João Eichbaum
Nem todos sabem, e muito poucos são os que se detiveram sobre esse tema: a escravidão, no Brasil, era uma das fontes de arrecadação, ou, como se diz em direito tributário, um “fato gerador” de imposto.
Qualquer transação que envolvesse escravos, fosse importação, exportação, adjudicação, arrematação, permuta, dação, cessão ou venda, era taxada com encargos que favoreciam a Fazenda.
O negro não passava de mercadoria, tratado que era como “semovente”.
Tudo isso não passaria como acontecimento hediondo ou, na mais tênue das hipóteses, como anormalidade, aos olhos de quem encara o ser humano como espécie animal, pura e simplesmente.
É que, entre os animais, a única lei que impera é a do mais forte. No caso, os brancos eram os mais fortes, tinham dinheiro, armas e poder. Então, nada de anormal, nada de hediondo haveria nessa linha de pensamento puramente animal.
O que causa espécie, sim, é a hipocrisia.
Os governantes, aqueles que detinham o poder, tanto em Portugal como no Brasil, eram catolicíssimos. Eles estavam a serviço da Igreja e a Igreja a serviço deles, tipo uma mão lavando a outra. Mas o dinheiro que pingava nos cofres da Fazenda tinha mais valor do que as palavras de Cristo: “amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei”.
E isso, por uma única razão: era a Fazenda que abastecia os cofres da Igreja. O Estado, sob o guante da inquisição, arrecadava e a Igreja se aproveitava dessa arrecadação.
O cristianismo, para sobreviver, necessitava da hipocrisia, pois a Igreja fechava os olhos para a origem hedionda dos impostos sobre transação de escravos.
Donde se conclui: sem dinheiro, não há Providência Divina que sustente um credo.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário