sexta-feira, 12 de agosto de 2011

RELIGIÃO

João Eichbaum

São de Ambrose Bierce, segundo Marcelo da Luz em “ONDE A RELIGIÃO TERMINA?”, as seguintes palavras: “ a religião é a filha da Esperança e do Medo, tentando explanar para a Ignorância a natureza do Desconhecido”..
Que a religião foi criada pelo medo dos animais pensantes não resta a mínima dúvida. Não é demais repetir que, não encontrando explicações para os maus humores da natureza, como raios, trovões, tempestades, nossos ancestrais admitiram a própria pequenez e a impotência diante de tais fenômenos, atribuindo-os aos poderes de alguma divindade.
Plantada sobre tão fértil terreno, a idéia da divindade só podia criar raízes e crescer, porque os primatas de então não dispunham das ferramentas de raciocínio que só foram desenvolvidas no curso da evolução da espécie humana.
Assim arraigada, estabelecida de modo irreversível, não só no indivíduo como também na coletividade, passando de geração em geração, essa idéia foi facilmente trabalhada, mais tarde, pelos primeiros espertinhos que viram, na crença, um ótimo meio de vida, que dispensava o batente. A esses ocorreu a idéia de jungir o medo à esperança, para fortalecer a crença na divindade.
E tal idéia se propagava da seguinte forma: não, a morte não é o fim, é meio, é o caminho para o encontro com a divindade. Ora, quem é que não iria aderir a tal idéia, a idéia de que não existe o fim, e de que a vida tem continuidade, aconteça o que acontecer?
Então, realmente, é sobre o medo e a esperança que se assenta a religiosidade.
Mas, a segunda parte do pensamento de Ambrose Bierce é um tanto nebulosa. O “desconhecido” é desconhecido e ponto final. Se é “desconhecido” não pode oferecer elementos para que se lhe descubra a natureza.
A menos que Bierce se refira aos “mensageiros” das religiões, que vendem um peixe que não pescaram, praticando estelionato.
E na realidade é isso que acontece: os que pregam as religiões e se dizem “intérpretes” da palavra divina não passam de vendedores de lorotas, porque até hoje ninguém voltou do “Desconhecido” com provas concretas da existência de alguma divindade. E se a “ignorância” é fruto da ausência de racionalidade, então Bierce tem toda a razão, porque bastam o medo e a esperança para alguém sucumba ao domínio dos sentimentos religiosos.

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