar-se importância. Já fizeram de uma vivandeira, a Anita, uma heroína.
Falei em Campeche não por acaso. Foi por lá que entraram Luís Carlos Prestes e Olga Benario no Brasil, pagos por Moscou para instalar no país uma republiqueta soviética.
Mais um pouco de audácia, catarinas: por que não erguer um monumento ao Cavaleiro da Esperança? Seria bem mais verossímil que a lenda de Saint-Exupéry. Ou melhor: para que intermediários? Por que não um monumento a Stalin?
Tarso Genro, que um dia escreveu no caderno Mais da Folha de São Paulo sobre a “ventura stalinista”, nem precisaria chamar o Niemeyer. Bastaria importar uma daquelas estátuas colossais que foram dedicadas ao tirano e hoje jazem abandonadas em um parque em Moscou.
Que velhos comunistas ergam monumentos a assassinos, isto se entende. Eles precisam justificar suas biografias. O que não se entende é como os gaúchos não reajam ante tais embustes.
Pelo jeito, não há mais vida inteligente no Rio Grande do Sul.
GAÚCHOS ERGUEM MONUMENTO A ASSASSINO A SOLDO DE MOSCOU
GAÚCHOS ERGUEM MONUMENTO A ASSASSINO A SOLDO DE MOSCOU Há dois dias, eu comentava a reedição pela Companhia das Letras de Vida de Luís Carlos Prestes, o Cavaleiro da Esperança – ode da maior prostituta das letras nacionais, Jorge Amado, ao mais estúpido dos gaúchos. De Porto Alegre, Marco Aurélio Antunes me envia esta alvissareira notícia: Desenhado e doado por Oscar Niemeyer em 2008, o projeto do Memorial Luís Carlos Prestes receberá nesta quinta-feira, 25, às 17h, a assinatura final do arquiteto. Com o ato, a prefeitura estará autorizada a liberar o início de construção do prédio que eterniza a memória desse ícone da história porto-alegrense e brasileira. O prefeito José Fortunati, o presidente da Federação Gaúcha de Futebol (FGF), Francisco Noveletto, o arquiteto responsável pela execução da obra, Hermes Teixeira da Rosa, representantes da Corrente Prestista e familiares de Prestes participam do encontro com o arquiteto no Rio de Janeiro. A construção do Memorial Luís Carlos Prestes será feita pela FGF como contrapartida pela cessão de uso do terreno para a nova a sede da entidade, que servirá como base administrativa e de operações voltadas à Copa do Mundo de 2014. A área, de 10 mil m², está localizada na Av. Edvaldo Pereira Paiva esquina com a Av. Ipiranga e abrigará os dois prédios. Para o prefeito Fortunati o memorial representa dois marcos fundamentais para a cidade. "A iniciativa ergue espaço de um resgate histórico necessário e será o primeiro projeto de Niemeyer a ser executado na Capital". A obra deve iniciar até o final do ano e ficará pronta em prazo de 18 meses. Obviamente, deve ter dedo do capitão-de-mato Tarso Genro nesta homenagem ao celerado. Tarso sempre manifestou seu fascínio por Prestes e o tem como um de seus ídolos. Também é normal que Niemeyer, o fóssil comunossauro, seja o autor do projeto. O Muro caiu há mais de duas décadas em Berlim. No Brasil, continua em pé. Resgate histórico necessário é o nome novo dado pelo prefeito para mentira histórica colossal. Porto Alegre não tem memorial algum dedicado a gaúchos que, bem ou mal, tiveram sua importância, como Getúlio Vargas, Erico Verissimo ou Mário Quintana. Existe a casa Mário Quintana, é verdade, cabide de empregos instalado no hotel em que vivia, pobremente, o Quintana. O poeta morreu na miséria. Mas seu nome serviu como pretexto a gordos salários a um monte de vagabundos. Em Santa Catarina, há mais de dez anos, foi armado outro destes embustes. Em dezembro de 2000, foi lançado o filme Zé Perri no Campeche, que pretende que Saint-Exupéry tenha feito escala naquela praia, em seus vôos pelo Correio Sul. O filme, que se pretendia um documentário, tem até o Pequeno Príncipe como personagem. Ora, não há documentação alguma sobre a passagem do escritor francês em Santa Catarina. O que há são histórias de um pescador, que o teria conhecido. E é óbvio que as histórias não são dele. Que noção teria um pescador do Campeche das dimensões de Saint-Exupéry? A ficção é criação certamente de universitários, que querem dar à ilha uma projeção que não tem. Os ilhéus adoram dar-se importância. Já fizeram de uma vivandeira, a Anita, uma heroína. Falei em Campeche não por acaso. Foi por lá que entraram Luís Carlos Prestes e Olga Benario no Brasil, pagos por Moscou para instalar no país uma republiqueta soviética. Mais um pouco de audácia, catarinas: por que não erguer um monumento ao Cavaleiro da Esperança? Seria bem mais verossímil que a lenda de Saint-Exupéry. Ou melhor: para que intermediários? Por que não um monumento a Stalin? Tarso Genro, que um dia escreveu no caderno Mais da Folha de São Paulo sobre a “ventura stalinista”, nem precisaria chamar o Niemeyer. Bastaria importar uma daquelas estátuas colossais que foram dedicadas ao tirano e hoje jazem abandonadas em um parque em Moscou. Que velhos comunistas ergam monumentos a assassinos, isto se entende. Eles precisam justificar suas biografias. O que não se entende é como os gaúchos não reajam ante tais embustes. Pelo jeito, não há mais vida inteligente no Rio Grande do Sul.
GAÚCHOS ERGUEM MONUMENTO A ASSASSINO A SOLDO DE MOSCOU
GAÚCHOS ERGUEM MONUMENTO A ASSASSINO A SOLDO DE MOSCOU Há dois dias, eu comentava a reedição pela Companhia das Letras de Vida de Luís Carlos Prestes, o Cavaleiro da Esperança – ode da maior prostituta das letras nacionais, Jorge Amado, ao mais estúpido dos gaúchos. De Porto Alegre, Marco Aurélio Antunes me envia esta alvissareira notícia: Desenhado e doado por Oscar Niemeyer em 2008, o projeto do Memorial Luís Carlos Prestes receberá nesta quinta-feira, 25, às 17h, a assinatura final do arquiteto. Com o ato, a prefeitura estará autorizada a liberar o início de construção do prédio que eterniza a memória desse ícone da história porto-alegrense e brasileira. O prefeito José Fortunati, o presidente da Federação Gaúcha de Futebol (FGF), Francisco Noveletto, o arquiteto responsável pela execução da obra, Hermes Teixeira da Rosa, representantes da Corrente Prestista e familiares de Prestes participam do encontro com o arquiteto no Rio de Janeiro. A construção do Memorial Luís Carlos Prestes será feita pela FGF como contrapartida pela cessão de uso do terreno para a nova a sede da entidade, que servirá como base administrativa e de operações voltadas à Copa do Mundo de 2014. A área, de 10 mil m², está localizada na Av. Edvaldo Pereira Paiva esquina com a Av. Ipiranga e abrigará os dois prédios. Para o prefeito Fortunati o memorial representa dois marcos fundamentais para a cidade. "A iniciativa ergue espaço de um resgate histórico necessário e será o primeiro projeto de Niemeyer a ser executado na Capital". A obra deve iniciar até o final do ano e ficará pronta em prazo de 18 meses. Obviamente, deve ter dedo do capitão-de-mato Tarso Genro nesta homenagem ao celerado. Tarso sempre manifestou seu fascínio por Prestes e o tem como um de seus ídolos. Também é normal que Niemeyer, o fóssil comunossauro, seja o autor do projeto. O Muro caiu há mais de duas décadas em Berlim. No Brasil, continua em pé. Resgate histórico necessário é o nome novo dado pelo prefeito para mentira histórica colossal. Porto Alegre não tem memorial algum dedicado a gaúchos que, bem ou mal, tiveram sua importância, como Getúlio Vargas, Erico Verissimo ou Mário Quintana. Existe a casa Mário Quintana, é verdade, cabide de empregos instalado no hotel em que vivia, pobremente, o Quintana. O poeta morreu na miséria. Mas seu nome serviu como pretexto a gordos salários a um monte de vagabundos. Em Santa Catarina, há mais de dez anos, foi armado outro destes embustes. Em dezembro de 2000, foi lançado o filme Zé Perri no Campeche, que pretende que Saint-Exupéry tenha feito escala naquela praia, em seus vôos pelo Correio Sul. O filme, que se pretendia um documentário, tem até o Pequeno Príncipe como personagem. Ora, não há documentação alguma sobre a passagem do escritor francês em Santa Catarina. O que há são histórias de um pescador, que o teria conhecido. E é óbvio que as histórias não são dele. Que noção teria um pescador do Campeche das dimensões de Saint-Exupéry? A ficção é criação certamente de universitários, que querem dar à ilha uma projeção que não tem. Os ilhéus adoram dar-se importância. Já fizeram de uma vivandeira, a Anita, uma heroína. Falei em Campeche não por acaso. Foi por lá que entraram Luís Carlos Prestes e Olga Benario no Brasil, pagos por Moscou para instalar no país uma republiqueta soviética. Mais um pouco de audácia, catarinas: por que não erguer um monumento ao Cavaleiro da Esperança? Seria bem mais verossímil que a lenda de Saint-Exupéry. Ou melhor: para que intermediários? Por que não um monumento a Stalin? Tarso Genro, que um dia escreveu no caderno Mais da Folha de São Paulo sobre a “ventura stalinista”, nem precisaria chamar o Niemeyer. Bastaria importar uma daquelas estátuas colossais que foram dedicadas ao tirano e hoje jazem abandonadas em um parque em Moscou. Que velhos comunistas ergam monumentos a assassinos, isto se entende. Eles precisam justificar suas biografias. O que não se entende é como os gaúchos não reajam ante tais embustes. Pelo jeito, não há mais vida inteligente no Rio Grande do Sul.
quinta-feira, 25 de agosto de 2011
A BÍBLIA LIDA PELO DIABO
18 E a Enoch nasceu Irad, e Irad gerou a Mehujael. E Mehujael gerou a Lamech. 19 E tomou Lamech para si duas mulheres. Uma era Ada, a outra, Zilla.
Ah, sim, antes que me esqueça: se o Velho Javé pensava que ia ferrar o Caim com aquela praga de fugitivo e vagabundo, sem carteira assinada, se deu mal. A turma do Caim tratou de se multiplicar para povoar a cidade de Enoch. A pegação rolou solta. Só não sei donde apareceu mulher pra todo mundo. Mulher até de sobra: Lamech, que devia estar com a conta bancária em alta, agarrou duas com nome de dupla sertaneja, Ada e Zilla, e cada uma delas pariu homens de todos os naipes, uns pra gigolôs de vaca, outros pra boa vida da música, e outros pro batente mesmo.
23 E disse Lamech a suas mulheres, Ada e Zilla: eu matei um varão e um mancebo. 24 Caim será castigado sete vezes, mas Lamech, setenta vezes sete.
Bem, assim como surgiram mulheres do nada, surgiram também “varões e mancebos”, que nem Javé sabe donde vieram. Quer dizer, depois ter “criado” um mundo sem fundos, o Velho se desconectou, perdeu o controle e começou a aparecer gente de tudo quanto era lado.
Agora, uma perguntinha: será que a Ada e a Zilla já andavam dando umas de gostosas, pulando cerca, que o Lamech teve que matar dois?
Como a Bíblia não revela os motivos dos assassinatos que o Lamech se atribuiu, todos têm o direito de admitir a primeira coisa que vem à cabeça: cornice.
25 E tornou Adão a conhecer a sua mulher e ela pariu outro filho, o Seth. “Deus me deu outra semente em lugar do Abel, que foi morto por Caim”, explicou ela.
Como já disse: a coisa ficou fora de controle, a escrita parece sem ordem cronológica. Ou será que o Adão e a Eva resolveram botar mais recheio na relação pra descolar o Seth, só depois que o Caim tinha tratado da explosão demográfica em Enoch?
Ah, sim, antes que me esqueça: se o Velho Javé pensava que ia ferrar o Caim com aquela praga de fugitivo e vagabundo, sem carteira assinada, se deu mal. A turma do Caim tratou de se multiplicar para povoar a cidade de Enoch. A pegação rolou solta. Só não sei donde apareceu mulher pra todo mundo. Mulher até de sobra: Lamech, que devia estar com a conta bancária em alta, agarrou duas com nome de dupla sertaneja, Ada e Zilla, e cada uma delas pariu homens de todos os naipes, uns pra gigolôs de vaca, outros pra boa vida da música, e outros pro batente mesmo.
23 E disse Lamech a suas mulheres, Ada e Zilla: eu matei um varão e um mancebo. 24 Caim será castigado sete vezes, mas Lamech, setenta vezes sete.
Bem, assim como surgiram mulheres do nada, surgiram também “varões e mancebos”, que nem Javé sabe donde vieram. Quer dizer, depois ter “criado” um mundo sem fundos, o Velho se desconectou, perdeu o controle e começou a aparecer gente de tudo quanto era lado.
Agora, uma perguntinha: será que a Ada e a Zilla já andavam dando umas de gostosas, pulando cerca, que o Lamech teve que matar dois?
Como a Bíblia não revela os motivos dos assassinatos que o Lamech se atribuiu, todos têm o direito de admitir a primeira coisa que vem à cabeça: cornice.
25 E tornou Adão a conhecer a sua mulher e ela pariu outro filho, o Seth. “Deus me deu outra semente em lugar do Abel, que foi morto por Caim”, explicou ela.
Como já disse: a coisa ficou fora de controle, a escrita parece sem ordem cronológica. Ou será que o Adão e a Eva resolveram botar mais recheio na relação pra descolar o Seth, só depois que o Caim tinha tratado da explosão demográfica em Enoch?
quarta-feira, 24 de agosto de 2011
ESSE CIRCO CHAMADO JUSTIÇA
João Eichbaum
Que espécie de animal você conhece, na qual prepondera a beligerância, a hipocrisia, o abuso, os costumes libertinos, a busca desenfreada pelo poder e a força para impor a subserviência?
Adivinhou: a dos macacos, de todos os macacos. Sendo que esses pontos afiados do macaco homem estão mais em evidência, porque temos jornais, rádio, televisão e todos os dias lemos, vemos e ouvimos a mesma lengalenga, como se fossem notícias de coisas insólitas: roubo, corrupção, brigas, violência de todo o tipo.
Pois é. Em razão dessa beligerância inata na espécie é que o homem macaco inventou regras de convivência. E para garantir as regras de convivência, inventou essa coisa chama justiça.
Só que a justiça também está a cargo dos próprios macacos, que não são diferentes dos outros.
Ou vocês conhecem alguma diferença entre o juiz, o réu, a testemunha, o advogado e o promotor?
Claro que não. Cada um deles quer o seu. O juiz quer poder e boa vida. O mesmo se diga do promotor. O advogado quer ficar rico. A testemunha geralmente tem interesse em alguma coisa, por exemplo, vingança. Se não o tem, vai à Justiça porque é obrigada, tem que se submeter ao poder.
Então, se a justiça está a cargo dos macacos, que são iguais aos demais macacos, tudo não passa de uma farsa, que só serve para beneficiar os que têm mais poder. Um circo, sem dúvida.
O juiz Rinez Trindade que, a bordo de uma bela Mercedes e na companhia de uma “amiga” foi assaltado, dia desses, é um exemplo disso tudo. A serviço dele, por ser juiz, correram uns brigadianos truculentos e pegaram o primeiro que apareceu, para tê-lo como assaltante. Era um médico. O médico saía da casa de sua mãe, para visitar um amigo. Como não trazia documentos consigo, foi preso e levado à presença do juiz assaltado. O juiz, sem piscar os olhos: “foi ele”.
Pronto, o médico foi algemado, esbofeteado, humilhado.
Depois, as coisas começaram a se esclarecer, com a identificação funcional e profissional do médico. Aí o juiz-testemunha já claudicou, quando perguntado se tinha certeza de que o médico era o assaltante: “certeza absoluta só Deus pode ter”.
Bem, se “só Deus pode ter certeza absoluta”, a justiça não passa de uma farsa, porque nunca terá certeza absoluta de nada. As pessoas são condenadas sem essa certeza, são aquinhoadas com belas indenizações sem essa certeza, têm seus direitos negados sem essa certeza.
Se o juiz, no papel de testemunha, acusou um inocente, o que sobra para o resto da macacada? Quem é que poderá acreditar na justiça?
Parece até que foi publicada de propósito, na ZH de hoje, uma frase atribuída a Montesquieu: UMA INJUSTIÇA QUE SE FAZ A UM É UMA AMEAÇA QUE SE FAZ A TODOS.
E acredite na justiça quem quiser.
terça-feira, 23 de agosto de 2011
EI, VOCÊ AÍ, NÃO QUER SER PADRE?
João Eichbaum
Ao Império Romano sucedeu o império da Igreja Católica. Essa idéia se torna muito clara para quem tiver o privilégio de visitar o museu do Vaticano. Lá se encontram muitas e valiosíssimas peças que pertenciam aos Césares e das quais se apossou a Igreja. Sobre os escombros do Império Romano, a Igreja Católica construiu seu poder.
Atrelados aos mitos e a muitos deuses, não foi difícil para os romanos a adesão ao catolicismo, cercado de mistério e de fascinantes promessas.
A eucaristia, a ressurreição de Cristo, o paraíso, entre outros mitos, eram mistérios que se encaixavam perfeitamente na imaginação daqueles que nunca haviam dispensado os deuses, criados exatamente para a satisfação de todos os desejos. De Vênus a Bacco, passando por Júpiter, tudo tinha significação para aquele povo.
A partir desse clima, mesmo tendo perdido alguns fanáticos, que morreram pela causa e hoje são reverenciados nos altares como “santos”, a Igreja conseguiu fazer a cabeça dos romanos e passou a contar com o poder e a liderança deles para se alastrar pelo mundo, que não era muito grande, então.
Foi, pois, a partir de Roma que a Igreja estabeleceu seus domínios e cresceu, adquirindo prestígio e poder. Por muito tempo exerceu esse domínio e até se aproveitou do poder para torturar e matar, em nome de Jesus Cristo.
O Brasil foi um país que nasceu obrigatoriamente católico, pois o poder da Inquisição, no auge, não permitiria outra alternativa. De modo que nem a missa foi dispensada para que o Brasil fosse oficialmente “descoberto”.
A chamada “conversão” dos gentios, que implicava invasão das propriedades e desrespeito à cultura e à etnia indígena, é uma das mostras desse poder. Desde que da Terra de Santa Cruz se apoderaram os portugueses, o país esteve sob o domínio da crença católica, que fincou aqui raízes muito profundas.
Tempos houve, a partir desse domínio, que uma das grandes aspirações profissionais era a de tornar-se padre. Havia seminários e conventos por toda a parte, todos tomados por candidatos à carreira eclesiástica. Prédios enormes e arquitetura atraente atestavam o poder da Igreja, que buscava entre as classes menos esclarecidas os futuros clérigos. As famílias de origem italiana, sempre numerosas por exigência da mão de obra da agricultura, eram as que mais contribuíam para as chamadas “vocações” sacerdotais. Depois dos italianos, se alinhavam os alemães na busca pela profissão clerical.
Até que um dia as coisas mudaram de rumo, sendo minado o poder da Igreja, que teve de pedir água no eucumenismo. Hoje, a quase totalidade dos prédios destinados à formação religiosa estão desativados ou destinados para outras finalidades.
Aos poucos o catolicismo foi perdendo a força. E a última pesquisa, realizada com base em dados do IBGE, revela que, de 90% que era no início dos anos oitenta, a população católica no Brasil caiu para 68,4%
Como consequência, a carreira eclesiástica perdeu o “glamour”. Hoje a Igreja corre atrás de candidatos. Mas, nem mesmo no auge do desemprego alguém pensa em ser padre. Entre ficar conscienciosamente sem sexo ou sem emprego, preferem a última alternativa.
Nas regiões agrícolas estão desaparecendo tanto os minifúndios produtivos quanto as famílias numerosas. E, na contramão do fervoroso clamor para que a divindade “mande operários para sua messe”, os padres estão caindo fora da barca de Pedro, mudando de profissão.
É um fenômeno social, claro. Mas a responsabilidade pela explicação dele corre por conta da fé.
segunda-feira, 22 de agosto de 2011
DEPUTADO PROPÕE DIREITO DE VISITA AOS CACHORROS
Janer Cristaldo
Gosto de cães. Tive vários em minha infância, com eles cacei e brinquei. Mas sempre os vi como animais, não como gente. Tenho deles ternas lembranças. Havia um ovelheiro, o Tigre, com cuja ajuda um peão podia levar sozinho um rebanho a uma mangueira. O Solón era quase suicida. O ratão do banhado faz sua toca nas sangas abaixo da linha d’água, e depois sobe para terra seca. Solón, quando perseguia um ratão, mergulhava no rio e se enfiava na toca. Se eu não o puxasse, morria afogado.
Do Tição, tenho uma lembrança patética. Carros eram um acontecimento lá na Linha Divisória, passavam um ou dois por semana. Os cachorros estranhavam e atacavam aqueles seres alienígenos. Numa dessas acometidas, Tição teve uma pata quebrada. E com ela ficou pelo resto de seus dias, afinal naqueles pagos mal havia médico para gente. Certa manhã, eu cavalgava com Tição ao lado, em suas três pernas. Ele descobriu uma lebre dormindo. Pegou-a na boca e me trouxe. A lebre, safada, se fingiu de morta. Quando apeei do cavalo, ele a soltou. Ela deu um pulo e mandou-se à la cria. O coitado tentou persegui-la com suas três pernas. Nunca vi um cachorro tão frustrado.
Retoucei com minha cachorrada em minha infância, adorava rolar com eles naquele mar verde de alhos-bravos. Abandonei-os quando fui para a cidade. Ao voltar a Ponche Verde, mesmo após meses de ausência, de longe eles me reconheciam e corriam a saudar-me.
Cachorro no campo, eu entendo. Já o cachorro urbano, este me parece uma espécie de ersatz ao afeto humano. Quando morreu minha mulher, não faltou quem me recomendasse um cão. Só o que faltava, trocar a lembrança de uma pessoa querida pela companhia de um animal.
Foi em Estocolmo, no início dos 70, que tomei contato com o apreço dos europeus pelos cães. Lá encontrei, para minha surpresa de latino, centenas de publicações dedicadas aos cães e seus cuidados, desde revistas e jornais até inesgotável literatura especializada. Nas bibliotecas e livrarias, ao lado de O Primeiro Bebê, encontravam-se títulos como O Primeiro Cão, O Primeiro Gato. Nos supermercados, alimentação para cães e gatos, nacional e importada, era consumida paralelamente pelos estrangeiros. Não só por ser mais barata, como também incomparavelmente mais gostosa que certos pratos nacionais, como o surströming e blodpudin (arenque podre e pudim de sangue).
Fatos ilustravam o zelo dos suecos por seus cães. Em 09.08.72, o Aftonbladet apresentava uma reportagem de última página sobre um pastor alemão que ficou uma semana encerrado em um canil, num sítio em Eslöv, por descuido da proprietária. Os vizinhos, normalmente cheios de dedos no caso de relacionamento com seres humanos, foram sensibilizados pelos uivos do cão e passaram a alimentá-lo por uma abertura. O animal foi libertado por um comitê constituído pela polícia, inspetor dos serviços sanitários, veterinário e representante da Liga de Proteção aos Animais, de Lund. Sua proprietária mereceu o repúdio nacional.
Ainda em 72, surgiu — e foi festejada pela imprensa — em Estocolmo a primeira ambulância para animais da Europa. Seu telefone estava acoplado ao 90.000, número memorizado por todos mal aprendem a falar, pois atende casos de doença, assalto, suicídio, incêndio e emergências outras. A ambulância não atendia apenas cães e gatos, como também raposas, esquilos e texugos feridos nas estradas ou aves marítimas envenenadas pelo petróleo. Olle Larsson, proprietário e chofer da ambulância, contava que a polícia muitas vezes o auxiliava a abrir caminho no tráfego, com sirenes, para um socorro mais rápido aos animais feridos.
Mas foi em Paris, alguns anos mais tarde, que me deparei com o absurdo. Lá encontrei livros como o Guide du Chien en Vacances, mapeando a rede hoteleira destinada aos cães, com hotéis divididos em um, dois e três ossos, sendo que nesta última categoria os cuscos eram postos à mesa com guardanapos e servidos, na sobremesa, com crêpes au Grand Marnier. Sem falar no Recettes pour Chiens et Chats, best-seller que em seu prefácio oferecia às donas-de-casa a alternativa de, em vez de utilizar enlatados, cozinhar para o prazer de seus fiéis companheiros. O livro dava uma série de receitas à base de carnes e peixes, mais manteigas caninas, para animais carnívoros ou vegetarianos, mais bebidas e molhos, tudo aquilo como entrada para depois sugerir pratos de resistência, onde se previa também um regime sem ossos, mais bolos e doces, mais cosméticos e remédios, onde se especificava desde pastas dentifrícias com mel e óleos de massagem pós-banho.
Encontrei até mesmo uma teologia canina, L’animal, l’homme et Dieu, ensaio de Michel Damien, que defendia a tese de que o Cristo havia morrido também pelos animais. La solidarité de l’homme avec l’animal n’est pas seulement biologique, naturelle, elle est ontologique, transcendantale, évangélique. Le Christ est mort aussi pour les chiens. L’Eglise catholique est malheuresement absente de ce débat. Les animaux n’ont reçu aucun statut de sa part. Et pourtant, si l’animal n’a pas la notion de Dieu il a en revanche celle de l’homme qui est à l’image de Dieu. D’ailleurs, les animaux nous ont précédés sur la Terre et nous en sommes, d’une manière ou de l’autre, tributaires. “Il nous attendent sur le chemin du Christ”. Ils sont notre prochain. Leur souffrance mystérieuse est une “participation aux Béatitudes. Il y a un Evangile de l’animal, qui lui aussi meurt dans les bras de Dieu”. L’animal a ceci de commun avec le Christ qu’il meurt pour le monde et que son sacrifice est indispensable à l’équilibre de ce monde.
Enfim, a teologia sempre se nutriu de loucura, nada de espantar que alguém julgue que Cristo subiu à cruz para redimir a cachorrada.
O mais difícil para mim, naqueles dias vividos há mais de três décadas, foi entender a legislação sobre os cuscos. O Código Civil contemplava o direito de visita aos cães. Um marido em instância de divórcio, em Cretéil, obteve de um juiz o direito de visita a seu cãozinho, cuja guarda havia sido conferida à sua mulher. O casal só se entendia a respeito de duas questões: a ruptura e o desejo de ver regularmente o animal. O magistrado, após ter constatado oficialmente que havia convergência de pontos de vista da parte do marido e da mulher em relação ao cachorro, concedeu ao marido o direito de visita durante dois fins de semana por mês e de guardá-lo por parte de suas férias. Coisas de um país que se cansou da civilização e entrou em decadência, pensei então.
Pois não é que agora, neste país nosso que ainda nem chegou à civilização, leio que um deputado apresentou um projeto de lei para regulamentar a guarda de animais de estimação em caso de divórcio. O texto prevê períodos de visita predefinidos entre as partes e até a punição para o caso de um dos cônjuges permitir o cruzamento do animal sem prévia consulta. Apresentado em abril passado, o projeto aguarda parecer da Comissão de Meio Ambiente. Como sempre, copiamos sempre o pior do Primeiro Mundo. Se aprovado o projeto idiota, os tribunais serão atulhados por pendengas em torno a cachorros e gatos.
Enquanto isso, os Zés Dirceus da vida botam fé na prescrição de seus crimes.
Gosto de cães. Tive vários em minha infância, com eles cacei e brinquei. Mas sempre os vi como animais, não como gente. Tenho deles ternas lembranças. Havia um ovelheiro, o Tigre, com cuja ajuda um peão podia levar sozinho um rebanho a uma mangueira. O Solón era quase suicida. O ratão do banhado faz sua toca nas sangas abaixo da linha d’água, e depois sobe para terra seca. Solón, quando perseguia um ratão, mergulhava no rio e se enfiava na toca. Se eu não o puxasse, morria afogado.
Do Tição, tenho uma lembrança patética. Carros eram um acontecimento lá na Linha Divisória, passavam um ou dois por semana. Os cachorros estranhavam e atacavam aqueles seres alienígenos. Numa dessas acometidas, Tição teve uma pata quebrada. E com ela ficou pelo resto de seus dias, afinal naqueles pagos mal havia médico para gente. Certa manhã, eu cavalgava com Tição ao lado, em suas três pernas. Ele descobriu uma lebre dormindo. Pegou-a na boca e me trouxe. A lebre, safada, se fingiu de morta. Quando apeei do cavalo, ele a soltou. Ela deu um pulo e mandou-se à la cria. O coitado tentou persegui-la com suas três pernas. Nunca vi um cachorro tão frustrado.
Retoucei com minha cachorrada em minha infância, adorava rolar com eles naquele mar verde de alhos-bravos. Abandonei-os quando fui para a cidade. Ao voltar a Ponche Verde, mesmo após meses de ausência, de longe eles me reconheciam e corriam a saudar-me.
Cachorro no campo, eu entendo. Já o cachorro urbano, este me parece uma espécie de ersatz ao afeto humano. Quando morreu minha mulher, não faltou quem me recomendasse um cão. Só o que faltava, trocar a lembrança de uma pessoa querida pela companhia de um animal.
Foi em Estocolmo, no início dos 70, que tomei contato com o apreço dos europeus pelos cães. Lá encontrei, para minha surpresa de latino, centenas de publicações dedicadas aos cães e seus cuidados, desde revistas e jornais até inesgotável literatura especializada. Nas bibliotecas e livrarias, ao lado de O Primeiro Bebê, encontravam-se títulos como O Primeiro Cão, O Primeiro Gato. Nos supermercados, alimentação para cães e gatos, nacional e importada, era consumida paralelamente pelos estrangeiros. Não só por ser mais barata, como também incomparavelmente mais gostosa que certos pratos nacionais, como o surströming e blodpudin (arenque podre e pudim de sangue).
Fatos ilustravam o zelo dos suecos por seus cães. Em 09.08.72, o Aftonbladet apresentava uma reportagem de última página sobre um pastor alemão que ficou uma semana encerrado em um canil, num sítio em Eslöv, por descuido da proprietária. Os vizinhos, normalmente cheios de dedos no caso de relacionamento com seres humanos, foram sensibilizados pelos uivos do cão e passaram a alimentá-lo por uma abertura. O animal foi libertado por um comitê constituído pela polícia, inspetor dos serviços sanitários, veterinário e representante da Liga de Proteção aos Animais, de Lund. Sua proprietária mereceu o repúdio nacional.
Ainda em 72, surgiu — e foi festejada pela imprensa — em Estocolmo a primeira ambulância para animais da Europa. Seu telefone estava acoplado ao 90.000, número memorizado por todos mal aprendem a falar, pois atende casos de doença, assalto, suicídio, incêndio e emergências outras. A ambulância não atendia apenas cães e gatos, como também raposas, esquilos e texugos feridos nas estradas ou aves marítimas envenenadas pelo petróleo. Olle Larsson, proprietário e chofer da ambulância, contava que a polícia muitas vezes o auxiliava a abrir caminho no tráfego, com sirenes, para um socorro mais rápido aos animais feridos.
Mas foi em Paris, alguns anos mais tarde, que me deparei com o absurdo. Lá encontrei livros como o Guide du Chien en Vacances, mapeando a rede hoteleira destinada aos cães, com hotéis divididos em um, dois e três ossos, sendo que nesta última categoria os cuscos eram postos à mesa com guardanapos e servidos, na sobremesa, com crêpes au Grand Marnier. Sem falar no Recettes pour Chiens et Chats, best-seller que em seu prefácio oferecia às donas-de-casa a alternativa de, em vez de utilizar enlatados, cozinhar para o prazer de seus fiéis companheiros. O livro dava uma série de receitas à base de carnes e peixes, mais manteigas caninas, para animais carnívoros ou vegetarianos, mais bebidas e molhos, tudo aquilo como entrada para depois sugerir pratos de resistência, onde se previa também um regime sem ossos, mais bolos e doces, mais cosméticos e remédios, onde se especificava desde pastas dentifrícias com mel e óleos de massagem pós-banho.
Encontrei até mesmo uma teologia canina, L’animal, l’homme et Dieu, ensaio de Michel Damien, que defendia a tese de que o Cristo havia morrido também pelos animais. La solidarité de l’homme avec l’animal n’est pas seulement biologique, naturelle, elle est ontologique, transcendantale, évangélique. Le Christ est mort aussi pour les chiens. L’Eglise catholique est malheuresement absente de ce débat. Les animaux n’ont reçu aucun statut de sa part. Et pourtant, si l’animal n’a pas la notion de Dieu il a en revanche celle de l’homme qui est à l’image de Dieu. D’ailleurs, les animaux nous ont précédés sur la Terre et nous en sommes, d’une manière ou de l’autre, tributaires. “Il nous attendent sur le chemin du Christ”. Ils sont notre prochain. Leur souffrance mystérieuse est une “participation aux Béatitudes. Il y a un Evangile de l’animal, qui lui aussi meurt dans les bras de Dieu”. L’animal a ceci de commun avec le Christ qu’il meurt pour le monde et que son sacrifice est indispensable à l’équilibre de ce monde.
Enfim, a teologia sempre se nutriu de loucura, nada de espantar que alguém julgue que Cristo subiu à cruz para redimir a cachorrada.
O mais difícil para mim, naqueles dias vividos há mais de três décadas, foi entender a legislação sobre os cuscos. O Código Civil contemplava o direito de visita aos cães. Um marido em instância de divórcio, em Cretéil, obteve de um juiz o direito de visita a seu cãozinho, cuja guarda havia sido conferida à sua mulher. O casal só se entendia a respeito de duas questões: a ruptura e o desejo de ver regularmente o animal. O magistrado, após ter constatado oficialmente que havia convergência de pontos de vista da parte do marido e da mulher em relação ao cachorro, concedeu ao marido o direito de visita durante dois fins de semana por mês e de guardá-lo por parte de suas férias. Coisas de um país que se cansou da civilização e entrou em decadência, pensei então.
Pois não é que agora, neste país nosso que ainda nem chegou à civilização, leio que um deputado apresentou um projeto de lei para regulamentar a guarda de animais de estimação em caso de divórcio. O texto prevê períodos de visita predefinidos entre as partes e até a punição para o caso de um dos cônjuges permitir o cruzamento do animal sem prévia consulta. Apresentado em abril passado, o projeto aguarda parecer da Comissão de Meio Ambiente. Como sempre, copiamos sempre o pior do Primeiro Mundo. Se aprovado o projeto idiota, os tribunais serão atulhados por pendengas em torno a cachorros e gatos.
Enquanto isso, os Zés Dirceus da vida botam fé na prescrição de seus crimes.
sexta-feira, 19 de agosto de 2011
MINISTRO? E DAÍ?
João Eichbaum
Jornais locais noticiam que o novo ministro da agricultura é gaúcho. Como se “gaúcho” fosse sinônimo de “competente” ou se, sendo “gaúcho” basta, nada mais é necessário para a felicidade geral e peremptória da nação.
O dito ministro da agricultura é ninguém menos do que Mendes Ribeiro Filho.
Em primeiro lugar: um cara que nunca trabalhou na vida. Saiu dos bancos acadêmicos, uma faculdade particular - porque não teve competência para superar o vestibular da faculdade de direito da UFRGS, - para se tornar político. Graças ao pai, diga-se de passagem. O pai que tinha na mão o poder da imprensa e por isso foi eleito várias vezes. Como todo mundo sabe, o povo gosta mesmo é de “blá, blá, blá”. E até o cara que anuncia o tempo na TV tem chance de se eleger.
Com nada mais no currículo, sem saber fazer bosta nenhuma, mas levado na garupa do sobrenome do pai, o rapazinho foi eleito vereador de Porto Alegre e, na eleição seguinte, com os votos dos eleitores do pai, se fez deputado estadual, enquanto o pai faturava na esfera federal.
Bem, daí em diante, o Mendes Ribeiro Filho só fez política.
Agora, nomeado pela Dilma, sob cujo pálio se protegeu, alumiado pelo capricho do poder, foi feito ministro da agricultura.
O novo ministro não sabe nem como se planta um pé de couve, mas, para a imprensa do Rio Grande Sul não importa, o que importa mesmo é que ele seja “gaúcho”. E está sendo aplaudido pelos agricultores de gravata, aqueles que enriquecem com a mão de obra escrava dos campos e vivem pedindo moratória.
É assim que se administram os bens públicos e é assim que se governa: distribuindo cargos para os companheiros, mesmo que jamais tenham administrado um tendinha de produtos coloniais.
E o povo e a imprensa e demais fiadasputas reverenciam os ministros, enchem a boca para chamá-los de “excelência” e a eles se dobram, sob o peso da insignificância, como se eles fossem feitos de outra matéria que não carne e osso e, muitas vezes, com um cérebro menor do que o de um passarinho.
Qualquer um pode ser ministro. Não é necessário inteligência, nem competência e, muito menos, experiência. Mas, se for “gaúcho” já é o bastante.
É por isso que todos os brasileiros têm excelentes serviços de saúde, plena educação e absoluta segurança, por exemplo. Graças a suas excelências os senhores ministros.
Então, não precisa dizer mais nada.
quinta-feira, 18 de agosto de 2011
A BÍBLIA LIDA PELO DIABO
13 Então disse Caim ao Senhor: é maior a minha maldade que a que possa ser perdoada. 14 Eis que hoje me lanças da face da terra e da tua face me esconderei. E serei fugitivo e vagabundo na terra e todo aquele que me achar me matará.
Se borrou o Caim que, pouco antes, tinha dado de ombros para a pergunta do Velho sobre o paradeiro do seu irmão. E entrou em crise, cheinho de pena dele mesmo: vão me matar!
Pô, gente, essa é de gelar a rodelinha de trás! Quem é que ia matar o cara? Será que eu to bêbado?
Não eram só o Adão, a Eva, o Abel e ele no paraíso? Noves fora o Abel, só ficou ele e os pais. Donde é que o cara tirou essa, “todo aquele que me achar me matará”?
Quer dizer que, antes deles, já havia gente por lá? Houve algum Deus antes de Javé, criando gente?
15 O Senhor, porém, lhe disse: qualquer um que matar Caim será castigado sete vezes. E lhe pôs um sinal, para que não fosse ferido.
Pô, que palhaçada! O Velho, primeiro, todo invocado, não topou as oferendas do Caim, depois cobrou dele o assassínio do irmão, ficou puto da cara e, dominado pelo instinto primitivo da ira, amaldiçoou-o, negou-lhe comida, e o chamou de vagabundo. A seguir, deu uma de bonzinho, expedindo um salvo conduto, para que não o ferissem. Da ira para a bondade foi um só passo.
Vocês sabem agora porque o homem é tão desequilibrado...
16 E saiu Caim de diante da face do Senhor, e habitou na terra de Nod, da banda do oriente do Éden. 17 E conheceu Caim sua mulher e ela concebeu e pariu a Enoch, e ele edificou uma cidade a que deu o nome de Enoch, seu filho.
E o Caim tirou de campo o time eliminado, sem fazer bagunça, sem chutar o pau da barraca, sem xingar o juiz, e foi pra Nod, um cu de mundo, onde certamente só tinha time de segunda divisão.
Bem, agora é que vem a melhor: conheceu a sua mulher, deu uminha nela e botou no mundo o Enoch.
Então eu pergunto pra vocês: donde veio a mulher do Caim? De que mundo? Quem a criou? Foi feita de costela também? Ou de silicone, como as mulheres de hoje em dia?
Ah, gente, me expliquem por favor. Afinal o Cara Aquele disse que criou o mundo, soprou o nariz de um boneco de pó para fazer o homem, sacou uma costela dele para fazer a mulher, e blábláblá, blábláblá. E agora vem essa história do Caim que imediatamente deixou de ser solteiro e sozinho no mundo, porque encontrou uma gata, trepou com ela sem precisar pular a cerca, fez nenê e fundou uma cidade. Só falta dizer que, além de tudo, ele curtia ópera!
quarta-feira, 17 de agosto de 2011
Hipócritas. Mil vezes hipócritas. (Milton Biagioni Furquim)
Hipócritas, mil vezes hipócritas. Precisa que uma juíza seja covarde e barbaramente assassinada para que a sociedade, governo, juristas, imprensa, políticos, Desembargadores, Ministros, Corregedora do CNJ, Presidente do STF, padeiros, açougueiros, etc. fiquem consternados (será?) e lamentem o episódio.
Ora, pois! Até agora só ‘metiam o pau’ nos juízes, críticas de toda ordem carregadas dos piores adjetivos referindo-se aos salários de ‘marajás’, quando se sabe que os promotores ganham mais que os juízes, sem falar nos que insistem para que os juízes sejam equiparados e tratados como meros servidores públicos. Se não bastassem as críticas acerbas e injustas, ainda temos o CNJ aterrorizando juízes e fazendo cobranças de toda ordem de modo a nos deixar sem tempo para judicar, para podermos sentenciar com qualidade. De quebra ainda temos que reverenciar Presidentes dos Tribunais de Justiças que nada fazem pela classe e só estão preocupados em melhorar seus currículos fazendo o papel de idiotas e bobos da corte se humilhando e curvando perante os outros poderes.
Que moral o presidente do STF e a Corregedora do CNJ tem prá falar em nome dos Juízes? Será que um dia na vida estiveram juízes como nós mortais? Oras bolas, se estão Ministros se devem a três fatores: boa relação com o governo, falar bonito e escrever bem. Deveriam, ao menos um só dia, ter estado juiz mortal como nós e ter dado a ‘cara’ prá bater como nós damos a toda hora. Deveriam ter tido a oportunidade de, na pequena comuna, anular uma eleição, cassar o prefeito, prender polícia, olhar na ‘cara’ do jurisdicionado 24 horas por dia como fazemos. Deveriam, por justiça, sofrer ameaça de toda ordem como nós sofremos, a exemplo da colega assassinada.
Na lista dos jurados para morrer tem Desembargador e Ministro? É evidente que não. Por certo é diferente do que ficar em seus suntuosos gabinetes e distante do cidadão carente e ávido pela rápida prestação jurisdicional, e do juiz que teve a coragem de enfrentar a bandidagem. Ninguém mais do que eles - Desembargadores, Ministros, os Conselheiros fabricados do CNJ, a nos expor perante a sociedade como somos expostos de forma a atrair a ira do cidadão incauto, dos fabricadores de opinião contra a Magistratura.
Hoje a sociedade perdeu de vez o respeito que outrora os juízes detinham. Somos vistos com reservas e desconfiança. Como uma classe de privilegiados em detrimento da pobreza do povo. Os deuses dos Tribunais só sabem cobrar, mas é fácil cobrar quando um dia sequer vivenciaram o dia a dia dos juízes mortais. É fácil cobrar quando não se está na pele da juíza assassinada. Consternação, indignação, exigir uma rápida investigação, mandar coroa de flores aos familiares da juíza é o ‘prêmio’ que ela ganhou por enfrentar a bandidagem.
Você viu um presidente do TJ e um Ministro ser ameaçado de morte? Como pode um Ministro se colocar na pele de um juiz mortal se nunca teve a oportunidade de enfrentar com a 'cara' e a coragem todo tipo de pressão e ameaça? Concordo em gênero, número e grau com os que propalam e defendem, em especial a imprensa, o Senador Suplicy e tantos outros desavisados e maldosos, a tese de que nós juízes devemos ser tratados como meros servidores públicos, sem qualquer diferenciação.
Quero uma audiência com o Senador para hipotecar-lhe o meu apoio para acabar com as férias dos juízes e dispensar a nós juízes o mesmo status e regime dos servidores públicos.Concordo porque se assim formos reconhecidos e tratados, então devemos começar o nosso trabalho às 8 horas da manhã, com uma hora de almoço, e terminar o expediente às 17 horas, exatamente como fazem os gloriosos e abnegados servidores públicos. Assim, nesse ínterim faremos tão somente o que os servidores públicos fazem e nada mais. Durante o expediente devemos tão só realizar as audiências, no máximo duas, despachar e sentenciar processos e cuidar da parte administrativa e, pronto. Assim seremos verdadeiros servidores públicos sem qualquer diferenciação. Justiça feita. Nada de levar processos prá casa; nada de tirar férias para dar ‘cabo’ nos processos. Os servidores públicos não levam os serviços para a casa, e assim como todo servidor público poderemos nos dedicar às boas coisas da vida, como por exemplo, dar mais atenção aos familiares, cuidar melhor da saúde, dedicar ao lazer, jogar conversa fora com os amigos no final da tarde, nos finais de semanas e feriados.E a prestação jurisdicional como ficará então?
Oras bolas, como diria o bom e produtivo servidor público, que se dane o cidadão, a imprensa, o Senador. Que esperem e aguardem o momento oportuno de ser analisado o seu pleito. Se vai levar tempo para dar uma resposta ao pleito do cidadão – uma liminar, uma revogação da prisão preventiva, uma tutela antecipada e tantas outras medidas de caráter urgente, o problema não será nosso (juízes, agora servidores públicos), mas sim do próprio cidadão, da imprensa e do Senador que insiste em nos ver e tratar como um servidor qualquer.
Hipócritas, mil vezes hipócritas. Negam-nos um salário condigno com a atividade que exercemos, com a monstruosa carga de serviços e de responsabilidades; negam-nos direitos adquiridos que temos; negam-nos segurança; negam-nos a dignidade e o respeito e, então, como querer que o cidadão nos respeite? Aprovam leis sem saber o que estão aprovando dando salvo conduto a bandidagem e ainda querem que os juízes façam milagres? Roubam descaradamente o povo e não admitem uma simples investigação. ‘Uai, pobre de nóis sô’, como dizia minha recém falecida mãe.
Uma simples 'denúncia' inconsequente e lá estamos nós perante a CGJ e o CNJ nos contorcendo para safar-se e olha que não é fácil. Que constrangimento. Tamanha hipocrisia nunca vi. Eu aconselhei um sobrinho que queria ser padre para que deixasse dessa bobagem porque jamais ele iria chegar a ser papa e, às vésperas de ordenar padre abandonou e hoje faz medicina, mostrou ser um menino inteligente, então eu sempre aconselho meus amigos e estudantes de direito para esquecerem a idéia de querer prestar concurso prá magistratura, e tentem o Ministério Público, ou então a ser Desembargador pelo quinto, ou então Ministro do STJ, STF, ou o melhor de todos, aventurar-se pela política, caso contrário vá plantar abobrinha, criar galinhas. Hoje não se vê um só juiz que esteja satisfeito com a instituição, com o tratamento que nos é dispensado. Pior, todos, mas sem exceção, estão desmotivados, frustrados, acabrunhados. É certo que ser juiz é um projeto de vida, mas vale a pena hoje bancar esse projeto de vida? Vale a pena você ter que ver os Presidentes dos TJs mendigar e se humilhar perante os dois outros poderes que vivem envoltos com a corrupção para que alguma migalha nos seja dada a fim de melhorar nossos vencimentos, ou então nos pagar o que temos por direito, ou melhorar nossas condições de trabalho e segurança? Hipócritas.
A colega assassinada se tornou mártir ao ser covardemente assassinada. Então pergunto: e nós que ainda estamos vivos nos tornamos o quê? Por certo o vilão dessa história toda por estarmos vivos. Quem sabe, aos olhos da repórter que ironicamente nos criticou, da imprensa, do deputado, do Senador, do açougueiro, do padeiro, do CNJ e dos Ministros, somos corruptos, marajás, vagabundos, servidores públicos privilegiados, enganadores e outros adjetivos desqualificados.
Mil vezes hipócritas. É muito incômodo e revoltante para os magistrados sérios e competentes que se dedicam á causa da Justiça ter que conviver com tamanho desrespeito e com críticas maldosas. Já foi dito que os juízes não têm armas ao contrário dos outros poderes. Não têm o poder econômico e não têm o costume de ir à mídia. Acrescento que não sabem lidar com a mídia porque não sabem ser demagogos e não conseguem enganar o povo. O Judiciário, entenda, os juízes da inferior instância, é o mais fraco dos poderes e por isso tem que ser resguardado e cuidado com carinho, porque ainda que hajam algumas mazelas, mas ainda é a última trincheira e esperança do padeiro, do açougueiro, do frentista, do repórter. Por certo não é a última esperança do Senador, do Deputado e outros, pois legislam em causa própria. Precisa o cidadão conscientizar de que se não mais poder recorrer e confiar no juiz de primeira instância, não terá ninguém mais quem lhes atenda e aí, com certeza a sociedade não dormirá tranqüila, porque magistrado medroso não é magistrado é arremedo de juiz. E por certo a colega assassinada viveu em toda plenitude a grandeza de ser juíza, ao contrário dos nossos Ministros. Espero, enquanto um mortal juiz, ter o direito de externar minha revolta com esse estado de coisas sem a ameça de ser punido, não pela bandidagem, mas pela minha Instituição. Hipócritas, mil vezes hipócritas.
Milton Biagioni Furquim - Juiz de Direito
Perguntinha do João Eichbaum: vocês conhecem algum juiz de primeiro grau que tenha o perfil delineado pelo autor do artigo ?
terça-feira, 16 de agosto de 2011
O QUE RESTOU DE ELIN KRANTZ, A SUECA QUE CAVALGAVA UM NEGRO AO SOM DO HINO NACIONAL SUECO
Janer Cristaldo
Em agosto do ano passado, eu manifestava minha perplexidade ante uma manchete do Aftonbladet:
Sverige i botten av våldtäktsstatistik
Ou seja: Suécia no fundo – ou no topo, como quisermos – das estatísticas de estupro. Só era superada pelo Lesotho, na África negra. A informação é do UNODC (United Nations Office on Drugs and Crime). Dados de 2008, por cem mil habitantes:
Lesotho: 91,6 Suécia: 53,2 USA: 28,6 Zimbábue: 25,6 Noruega: 19,8 Israel: 17,6 Finlândia: 17,2 Dinamarca: 7,3 Quênia: 1,9 Turquia: 1,4 Japão: 1,2
Para quem um dia viveu na Suécia, é um tapa na cara. Nos anos 70, o país se caracterizava como um dos mais tolerantes em matéria de comportamento sexual. Além da imagem de paraíso do bem-estar social, a Suécia emitia a da beleza de suas mulheres e da liberalidade de seus costumes. Foi o primeiro país do mundo a liberar a pornografia e os shows de sexo ao vivo. As profissionais, tão duramente marginalizadas ao longo da História, passaram a ostentar um status intermediário entre o psicoterapeuta e a assistente social. O pragmatismo luterano daqueles habitantes do topo do hemisfério norte nos fascinava: finalmente uma sociedade européia dava um basta à hipocrisia católica dominante no Ocidente. Não havia então razão alguma para estupros.
As estatísticas do UNODC, tão precisas em matéria de números, nada diziam sobre a origem dos estupradores. Em vários países da Europa, particularmente nos escandinavos, está ocorrendo uma onda de estupros, geralmente cometidos por árabes e africanos, tendo como vítimas suecas, finlandesas, dinamarquesas, francesas e italianas. Os jornais, ao noticiar o fato, ocultam não só a identidade como também a etnia e o país de origem dos criminosos. Supostamente, para não caracterizar o crime como étnico.
Na Suécia, a imprensa está proibida de noticiar a cor da pele ou etnia dos agressores. Ano passado, uma sueca de dezoito anos foi violada e torturada por quatro negros muçulmanos, que foram identificados como “dois suecos, um finlandês e um somali”. Ora, eram todos imigrantes originários da Somália.
Segundo Niklas Långström, professor e pesquisador de crimes sexuais do Karolinska Institutet, “o problema é que quase nenhum outro crime é tão disfarçado como o estupro. Na Suécia, ocorre que cerca de 80 a 90% dos estupros jamais chega ao conhecimento da sociedade, e é difícil saber como são as cifras em outros países”. Ou seja, ao que tudo indica, as suecas se resignaram a serem estupradas sem abrir o bico.
Há alguns anos, um cidadão sueco declarava ao Aftonbladet que não via nada de mal em estuprar uma sueca, afinal “são todas putas e podem casar depois de estupradas”. Tabu continuava sendo estuprar uma muçulmana, que depois seria repudiada pela própria comunidade e não teria chance alguma de encontrar marido. Claro que este cidadão “sueco” não era exatamente um sueco, mas imigrante de origem árabe com passaporte sueco. O silêncio da imprensa sueca em relação aos estupros étnicos enche de razão os muçulmanos que estão ocupando – inclusive juridicamente – a Europa.
O Aftonbladet nos dá outras cifras sobre o crescendo de estupros na Suécia. Sempre por cem mil habitantes.
2008: 53,2 2007: 46,6 2006: 40,6 2005: 36,8 2004: 25,1
Não tenho as cifras de quando lá vivi, em 1971 e 72.
Mas lia os jornais suecos todos os dias e não tenho lembrança alguma de ter lido alguma notícia sobre estupros. É triste ver um país, que um dia foi um oásis de tranqüilidade, ocupando o alto da lista de violência sexual na Europa. Perdendo apenas para um obscuro país na África negra.
Sexta-feira passada, comentei um vídeo abominável, no qual uma sueca tem relações com um negro, ao som do hino nacional sueco. Tratava-se de Elin Krantz, uma menina de Göteborg, militante do movimento “Vi gillar olika” (Nós gostamos da diversidade), que defendia o tal de multiculturalismo. Por desatenção, deixei de contar o final da história. Em setembro do ano passado, a suequinha foi brutalmente violada e assassinada por Ephrem Yohannes, um imigrante negro do Corno da África. Aqui, o que restou de Elin Krantz :
http://www.contre-info.com/viol-et-meurtre-dune-suedoise-antiraciste-parmi-tant-dautres
Perdão, leitores, pela brutalidade da imagem. Na imprensa nossa, não saiu um pio sobre o crime.
Em agosto do ano passado, eu manifestava minha perplexidade ante uma manchete do Aftonbladet:
Sverige i botten av våldtäktsstatistik
Ou seja: Suécia no fundo – ou no topo, como quisermos – das estatísticas de estupro. Só era superada pelo Lesotho, na África negra. A informação é do UNODC (United Nations Office on Drugs and Crime). Dados de 2008, por cem mil habitantes:
Lesotho: 91,6 Suécia: 53,2 USA: 28,6 Zimbábue: 25,6 Noruega: 19,8 Israel: 17,6 Finlândia: 17,2 Dinamarca: 7,3 Quênia: 1,9 Turquia: 1,4 Japão: 1,2
Para quem um dia viveu na Suécia, é um tapa na cara. Nos anos 70, o país se caracterizava como um dos mais tolerantes em matéria de comportamento sexual. Além da imagem de paraíso do bem-estar social, a Suécia emitia a da beleza de suas mulheres e da liberalidade de seus costumes. Foi o primeiro país do mundo a liberar a pornografia e os shows de sexo ao vivo. As profissionais, tão duramente marginalizadas ao longo da História, passaram a ostentar um status intermediário entre o psicoterapeuta e a assistente social. O pragmatismo luterano daqueles habitantes do topo do hemisfério norte nos fascinava: finalmente uma sociedade européia dava um basta à hipocrisia católica dominante no Ocidente. Não havia então razão alguma para estupros.
As estatísticas do UNODC, tão precisas em matéria de números, nada diziam sobre a origem dos estupradores. Em vários países da Europa, particularmente nos escandinavos, está ocorrendo uma onda de estupros, geralmente cometidos por árabes e africanos, tendo como vítimas suecas, finlandesas, dinamarquesas, francesas e italianas. Os jornais, ao noticiar o fato, ocultam não só a identidade como também a etnia e o país de origem dos criminosos. Supostamente, para não caracterizar o crime como étnico.
Na Suécia, a imprensa está proibida de noticiar a cor da pele ou etnia dos agressores. Ano passado, uma sueca de dezoito anos foi violada e torturada por quatro negros muçulmanos, que foram identificados como “dois suecos, um finlandês e um somali”. Ora, eram todos imigrantes originários da Somália.
Segundo Niklas Långström, professor e pesquisador de crimes sexuais do Karolinska Institutet, “o problema é que quase nenhum outro crime é tão disfarçado como o estupro. Na Suécia, ocorre que cerca de 80 a 90% dos estupros jamais chega ao conhecimento da sociedade, e é difícil saber como são as cifras em outros países”. Ou seja, ao que tudo indica, as suecas se resignaram a serem estupradas sem abrir o bico.
Há alguns anos, um cidadão sueco declarava ao Aftonbladet que não via nada de mal em estuprar uma sueca, afinal “são todas putas e podem casar depois de estupradas”. Tabu continuava sendo estuprar uma muçulmana, que depois seria repudiada pela própria comunidade e não teria chance alguma de encontrar marido. Claro que este cidadão “sueco” não era exatamente um sueco, mas imigrante de origem árabe com passaporte sueco. O silêncio da imprensa sueca em relação aos estupros étnicos enche de razão os muçulmanos que estão ocupando – inclusive juridicamente – a Europa.
O Aftonbladet nos dá outras cifras sobre o crescendo de estupros na Suécia. Sempre por cem mil habitantes.
2008: 53,2 2007: 46,6 2006: 40,6 2005: 36,8 2004: 25,1
Não tenho as cifras de quando lá vivi, em 1971 e 72.
Mas lia os jornais suecos todos os dias e não tenho lembrança alguma de ter lido alguma notícia sobre estupros. É triste ver um país, que um dia foi um oásis de tranqüilidade, ocupando o alto da lista de violência sexual na Europa. Perdendo apenas para um obscuro país na África negra.
Sexta-feira passada, comentei um vídeo abominável, no qual uma sueca tem relações com um negro, ao som do hino nacional sueco. Tratava-se de Elin Krantz, uma menina de Göteborg, militante do movimento “Vi gillar olika” (Nós gostamos da diversidade), que defendia o tal de multiculturalismo. Por desatenção, deixei de contar o final da história. Em setembro do ano passado, a suequinha foi brutalmente violada e assassinada por Ephrem Yohannes, um imigrante negro do Corno da África. Aqui, o que restou de Elin Krantz :
http://www.contre-info.com/viol-et-meurtre-dune-suedoise-antiraciste-parmi-tant-dautres
Perdão, leitores, pela brutalidade da imagem. Na imprensa nossa, não saiu um pio sobre o crime.
segunda-feira, 15 de agosto de 2011
AS PODEROSAS
AS PODEROSAS
João Eichbaum
A partir do momento em que a mulher deixou de ser relativamente incapaz, para ingressar no mercado de trabalho, disputando, ombro a ombro, com os varões, qualquer brecha onde possa descolar uma grana, a evolução dos costumes tem sido galopante. Principalmente a dos costumes sexuais.
Por exemplo, a magistratura. Ontem confiada a sisudos senhores, trajados no rigor que exige a pompa silenciosa, hoje está minada de batom, esmalte para unhas, botox, longos cabelos loiros de farmácia, calças apertadas mostrando o tamanho das bundas, e volta e meia, alguma minissaia. Tudo isso com a presença da imprescritível vaidade.
Algumas se tornam juízas, para mostrar aos ex-namorados que são mais poderosas que eles; outras, para se vingarem da amiga que lhes surrupiou o amante. As feias, para encontrar no poder uma consolação. As belas, porque a beleza sem o poder não é chique.
Seja qual for o motivo, sempre estarão presentes duas fortes razões que desmoronam qualquer entrave: o poder e o belo salário.
A mocinha estudiosa e tímida, a gordinha feia, a lésbica dissimulada, todas mudam, a partir do momento em que se entregam à volúpia do poder, debaixo da toga.
As feias, então, se realizam mais do que as outras, misturando sentença com tesão. Com o polpudo salário que é debitado na conta de quem paga impostos, elas podem comprar o marido, o namorado ou o amante que lhes aprouver, servindo-se dele como desaguadouro de suas necessidades sexuais. E é claro que preferem os jovens altos, taludos e musculosos, andando com eles a tiracolo, exibindo-os como troféu, para que suas amigas, inimigas e concorrentes fiquem babando de inveja.
A juíza que foi morta semana passada no Rio de Janeiro serve como amostra desse perfil dominante. Embora fosse feia, era metida a gostosa, se vestia como uma perua e podia comprar o bombadão que quisesse: um cabo da polícia militar, um agente penitenciário, ou, quem sabe, ambos. Tudo pago com o belo salário que sai da conta dos contribuintes.
“Quem com farelo se mistura, porcos o comem”– diz um velho ditado. Crivada de balas, morreu a magistrada dentro de seu automóvel. Morreu, não por ser heroína, mas por ser vítima dos embustes do amor, realizando sua onírica sensualidade sem cultivar a prudência, que é o apanágio da magistratura.
Ah, e antes que me esqueça: o cabo e o agente penitenciário certamente vão disputar, na justiça, a bela pensão da magistrada. Com a chance de poderem exibir seus atributos físicos para outra juíza, na audiência.
João Eichbaum
A partir do momento em que a mulher deixou de ser relativamente incapaz, para ingressar no mercado de trabalho, disputando, ombro a ombro, com os varões, qualquer brecha onde possa descolar uma grana, a evolução dos costumes tem sido galopante. Principalmente a dos costumes sexuais.
Por exemplo, a magistratura. Ontem confiada a sisudos senhores, trajados no rigor que exige a pompa silenciosa, hoje está minada de batom, esmalte para unhas, botox, longos cabelos loiros de farmácia, calças apertadas mostrando o tamanho das bundas, e volta e meia, alguma minissaia. Tudo isso com a presença da imprescritível vaidade.
Algumas se tornam juízas, para mostrar aos ex-namorados que são mais poderosas que eles; outras, para se vingarem da amiga que lhes surrupiou o amante. As feias, para encontrar no poder uma consolação. As belas, porque a beleza sem o poder não é chique.
Seja qual for o motivo, sempre estarão presentes duas fortes razões que desmoronam qualquer entrave: o poder e o belo salário.
A mocinha estudiosa e tímida, a gordinha feia, a lésbica dissimulada, todas mudam, a partir do momento em que se entregam à volúpia do poder, debaixo da toga.
As feias, então, se realizam mais do que as outras, misturando sentença com tesão. Com o polpudo salário que é debitado na conta de quem paga impostos, elas podem comprar o marido, o namorado ou o amante que lhes aprouver, servindo-se dele como desaguadouro de suas necessidades sexuais. E é claro que preferem os jovens altos, taludos e musculosos, andando com eles a tiracolo, exibindo-os como troféu, para que suas amigas, inimigas e concorrentes fiquem babando de inveja.
A juíza que foi morta semana passada no Rio de Janeiro serve como amostra desse perfil dominante. Embora fosse feia, era metida a gostosa, se vestia como uma perua e podia comprar o bombadão que quisesse: um cabo da polícia militar, um agente penitenciário, ou, quem sabe, ambos. Tudo pago com o belo salário que sai da conta dos contribuintes.
“Quem com farelo se mistura, porcos o comem”– diz um velho ditado. Crivada de balas, morreu a magistrada dentro de seu automóvel. Morreu, não por ser heroína, mas por ser vítima dos embustes do amor, realizando sua onírica sensualidade sem cultivar a prudência, que é o apanágio da magistratura.
Ah, e antes que me esqueça: o cabo e o agente penitenciário certamente vão disputar, na justiça, a bela pensão da magistrada. Com a chance de poderem exibir seus atributos físicos para outra juíza, na audiência.
sexta-feira, 12 de agosto de 2011
RELIGIÃO
João Eichbaum
São de Ambrose Bierce, segundo Marcelo da Luz em “ONDE A RELIGIÃO TERMINA?”, as seguintes palavras: “ a religião é a filha da Esperança e do Medo, tentando explanar para a Ignorância a natureza do Desconhecido”..
Que a religião foi criada pelo medo dos animais pensantes não resta a mínima dúvida. Não é demais repetir que, não encontrando explicações para os maus humores da natureza, como raios, trovões, tempestades, nossos ancestrais admitiram a própria pequenez e a impotência diante de tais fenômenos, atribuindo-os aos poderes de alguma divindade.
Plantada sobre tão fértil terreno, a idéia da divindade só podia criar raízes e crescer, porque os primatas de então não dispunham das ferramentas de raciocínio que só foram desenvolvidas no curso da evolução da espécie humana.
Assim arraigada, estabelecida de modo irreversível, não só no indivíduo como também na coletividade, passando de geração em geração, essa idéia foi facilmente trabalhada, mais tarde, pelos primeiros espertinhos que viram, na crença, um ótimo meio de vida, que dispensava o batente. A esses ocorreu a idéia de jungir o medo à esperança, para fortalecer a crença na divindade.
E tal idéia se propagava da seguinte forma: não, a morte não é o fim, é meio, é o caminho para o encontro com a divindade. Ora, quem é que não iria aderir a tal idéia, a idéia de que não existe o fim, e de que a vida tem continuidade, aconteça o que acontecer?
Então, realmente, é sobre o medo e a esperança que se assenta a religiosidade.
Mas, a segunda parte do pensamento de Ambrose Bierce é um tanto nebulosa. O “desconhecido” é desconhecido e ponto final. Se é “desconhecido” não pode oferecer elementos para que se lhe descubra a natureza.
A menos que Bierce se refira aos “mensageiros” das religiões, que vendem um peixe que não pescaram, praticando estelionato.
E na realidade é isso que acontece: os que pregam as religiões e se dizem “intérpretes” da palavra divina não passam de vendedores de lorotas, porque até hoje ninguém voltou do “Desconhecido” com provas concretas da existência de alguma divindade. E se a “ignorância” é fruto da ausência de racionalidade, então Bierce tem toda a razão, porque bastam o medo e a esperança para alguém sucumba ao domínio dos sentimentos religiosos.
São de Ambrose Bierce, segundo Marcelo da Luz em “ONDE A RELIGIÃO TERMINA?”, as seguintes palavras: “ a religião é a filha da Esperança e do Medo, tentando explanar para a Ignorância a natureza do Desconhecido”..
Que a religião foi criada pelo medo dos animais pensantes não resta a mínima dúvida. Não é demais repetir que, não encontrando explicações para os maus humores da natureza, como raios, trovões, tempestades, nossos ancestrais admitiram a própria pequenez e a impotência diante de tais fenômenos, atribuindo-os aos poderes de alguma divindade.
Plantada sobre tão fértil terreno, a idéia da divindade só podia criar raízes e crescer, porque os primatas de então não dispunham das ferramentas de raciocínio que só foram desenvolvidas no curso da evolução da espécie humana.
Assim arraigada, estabelecida de modo irreversível, não só no indivíduo como também na coletividade, passando de geração em geração, essa idéia foi facilmente trabalhada, mais tarde, pelos primeiros espertinhos que viram, na crença, um ótimo meio de vida, que dispensava o batente. A esses ocorreu a idéia de jungir o medo à esperança, para fortalecer a crença na divindade.
E tal idéia se propagava da seguinte forma: não, a morte não é o fim, é meio, é o caminho para o encontro com a divindade. Ora, quem é que não iria aderir a tal idéia, a idéia de que não existe o fim, e de que a vida tem continuidade, aconteça o que acontecer?
Então, realmente, é sobre o medo e a esperança que se assenta a religiosidade.
Mas, a segunda parte do pensamento de Ambrose Bierce é um tanto nebulosa. O “desconhecido” é desconhecido e ponto final. Se é “desconhecido” não pode oferecer elementos para que se lhe descubra a natureza.
A menos que Bierce se refira aos “mensageiros” das religiões, que vendem um peixe que não pescaram, praticando estelionato.
E na realidade é isso que acontece: os que pregam as religiões e se dizem “intérpretes” da palavra divina não passam de vendedores de lorotas, porque até hoje ninguém voltou do “Desconhecido” com provas concretas da existência de alguma divindade. E se a “ignorância” é fruto da ausência de racionalidade, então Bierce tem toda a razão, porque bastam o medo e a esperança para alguém sucumba ao domínio dos sentimentos religiosos.
quinta-feira, 11 de agosto de 2011
A BÍBLIA LIDA PELO DIABO
João Eichbaum
O PRIMEIRO HOMICÍDIO
8 E falou Caim com seu irmão Abel. E sucedeu que, estando eles no campo, se levantou Caim contra seu irmão Abel e o matou.
Caim foi não só o primeiro homicida, como o primeiro invejoso e o primeiro burro no sistema operacional da humanidade. Ardendo em ódio, não pensou nas conseqüências. Em vez de armar um barraco, promovendo a primeira briga de família, tratou logo de apagar o irmão. Coisa de porra louca.
Será que ele pensava que Javé iria ignorar tudo, bater palmas e dizer, bom cara, agora é tudo contigo?
9 E perguntou o Senhor a Caim: onde está o teu irmão? E Caim: sei lá, por acaso sou guarda do meu irmão?
Estava preenchida a primeira ficha criminal do mundo. O primeiro homicida, o primeiro burro, o primeiro mentiroso. Foram essas qualidades as que mais frutificaram entre seus descendentes. A burrice e as mentiras dos políticos geram a violência que domina mundo até hoje. E tudo veio dali, do Caim.
10 Mas Deus continuou: que fizeste? A voz do sangue do teu irmão clama a mim desde a terra. 11 E agora maldito és desde a terra, que recebeu sua boca para receber o sangue do teu irmão da tua mão. 12 Quando lavrares a terra, ela não te dará mais a sua força: fugitivo e vagabundo serás na terra.
Subiu a temperatura do Velho Javé. Sempre em baixo astral e cheio de mau humor pra dar, sem dar espaço nenhum para a misericórdia, o Velho desancou em cima do Caim. A vontade que ele tinha mesmo era de chamar o cara de fiadaputa. Mas chamou de maldito, pra não comprometer o seu vocabulário.
Vocês se lembram duma piada que anda por aí tipo “tive fome e me destes de comer”? É pura piada mesmo, porque o Velho sonegou para Caim até os frutos da terra, antes de mandar o cara pastar, rápido e fulminante: fugitivo e vagabundo!
O PRIMEIRO HOMICÍDIO
8 E falou Caim com seu irmão Abel. E sucedeu que, estando eles no campo, se levantou Caim contra seu irmão Abel e o matou.
Caim foi não só o primeiro homicida, como o primeiro invejoso e o primeiro burro no sistema operacional da humanidade. Ardendo em ódio, não pensou nas conseqüências. Em vez de armar um barraco, promovendo a primeira briga de família, tratou logo de apagar o irmão. Coisa de porra louca.
Será que ele pensava que Javé iria ignorar tudo, bater palmas e dizer, bom cara, agora é tudo contigo?
9 E perguntou o Senhor a Caim: onde está o teu irmão? E Caim: sei lá, por acaso sou guarda do meu irmão?
Estava preenchida a primeira ficha criminal do mundo. O primeiro homicida, o primeiro burro, o primeiro mentiroso. Foram essas qualidades as que mais frutificaram entre seus descendentes. A burrice e as mentiras dos políticos geram a violência que domina mundo até hoje. E tudo veio dali, do Caim.
10 Mas Deus continuou: que fizeste? A voz do sangue do teu irmão clama a mim desde a terra. 11 E agora maldito és desde a terra, que recebeu sua boca para receber o sangue do teu irmão da tua mão. 12 Quando lavrares a terra, ela não te dará mais a sua força: fugitivo e vagabundo serás na terra.
Subiu a temperatura do Velho Javé. Sempre em baixo astral e cheio de mau humor pra dar, sem dar espaço nenhum para a misericórdia, o Velho desancou em cima do Caim. A vontade que ele tinha mesmo era de chamar o cara de fiadaputa. Mas chamou de maldito, pra não comprometer o seu vocabulário.
Vocês se lembram duma piada que anda por aí tipo “tive fome e me destes de comer”? É pura piada mesmo, porque o Velho sonegou para Caim até os frutos da terra, antes de mandar o cara pastar, rápido e fulminante: fugitivo e vagabundo!
quarta-feira, 10 de agosto de 2011
LONDRES ESTÁ EM CHAMAS?
Janer Cristaldo
Já está. No dia 25 de agosto de 1944, mais ou menos às 13 horas da tarde, Hitler estava furioso em Berlim. As forças aliadas estavam chegando ao centro de Paris, ocupada pelos alemães. Ao saber disso, o Führer grita que é inconcebível a entrada do inimigo na capital com tamanha facilidade. Havia dado ordens para que a cidade fosse destruída. Aos berros, pergunta a seu general Alfred Jodl: “Essas ordens foram executadas?” E vocifera: “Jodl, Paris está em chamas?” Não obteve resposta. As comunicações com Paris haviam sido cortadas. Os carros da 2a divisão blindada do general Leclerc e os soldados da 4a divisão de infantaria americana acabavam de libertar a capital. Paris, para a felicidade geral de todos que adoram Paris, continuava em pé.
O mesmo não se pode dizer de Londres, quase sete décadas depois. Leio no Time Magazine que nunca tantos incêndios devastaram Londres tão intensamente ao mesmo tempo desde a Segunda Guerra Mundial. Tudo começou com um tumulto no bairro multirracial (atenção à palavrinha) de Tottenham, ao norte da cidade, no sábado passado. O estopim teria sido a morte de Mark Duggan, 29 anos, que tinha quatro filhos e trabalhava como motorista de um serviço alternativo de táxis. Segundo a polícia, ele foi morto após atirar num policial. Segundo a família de Duggan, esta versão é ridícula. Mas as investigações já provaram que Duggan estava armado.
Estivesse ou não armado, sua morte não pode ser pretexto para vandalismo, incêndios e saques. Que estão se espalhando pelos demais bairros de Londres, como Croydon, Peckham e Lewisham, no sul da cidade. Vários grupos de saqueadores agiam nas ruas de Hackney (leste), Clapham (sul), Camden (norte) e Ealing (oeste). Os distúrbios estão se espalhando por outras cidades, como Birmingham, Liverpool e Bristol. Segundo as companhias de seguro, os prejuízos apenas nas três primeiras noites de distúrbios já atingem os cem milhões de libras. Em um comunicado divulgado hoje pela manhã, o Serviço de Polícia Metropolitana de Londres descreveu a violência da noite de ontem como a pior da qual se tem lembrança. Dezesseis mil policiais foram às ruas e fizeram mais de 200 detenções durante a noite, elevando o total para quase 700 desde que o tumulto começou. Quarenta e quatro policiais sofreram ferimentos na segunda-feira à noite e um policial quebrou vários ossos após um carro ter avançado contra ele.
Li vários jornais da imprensa nossa e internacional, tentando informar-me sobre a bagunça. Em todos, a única informação que encontrei sobre os responsáveis é que eram jovens. Ora, isto é muito vago. Que tipo de jovens? A que países ou etnias pertencem? Não acredito que britânicos de souche saiam a incendiar suas cidades. Atenção à palavrinha multirracial – dizia – que define Tottenham.
Quer dizer que lá existem outras raças? Que raças, se é que se pode falar em raça nestes dias em que as esquerdas insistem em que raça não existe? Tento ver, nos jornais, fotos dos manifestantes. Quase não existem. Há fotos dos prédios incendiados, dos policiais, mas dos vândalos quase nenhuma. Nas raras fotos que encontrei, só vejo negros. Mas jornal algum fala que são os negros que estão incendiando Londres. O Nouvel Obs deixa escapar algo. Para Gus John, professor da Universidade de Londres, especialista em questões raciais no Reino Unido, qualificar os vândalos de simples desordeiros é estéril e não permite enfrentar as verdadeiras questões sociais. - Por que a maioria dos delinqüentes são jovens e negros? – pergunta-se o professor.
Ah, bon! Então são jovens e negros? Logo, imigrantes ou filhos de imigrantes. Mas jornal algum fala em imigrantes. Melhor bairro multirracial, que é politicamente correto. Dizer que imigrantes são responsáveis pelos saques e incêndios em Londres e demais cidades seria acusar africanos, árabes, hindus, paquistaneses. E isto nenhum jornalista europeu ousa afirmar.
As capitais européias estão cercadas por cinturões de ódio e ressentimento, alimentados por imigrantes e filhos de imigrantes. Em Paris, por exemplo, no 31 de dezembro de 2005, 425 carros foram queimados na periferia. Segundo o Le Monde, "apesar dos temores, a noite do réveillon ocorreu sem maiores incidentes". Quando o mais importante jornal francês considera que 425 carros queimados em uma noite não constitui maior incidente, está na hora de partir antes que a França vire um Iraque.
O vandalismo está virando rotina em Paris e tem data marcada, o réveillon. Os imigrantes daquela ilha vizinha à Europa parecem ter gostado da idéia. É evidente que tais incêndios, saques e depredações vão se repetir nos próximos anos. Não só na Inglaterra, como também na Suécia, Alemanha, Holanda e Itália, onde estes conflitos se acirram.
É só esperar para ver.
Já está. No dia 25 de agosto de 1944, mais ou menos às 13 horas da tarde, Hitler estava furioso em Berlim. As forças aliadas estavam chegando ao centro de Paris, ocupada pelos alemães. Ao saber disso, o Führer grita que é inconcebível a entrada do inimigo na capital com tamanha facilidade. Havia dado ordens para que a cidade fosse destruída. Aos berros, pergunta a seu general Alfred Jodl: “Essas ordens foram executadas?” E vocifera: “Jodl, Paris está em chamas?” Não obteve resposta. As comunicações com Paris haviam sido cortadas. Os carros da 2a divisão blindada do general Leclerc e os soldados da 4a divisão de infantaria americana acabavam de libertar a capital. Paris, para a felicidade geral de todos que adoram Paris, continuava em pé.
O mesmo não se pode dizer de Londres, quase sete décadas depois. Leio no Time Magazine que nunca tantos incêndios devastaram Londres tão intensamente ao mesmo tempo desde a Segunda Guerra Mundial. Tudo começou com um tumulto no bairro multirracial (atenção à palavrinha) de Tottenham, ao norte da cidade, no sábado passado. O estopim teria sido a morte de Mark Duggan, 29 anos, que tinha quatro filhos e trabalhava como motorista de um serviço alternativo de táxis. Segundo a polícia, ele foi morto após atirar num policial. Segundo a família de Duggan, esta versão é ridícula. Mas as investigações já provaram que Duggan estava armado.
Estivesse ou não armado, sua morte não pode ser pretexto para vandalismo, incêndios e saques. Que estão se espalhando pelos demais bairros de Londres, como Croydon, Peckham e Lewisham, no sul da cidade. Vários grupos de saqueadores agiam nas ruas de Hackney (leste), Clapham (sul), Camden (norte) e Ealing (oeste). Os distúrbios estão se espalhando por outras cidades, como Birmingham, Liverpool e Bristol. Segundo as companhias de seguro, os prejuízos apenas nas três primeiras noites de distúrbios já atingem os cem milhões de libras. Em um comunicado divulgado hoje pela manhã, o Serviço de Polícia Metropolitana de Londres descreveu a violência da noite de ontem como a pior da qual se tem lembrança. Dezesseis mil policiais foram às ruas e fizeram mais de 200 detenções durante a noite, elevando o total para quase 700 desde que o tumulto começou. Quarenta e quatro policiais sofreram ferimentos na segunda-feira à noite e um policial quebrou vários ossos após um carro ter avançado contra ele.
Li vários jornais da imprensa nossa e internacional, tentando informar-me sobre a bagunça. Em todos, a única informação que encontrei sobre os responsáveis é que eram jovens. Ora, isto é muito vago. Que tipo de jovens? A que países ou etnias pertencem? Não acredito que britânicos de souche saiam a incendiar suas cidades. Atenção à palavrinha multirracial – dizia – que define Tottenham.
Quer dizer que lá existem outras raças? Que raças, se é que se pode falar em raça nestes dias em que as esquerdas insistem em que raça não existe? Tento ver, nos jornais, fotos dos manifestantes. Quase não existem. Há fotos dos prédios incendiados, dos policiais, mas dos vândalos quase nenhuma. Nas raras fotos que encontrei, só vejo negros. Mas jornal algum fala que são os negros que estão incendiando Londres. O Nouvel Obs deixa escapar algo. Para Gus John, professor da Universidade de Londres, especialista em questões raciais no Reino Unido, qualificar os vândalos de simples desordeiros é estéril e não permite enfrentar as verdadeiras questões sociais. - Por que a maioria dos delinqüentes são jovens e negros? – pergunta-se o professor.
Ah, bon! Então são jovens e negros? Logo, imigrantes ou filhos de imigrantes. Mas jornal algum fala em imigrantes. Melhor bairro multirracial, que é politicamente correto. Dizer que imigrantes são responsáveis pelos saques e incêndios em Londres e demais cidades seria acusar africanos, árabes, hindus, paquistaneses. E isto nenhum jornalista europeu ousa afirmar.
As capitais européias estão cercadas por cinturões de ódio e ressentimento, alimentados por imigrantes e filhos de imigrantes. Em Paris, por exemplo, no 31 de dezembro de 2005, 425 carros foram queimados na periferia. Segundo o Le Monde, "apesar dos temores, a noite do réveillon ocorreu sem maiores incidentes". Quando o mais importante jornal francês considera que 425 carros queimados em uma noite não constitui maior incidente, está na hora de partir antes que a França vire um Iraque.
O vandalismo está virando rotina em Paris e tem data marcada, o réveillon. Os imigrantes daquela ilha vizinha à Europa parecem ter gostado da idéia. É evidente que tais incêndios, saques e depredações vão se repetir nos próximos anos. Não só na Inglaterra, como também na Suécia, Alemanha, Holanda e Itália, onde estes conflitos se acirram.
É só esperar para ver.
terça-feira, 9 de agosto de 2011
A GUANGUE DA PRAÇA DA MATRIZ
João Eichbaum
“Rap” não é a minha praia. Tem muito mais de “bum,bum, bum”, mais de som, do que de música.
Mas, prometo que, de agora em diante, vou começar a prestar a atenção nas letras, para valorizar seus autores, como eles merecem – para mais ou para menos.
Embora nunca tenha ouvido falar de Tonho Crocco, exatamente porque ele é do embalo do “rap” e eu, como já disse acima, jamais me afinei com esse ritmo (ou será uma escola?), passei a gostar dele, Tonho.
Tonho Crocco é o cara. Ele está acima desse imenso rebanho de ovelhas, que são os eleitores do Rio Grande do Sul. Sua autenticidade ao qualificar de gangue aquilo que a imprensa chama, respeitosamente, de Assembléia Legislativa, mostra que nem é preciso coragem, basta ser autêntico, sem muita frescura, para que se mereça o epíteto de herói.
Enquanto essa massa amorfa e sem autenticidade, que caracteriza a maioria mais do que absoluta dos eleitores, dá de ombros ou ignora as patifarias dos políticos e os elege outra vez na próxima eleição, Tonho Crocco mostrou sua indignação contra a falta de moral que grassa no chamado parlamento gaúcho.
Tonho Crocco mostrou o que são e para que servem os deputados gaúchos. Eles não tem um pingo de moral - nem falo em ética porque ética é um vocábulo nobre demais para referi-lo, quando se trata de políticos - quando se trata de engordar seus próprios interesses. No caso específico, seus subsídios. E só servem para mandar o dinheiro público para o ralo, inclusive pagando propaganda, propaganda enganosa, segundo a qual a Assembléia Legislativa é um dos baluartes da democracia, ou qualquer mentira do gênero.
Ou, se vocês não pensam assim, me respondam: conhecem alguma lei, com origem na Assembléia Legislativa, que tenha beneficiado ou esteja beneficiando o povo gaúcho?
Depois de tudo isso, só tenho vontade de rir quando vejo o povo cantando, nos estádios de futebol: “sirvam nossas façanhas de modelo a toda a terra”.
segunda-feira, 8 de agosto de 2011
SAUDADES DA GUERRA FRIA
Janer Cristaldo
A cada dia que passa, o mundo se torna cada vez mais medíocre. Não bastasse essa tal de Parada Gay, onde a bicharada exibe sua sexualidade nas ruas, surge agora o dia do orgulho hétero. Ainda há pouco, eu me espantava com o número de marchas em São Paulo. Pelo jeito, teremos mais uma, marcada para mês que vem, a do orgulho heterossexual. Projeto de lei aprovado pela Câmara Municipal prevê a data oficial em todos os terceiros domingos de setembro.
Sexualidade, a meu ver, é questão de foro íntimo de toda pessoa. Sem ser moralista, me parece um tanto obsceno sair proclamando nas ruas: olha, gente, eu sou homo, eu sou hétero. Para quando teremos a marcha dos bi?
A Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT) – bicha agora tem sindicato – chiou. Em carta aberta a Gilberto Kassab, pediu que o prefeito vete o projeto de lei do vereador Carlos Apolinário, membro da igreja Assembléia de Deus, aprovado na Câmara na terça-feira passada. Para a entidade, há motivos históricos para haver o Dia do Orgulho Gay, mas não há razão para criar o Dia do Orgulho Hétero pela simples preservação da moral e dos bons costumes.
Longe de mim tomar partido nessa discussão idiota. Mas, pelo que vemos, os homossexuais podem fazer proselitismo por sua opção sexual. Héteros não podem. Um abaixo-assinado na internet organizado por uma militante da Baixada Santista, pedindo o veto ao projeto, tinha cerca de 1.500 assinaturas na noite de ontem.
Os militantes gays estão tentando criar uma nova tipificação jurídica, a homofobia. Seria algo como repulsa, rejeição, preconceito em relação aos homossexuais. Para começar, como tantos outros que surgem na imprensa, o neologismo está errado. Homo significa mesmo e fobia significa medo. Literalmente, a palavrinha significaria mesmo medo. Mesmo tomando homo como significado de homossexuais, a palavra continua errada. Significaria medo de homossexuais. Ora, ninguém tem medo de homossexuais. O medo que pode existir é de alguém descobrir-se homossexual. É o caso desses religiosos que vivem vituperando contra a homossexualidade o tempo todo. Pelo jeito, querem esconjurar o demônio.
Quem está patrocinando esta tal de legislação anti-homofóbica é o PT. E só podia ser. Com a queda do muro de Berlim e o desmoronamento da União Soviética, as viúvas do Kremlin, saudosas da finada luta de classes, criaram agora outros conflitos. Se você for pesquisar os arquivos de jornais – e eu fiz esta pesquisa na Folha de São Paulo – verá que na década de 90 a palavra racismo se multiplica por mil na imprensa. Se a luta de classes obsolesceu, vamos agora jogar raça contra raça. Se isto não bastar, jogamos sexo contra sexo. Sem lutas, a Idéia – como se dizia no início do século passado – não avança.
Kassab, um político medíocre em eterna caça de votos, sabe que o eleitorado gay já tem peso em uma eleição. Disse não ver motivos para vetar o projeto aprovado na Câmara. Segundo ele, trata-se de uma data como outra qualquer, como dia do médico e do professor. Ora, médico e professor são profissões. Gays ou héteros, pelo que me consta, ainda não são. Está declarada a guerra entre gays e heteros. O projeto do vereador pode se revelar um tiro no pé. De repente, só consegue alguns gatos pingados em defesa da heterossexualidade. Agora temos as lutas raciais, negros contra brancos, índios contra civilizados. Não bastasse a luta racial, surgiu agora a sexual, homos contra héteros.
Saudades da Guerra Fria, quando havia uma só luta, a de classes.
sexta-feira, 5 de agosto de 2011
LEÃO CONTINUA FAMINTO
Janer Cristaldo
Em março passado, comentei o aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) para as compras feitas em cartão de crédito no Exterior. Desde então, o estrangeiro ficou 4% mais caro para todo brasileiro. Se antes você pagava 2,38 reais por 100 reais gastos, hoje você passa a pagar 6,38. Em mil reais, pagará 63,80. Em dez mil, que é uma despesa viável em cartão de crédito para uma viagem, pagará 638 reais. Quase a metade de uma passagem de ida e volta a Paris.
A medida pretendia conter a evasão de divisas, em virtude da baixa cotação do dólar. Não conteve coisa nenhuma. Os brasileiros continuam viajando com entusiasmo. Bem que fazem. Mesmo com o aumento do IOF, viajar continua sendo convidativo. Com o que se paga por uma entrada em São Paulo, temos uma refeição completa em Paris ou Madri – entrada, prato principal, sobremesa e, conforme o restaurante, meia jarra de vinho.
O aumento só serviu para gerar receita ao governo, para financiar copa e corrupções outras. Porque ninguém duvide: a tal de copa vai ser um assalto colossal ao erário. Mas parece que o IOF para compras no exterior se revelou insuficiente. O leão continua faminto. Agora vai ser pago para compras feitas aqui mesmo.Leio nos jornais de hoje que pagar contas e boletos bancários no cartão de crédito deve ter tributação com IOF. O imposto é de 0,0082% ao dia de uso do crédito, limitado a 3% ao ano, mais 0,38% por operação. Quem vai a um caixa eletrônico com um boleto bancário e escolhe a opção de pagamento no cartão de crédito deve ser tributado. Essa regra vale, segundo a Receita, para contas de consumo, como luz, água e telefone, além de impostos, condomínios e mensalidades escolares, entre outros boletos.
A medida é um recado explícito do governo ao consumidor: pare de comprar, diz o vice-presidente da Anefac (Associação dos Executivos de Finanças), Miguel de Oliveira. "A medida não tem eficácia agora. O consumidor já paga os percentuais quando usa crédito rotativo do cartão para pagar contas. Serve só como alerta".
Será que ouvi bem? Este senhor estará dizendo que o consumidor pare de comprar luz, água e telefone? Que pare de pagar impostos, condomínios e mensalidades escolares no cartão? Vamos voltar ao tempo do dinheiro vivo, cada vez mais longe de nossos dias?
Seja como for, ao recomendar que o consumidor pare de comprar, o governo certamente não está falando comigo. Não compro quase nada. Na última década, comprei dois computadores, uma impressora, um televisor... e só. Ah, e um telefoninho celular. Me parece ser um consumo bastante comedido para uma década. Mas soa estranho o governo dizer ao consumidor que pare de comprar, quando as montadoras oferecem carros a serem pagos em cinco ou mais anos. Hoje, qualquer pessoa que não tem condições de ter um carro pode ter um carro.
Nada entendo de economia. Apenas a sofro. Mas entendo de lógica. Vivemos ou não em uma economia capitalista? Se a resposta é sim, quanto mais consumo melhor. Há bem mais de dez anos, tive uma experiência interessante em Madri. Era Natal, quando os madrilenhos se atiram com fúria às compras. A Puerta del Sol – hoje tomada pelos “indignados” – e adjacências, nestes dias é invadida por uma multidão sedenta de consumo. Eu buscava um singelo Rioja para o fim de noite no hotel quando tive de enfrentar aquela multidão furiosa, compacta, invasiva, imiscuindo-se em todo e qualquer lugar onde houvesse algo para comprar. Investi de ombros contra a massa e lutei bravamente por meu vinho. Até aí, nada demais. Lá pelas tantas, em plena Puerta del Sol, deparei-me com um grupo de católicos vestidos de andrajos – simulando pobreza, pois pobres não seriam – que protestavam com cartazes contra a sociedade de consumo e o consumismo. Se já não nutro muita simpatia por estes senhores, naquela noite meu sentimento foi de asco.
O que aqueles papistas pareciam não entender é que consumo, por estúpido que seja, gera trabalho e riqueza. Aquela histeria desmesurada dos madrilenhos beneficiava o último produtor de queijos, presunto ou vinhos, nos confins de uma vila na Espanha ou na Europa. Lubrificava a ampla capilaridade de distribuição e venda, os setores de transporte e comércio do país todo. O consumo quase irracional dos madrilenhos azeitava a economia da Espanha, demonstrava a eficiência plena do capitalismo. Claro que o sentido original do Natal fica empanado, para não dizer abolido. Mas melhor que o culto piegas de um deus obsoleto é contemplar o espetáculo de uma economia pujante.
Conquistada minha botellita de Rioja, fugi da massa e busquei uma bodega discreta para continuar minhas leituras. Não imagine o leitor que tais orgias de consumo me fascinem. Mas tenho de convir que são salutares para a economia das nações. Aqueles gatos pingados católicos, travestidos de pobres e humildes, eram, naqueles dias de festa, os piores inimigos da humanidade.
Em Pindorama, consumir está sendo visto como pecado social. Ou os papistas tomaram conta do governo, ou o governo quer mais grana para financiar a corrupção e já nem sabe o que alegar.
Em março passado, comentei o aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) para as compras feitas em cartão de crédito no Exterior. Desde então, o estrangeiro ficou 4% mais caro para todo brasileiro. Se antes você pagava 2,38 reais por 100 reais gastos, hoje você passa a pagar 6,38. Em mil reais, pagará 63,80. Em dez mil, que é uma despesa viável em cartão de crédito para uma viagem, pagará 638 reais. Quase a metade de uma passagem de ida e volta a Paris.
A medida pretendia conter a evasão de divisas, em virtude da baixa cotação do dólar. Não conteve coisa nenhuma. Os brasileiros continuam viajando com entusiasmo. Bem que fazem. Mesmo com o aumento do IOF, viajar continua sendo convidativo. Com o que se paga por uma entrada em São Paulo, temos uma refeição completa em Paris ou Madri – entrada, prato principal, sobremesa e, conforme o restaurante, meia jarra de vinho.
O aumento só serviu para gerar receita ao governo, para financiar copa e corrupções outras. Porque ninguém duvide: a tal de copa vai ser um assalto colossal ao erário. Mas parece que o IOF para compras no exterior se revelou insuficiente. O leão continua faminto. Agora vai ser pago para compras feitas aqui mesmo.Leio nos jornais de hoje que pagar contas e boletos bancários no cartão de crédito deve ter tributação com IOF. O imposto é de 0,0082% ao dia de uso do crédito, limitado a 3% ao ano, mais 0,38% por operação. Quem vai a um caixa eletrônico com um boleto bancário e escolhe a opção de pagamento no cartão de crédito deve ser tributado. Essa regra vale, segundo a Receita, para contas de consumo, como luz, água e telefone, além de impostos, condomínios e mensalidades escolares, entre outros boletos.
A medida é um recado explícito do governo ao consumidor: pare de comprar, diz o vice-presidente da Anefac (Associação dos Executivos de Finanças), Miguel de Oliveira. "A medida não tem eficácia agora. O consumidor já paga os percentuais quando usa crédito rotativo do cartão para pagar contas. Serve só como alerta".
Será que ouvi bem? Este senhor estará dizendo que o consumidor pare de comprar luz, água e telefone? Que pare de pagar impostos, condomínios e mensalidades escolares no cartão? Vamos voltar ao tempo do dinheiro vivo, cada vez mais longe de nossos dias?
Seja como for, ao recomendar que o consumidor pare de comprar, o governo certamente não está falando comigo. Não compro quase nada. Na última década, comprei dois computadores, uma impressora, um televisor... e só. Ah, e um telefoninho celular. Me parece ser um consumo bastante comedido para uma década. Mas soa estranho o governo dizer ao consumidor que pare de comprar, quando as montadoras oferecem carros a serem pagos em cinco ou mais anos. Hoje, qualquer pessoa que não tem condições de ter um carro pode ter um carro.
Nada entendo de economia. Apenas a sofro. Mas entendo de lógica. Vivemos ou não em uma economia capitalista? Se a resposta é sim, quanto mais consumo melhor. Há bem mais de dez anos, tive uma experiência interessante em Madri. Era Natal, quando os madrilenhos se atiram com fúria às compras. A Puerta del Sol – hoje tomada pelos “indignados” – e adjacências, nestes dias é invadida por uma multidão sedenta de consumo. Eu buscava um singelo Rioja para o fim de noite no hotel quando tive de enfrentar aquela multidão furiosa, compacta, invasiva, imiscuindo-se em todo e qualquer lugar onde houvesse algo para comprar. Investi de ombros contra a massa e lutei bravamente por meu vinho. Até aí, nada demais. Lá pelas tantas, em plena Puerta del Sol, deparei-me com um grupo de católicos vestidos de andrajos – simulando pobreza, pois pobres não seriam – que protestavam com cartazes contra a sociedade de consumo e o consumismo. Se já não nutro muita simpatia por estes senhores, naquela noite meu sentimento foi de asco.
O que aqueles papistas pareciam não entender é que consumo, por estúpido que seja, gera trabalho e riqueza. Aquela histeria desmesurada dos madrilenhos beneficiava o último produtor de queijos, presunto ou vinhos, nos confins de uma vila na Espanha ou na Europa. Lubrificava a ampla capilaridade de distribuição e venda, os setores de transporte e comércio do país todo. O consumo quase irracional dos madrilenhos azeitava a economia da Espanha, demonstrava a eficiência plena do capitalismo. Claro que o sentido original do Natal fica empanado, para não dizer abolido. Mas melhor que o culto piegas de um deus obsoleto é contemplar o espetáculo de uma economia pujante.
Conquistada minha botellita de Rioja, fugi da massa e busquei uma bodega discreta para continuar minhas leituras. Não imagine o leitor que tais orgias de consumo me fascinem. Mas tenho de convir que são salutares para a economia das nações. Aqueles gatos pingados católicos, travestidos de pobres e humildes, eram, naqueles dias de festa, os piores inimigos da humanidade.
Em Pindorama, consumir está sendo visto como pecado social. Ou os papistas tomaram conta do governo, ou o governo quer mais grana para financiar a corrupção e já nem sabe o que alegar.
quinta-feira, 4 de agosto de 2011
A OBÍBLIA LIDA PELO DIABO
João Eichbaum
5 E irou-se Caim fortemente e descaiu-lhe o seu semblante.
E vocês queriam o quê? Que Caim ficasse rindo, batendo palmas pra Javé, vibrando que nem colorado na arquibancada, só pra puxar o saco Dele, de novo, depois dessa baita cachorrada do Velho?
6 E o Senhor perguntou a Caim: porque te iraste? Porque descaiu o teu semblante? 7 Se bem fizeres, não haverá aceitação para ti? Se não fizeres bem, o pecado jaz à porta e para ti será o seu desejo, e sobre ele dominarás.
Bah, peraí mermão! Depois de fazer o Caim pagar aquele mico, como se não fosse nada com Ele, o Velho ainda teve a cara de pau de lhe perguntar o porquê da brabeza! E ainda cobrou dele que fizesse “bem” as ofertas. Mas, existia, por acaso um “manual de oferendas” com regras próprias, modos de proceder, ritos, ou coisa parecida, que o Caim não tenha seguido? Em quais critérios se baseou Javé para considerar as oferendas “bem” ou “mal” feitas?
Não há outra resposta: as oferendas de Caim não continham sangue e de sangue é que o Velho gosta.
E, não tendo mais o que dizer, ou não sabendo o que dizer para justificar a sua atitude, Javé enrolou, falou de desejo, de pecado jazendo na porta, coisas meio sem nexo, pior que discurso de bêbado.
5 E irou-se Caim fortemente e descaiu-lhe o seu semblante.
E vocês queriam o quê? Que Caim ficasse rindo, batendo palmas pra Javé, vibrando que nem colorado na arquibancada, só pra puxar o saco Dele, de novo, depois dessa baita cachorrada do Velho?
6 E o Senhor perguntou a Caim: porque te iraste? Porque descaiu o teu semblante? 7 Se bem fizeres, não haverá aceitação para ti? Se não fizeres bem, o pecado jaz à porta e para ti será o seu desejo, e sobre ele dominarás.
Bah, peraí mermão! Depois de fazer o Caim pagar aquele mico, como se não fosse nada com Ele, o Velho ainda teve a cara de pau de lhe perguntar o porquê da brabeza! E ainda cobrou dele que fizesse “bem” as ofertas. Mas, existia, por acaso um “manual de oferendas” com regras próprias, modos de proceder, ritos, ou coisa parecida, que o Caim não tenha seguido? Em quais critérios se baseou Javé para considerar as oferendas “bem” ou “mal” feitas?
Não há outra resposta: as oferendas de Caim não continham sangue e de sangue é que o Velho gosta.
E, não tendo mais o que dizer, ou não sabendo o que dizer para justificar a sua atitude, Javé enrolou, falou de desejo, de pecado jazendo na porta, coisas meio sem nexo, pior que discurso de bêbado.
quarta-feira, 3 de agosto de 2011
NÃO VIU E NÃO GOSTOU
João Eichbaum
Uma juíza chamada Katerine Jatahy Nygaard, da 1ª Vara da Infância, da Juventude e do Idoso mandou expedir ordem de busca e apreensão da cópia de 35mmm do filme “A Serbian Film – Terror Sem Limites”, que fazia parte da programação do festival Riofan.
O filme já havia sido retirado da programação por ordem da patrocinadora do evento, a Caixa Econômica Federal.
Vamos por partes. Com esse nome, Katerine Jatahy Nygaard, a juíza deve ser filha de algum imigrante que para cá fugiu, e agora está tirando o emprego de brasileiros, ocupando um cobiçado cargo de juíza de direito. Em segundo lugar, se a ação foi proposta na “Vara da Infância, da Juventude e do Idoso” é porque seus interesses são restritos às crianças, aos jovens e aos velhos. Em terceiro lugar, a juíza do Rio de Janeiro não tem jurisdição sobre o território nacional. Suas decisões não têm o poder de ultrapassar as fronteiras daquele Estado.
Mas, vamos ao despacho da juíza: “não se pode admitir que, em favor da liberdade de expressão, um pretenso manifesto politico exponha de tal forma a degradação do ser humano, a ponto de violar sexualmente um recém nascido”.
Como a maioria dos juízes, dos desembargadores e, principalmente, dos ministros do Supremo Tribunal Federal, a juíza não conhece a Constituição Brasileira.
O art. 5º no seu inc. IX é muito claro, para quem não seja burro, nem estrangeiro: “é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença”.
O que a juíza fez foi censurar o filme, a priori, sem dele ter conhecimento, sem tê-lo visto, além de violar a Constituição, naturalmente.
Segundo o diretor da empresa que adquiriu os direitos da película, “não há isso no filme”.
E afirmo que a juíza não conhece a Constituição, porque ignora também o que assegura o mesmo art. 5º, no inc. II: “ninguém será obrigado a fazer ou a deixar de fazer alguma coisa, senão em virtude de lei”.
A pergunta é natural: em que lei se assenta a juíza para impor censura prévia a uma obra intelectual?
Certamente o despacho dela não o diz, pela simples razão de que lei nenhuma lhe dá poder para isso.
E mais uma prova de que a juíza não conhece a Constituição está no inc. XXVII do art. 5º da Constituição Federal: “aos autores pertence o direito exclusivo de utilização, publicação ou reprodução de suas obras”. Possivelmente ela não conhece também o vernáculo e ignora o significa “exclusivo”.
Ah, sim, e a Lei 8069/90, para proteger as crianças e os adolescentes, não impõe, nem permite censura, mas atribui ao Poder Público, através do órgão competente (que não é o Judiciário) a regulamentação das diversões e espetáculos públicos, com a informação “sobre a natureza deles e as faixas etárias a que não se recomendem” (art. 74 da Lei 8069/90). O resto, claro, fica por conta dos pais.
Mas, quem é essa juíza, que não conhece a Constituição nem o ECA e decide sem prova, para impedir que se “exponha a degradação do ser humano”, depois de haver o Supremo Tribunal Federal decretado que a dignidade da pessoa humana está no fiofó, que tudo está oficialmente permitido, homem com homem, mulher com mulher, porque tudo faz parte dos “direitos humanos”?
E o BBB, hein? Porque será que ninguém entra com ação contra a Globo, para impedir que as crianças, os jovens e os velhos vejam com seus próprios olhos que o ser humano não tem dignidade?
E o direito dos velhinhos de “babar” com coisas picantes, onde é que fica?
Uma juíza chamada Katerine Jatahy Nygaard, da 1ª Vara da Infância, da Juventude e do Idoso mandou expedir ordem de busca e apreensão da cópia de 35mmm do filme “A Serbian Film – Terror Sem Limites”, que fazia parte da programação do festival Riofan.
O filme já havia sido retirado da programação por ordem da patrocinadora do evento, a Caixa Econômica Federal.
Vamos por partes. Com esse nome, Katerine Jatahy Nygaard, a juíza deve ser filha de algum imigrante que para cá fugiu, e agora está tirando o emprego de brasileiros, ocupando um cobiçado cargo de juíza de direito. Em segundo lugar, se a ação foi proposta na “Vara da Infância, da Juventude e do Idoso” é porque seus interesses são restritos às crianças, aos jovens e aos velhos. Em terceiro lugar, a juíza do Rio de Janeiro não tem jurisdição sobre o território nacional. Suas decisões não têm o poder de ultrapassar as fronteiras daquele Estado.
Mas, vamos ao despacho da juíza: “não se pode admitir que, em favor da liberdade de expressão, um pretenso manifesto politico exponha de tal forma a degradação do ser humano, a ponto de violar sexualmente um recém nascido”.
Como a maioria dos juízes, dos desembargadores e, principalmente, dos ministros do Supremo Tribunal Federal, a juíza não conhece a Constituição Brasileira.
O art. 5º no seu inc. IX é muito claro, para quem não seja burro, nem estrangeiro: “é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença”.
O que a juíza fez foi censurar o filme, a priori, sem dele ter conhecimento, sem tê-lo visto, além de violar a Constituição, naturalmente.
Segundo o diretor da empresa que adquiriu os direitos da película, “não há isso no filme”.
E afirmo que a juíza não conhece a Constituição, porque ignora também o que assegura o mesmo art. 5º, no inc. II: “ninguém será obrigado a fazer ou a deixar de fazer alguma coisa, senão em virtude de lei”.
A pergunta é natural: em que lei se assenta a juíza para impor censura prévia a uma obra intelectual?
Certamente o despacho dela não o diz, pela simples razão de que lei nenhuma lhe dá poder para isso.
E mais uma prova de que a juíza não conhece a Constituição está no inc. XXVII do art. 5º da Constituição Federal: “aos autores pertence o direito exclusivo de utilização, publicação ou reprodução de suas obras”. Possivelmente ela não conhece também o vernáculo e ignora o significa “exclusivo”.
Ah, sim, e a Lei 8069/90, para proteger as crianças e os adolescentes, não impõe, nem permite censura, mas atribui ao Poder Público, através do órgão competente (que não é o Judiciário) a regulamentação das diversões e espetáculos públicos, com a informação “sobre a natureza deles e as faixas etárias a que não se recomendem” (art. 74 da Lei 8069/90). O resto, claro, fica por conta dos pais.
Mas, quem é essa juíza, que não conhece a Constituição nem o ECA e decide sem prova, para impedir que se “exponha a degradação do ser humano”, depois de haver o Supremo Tribunal Federal decretado que a dignidade da pessoa humana está no fiofó, que tudo está oficialmente permitido, homem com homem, mulher com mulher, porque tudo faz parte dos “direitos humanos”?
E o BBB, hein? Porque será que ninguém entra com ação contra a Globo, para impedir que as crianças, os jovens e os velhos vejam com seus próprios olhos que o ser humano não tem dignidade?
E o direito dos velhinhos de “babar” com coisas picantes, onde é que fica?
terça-feira, 2 de agosto de 2011
ERVA CONTRA ERVA
Janer Cristaldo
São Paulo, que é conhecida como a capital do medo e da gastronomia, ainda vai se tornar a capital das marchas. Um dia marcham os evangélicos por Jesus e contra os gays, outro dia marcham gays e simpatizantes com Jesus e contra a homofobia. Aliás, na última parada gay, o Cristo foi entronizado como o patrono da bicharada. Já os evangélicos brandem o velho Jeová, para quem bicha só matando.
Claro que cada marcha quer o maior Ibope. A Marcha para Jesus, na zona norte da cidade, segundo seus organizadores teria reunido cinco milhões de marchantes. Para a polícia foi apenas um milhão. A Parada Gay, na Paulista, teria reunido quatro milhões. Quando se sabe que a avenida comporta apenas 500 mil pessoas.
Já houve também a marcha pela liberação da maconha, marcha redundante, já que a maconha desde há muito está liberada. Que se libere então o tráfico, este sim proibido. Proibido mas tolerado. Em fins de semana, é mais fácil encontrar cannabis do que uma aspirina. Mas esta bandeira, que seria a bandeira coerente, ninguém ousa empunhar. Para começar, os traficantes não a endossam. A tal de marcha da maconha reuniu alguns maconheiros em algumas capitais do país e só serviu – como só servem as marchas – para atrapalhar o tráfego.
Aqui, ao lado de onde moro, já houve até marcha contra moradores do bairro que eram contra a construção de uma estação de metrô na Angélica. Era uma marcha contra os contra. Seus organizadores prometiam mais de 50 mil marchantes. Foram 700, segundo a polícia. Eu, que por acaso passei pela manifestação, quando se reunia em frente ao shopping Higienópolis, diria que não foram mais de 300.
Ontem, na avenida dileta dos marchantes, mais uma marcha saiu em marcha, organizada pelo Movimento Nacional Contra a Liberação da Maconha, que pretendia reunir 100 mil pessoas na Paulista. A bandeira parece não ser muito popular. Reuniu apenas 800 gatos pingados. O líder da manifestação, autodenominado xamã Gideon dos Lakotas, propunha a seguinte pergunta: "Você daria maconha ao seu filho?"
Pergunta besta, afinal são os pais que dão maconha aos filhos. O usuário de maconha é geralmente jovem e raramente tem independência econômica. A erva é normalmente paga com a mesada. Algum pai ignora que quando o filho vai a uma rave ou show de rock está na verdade indo a um banquete de drogas? Ingenuidade tem limite.
O líder da marcha contra a maconha pertence à Família Espiritual do Céu Nossa Senhora da Conceição. Segundo a entidade – leio nos jornais - "o povo brasileiro sabe que a maconha não deve ser liberada". O movimento, diz a carta, surgiu por iniciativa de um grupo de amigos e começou a ser divulgado em escolas, universidades, movimentos sociais, ONGs, além "de irmãos de fé das mais diferentes crenças e religiões".
De acordo com os organizadores, Gideon é um escritor que dá cursos e ensinamentos religiosos. O grupo, criado em Minas Gerais, se autodenomina uma obra de caridade sem fins lucrativos, dedicada ao aperfeiçoamento espiritual do ser humano. "Não queremos uma nação de drogados e viciados", diz a carta do movimento.
Vamos ao que os jornais não contam. Que é um céu? Céus é como se denominam os templos dessa seita ridícula que surgiu no Brasil, o Santo Daime. É um culto sem pé nem cabeça, criado por um seringueiro da Amazônia, cujas cerimônias consistem na ingestão da ayahuasca, beberagem feita de um cipó, que produz vômitos e diarréias, as chamadas “peias”. A nova empulhação cultua o Cristo, a Virgem... e a floresta amazônica, ecologia oblige. Pelo jeito, as tais de peias não eram muito convincentes a ponto de por si só arrebanhar acólitos. O Santo Daime então adaptou-se.
Assumiu inclusive elementos de hinduísmo, umbanda e hare krishna. Deus para todos os gostos. Aqui pertinho de São Paulo, em Nazaré Paulista, a escola espiritual tem dois gurus, um tal de Sri Prem Baba, o mestre da cerimônia, que pelo jeito é tupiniquim com nome indiano para melhor enganar. Mais o guru Sri Hans Raj Maharaji, que vive na Índia, mas já apita no Santo Daime. Mais o sedizente mestre Raimundo Irineu Serra, seringueiro brasileiro neto de escravos, que morreu em 1971, e teria sido o fundador da doutrina do chá de cipó.
Já tem até budista e hare krishna tomando chá de cipó. Para a monja tibetana Ani Sherab, o chá "oferece mais clareza para expressar e reconhecer a verdade. Com o daime, recebo muitas bênçãos e ensinamentos dos budas". Líderes das comunidade hare krishna desaprovam o daime, mas não negam que alguns membros consumam o chá. Para o professor de português Pandita, 51, Krishna se revela de formas diferentes. "O daime pode ser uma delas".
Nas cerimônias – relatava a Folha de São Paulo em 2007 – manifesta-se a salada toda. O altar é de Ganesh, deus hindu do sucesso. O som oriental de cítaras é substituído por maracás indígenas e mantras em sânscrito se sucedem a hinos em português. Não faltam sequer as entidades de umbanda. Segundo a mãe-de-santo Maria Natalina, "a ayahuasca proporciona sensibilidade maior. É um instrumento de contato superior com os orixás".
Na zona sul de São Paulo – segundo a reportagem – no Centro Espírita Sete Pedreiras, a miscigenação de crenças se repete, com orixás da umbanda, santos católicos e retratos de daimistas posicionados em lugares estratégicos do terreiro. A fusão resulta na umbandaime, que promove a mistura entre a doutrina do daime com a religião afro-brasileira. Para o antropólogo Edward MacRae, da Universidade Federal da Bahia, assim como outras religiões o Santo Daime também tem a propriedade de aglutinar elementos de outras crenças, como umbanda, traços indígenas, cristãos, afro e esotéricos, ocidentais ou orientais. Mais um pouco de criatividade vocabular e teremos o catodaime, o krishnadaime, o budidaime. O fenômeno já existe, só falta batizá-lo.
São estes sorvedores de xaropes eméticos que promovem a tal de marcha contra a maconha. No site oficial do Céu de Nossa Senhora da Conceição, você encontra o “patriarca Gideon e a matriarca Genecilda, fundadores desta obra na terra”, encimados pela imagem do Cristo, “mestre desta obra”. O site traz a história do xamã e sua batalha pela defesa da sagrada ayahuasca.
Cristo é polivalente. De Deus encarnado, virou patrono das bichas e garoto-propaganda de um caldo enauseante que provoca vômitos e diarréias.
São Paulo, que é conhecida como a capital do medo e da gastronomia, ainda vai se tornar a capital das marchas. Um dia marcham os evangélicos por Jesus e contra os gays, outro dia marcham gays e simpatizantes com Jesus e contra a homofobia. Aliás, na última parada gay, o Cristo foi entronizado como o patrono da bicharada. Já os evangélicos brandem o velho Jeová, para quem bicha só matando.
Claro que cada marcha quer o maior Ibope. A Marcha para Jesus, na zona norte da cidade, segundo seus organizadores teria reunido cinco milhões de marchantes. Para a polícia foi apenas um milhão. A Parada Gay, na Paulista, teria reunido quatro milhões. Quando se sabe que a avenida comporta apenas 500 mil pessoas.
Já houve também a marcha pela liberação da maconha, marcha redundante, já que a maconha desde há muito está liberada. Que se libere então o tráfico, este sim proibido. Proibido mas tolerado. Em fins de semana, é mais fácil encontrar cannabis do que uma aspirina. Mas esta bandeira, que seria a bandeira coerente, ninguém ousa empunhar. Para começar, os traficantes não a endossam. A tal de marcha da maconha reuniu alguns maconheiros em algumas capitais do país e só serviu – como só servem as marchas – para atrapalhar o tráfego.
Aqui, ao lado de onde moro, já houve até marcha contra moradores do bairro que eram contra a construção de uma estação de metrô na Angélica. Era uma marcha contra os contra. Seus organizadores prometiam mais de 50 mil marchantes. Foram 700, segundo a polícia. Eu, que por acaso passei pela manifestação, quando se reunia em frente ao shopping Higienópolis, diria que não foram mais de 300.
Ontem, na avenida dileta dos marchantes, mais uma marcha saiu em marcha, organizada pelo Movimento Nacional Contra a Liberação da Maconha, que pretendia reunir 100 mil pessoas na Paulista. A bandeira parece não ser muito popular. Reuniu apenas 800 gatos pingados. O líder da manifestação, autodenominado xamã Gideon dos Lakotas, propunha a seguinte pergunta: "Você daria maconha ao seu filho?"
Pergunta besta, afinal são os pais que dão maconha aos filhos. O usuário de maconha é geralmente jovem e raramente tem independência econômica. A erva é normalmente paga com a mesada. Algum pai ignora que quando o filho vai a uma rave ou show de rock está na verdade indo a um banquete de drogas? Ingenuidade tem limite.
O líder da marcha contra a maconha pertence à Família Espiritual do Céu Nossa Senhora da Conceição. Segundo a entidade – leio nos jornais - "o povo brasileiro sabe que a maconha não deve ser liberada". O movimento, diz a carta, surgiu por iniciativa de um grupo de amigos e começou a ser divulgado em escolas, universidades, movimentos sociais, ONGs, além "de irmãos de fé das mais diferentes crenças e religiões".
De acordo com os organizadores, Gideon é um escritor que dá cursos e ensinamentos religiosos. O grupo, criado em Minas Gerais, se autodenomina uma obra de caridade sem fins lucrativos, dedicada ao aperfeiçoamento espiritual do ser humano. "Não queremos uma nação de drogados e viciados", diz a carta do movimento.
Vamos ao que os jornais não contam. Que é um céu? Céus é como se denominam os templos dessa seita ridícula que surgiu no Brasil, o Santo Daime. É um culto sem pé nem cabeça, criado por um seringueiro da Amazônia, cujas cerimônias consistem na ingestão da ayahuasca, beberagem feita de um cipó, que produz vômitos e diarréias, as chamadas “peias”. A nova empulhação cultua o Cristo, a Virgem... e a floresta amazônica, ecologia oblige. Pelo jeito, as tais de peias não eram muito convincentes a ponto de por si só arrebanhar acólitos. O Santo Daime então adaptou-se.
Assumiu inclusive elementos de hinduísmo, umbanda e hare krishna. Deus para todos os gostos. Aqui pertinho de São Paulo, em Nazaré Paulista, a escola espiritual tem dois gurus, um tal de Sri Prem Baba, o mestre da cerimônia, que pelo jeito é tupiniquim com nome indiano para melhor enganar. Mais o guru Sri Hans Raj Maharaji, que vive na Índia, mas já apita no Santo Daime. Mais o sedizente mestre Raimundo Irineu Serra, seringueiro brasileiro neto de escravos, que morreu em 1971, e teria sido o fundador da doutrina do chá de cipó.
Já tem até budista e hare krishna tomando chá de cipó. Para a monja tibetana Ani Sherab, o chá "oferece mais clareza para expressar e reconhecer a verdade. Com o daime, recebo muitas bênçãos e ensinamentos dos budas". Líderes das comunidade hare krishna desaprovam o daime, mas não negam que alguns membros consumam o chá. Para o professor de português Pandita, 51, Krishna se revela de formas diferentes. "O daime pode ser uma delas".
Nas cerimônias – relatava a Folha de São Paulo em 2007 – manifesta-se a salada toda. O altar é de Ganesh, deus hindu do sucesso. O som oriental de cítaras é substituído por maracás indígenas e mantras em sânscrito se sucedem a hinos em português. Não faltam sequer as entidades de umbanda. Segundo a mãe-de-santo Maria Natalina, "a ayahuasca proporciona sensibilidade maior. É um instrumento de contato superior com os orixás".
Na zona sul de São Paulo – segundo a reportagem – no Centro Espírita Sete Pedreiras, a miscigenação de crenças se repete, com orixás da umbanda, santos católicos e retratos de daimistas posicionados em lugares estratégicos do terreiro. A fusão resulta na umbandaime, que promove a mistura entre a doutrina do daime com a religião afro-brasileira. Para o antropólogo Edward MacRae, da Universidade Federal da Bahia, assim como outras religiões o Santo Daime também tem a propriedade de aglutinar elementos de outras crenças, como umbanda, traços indígenas, cristãos, afro e esotéricos, ocidentais ou orientais. Mais um pouco de criatividade vocabular e teremos o catodaime, o krishnadaime, o budidaime. O fenômeno já existe, só falta batizá-lo.
São estes sorvedores de xaropes eméticos que promovem a tal de marcha contra a maconha. No site oficial do Céu de Nossa Senhora da Conceição, você encontra o “patriarca Gideon e a matriarca Genecilda, fundadores desta obra na terra”, encimados pela imagem do Cristo, “mestre desta obra”. O site traz a história do xamã e sua batalha pela defesa da sagrada ayahuasca.
Cristo é polivalente. De Deus encarnado, virou patrono das bichas e garoto-propaganda de um caldo enauseante que provoca vômitos e diarréias.
segunda-feira, 1 de agosto de 2011
SEM GRANA NÃO HÁ PROVIDÊNCIA DIVINA QUE AGUENTE
João Eichbaum
Nem todos sabem, e muito poucos são os que se detiveram sobre esse tema: a escravidão, no Brasil, era uma das fontes de arrecadação, ou, como se diz em direito tributário, um “fato gerador” de imposto.
Qualquer transação que envolvesse escravos, fosse importação, exportação, adjudicação, arrematação, permuta, dação, cessão ou venda, era taxada com encargos que favoreciam a Fazenda.
O negro não passava de mercadoria, tratado que era como “semovente”.
Tudo isso não passaria como acontecimento hediondo ou, na mais tênue das hipóteses, como anormalidade, aos olhos de quem encara o ser humano como espécie animal, pura e simplesmente.
É que, entre os animais, a única lei que impera é a do mais forte. No caso, os brancos eram os mais fortes, tinham dinheiro, armas e poder. Então, nada de anormal, nada de hediondo haveria nessa linha de pensamento puramente animal.
O que causa espécie, sim, é a hipocrisia.
Os governantes, aqueles que detinham o poder, tanto em Portugal como no Brasil, eram catolicíssimos. Eles estavam a serviço da Igreja e a Igreja a serviço deles, tipo uma mão lavando a outra. Mas o dinheiro que pingava nos cofres da Fazenda tinha mais valor do que as palavras de Cristo: “amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei”.
E isso, por uma única razão: era a Fazenda que abastecia os cofres da Igreja. O Estado, sob o guante da inquisição, arrecadava e a Igreja se aproveitava dessa arrecadação.
O cristianismo, para sobreviver, necessitava da hipocrisia, pois a Igreja fechava os olhos para a origem hedionda dos impostos sobre transação de escravos.
Donde se conclui: sem dinheiro, não há Providência Divina que sustente um credo.
Nem todos sabem, e muito poucos são os que se detiveram sobre esse tema: a escravidão, no Brasil, era uma das fontes de arrecadação, ou, como se diz em direito tributário, um “fato gerador” de imposto.
Qualquer transação que envolvesse escravos, fosse importação, exportação, adjudicação, arrematação, permuta, dação, cessão ou venda, era taxada com encargos que favoreciam a Fazenda.
O negro não passava de mercadoria, tratado que era como “semovente”.
Tudo isso não passaria como acontecimento hediondo ou, na mais tênue das hipóteses, como anormalidade, aos olhos de quem encara o ser humano como espécie animal, pura e simplesmente.
É que, entre os animais, a única lei que impera é a do mais forte. No caso, os brancos eram os mais fortes, tinham dinheiro, armas e poder. Então, nada de anormal, nada de hediondo haveria nessa linha de pensamento puramente animal.
O que causa espécie, sim, é a hipocrisia.
Os governantes, aqueles que detinham o poder, tanto em Portugal como no Brasil, eram catolicíssimos. Eles estavam a serviço da Igreja e a Igreja a serviço deles, tipo uma mão lavando a outra. Mas o dinheiro que pingava nos cofres da Fazenda tinha mais valor do que as palavras de Cristo: “amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei”.
E isso, por uma única razão: era a Fazenda que abastecia os cofres da Igreja. O Estado, sob o guante da inquisição, arrecadava e a Igreja se aproveitava dessa arrecadação.
O cristianismo, para sobreviver, necessitava da hipocrisia, pois a Igreja fechava os olhos para a origem hedionda dos impostos sobre transação de escravos.
Donde se conclui: sem dinheiro, não há Providência Divina que sustente um credo.
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