sexta-feira, 30 de setembro de 2011

NÃO EJACULARÁS (II)

João Eichbaum
Dia desses eu estava pensando filosoficamente: haverá alguma coisa que arde mais do que tirar empréstimo para pagar cirurgia de hemorróidas? Quer dizer, saldar em doze prestações, por exemplo, com juros e correção monetária, uma metida de bisturi no traseiro?
E concluí: sim, sim, é pagar pensão alimentícia na marra, por ejaculação descuidada.
Sabe a Tamar? A viúva do Er, nora do Jacob. Devia ser boazuda. Tamar não é nome de mulher comum. É nome de mulherão, mulher exótica.
Você, por acaso, conhece alguma outra Tamar, que não seja essa da bíblia?
Se você conhece, é uma só, única e inconfundível.
Qualquer macho fica curioso em conhecer uma mulher com nome de Tamar porque, se o nome é exótico, a dona dele também deve sê-lo.
E Tamar devia ter cabelos negros e longos, olhos também negros, cheios de brilho, levemente oblíquos, peitos bem pronunciados, cintura estreita e ilhargas provocantes. Esse nome, Tamar, não é nome de mulher feia, enfadonha, sem bunda.
Mas, não era da Tamar, propriamente, que eu queria falar. Eu queria falar dos perigos da ejaculação fora da casinha.
O Onan não queria engravidar sua bela cunhada, a Tamar. Sabem vocês o que ele fazia, no momento mais sublime da transa, que é clímax, aquele momento em que o céu se aproxima sem a gente saltar, a terra treme sem a gente pisotear nela, a alma e o corpo se enchem de bemaventurança e a gente viaja numa coisa bem melhor que a maionese? Nessa hora, o Onan tirava o dele fora e mirava o chão, desperdiçando a matéria prima tão caprichada pela próstata.
Por isso, diz a bíblia, o Senhor o matou. Isso quer dizer que Deus não gosta de onanismo, desperdício de matéria prima. Onanismo? Ah, ta bem: punheta, entenderam?
Olhem só o caso daquele meu amigo que foi castigado pela prática do onanismo. Ele é um cara legal, casado com um mulherão desses de se colocar cones na rua e guarda com apito na boca para parar o trânsito.
Pois apesar daquele monumento em casa, o meu amigo teve o azar de conhecer outro mulherão, do mesmo naipe, de fechar o comércio e exigir desfile militar. Só que, com medo de pegar pensão alimentícia com desconto no contracheque, ele também botava fora o material que a próstata fabricava.
Mas, um dia se deu mal. Quem praticou o onanismo nele foi o mulherão esse, a segunda, a do banco de reservas. Sabem o que ela fez? Na hora em que ele ia fazer o mesmo que fez o Onan, deitando por terra a matéria prima da vida, ela encheu a mão com aquela sopa de espermatozóides e, com o mimoso dedinho indicador, os encaminhou para o canal competente, torcendo para que algum deles pegasse carona num óvulo.
Foi pensamento positivo, deu na mosca. Nove meses depois, mais um bebê berrava na maternidade.
Foi só o dedo – jura o meu amigo, até hoje, para a esposa corneada, que acredita no Papai Noel, no Lula e em todos os políticos do PT.
Por respeitar juramentos, ela acredita piamente. Mas por causa do mimoso dedinho indicador, ele está pagando pensão alimentícia.
Sorte dele que, por enquanto, não sofre de hemorróidas.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

A BÍBLIA LIDA PELO DIABO

João Eichbaum

6 Então arrependeu-se o Senhor de haver feito o homem sobre a terra, e pesou-lhe em seu coração

Perdeu o controle, deixou que o desastre se consumasse, se arrependeu e quis cair fora. Que tipo de deus seria o Javé? Um Deus sem onisciência? Não sabia Ele, de antemão, que tudo seria assim, que sua obra de seis dias ir dar nessa merda toda?
Comecemos com a serpente. Quem é que criou a serpente, esse bichinho viscoso, traiçoeiro, cheio de veneno pra dar? Não foi Ele? E não sabia que a serpente iria seduzir a mulher? E não sabia que a curiosidade da mulher é irreprimível?
De tudo o que se viu até aqui, a conclusão é inevitável: Javé é um deus fraco, dotado das mesmas fraquezas do homem a quem criou: fez as coisas sem pensar, teve acessos de cólera, expulsou Adão e Eva do Paraíso, perdeu o controle do mundo, se desencantou, se arrependeu. Ele, como criador do mundo e do homem, tinha a obrigação de tornar feliz a sua criatura. Como não o fez, o homem se virou como pode e descobriu que a maneira mais simples de conseguir a felicidade é se corrompendo.
Que o digam os políticos.

7 E disse o Senhor: destruirei o homem que criei sobre a face da terra, desde o homem até ao animal, até ao réptil, e até à ave dos céus, porque me arrependo de os haver feito.

O negócio dEle era chutar o balde, pra ficar feliz, antes que fosse tarde.
Mas como é que no começo Ele achava “tudo bom”?
Só se pode concluir que Ele não tinha nem noção do que estava fazendo, fez tudo no impulso, sem medir as conseqüências, sem um plano, e dizia que era bom, quando, na verdade, deveria dizer: “quero ver se essa porra vai dar certo”.
Mais um acesso de fúria. E agora uma fúria assassina, destinada a matar pecadores e justos. Que culpa teriam os animais, os pobres passarinhos, por exemplo, da corrupção humana?
Ao invés de exterminar a raça humana, não deveria Ele, usando seus poderes, transformá-la, reeducá-la, fazer dela seus servos dóceis e fiéis?
Ou então, como fazem os políticos, varrer tudo pra baixo do tapete.
O mau humor nele era mais forte do que a misericórdia, o impulso, mais forte do que a razão. Se tinha poderes para destruir, não os teria para transformar?

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

FILOSOFIA SEM LÓGICA

João Eichbaum

Nunca fui chegado à filosofia por uma simples razão: a linguagem ambígua dos filósofos. As poucas frases, atribuídas a filósofos, que li, sempre me puseram num caldeirão de dúvida: ou eu sou muito burro, ou os filósofos não sabem se expressar com clareza.
Na semana passada esteve em Porto Alegre, a convite da PUC – Pontifícia Universidade Católica – um tal de Alvin Platinga, em cujo currículo se lê que “obteve doutorado em filosofia na University of Yale” e que foi presidente da American Philosophical Association.
Pois esse tal de filósofo, segundo o texto escrito no Caderno de Cultura do jornal Zero Hora, por Roberto Hofmeister Pich, do Programa de Pós-graduação em Filosofia da PUCRGS, tem interesses voltados “ao tema clássico da relação entre fé e razão e à busca de formular uma adequada epistemologia da crença religiosa teísta – em que o “teísmo” reúne as convicções de que um Deus pessoal existe, criou o universo e é onipotente, onisciente e infinitamente bom”.
Ressalto: o texto foi escrito por um professor de filosofia, do “Programa de Pós-graduação em Filosofia da PUCRGS”, provavelmente um “doutor”. E o cara vem dizer que o filósofo americano tem interesses voltados “...à busca de formular uma adequada epistemologia da crença religiosa teísta...”
“Interesse voltado à busca de formular”...? Que construção é essa? Lá é isso linguagem extraída das regras do vernáculo?
É uma redação de filósofo. Ou seja, de pessoa que não sabe se exprimir com clareza, sem ambiguidades. Qualquer pessoa normal, que não tenha o pensamento afetado por elucubrações filosóficas, diria: “interesse voltado à formulação de uma epistemologia”. Se o cara anda “ à busca de formular” ele está zanzando, viajando na maionese, mas não está formulando coisa nenhuma.
Mas, tem mais: você conhece alguma “crença religiosa” que não seja “teísta”? Você conhece alguma religião sem deus?
Então o filósofo, do “Programa de Pós-graduação em Filosofia da PUCRGS” não precisava acrescentar o adjetivo “teísta” à expressão “crença religiosa”. Dizer que uma crença religiosa é “teísta” é o mesmo que dizer: “está chovendo uma chuva molhada”.
A afirmação de que “um Deus pessoal existe, criou o universo e é onipotente, onisciente e infinitamente bom”, atribuída ao filósofo americano Alvin Platinga, está muito longe de qualquer lógica, porque não parte de princípios comprovados. Quer dizer, não tem premissas. A miséria, a fome, a maldade, a injustiça, a dor, entre tantos outros males que afligem a natureza humana, serviriam como prova, sim, da “impessoalidade” desse Deus. Se ele fosse “onisciente”, teria previsto “a corrupção geral do gênero” (Gênesis, cap. 6) que o levou a arrepender-se de ter criado o homem (Gênesis, cap. 6, versículo 6). Se fosse “onipotente” teria extirpado a maldade da face da terra, ao invés de atribuí-la ao homem que, se foi criação sua, está cheia de defeitos de fabricação. Finalmente, se fosse “infinitamente bom” não teria exigido o sangue de seu próprio filho, em espetáculo bem ao gosto da patuléia.
Para confirmar a regra de que filósofo não sabe se expressar com clareza, há uma exceção, a de um filósofo que sabe escrever, e muito bem: é Janer Cristaldo. E ele, como filósofo, tem autoridade para afirmar, como afirmou, em sua crônica, ontem publicada neste blog: “acreditar em Deus já é uma falha lógica. Que milhões de pessoas acreditem numa ficção, isto é questão de fé e não se discute. O que não se pode afirmar é que seja questão de lógica. Lógica nenhuma permite afirmar a existência do que não existe.”
Isso, sim, é filosofia. Porque sem lógica não existe filosofia. A lógica é o fermento de qualquer postulado. Sem ela, o que se pretende como postulado não passa de blábláblá.
Mas, por aqui sempre tem alguém disposto a patrocinar palestras de doutores em blábláblá, para enrolar deslumbrados, dizendo coisas que barbeiros ou motoristas de táxi diriam com mais clareza.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

HARVARD DESCOBRE A AMÉRICA

Janer Cristaldo

Há quem pense que sou um ateu militante, que luta para atrair os crentes à sua causa. Nada disso. Ateu, eu o sou desde minha adolescência. Ou melhor, desde nascido. Nascemos todos ateus. Quem nos faz crer em Deus é a igreja, escola, a família, o Estado. No meu caso, foi uma catequista uruguaia, Doña Chichi.
Eu vivia no campo, em um universo mais pagão que religioso. Meus pais acreditavam vagamente que deveria existir alguém que criara aquelas canhadas e coxilhas e inclusive nós mesmos. Era uma crença vaga, de pessoas incultas que do mundo pouco ou nada entendiam. Morávamos em Upamaruty, distrito rural de Livramento. Havia uma capela nas Três Vendas, no município vizinho de Dom Pedrito. A cada domingo, vinha um padre da cidade celebrar uma missa.
Quem nos levou para as missas – e para a catequese – foi Doña Chichi, mulher de um fazendeiro uruguaio, don Soilo. A cada domingo, Doña Chichi passava em sua camioneta pela Linha Divisória, arrebanhando a piazada. Automóvel, para nós, era uma aventura. Entrávamos com entusiasmo na caçamba e só a viagem já valia uma missa.
Acreditei naquelas potocas todas, fiz primeira comunhão, me submeti a essa suprema humilhação que se chama confissão e tentei, naqueles anos, ser um bom cristão. Cada vez que julgava ter cometido um pecado, me ajoelhava no chão de terra e pedia perdão a Deus. Esta genuflexão ridícula é o que mais tarde me fez abominar na Igreja. Eu me ajoelhava ante o que não existe, para pedir perdão por algo que nada tinha porque ser perdoado.
Doña Chichi, por sua vez, nos fazia pedir ao grande Deus do universo para que não chovesse, “para que nuestras carreteras se mantengan en buenas condiciones, para llevar nuestra safra de lana a la ciudad”. Era sua maneira de interpretar a função de Deus no universo.
Durante uns quatro ou cinco anos, fui à missa a cada domingo, rezei, confessei e comunguei. Fui congregado mariano e, mais ainda, fui presidente da Congregação Mariana. Por uma questão de coerência, acabei destruindo a Congregação Mariana. Teria uns quinze anos. Foi meu primeiro serviço prestado à humanidade.
Voltei a meu ateísmo primevo quando comecei a ler a Bíblia. Não há fé que resista a uma leitura atenta da Bíblia. Desde o Gênesis, vê-se que deus é uma criação dos homens. Terá sido por isso que a Igreja desrecomendava a leitura da Bíblia antes do trinta anos. Se você chegou aos trinta acreditando em Deus, dificilmente renegará sua crença.
A respeito de crônica recente, sobre o embuste das medicinas do Além, me escreve Marcelo Araújo:Picaretagem??? Superstições??? Embustes??? O seu texto até que nos faz parar para pensar nos profissionais da medicina, porém, a sua forma de se dirigir às pessoas citadas, nos lembra os orgulhosos Patrícios do 1º século. Que se discorde das idéias, tudo bem. Mas, utilizar destas palavras, me parece uma falta de respeito muito grande.
Caro, toda religião é picaretagem. Padres, seja a qual religião pertençam, vivem de enganar o próximo. Sustentam-se vendendo vento. Comprei vento, em minha juventude. Mas lá por meus quinze anos considerei não ser bom negócio comprar vento. Achar que chamar de picaretagem a condenação das religiões é falta de respeito, é o mesmo que chamar de falta de respeito condenar a corrupção do governo e do Congresso Nacional.
Que as pessoas creiam no que quiserem e felicidades a todos! Para mim, tanto faz como tanto fez. O que não se admite é atribuir a instâncias do Além o trabalho de médicos, enfermeiros e máquinas.
Minha cura se deveu em boa parte à medicina de ponta e à excelência do corpo médico – e também dos físicos - do Sírio-Libanês. Além da competência, fui tratado com um carinho como se eu fosse, não um cliente, mas um amigo de todos. E graças, muito especialmente, à Siemens e à sua metodologia IMRT - Intensity Modulated Radiotherapy - Radioterapia com Intensidade Modulada, uma tecnologia avançada de radioterapia. O aparelhinho, um acelerador linear de última geração, que custa um milhão de dólares – mais outro milhão pelas instalações e softwares – cura determinados cânceres com mais eficiência e menores danos que as técnicas anteriores.
Quem atribui a Deus sua cura, após ter sido tratado em hospitais de excelência, deveria ter seu nome posto numa lista negra e jamais ser aceito em hospital algum. Que apele a Deus, ao Dr. Fritz, ao Queiroz. Mas que não ofenda o esforço continuado dos cientistas em desenvolver cada vez melhores instrumentos de cura.
Em meio a isso, leio na Folha de São Paulo de hoje reportagem afirmando afirmando que pessoas que acreditam em Deus têm mais chance de cometer falhas lógicas levadas pela intuição. Ora, acreditar em Deus já é uma falha lógica. Que milhões de pessoas acreditem numa ficção, isto é questão de fé e não se discute. O que não se pode afirmar é que seja questão de lógica. Lógica nenhuma permite afirmar a existência do que não existe.
Segundo a reportagem, muita gente rejeita o estereótipo que descreve ateus como pessoas racionais e analíticas e religiosos como intuitivos e espontâneos. Um experimento feito na Universidade Harvard, porém, sugere que esse clichê pode ter um fundo de verdade. No trabalho, cientistas avaliaram o estilo de raciocínio preferido por mais de 800 voluntários e viram que aqueles com tendência maior a usar a intuição eram mais propensos a crer em Deus e entidades sobrenaturais. O resultado do experimento saiu em um estudo publicado na revista científica Journal of Experimental Psychology. O trabalho, coordenado pelo psicólogo Amitai Shenhav, indica que pessoas mais racionais tendem a crer menos em Deus.A Universidade Harvard, pelo jeito, está descobrindo a América. É óbvio que um ser racional não pode acreditar em deus ou deuses. Esta crença é atributo dos tais de intuitivos. E eles são legião.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

PROSELITISDMO A QUALQUER PREÇO

João Eichbaum



Vocês sabiam da existência de uma tal de COORDENAÇÃO GERAL DA DIVERSIDADE RELIGIOSA DA SECRETARIA DE DIREITOS HUMANOS DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA?
Pois é, existe. E com esse nome pomposo só podia ser coisa do governo petista. E também só podia ser coisa do governo petista por duas outras razões, para empregar a companheirada e tirar o nosso dinheiro.
A coordenadora geral da dita Secretaria é a “companheira” Marga Ströher, que veio a São Leopoldo para participar de Seminário de Diversidade Religiosa, promovido pela Faculdade EST, na tarde de quarta-feira passada.
Olhem só o discurso da companheira: “o que discutimos é que a religião tem um potencial nas políticas públicas e na cidadania, por isso é preciso combater a intolerância a culto religioso”.
Então, fundamentalmente, a questão é política. A religião, no dizer da “companheira”, tem influência na política e por isso é necessário preservá-la contra a intolerância religiosa – que até hoje não mostrou as caras, fechando estradas, invadindo propriedades privadas, atravancando o trânsito, devastando plantações, protestando contra a divindade, etc.
Claro, é exatamente como o PT gosta. A matéria prima com que o PT trabalha é a massa de manobra, a mesma massa em que investem as religiões para prometer o céu, o perdão dos pecados, a conversa com os entes do além, a cura das doenças, etc, E como ninguém é de ferro, para tudo isso o custo não passa de exíguas côngruas.
A diferença reside no seguinte: enquanto as religiões usam o dinheiro dos crentes para custear as viagens do Papa, as riquezas do Vaticano, o poderio econômico, enfim, das Igrejas Católica e Protestante, e a vida nababesca, as redes de televisão e muitas outras fontes de arrecadação do Edir Macedo e de outros bispos e bispas menos votados, o PT usa o nosso dinheiro, o dinheiro que nós, os que trabalhamos (muitos dispensando Deus) somos obrigados, sob pena de execução ou até de prisão, a entregar para o governo.
Quem nos informa isso é a própria “companheira” Marga Ströher: “estamos percorrendo cidades do país desde o início desse semestre e a nossa intenção é dialogar e criar um Conselho Nacional de Promoção da Diversidade Religiosa”.
Quer dizer, diárias e passagens aéreas, para percorrer o país, “dialogando” às nossas custas. Depois, jetons para os membros do tal de Conselho Nacional. Tudo debitado em nossa conta.
Tudo isso seria até admissível num país em que, para que fossem respeitados os fundamentais direitos humanos, não houvesse miséria, desemprego, gente dormindo nas ruas, filas de SUS, falta de hospitais, de escolas, de universidades públicas, e no qual o sistema carcerário fosse eficiente e a segurança mais eficiente ainda. Ai, com o dinheiro que sobrasse, funcionários públicos concursados poderiam viajar para defender os cultos religiosos contra os perigosíssimos e incessantes ataques dos ateus, para discutir abobrinhas e para a criação de Conselhos Nacionais de Abobrinhas.
Mas, por ora, não. Temos necessidades essenciais que estão longe de ser supridas, e não se tem notícia de ataque algum contra os cultos religiosos, cuja linha de ação é a mesma dos políticos: prometem o que não podem cumprir.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

MENSAGEM DO CATELLI

Janer Cristaldo



Caro Janer,Saudações!

Li seu ótimo artigo "Veja endossa medicina do além". Você esqueceu de mencionar que essa tal Mara Mazan morreu em novembro de 2009 - o artigo em que você originalmente criticava essa contumaz ingratidão para com os que realmente curam era de março daquele ano, pelo que pesquisei em seu site. Ou seja: Dr Fritz falhou vergonhosamente, mesmo dominando técnicas avançadíssimas da tal "medicina do além".Pergunta: por que orações pouco adiantavam antes de Alexander Fleming e agora curam tanto? Por que orações curavam pouco quando não havia técnicas avançadas de cirurgia?Por que não rezam pela paz no Oriente Médio, pela cura da AIDS ou que o dedinho amputado do Lula cresça... Sabemos que o seu deus não cura amputados, nem que todas as pessoas do mundo peçam com fé incessantemente por meses a fio.O crente acredita que melhorou pelo fato de ter pedido pela sua saúde à Senhora das Graças? Bravo! Partindo desse pressuposto, deve as melhoras à Santa porque ela o ajudou. E se não tivesse melhorado, seria por recusa da Santa em o ajudar? Aí não, claro! Seu deus sabe o que é melhor para ele, para sua alma. O crente blinda seu deus, que é louvado quando atende a preces e quando não atende - é louvado aqui por ter lhe dado forças para suportar o infortúnio. Ora, então o crente pio que pediu com fé devia colocar uma plaquinha de agradecimento na gruta da Santa por não ter sido curado, afinal seu deus sabe o que é melhor para ele e para a humanidade.E quando tem sucesso, o infinito orgulho de nossa raça ajuda-o a crer que mereceu ser curado enquanto milhões de outras pessoas que têm a mesma crença estão na fila de espera há anos por um milagrezinho. Ele é muito especial para o seu deus!Mas considero isso normal. Quando crentes se sentem impotentes perante algumas agruras da vida, gostam de ter um ser onipotente à disposição, para atender aos seus desejos, qual gênio da lâmpada, e a prece (a prece que pede por algo, não a que agradece, que por vezes é fruto apenas de felicidade transbordante e por vezes medo de ser mal-agradecido e perder o que foi conquistado por ser muito especial aos olhos de deus) é uma espécie de joystick com que julgam controlar esse ser onipotente... E aí se sentem potentes...Digamos que 0,15% da população mundial contraia uma doença nova da qual a chance de o contagiado se curar seja de uma em cem - 1%. Quem ouve de um médico "sua chance de sair vivo desta é de 1%" considera-se praticamente morto, não?A população mundial é de 6,6 bilhões. Teremos quase 10 milhões de desgraçados no mundo que contraíram a doença. Quase todos terão algum deus e rezarão para ele, embora se considerem praticamente mortos. No fim das contas, teremos 100 mil pessoas salvas "miraculosamente" mundo afora a dar testemunho diário do quanto seu deus é poderoso, afinal estavam "praticamente mortas". As outras milhões estarão mortas e não terão chance de dar testemunho diário de coisa alguma. Estatística é isso aí! Se a possibilidade de ganhar em determinado jogo é de uma em um milhão e cinco milhões jogarem, provavelmente teremos cinco ou seis ganhadores, dez, quem sabe. E todos eles se considerarão agraciados pelos deuses, afinal rezaram antes de jogar... Assim como rezaram também os outros que não ganharam...Mas vou além, caro Janer. Amiúde acreditam também em destino, nossos crentes. Se 200 morrem em um acidente de avião, era a hora deles. Se um se salva, era porque não era a hora dele. Se a caminho do hospital a ambulância bate e ele morre, é porque realmente era a hora dele, mas se não morre é porque realmente não era a hora dele. Se perde o voo é porque não era sua hora. Se consegue embarcar pela fila de espera e morre é porque realmente era sua hora...Pergunto: por que colocar cinto de segurança, por que ir ao hospital, por que se medicar? Por que chamar o Dr. Fritz? Já não está escrita a hora de cada um?Tenho pena...

Um grande abraço!Catelli

Pois, Catelli, eu não sabia da morte da Mazan. Pelo jeito, o Dr. Fritz de nada lhe valeu. As declarações da atriz se mostram de um ridículo atroz:- Antes de eu tirar o tumor de meu pulmão, eu já havia sido operada espiritualmente pelo Doutor Fritz (incorporado por Edson Queiroz), indicado pela minha amiga e cantora Alcione. Os tumores que existiam em meu pulmão diminuíram consideravelmente e, quando a equipe do médico Riad Yunis fez a retirada do tumor maligno, não houve nenhum tipo de complicação. (...) Foi uma coisa surreal, mas muito bacana. O meu tratamento foi inteiramente realizado na base da oração. Fiquei sentada em uma cadeira e começaram a rezar. Logo eu comecei a sentir meu corpo dormente, como se tivesse sido anestesiada. Entrei em alfa e depois vomitei um líquido verde, parecendo a personagem Sarah, de O Exorcista.
De fato, foi uma coisa muito bacana. Entrou em alfa, vomitou... e morreu. Quanto a isso de aviões, sempre me espantaram as declarações de quem se salva de um desastre aéreo: "Graças a Deus". Mas que deus é esse que matou os demais passageiros e tripulantes?
Falando nisso, vivi uns bons quatro anos em pânico ante a perspectiva de voar. É que levei um susto aterrissando numa pista no Saara argelino. O piloto mandava atar os cintos, que estávamos aterrissando, e eu, mesmo a uns quatro ou cinco metros do solo, só via areia. É hoje, pensei. Não era. Os aeroportos no deserto são assim mesmo, a pista só surge quando o avião está encostando o solo.
Vai daí que, por quatro longos anos, se eu tinha de voar, dois meses antes eu já não conseguia dormir bem. Comecei a interrogar-me e descobri que eu não tinha medo de voar. Mas medo de morrer. Ninguém tem medo de voar. O medo é outro. Até que um dia conclui que a morte é inevitável mesmo e assim sendo, que aconteça o que tiver de acontecer. Hoje, mal o avião decola, já estou dormindo.
Não estou preocupado com minha hora. Mas sempre pode ser a hora do piloto. Da morte, não alimento mais medo algum. Mas sei que me sentirei muito triste ao abandonar uma festa que vai continuar. Talvez eu chore, como chorei em Madri, ao dar-me conta de que estava abandonando aquela festa toda para voltar ao Brasil.
Em meio a isso, que pobres de espírito busquem muletas metafísicas para enfrentar a morte, isto não me surpreende. O que me surpreende é ver médicos negando suas próprias ciências e assumindo as tais de medicinas do Além.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

A BÍBLIA LIDA PELO DIABO

João Eichbaum

6 Então arrependeu-se o Senhor de haver feito o homem sobre a terra, e pesou-lhe em seu coração.

Perdeu o controle, deixou que o desastre se consumasse, se arrependeu e quis cair fora. Que tipo de deus seria o Javé? Um Deus sem onisciência? Não sabia Ele, de antemão, que tudo seria assim, que sua obra de seis dias ir dar nessa merda toda?
Comecemos com a serpente. Quem é que criou a serpente, esse bichinho viscoso e traiçoeiro? Não foi Ele? E não sabia que a serpente iria seduzir a mulher? E não sabia que a curiosidade da mulher é irreprimível?
De tudo o que se viu até aqui, a conclusão é inevitável: Javé é um deus fraco, dotado das mesmas fraquezas do homem a quem criou: fez as coisas sem pensar, teve acessos de cólera, expulsou Adão e Eva do Paraíso, perdeu o controle do mundo, se desencantou, se arrependeu. Ele, como criador do mundo e do homem, tinha a obrigação de tornar feliz a sua criatura. Como não o fez, o homem se virou como pode e descobriu que a maneira mais simples de conseguir a felicidade é se corrompendo.
Que o digam os políticos.

7 E disse o Senhor: destruirei o homem que criei sobre a face da terra, desde o homem até ao animal, até ao réptil, e até à ave dos céus, porque me arrependo de os haver feito.

O negócio dEle era chutar o balde, pra ficar feliz, antes que fosse tarde.
Mas como é que no começo Ele achava “tudo bom”?
Só se pode concluir que Ele não tinha nem noção do que estava fazendo, fez tudo no impulso, sem medir as conseqüências, sem um plano, e dizia que era bom, quando, na verdade, deveria dizer: “quero ver se essa porra vai dar certo”.
Mais um acesso de fúria. E agora uma fúria assassina, destinada a matar pecadores e justos. Que culpa teriam os animais, os pobres passarinhos, por exemplo, da corrupção humana?
Ao invés de exterminar a raça humana, não deveria Ele, usando seus poderes, transformá-la, reeducá-la, fazer dela seus servos dóceis e fiéis?
Ou então, como fazem os políticos, varrer tudo pra baixo do tapete.
O mau humor nele era mais forte nele do que a misericórdia, o impulso, mais forte do que a razão. Se tinha poderes para destruir, não os teria para transformar?

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

DA UNIVERSIDADE POUCO OU NADA SE PODE ESPERAR

Janer Cristaldo

De Laís Legg, médica, recebo:

Oi, Janer:Li tua matéria sobre as crendices. Realmente, a indignação toma conta da gente quando lemos coisas assim. Se deu certo o tratamento, ”foi Deus”. Se não deu certo e o paciente morreu, “Ele escreveu certo por linhas tortas”. E quando um médico acredita nisso, sinto arrepios.O vestibular de Medicina é o mais difícil de todos e o curso é o mais longo de todos. Ainda assim, após seis anos de graduação, o médico ainda não está pronto para o mercado, precisa enfrentar nova tarefa hercúlea que é a de passar na residência. Somente após nove anos será um especialista.O que muita gente não sabe é que os acadêmicos de Medicina são percentil 98, ou seja, somente 2% dos candidatos do vestibular estão à sua frente. Podem observar nas listagens de aprovação: a grande maioria dos primeiros colocados nos demais cursos não ingressaria em Medicina, estão abaixo do último colocado. E eu falo, aqui, de Engenharia, Arquitetura, Economia, etc. Será que Deus interfere nisso, também? E a capacidade de cada um, onde fica? E a dedicação, as horas de estudo? A genética?Podemos medir a temperatura da coisa ligando a TV, à tarde. Onde está a Vigilância Sanitária? Vemos propagandas mirabolantes, prometendo curas assombrosas com o uso de cartilagem de tubarão, lodos do Vesúvio, cogumelos e o escambau. Comecei a pensar que, talvez, Deus esteja fazendo uma espécie de “seleção natural”...Sempre me causou espécie o fato de não acontecer a “baixa” de espíritos de advogados e engenheiros, por exemplo. Gostaria de ver alguém aprovando, na Prefeitura, um projeto de Engenharia recebido por um médium que “incorporou” algum profissional desencarnado e desenhou a planta. Ou, quem sabe, um agravo de instrumento recebido de algum desembargador que foi desta para a melhor? O que achas? Por que será que é só a Medicina tem essas prerrogativas, hein? Será que o além é preconceituoso?
Abraços,Laís

Pois, Laís, ainda não vi espírito baixando em engenheiros. Nem em economistas. Mas não duvido que haja por aí engenheiros espíritas, recebendo projetos do Além. Quanto a advogados, o Brasil tem até associações jurídico-espíritas. Há juízes defendendo o testemunho via declarações mediúnicas do Além. Em maio de 2008, o Estadão denunciava estas práticas:
“Sob a justificativa de tornar a Justiça “mais sensível às questões humanitárias” e discutir questões morais como aborto, eutanásia, pena de morte e pesquisas de células-tronco, um grupo de delegados de polícia, advogados, promotores, procuradores e juízes acaba de criar a Associação Jurídico-Espírita de São Paulo (AJE), com cerca de 200 filiados. Entidades semelhantes já existem no Rio Grande do Sul e no Espírito Santo e a maior delas é a Associação Brasileira de Magistrados Espíritas (Abrame), que reúne 700 juízes, desembargadores e até mesmo ministros de tribunais superiores”.
O jornal publicou declarações de ilustres causídicos defendendo os testemunhos do Além: “O Estado é laico, mas as pessoas não. Não tem como dissociar e dizer: vou usar a minha fé só dentro do centro espírita”, diz o promotor Tiago Essado, um dos fundadores da AJE. “Não enxergaria nenhuma diferença entre uma declaração feita por mim e uma declaração mediúnica, que foi psicografada por alguém”, afirma Alexandre Azevedo, juiz-auxiliar da presidência do Conselho Nacional de Justiça. “Não acredito em acaso, mas numa ordem que rege o universo, acredito em leis universais”, endossa o juiz Jaime Marins Filho. É preciso “questionar os poderes constituídos para que o direito e a Justiça sofram mais de perto a influência de espiritualizar”, conclui o juiz federal Zalmino Zimmermann, presidente da Abrame”.
Em vários Estados, advogados vêm apresentando aos Tribunais do Júri declarações psicografadas como estratégia de defesa. Nesse tipo de julgamento, como é sabido, os jurados não precisam fundamentar seus votos. Os juristas espíritas alegam que a psicografia pode ser levada em consideração desde que esteja em “harmonia” com as demais provas.
Quando o Judiciário brasileiro tem pelo menos 700 juízes, desembargadores e até mesmo ministros de tribunais superiores acreditando em superstições, vai mal a Justiça no país. Não bastassem as associações de magistrados espíritas, temos também as de médicos espíritas. Espiritismo é doença que, embora tendo nascido na França, viceja melhor em países pobres. Allan Kardec está sepultado no Père Lachaise, em Paris, mas são raros os franceses que sabem de quem se trata.
A doutrina criou raízes, fundamentalmente, no Brasil e nas Filipinas. O Brasil tem associações médico-espíritas em praticamente todos os Estados. Já existe uma Associação Médico-Espírita (AME-Internacional) que, ano passado, em um Congresso em Valencia, Espanha, reafirmava seu compromisso com a Medicina da Alma, com o estabelecimento de um novo paradigma de saúde no século XXI, que considera o homem como um ser integral, constituído de corpo físico, periespírito ou corpo espiritual e alma. Reafirmamos, em consequência , nosso compromisso com a prática da Medicina Integral que cuida do ser humano â luz da Espiritualidade.
Ou seja, já temos médicos tratando não só do corpo, mas também do periespírito. O que só comprova que universidade não é infensa à superstição. Pessoas com educação superior não conseguem fugir ao temor da morte. É este temor que cria religiões. Paulo sabia muito bem disto, quando escreve na 1ª Epístola aos Coríntios: “se Cristo não foi ressuscitado, logo é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé”. E larga sua bravata, que atravessou os séculos: "Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão?"
A vitória da morte estava ali, a seu lado. Era preciso negar o óbvio, para criar uma superstição. Meu primeiro contato com espíritas ocorreu quando minha mulher morreu. Eles sempre aparecem quando alguém morre. Minha mulher morrera há mais de mês e eu conversava com amigos comuns. Em dado momento, uma moça atalhou: "Eu conversei ontem com ela". Nessas ocasiões, tomo uma atitude de crédulo. Se a moça afirmava com tanta convicção ter conversado com minha mulher, não seria eu quem iria contestá-la. Perguntei apenas o que ela havia dito. Ela deixou uma mensagem, disse a moça: "seja feliz".
O que me lembrou a aparição de Maria aos três pastores em Fátima. Quando interrogada sobre quem era, teria dito a Virgem: "Eu sou a Nossa Senhora". Ora, sendo Maria mais que santa, semideusa, é de supor-se que não tivesse domínio tão precário do português. Se se dirigia aos três pastores, o correto seria: "Eu sou a Vossa Senhora". Por um descuido sintático do narrador, o milagre ficou prejudicado.
Da mesma forma, a mensagem de minha companheira. Éramos gaúchos. Depois de passarmos por Curitiba e São Paulo, ela passou a usar o você, mas apenas ao tratar com curitibanos e paulistanos. Jamais me trataria por você. Como a comunicação de Maria, a de minha mulher também ficou sob suspeita. Mas não neguei o testemunho da moça. Podes falar de novo com ela? - perguntei. Claro - me respondeu. Pedi-lhe então que, quando voltasse a falar com ela, pedisse o código do celular, que eu havia ficado sem.
A moça entrou em pane, achava que não ia dar, códigos são coisas confidenciais, começou a perguntar que horas são e logo deu as de Vila Diogo. Contei a história mais tarde a professores universitários e um deles, também espírita, prometeu-me perguntar às instâncias do Além sobre o código do celular. Mas me alertou que o médium teria de ser muito poderoso para descobri-lo. Bem entendido, nunca mais me falou no assunto. Nem eu precisava do código, afinal sempre o tive e queria apenas divertir-me com a capacidade comunicativa dos tais de médiuns.
Quando magistrados, médicos e universitários se pautam por crendices idiotas, isto significa que do saber universitário pouco ou nada se pode esperar.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

VEJA ENDOSSA MEDICINA DO ALÉM

Janer Cristaldo

Já contei. Contar de novo se impõe. Na época em que tratava de meu câncer, no hospital Sírio-Libanês também estava se tratando uma atriz chamada Mara Mazan. Após completar um ano de sua operação, na qual retirou um tumor maligno do pulmão direito, a moça continuou fazendo sessões de quimioterapia a cada 21 dias.Mas o tratamento no Sírio-Libanês, pelo que disse então a atriz, de pouco ou nada lhe serviu. "Fui curada somente com oração. O nódulo desapareceu do meu peito", afirmou. Sua cura, Mazan atribuiu a Deus. "Não tenho nenhuma religião, mas sou fiel a ele, pois resolveu me dar uma segunda chance para continuar me divertindo com meus amigos aqui na Terra."
A atriz foi curada, não pela excelência tecnológica do hospital, nem pela competência de seus médicos e técnicos, e sim por uma entidade espiritual, encarnada por um tal de Edson de Queiroz, através de um uma cirurgia espiritual. Ao ser interrogada por que optou por este método e não pelo convencional, diz a atriz:- Antes de eu tirar o tumor de meu pulmão, eu já havia sido operada espiritualmente pelo Doutor Fritz (incorporado por Edson Queiroz), indicado pela minha amiga e cantora Alcione. Os tumores que existiam em meu pulmão diminuíram consideravelmente e, quando a equipe do médico Riad Yunis fez a retirada do tumor maligno, não houve nenhum tipo de complicação. (...) Foi uma coisa surreal, mas muito bacana. O meu tratamento foi inteiramente realizado na base da oração. Fiquei sentada em uma cadeira e começaram a rezar. Logo eu comecei a sentir meu corpo dormente, como se tivesse sido anestesiada. Entrei em alfa e depois vomitei um líquido verde, parecendo a personagem Sarah, de O Exorcista.
O repórter quer saber se houve alguma intervenção cirúrgica. O médium chegou a usar algum instrumento para fazer a operação?- Ele não usou absolutamente nada. Antes de eu entrar neste sono profundo, foi colocada em meu seio uma gaze umedecida com água purificada espiritualmente. Nada além disso. Eles ficaram rezando por horas e quando acordei o nódulo não existia mais.
Então resta a pergunta: por que retirou o tumor com uma equipe do hospital e por que continua fazendo quimioterapia?
Estou cansado desta malta de crentes, que diante de uma doença grave, reza e se encomenda a Deus, ao mesmo tempo em que busca medicina de ponta. Se não conseguem sobreviver, seus próximos atribuem a morte à medicina. Se se salvam, a vida é atribuída a Deus.
Sem a morte, não existiria deus. Nós não vemos, em princípio, pessoas atribuindo – não digo a cura, porque cura não existe – mas sua sobrevivência à hipertensão ou ao diabetes a Deus. São doenças crônicas, às quais se sobrevive com tomar remédios permanentemente.
Na hora do câncer, é diferente. Os crentes oram ao seu deus. Mas vão buscar cura na medicina. Quando a medicina os cura, eles agradecem não aos médicos, mas a deus. O que me parece ser uma ofensa aos médicos que os trataram.
O pior é que há médicos que acreditam nisso. No Sírio-Libanês, fui tratado por uma competente equipe de uns dez médicos e médicas. Falava eu destas questões teológicas com uma das moças e ela me disse: nós tratamos, quem cura é Deus. Ela, com toda sua ciência – a ciência que me curou -, atribuía minha cura a um ser que não existe.
Uma das mais lindas de minhas vizinhas me trouxe água de uma fonte milagrosa, não lembro se de Lourdes ou de Fátima. Tomei, água não faz mal. Além do mais, presente de moça bonita a gente não desdenha. Estava até me perguntando se me tratava em hospital ou se esperava pelo efeito da água. Hoje, vivo uma dúvida atroz: terá sido realmente o Sírio-Libanês que me curou? Ou quem sabe a água da moça?
Quando damos entrada em um hospital, há sempre duas perguntinhas no formulário de admissão: você tem religião? Qual?
Acho que faltam mais algumas. Você crê no poder de Deus para curar doenças? Acredita em cirurgia espiritual? Se eu fosse médico e a resposta fosse sim a estas duas perguntas, eu mandaria incontinenti o crente entregar-se a Deus e à cirurgia espiritual. Se Deus cura, pra que hospital e boa medicina? É redundante e só faz sofrer. Se você vai usar de toda nossa ciência para depois atribuir a cura ao Dr. Fritz, então consulte logo o Dr. Fritz e não perca tempo conosco.
Considero profundamente ofensivo à medicina ser curado por médicos dedicados e alta tecnologia e atribuir a cura a Deus. Aconteceu com minha mulher. Quando adoeceu, círculos de oração foram organizados no país todo. Deus a curará – diziam. “Estamos gastando nossos créditos junto ao Poderoso” – disse-me um casal católico. Ninguém mencionava o tratamento sofisticado, caro e doloroso, ao qual ela estava sendo submetida. Quando morreu, mudou o papo. A medicina falhou. Deus tinha outros planos para ela. Mas agora ela finalmente está sendo feliz.
Para quem crê em Deus tudo é fácil. Faça chuva, faça sol, haja sofrimento ou alegria, morra ou sobreviva, tudo é bem-vindo. Medicina não salva ninguém. Quem salva é o Cara aquele.
A história se repete. O ator Reynaldo Gianecchini descobriu, em agosto passado, que estava com um câncer, um linfoma do tipo não-Hodgkin (tumor que atinge os gânglios linfáticos) e um mês depois começou a buscar ajudas espirituais para auxiliá-lo na busca pela cura da doença. Faz acompanhamento com um “médico astral”, no Instituto de Medicina do Além (IMA), em Franca, São Paulo. Quem o atende é o médium João Berbel, que tem fama de cura das cirurgias espirituais que realiza, e que afirma fazê-las a fim de mostrar as profecias de Jesus.“A gente não anda preocupado em fazer propaganda, a intenção é mostrar as profecias de Jesus, que a Terra da regeneração já chegou, e muitos aflitos vem aqui em busca dos nossos trabalhos gratuitos, que só são possíveis graças a rifas, doações de materiais e à renda dos livros”, diz Berbel.
Bem entendido, Gianecchini não dispensa uma quimioterapia no Sírio-Libanês.Mas quem trata do ator não é exatamente o João Berbel. Este senhor é apenas um mecânico elétrico que recebe, isto sim, o espírito do clínico geral Ismael Alonso y Alonso, o “médico dos pobres”, que foi prefeito de Franca nos anos 50.
“É visível a melhora do meu sobrinho desde o início do tratamento com o doutor Alonso”, disse uma tia do ator. “Ele está mais confiante para seguir o tratamento convencional, pois tem a certeza de que vai superar o câncer”.
O dr. Fritz já era. Agora temos o Alonso y Alonso.Leio na Veja: "Gianecchini recebeu a visita do médium. 'O doutor Alonso colocou uma mão na cabeça e a outra no pescoço do Reynaldo, justamente onde está o foco do problema de saúde', lembra Berbel. Em seguida, ainda conforme o médium, o espírito encarnado fez uma oração pedindo a cura, proferiu uma reza batizada de Oração de Jesus (de sua própria autoria) e encerrou o ritual com o pai-nosso".
Conheço de perto estas histórias. Entre elas, a de um professor universitário, que diz ter sido curado por uma cirurgia espiritual em um hospital de cirurgias espirituais, em Campeche, praia de Florianópolis. Perguntei-lhe se não havia buscado terapia em um hospital convencional. Ah, sim, eu me tratei no Santa Rita, de Porto Alegre. Mas o câncer já estava encapsulado.
Ah, bom!Se Gianecchini sobreviver, claro que os méritos de sua cura serão atribuídos ao dr. Alonso y Alonso, e não à equipe de médicos que o trata. No que vai um risco a esta aposta dos crentes. E se não sobreviver? Problema nenhum. O fracasso, obviamente, será dos médicos que o tratam.
A Veja desta semana deu a matéria de capa a este embuste, com o título “Medicina e Fé”. A revista, em um atentado à ciência, faz um aceno à terapia espírita e à impostação de mãos. Fico sabendo que o médico Plínio Cutait, do Sírio-Libanês, é um mestre reiki. Ora, o tal de reiki é uma terapia baseada na canalização da energia universal (rei) através da imposição de mãos com o objetivo de restabelecer o equilíbrio energético vital de quem a recebe e, assim, restaurar o estado de equilíbrio natura, podendo eliminar doenças e promover saúde.
Segundo o que leio na rede, a sua prática assemelha-se com as práticas budistas de canalizar a energia universal pela imposição das mãos, redescoberta no Japão no início do século XX pelo Dr. Mikao Usui, e introduzida nos Estados Unidos da América por volta de 1940 pela Sra. Hawayo Takata, uma americana de origem japonesa.
A imposição de mãos, na verdade, é uma antiga picaretagem, retomada por Hippolyte Léon Denizard Rivail, mais conhecido como Allan Kardec (1804 – 1869), que misturou evangelhos com a teoria do magnetismo animal do austríaco Franz Anton Mesmer, com mais algumas pitadas de budismo, no caso, a reencarnação. Mesmer era médico, estudava teologia e instituiu como terapia a imposição das mãos. Criação nada original, afinal já está nos Evangelhos.
Se voltarmos um pouco atrás, encontraremos a prática no Egito, no templo da deusa Isis, onde multidões buscavam o alívio dos sofrimentos junto aos sacerdotes, que lhes aplicavam a imposição das mãos.
Ainda segundo a Veja, o biólogo Ricardo Monezi, pesquisador de medicina comportamental na Universidade Federal de São Paulo, testou a influência da impostação de mãos (técnica chupada tanto pelo reiki como pelos espíritas) em ratos com câncer, divididos em três grupos. No terceiro, submetido à impostação de mãos, as células de defesa foram até 50% mais eficientes no combate às células tumorais do que as dos outros ratos.
Se espiritismo cura até ratos, provavelmente curará o Gianecchini. O espantoso, em tudo isto, é ver médicos e pesquisadores universitários acreditando em tais superstições. E uma revista como a Veja endossando tais embustes.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

NÃO EJACULARÁS

João Eichbaum

O cabelo não era desses tipo loiro-puta. Atrás das lentes da loira, natural, fofinha, bem fornida de atributos essenciais, estavam os olhos verdes. Prestei atenção neles, quando ela, sem a menor sombra de constrangimento, me passou o bilhetinho, com sua mão pequena, atraente pelos contornos delicados, que lembravam bonecas de porcelana. Naquele momento eu olhava para ela e, sacudindo a cabeça, com cara de estúpido, pensava no Onan.
Onan ejaculava fora da casinha. Por isso, a prática de que resulta o extermínio de espermatozóides com papel higiênico foi batizada de “onanismo” pelos linguistas (com perdão da palavra “linguistas”, que pode sugerir felação).
Como todo mundo sabe, a primeira antologia impressa de contos eróticos foi a Bíblia Sagrada. Ali tem cada coisa, que sua leitura deveria ser proibida para menores, freiras e padres.
É dali que vem a história do Onan.
Onan, que era filho de Judah, descendia duma família que até hoje fornece tema pra filme de sacanagem. O avô dele, o Jacob, foi o cara que inaugurou, oficialmente, a poligamia: casou com a Lia e, de lambuja, ganhou a Raquel, e ainda se divertia com a empregada, a Bilha.
O pai do Onan, filho do Jacob e que se chamava Judah, foi um dos irmãos de José que o venderam por dez moedas aos midianitas. Depois de ter feito o negócio da venda do irmão, Judah foi dar umas bandas lá por Adulam, onde tinha um amigo, o Hirah. Pois, não é que na casa do Hirah ele deu de cara com uma gata, a Shuah, e ali mesmo, ó, crã nela!
Dali nasceu o Er. E como continuou pintando o clima, nasceram depois o Onan e, por último, o Selah.
Er casou com a Tamar, mas “ o Senhor o matou” e a Tamar ficou viuvinha da Silva. Então Judah mandou o Onan traçar a cunhada. Como era ordem do pai, o Onan teve que obedecer, mas a contragosto. E aí, na hora do bem bom, pra não se comprometer com a explosão demográfica nem com pensão alimentícia, tirava, literalmente, o dele fora, esparramando milhões de espermatozóides pelo chão.
Viram que desperdício de matéria prima?
E a Tamar ainda acabou dando pro sogro. Mas isso já é outra história, por conta da concupiscência bíblica da família do pai Abraão.
Pois é. Eu comecei falando na loira e acabei falando no Onan. Mas foi ela, a loira fofinha, que me levou a pensar no desperdício da matéria prima de produzir humanos.
Não, não fiquem pensando coisas de mim aí. Não é nada disso. Tenho certeza de que todos os que conhecem a bíblia, naquela situação, se lembrariam do Onan. É que o desconcertante bilhetinho que a loira me passou, com sua mão pequena e delicada, lembrando bonecas de porcelana, continha vários itens, mas só lendo o primeiro já fiquei com cara de quem tomou vinho vagabundo em copo plástico: “NÃO EJACULAR”
Pra desencanto de vocês todos, que esperavam uma história de sacanagem, esquecendo de que precisam medir PSA: a ordem bíblica partia do laboratório que eu havia procurado para coletar exame de sangue, e a abstinência sexual era uma, entre outras exigidas, 48 horas antes do exame.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

A SATISFAÇÃO DO CLIENTE

João Eichbaum

O empresário da indústria investe na tecnologia, na qualificação da mão de obra e na qualidade da matéria prima, para oferecer ao mercado um bom produto, um produto que satisfaça o cliente, porque um cliente satisfeito é a garantia de muitos clientes satisfeitos.
O comerciante, da mesma forma, procura satisfazer o cliente, tanto na maneira de atendimento como no oferecimento de produtos que correspondam aos desejos de quem comparece na sua loja.
O médico, o dentista, o engenheiro, igualmente. Todos procuram dar o melhor de si para a satisfação do cliente, e quando se diz o melhor de si é porque o trabalho desses profissionais é pessoal, o serviço por eles prestado depende de sua própria qualificação.
O mesmo não acontece com o advogado. O serviço profissional prestado pelo advogado não se pode comparar ao dos demais profissionais liberais. Por uma simples razão: o trabalho do advogado depende menos dele do que de outras pessoas.
Um bom advogado, estudioso, dedicado às causas que lhe são confiadas, não serve como garantia da satisfação do cliente. Porque o trabalho dele vai pelo ralo da incerteza quando entra no foro. Lá, vai cair nas mãos de inábil ou inexperiente estagiário ou de antigo e viciado funcionário, encarregado de carimbos e rubricas, que passa o dia fazendo que trabalha. Dali passa para o gabinete do juiz, que não o lê, e vai parar nas mãos do “auxiliar” do juiz que, por seu turno, vai passá-lo para o estagiário. Munido de esterótipos fornecidos pelo juiz ou pelo “auxiliar” do magistrado, o estagiário vai lançar o despacho que seu cérebro de passarinho lhe dita. Sem passar pelas mãos do juiz, porque nos autos o que consta e vale é a assinatura digital, o processo voltará para o cartório e, depois de adormecer no escaninho dos processos despachados, vai novamente para as mãos do estagiário do cartório que, antes de tudo, vai coçar mil vezes a cabeça, ou o saco, tomar um cafezinho, dar um pulo no banheiro, para depois, enquanto discute sobre o resultado de futebol com um colega, tratar de imprimir o mandado cujo modelo irá encontrar nos arquivos dos computadores.
Esse vai-vem vai ocorrer centenas de vezes, antes que o advogado possa dar alguma informação concreta para seu cliente. Até a sentença, tudo pode acontecer, mas sempre obedecendo à mesma rotina.
Então, nos finalmente, o “auxiliar” lavra a sentença, ou encarrega o estagiário de fazê-lo. Se tiver alguma dúvida, consultará o juiz que, sem examinar o processo, dará uma opinião “por alto”, com base na qual será lançada a sentença, redigida por seus subordinados.
É por isso que o advogado não tem a garantia de prestar um bom serviço ao cliente. Só o conseguirá, se tiver sorte. Sorte, e não direito. O direito é o que menos conta. A menos que o cliente seja uma pessoa influente. Aí sim, a decisão não dependerá de sorte. Porque valerá prestígio ou, no mínimo, nome no jornal e entrevista na televisão.
Pobre do advogado. Nunca se afirmará como fornecedor de bons serviços. Salvo se for amigo do juiz, do desembargador, ou do ministro, companheiro deles nas caminhadas matinais, nas pescarias, nas casas de massagem ou em qualquer outra confraria.
Aí a história ´será outra.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

A BÍBLIA LIDA PELO DIABO

5 E viu o Senhor que a maldade do homem se multiplicara sobre a terra e que toda a imaginação dos pensamentos do seu coração era só má continuamente.

A “imaginação dos pensamentos do seu coração...”
Pelo visto o Senhor não sabia que não é com o coração que o homem pensa e sim com o cérebro. Mas, a gente compreende: o cérebro é uma coisa tão complicada, tão cheia de “chips”, que nem Deus entende.
O texto bíblico não refere que tipo de “maldade” se aninhava na imaginação, ou no coração, como ele diz, do homem. A conclusão, porém, é muito simples. Javé fez um par de criaturas, entregou-as ao deus-dará, mandou que procriassem e aí deu nessa merda toda. Atendendo à ordem de “crescei e multiplicai-vos”, o homem povoou a terra, enchendo-a de “filhos e filhas”, como se infere da descendência de Seth.
E aí pintou a concorrência, obrigando a vir à tona aquele ingrediente básico de que é feito o ser humano, que provavelmente pegou carona no barro do Adão e acabou contaminando a Eva: o egoísmo. Se tivesse sido feito de pelúcia, talvez não fosse assim. Mas, de barro...logo de barro!
Para salvar o seu “ego” o homem não mede conseqüências e desrespeita toda e qualquer regra. O seu “eu” é que deve estar em primeiro lugar. Em razão disso é que a maldade vem para fora, sempre que esse “ego” encontra dificuldades para se afirmar. A maldade do animal é sempre atiçada pela existência de outro animal. A partir do outro é que o homem se torna racista, sexista, falso, falastrão, amoroso, mal humorado, etc.
Mas, pelo visto, o Senhor não entendia patavina de antropologia.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

SÓ ALGUNS PODEM DAR O QUE ELAS QUEREM

João Eichbaum

Elas se produziram o melhor que puderam e posaram para a foto.
A gente pode conferir na Zero Hora de ontem. Como - na falta de mocidade, de beleza e de um corpo esbelto com ancas perfeitas, - fariam brochar qualquer expectador do BBB, e nunca teriam a fama de uma Gisele Bündchen, elas procuram outro caminho para a celebridade. Querem ter vez no Olimpo de Brasília.
Sim, vocês já sabem o que é o Olimpo de Brasília, não é?
Não, não é o Senado, nem a Câmara, que estão cheios de “picaretas”, como já disse o torneiro mecânico Lula da Silva. Olimpo é o lugar dos deuses, e deuses não se misturam com picaretas.
Não é o Palácio do Planalto, que depende da sustentação dos picaretas da Câmara e do Senado e, por isso também, não é o lugar adequado para a morada dos deuses.
Ah, sim. Isso mesmo. O Olimpo é o Supremo Tribunal Federal. Lá é o lugar apropriado para os deuses, aqueles que não imaginam o mundo sem eles. São eles que decidem sobre a vida de todo mundo, que decidem sobre as engrenagens do mecanismo social, quem vai e quem não vai para a cadeia, quem deve e quem não deve pagar, quem fica com o gato ou com o cachorro, o que cada um pode fazer na vida sexual, e assim por diante.
Essa é a razão pela qual elas querem ir para o Olimpo. Querem ser deusas, para ter nas mãos o destino dos pobres mortais que caem nessa armadilha chamada justiça.
Por ora, como que movidas por antigas paixões pueris, elas “atuam nos bastidores em busca da indicação”, diz o jornal. Rosa Maria Weber da Rosa “aglutinou em torno de seu nome o governador Tarso Genro e a cúpula” (não confundam com cópula) “do PT gaúcho”. Nancy Andrighi “tem optado pelo corpo a corpo” (eu, hein!) e “tem percorrido os gabinetes do Senado em busca de suporte”. As outras que estão na crista, Maria Thereza de Assis Moura, Maria Cristina Pedruzzi e Sylvia Steiner certamente vão brandindo currículos e negociando apadrinhamentos, longe dos repórteres. Só duma coisa vocês podem ter certeza: não estão apostando, unicamente, nos desígnios da Divina Providência.
É assim que se constrói o Supremo Tribunal Federal, meus amigos, com vaidade e subserviência. Ah, e tem mais: para entrar no Olimpo é necessária a paradoxal permissão de alguns picaretas.
E quem for escolhido, ainda vai ser incensado como “grande jurista”, mesmo que tenha dado o fiofó, em troca desse “status”.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

MISÉRIA VOCABULAR

Janer Cristaldo

De Solange Maria Mendonça Campos, recebo:

Prezado Janer, eu dava uma aula, no curso médico de graduação, para uma turma do 5º. ano. Ou seja, os senhores/as ali presentes estavam quase formados. O tema era "Depressão: sintomas e sinais universais na clinica médica básica". Arrisquei: "a insônia é o arauto da depressão" (feliz expressão de um grande psiquiatra francês, daqueles da velha cepa, que quase moravam dentro do hospital).Mal-estar na classe. Repeti, e constatei pela perplexidade dos rostos à minha frente, que ninguém sabia o que era arauto. Expliquei quem era em outros tempos, e sua função social então. Alguns entenderam, e fizeram a associação óbvia, a maioria não. Então desenhei no quadro (acho que ai em SP diz-se lousa?) um daqueles arautos de desenho animado de Disney, com plumas no chapéu, corneta com aquela bandeira, etc.Aí eles entenderam quem era o arauto, mas eu ainda tive de explicar que assim como o arauto fazia, tocando a corneta, a insônia vinha anunciar, etc. Foi neste dia que comecei a pensar em não dar mais aula.Abçs,

Solange

Não se espante, Solange! A miséria vocabular é moeda corrente em nossos dias. Perdeu-se a curiosidade de saber o sentido de uma palavra desconhecida. Dicionário, que deveria ser o primeiro instrumento de aprendizado de um aluno, é livro ausente na maioria das casas. Sou fascinado por palavras e, se tropeço em uma que desconheço, vou correndo ao dicionário. Trabalho com um ao lado do computador e tenho, hoje, acho que mais de cinqüenta em minha biblioteca.
Nem todos são de língua, bem entendido. Tenho dicionários bíblicos, de teologia, literatura, mitologia. Enfim, seria demais pedir que todos participem de meus vícios. Mas pelo menos um dicionário – unzinho só – devia existir entre os livros de cada estudante.
O pior é que esta miséria vocabular grassa até mesmo entre profissionais que lidam diariamente com as palavras. Vi isto de perto em meus dias de redação nos grandes jornais. Há uma tendência, entre os jornalistas – particularmente os da Folha de São Paulo – de nada escrever que um leitor mediano não entenda. Se a palavra é inevitável, lá vem explicação. Sempre que você encontrar a palavra latrocínio, o redator abre parênteses e explica: roubo com morte. Como se precisasse explicar o que é latrocínio. A partir daí, decorre uma conseqüência lógica. Se o jornalista desconhece o significado de uma palavra, é óbvio que o reles leitor também a desconhece. E o jornalista, pretendendo ser didático, prefere evitá-la.
Transcrevo minhas aventuras nos dias de Folha, que estão em meu livro Como ler jornais, editado em 2006.Escrevendo sobre uma escaramuça qualquer no planeta, fiz uma manchetinha mais ou menos assim:OBUS MATA UM E FERE TRÊS
Mal viu o título na rede, um jovem editor reclamou:— Obus? O que é isso?
Obus, expliquei pacientemente, é uma peça de artilharia, um tipo de morteiro. Também chama-se obus a granada ou bala lançada por esse morteiro.
— Ah, mas o leitor não vai entender. Ninguém sabe o que é obus.
De minha parte, eu desconhecia palavra mais concisa que obus para dizer tiro de morteiro. Para minha sorte, um dos editores fizera serviço militar. Sim, é isso mesmo, é obus.
"Mas vocês fizeram serviço militar, disse o primeiro. O leitor, nem sempre". O que, pelo menos no que a mim dizia respeito, era falso. Nunca fiz serviço militar. Quando menino eu fazia, isto sim, palavras cruzadas. Projétil de morteiro, quatro letras? Obus.
Meses mais tarde, novo conflito com os redatores hostis ao vernáculo. Me caíra nas mãos um TL (texto-legenda) para titular. Na foto, uma mulher de mãos postas e cabeça inclinada manifestava sua adoração por algo ou alguém. Nem hesitei: EM SINAL DE PREITO
Mal o texto chegou em sua tela, o editor, sempre alerta, gritou de sua baia:— Preito? O que é isso?
Juntei minhas mãos, inclinei a cabeça e disse:— Preito é isto.
— Ah, mas então deve ser uma palavra muito antiga.
De fato, era bem mais antiga que eu. Como aliás a maioria das palavras que eu ou você usamos. Lembrei-me do obus e fui tomado de súbita iluminação. Para aquele menino, formado na reputadíssima ECA, palavra que ele não conhecia certamente o leitor também não a conhecia. Os leitores do jornal eram nivelados pelo padrão do que ele ignorava.Quem passou por jornais nas últimas décadas, terá dezenas destas histórias para contar.
No dia 03 de outubro de 2001, a Folha superou todos seus feitos. A entrevista com Fernando Henrique Cardoso versava sobre o abate de aviões clandestinos sobre o território nacional.
“Precisamos fazer um esforço grande para controlar o terrorismo, que é um inimigo suez” — assim redigiu a repórter a declaração do presidente.
A moça, que desconhecia o adjetivo soez, escreveu como pensou ter ouvido e resolveu esclarecer o leitor, que talvez não soubesse o que significava suez: "FHC se referia aos combatentes egípcios que lutaram contra os israelenses na região de Suez, em 1973, e atacavam seus oponentes por meio de túneis subterrâneos abandonados, de surpresa: ninguém sabe de onde vem".
]Explicação mais que oportuna, já que nem mesmo eu saberia dizer o que significa suez como adjetivo.Ora, diria o jovem editor, o presidente se permite tais palavras porque é um erudito.
Acontece que não se exige erudição de ninguém para falar em soez. As gerações novas, hostis à leitura e viciadas pelo parco vocabulário televisivo, não mais conhecem palavras elementares do vernáculo e ainda se julgam no dever de elucidar para o leitor vocábulos de cujo significado apenas suspeitam. Com este material humano, que sequer conhece a própria língua, faz-se jornalismo. Pois jornalismo, hoje, só pode exercer quem faz curso de jornalismo.
Melhor mesmo, só a história dos perdigotos, já incluída no ror dos clássicos da Folha. A notícia era sobre a epidemia de uma gripe, que se disseminava por perdigotos. O repórter, ciente de sua ignorância, fez o que deveria fazer: consultou o dicionário. Só que ficou na primeira acepção da palavra. Os leitores foram então informados que a gripe era transmitida por filhotes de perdiz. O cidadão urbano foi tranqüilizado. Como nas urbes não existem perdizes, muitos menos filhotes das ditas, não havia porque temer a gripe.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

O DISCURSO VAZIO DA PREPOTÊNCIA

João Eichbaum

Colocaram um explosivo debaixo da espreguiçadeira dos juízes.
Por conta da decisão de um desembargador, que proibiu a Rede RBS de mencionar o nome de vereador flagrado em turismo com o dinheiro dos contribuintes, os juízes gaúchos estão sendo cobrados pelas entidades que congregam a imprensa, não só no país como no exterior.
Embaraçados, os magistrados, estão falando fora dos autos, dando explicações, para manterem a aparência de pessoas decentes e sinceras.
Primeiro foi a Ajuris, associação de classe deles, ao defender a inconstitucional decisão, afirmando que o vereador “provou sua inocência e não foi sequer denunciado”. Foi desmentida pelo Ministério Público.
Depois, em artigo encaminhado para publicação, exatamente na Zero Hora, o juiz Marco Aurélio M. Xavier demonstra que não tem noções primárias de dialética. É bem possível que nem saiba o que é dialética.
Olhem o que ele, comprazido na interpretação oxidada do preceito constitucional, diz: “tachar a decisão de ‘censura’ é tão absurdo quanto considerar a imprensa ‘imaculada’.
“Censura” e “imaculada” são vocábulos imprestáveis como termos de uma proposição comparativa: um é substantivo e o outro, adjetivo. “Censura” tem conceito exato e significação técnica do ponto de vista jurídico. “Imaculada” é um adjetivo que se pode atrelar a qualquer nome. Por ser adjetivo e por ser variável não tem conceito.
As heresias, do ponto de vista da dialética, são tantas, no artigo do juiz, que se não as pode comentar neste curto espaço. Mas fixemos só mais duas delas. A primeira é a que qualifica de “risível” a norma constitucional que autoriza a reparação de abusos gerados pela liberdade de expressão. Aí se escancara toda a pobreza intelectual do articulista. Sendo juiz, ele tem obrigação de fundamentar suas asserções. Mas, como não soube desmantelar cientificamente a norma constitucional, foi pelo caminho mais fácil, o caminho trilhado pelos néscios: a adjetivação.
A segunda é de estarrecer até os menos iletrados: “decisão judicial não é censura, mas sim instrumento de justiça”.
Ora, ora, qualquer ignorante sabe que muitas, muitas e muitas vezes é exatamente das decisões judiciais que provém a injustiça. Longe de adquirirem o “status” de dogma, as decisões judiciais jamais poderão ser tomadas como sinônimo de justiça.
Decisão judicial, senhor juiz Marco Aurélio, é o instrumento da realização do direito (juris dictio, origem etimológica de jurisdição) Mas o direito nem sempre representa a justiça. O direito vigente nos regimes totalitários, por exemplo, não deixa de ser direito. E mais: a justiça brasileira está longe de ser aquela vaca sagrada, imune ao esquartejamento e à exposição no açougue.
Outra coisa: continente não se confunde com conteúdo. A decisão judicial é ato processual (continente) que contém uma ordem (conteúdo). Enquanto continente, ela é um instrumento de realização do direito, mas, enquanto conteúdo, ela pode ser um instrumento de realização da injustiça, uma censura, uma aberração, uma patifaria, ou um atestado público de ignorância.
No caso da decisão do desembargador, não se pode falar, tecnicamente, de censura, porque é uma proeza muito pior: trata-se de mordaça.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

LAMENTOS DE UM JUIZ IDEALISTA

A injustiça para com os julgadores verdadeiramente independentes
Juiz Robson Barbosa de Azevedo - Mestre em Direito

Na atual conjuntura, como já nunca conseguia temer os detratores dos julgadores, agora é que nada temo dessa terra profana, os ditos concurseiros preferem trabalhar menos e ganhar mais, sem as rédeas dos políticos que compõem conselhos criados pelo mensalão e rejeitados na constituinte e defenestrados na 1ª metade do séc. XX, ou mesmo das insanas cúpulas nos diversos segmentos dessa vergonhosa "seara" de malfeitores que sempre enriquecem sem o apoio da constituição federal e que estão unidos com a cheia de coronéis de roça mesquinhos, cruéis e destinatários do lago de enxofre, monstruosidades mesmo etc.

Atualmente, só quem for efetivamente vocacionado e quiser ser de fato julgador(a), assumirá conscientemente o sacerdócio, e se atreverá no suprimento independente para acabar com déficit da magistratura, não só no DF, como no país inteiro. O Bacharel que está chegando não quer dar murro em ponta de faca ou mesmo bater de frente com trem de ferro, terá medo das pressões tal como o soldado teme o general, aliás já há muitos assim, bem hierarquizados, e lamentavelmente há tempos, fugindo da dureza e alinhando-se com visores de errônea porta larga.

É a casta do sangue puro e real que não quer contrariar os malfeitores do poder político e ou econômico, é como se fosse um crime a legalidade, o fim do clientelismo, o fim dos segredinhos inconfessáveis, o fim da manipulação da vida alheia, a maledicência como técnica de decretação da morte moral com pena infâme, o fim das perseguições e retaliações etc.

A origem universal da vida cobrará de todos e lá não haverá jeitinho nenhum. Seremos julgados como julgamos e na forma daquele se que acha acima ou melhor que outros.

Passei em certames de algumas categorias e escolhi por vocação e vontade a magistratura nacional, entrei pela porta da frente sem dever nada a quem quer que seja.Porém, depois de vários lustros de exercício da judicatura, tenho encarado desde o 1º dia e diarimente, as retaliações, mentiras adredemente montadas e potencializadas, perseguições internas/externas, cobranças do impossível, ameaças veladas ou abertas, risco de morte natural ou antecipada, esqueceram-se de nossos doentes graves? Eles já estão conscientes disso, mas é tarde para eles a reversão nesse ninho de perigos.

Só Deus que pela HONRA DE SEU NOME nos concederá paz e felicidade, quem está em paz nada teme. Que estejam em paz.Senão bastasse, temos por vezes uma política de disputa predatória em um sistema majoritariamente de fidalgos (filhos algo) e falido, será talvez o escolhido aquele que for mais forte de empenho político e de menor compromisso jurídico/institucional, ou seja, mais apoiado da clã, sempre a serviço do rei, salvo as honradas exceções, tudo contra para quem paga a conta só para ter uma representação e que eventualmente enfrentem o incêndio até a exaustão. Entretanto, no fim do prazo a honra do serviço prestado pode gerar as bençãos do rei.Espero que não seja assim e acho que pode até não ser, é a lei da probabilidade.

Os discentes afirmam abertamente que serão tudo, menos juiz, mas há raras hipóteses em que realmente querem efetivamente a magistratura. Tanto que há discentes meus que hoje a exercem.Com décadas de docência nunca vi a magistratura perder para outras carreiras, foi o sonho dos discentes, agora eles já afirmam que é pesadelo de tormentas e injustiças.

Quem não quer tentar mudar isso é no mínimo um elo podre da corrente. O viés dos apadrinhados é exatamente manter o patrimonialismo na justiça. Serão derrotados.

O DIREITO DERIVA DA LUTA E NÃO DA POLÍTICA OU DA CONVERSA DE COMPADRES. JUSTIÇA É FORÇA. FRAQUEZA NA JUSTIÇA É MODELO DE PAÍS TOTALITÁRIO.
·
·
·

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

A BÍBLIA LIDA PELO DIABO

João Eichbaum

A CORRUPÇÃO GERAL DO GÊNERO HUMANO


6 E aconteceu que, como os homens começaram a se multiplicar sobre a face da terra, e lhes nasceram filhos e filhas, 2 viram os filhos de Deus que as filhas dos homens eram formosas e tomaram para si as mulheres de todas as que escolheram.

Nada para estranhar, não é? Afinal a primeira regra, depois da expulsão do paraíso, foi “vão se foder”, ops, crescei e multiplicai-vos. Não havia camisinha, nem anticoncepcional e a turma se esbaldava.
Bom, já vi que tinha dois times: os filhos de Deus e as filhas dos homens.
Pelo jeito, os homens se especializaram em fazer filhas mais bonitas do que os “filhos de Deus”. E aí deu, né? Quem é que gosta de mulher feia ? Os “filhos de Deus”, cuja linhagem era de puro barro, sucumbiram à beleza das “filhas dos homens” e pegaram todas.

3 Então disse o Senhor: não contenderá o meu Espírito para sempre com o homem, porque ele também é carne; porém os seus dias serão cento e vinte anos.

O que o Velho Javé disse para os seus botões não foi senão isso: sexo é bom, já que eles são carne, deixa se esbaldarem, eu não vou me incomodar com isso.
Por aí a gente vê que o Papa é mais católico do que Deus: desconsiderando a “carne” dos homens, instituiu a castidade, o celibato e outras coisas do gênero.

4 Havia naqueles dias gigantes na terra. E também depois, quando os filhos de Deus tomaram para si as filhas do homens e com elas geraram filhos, esses se tornaram os mais valentes da antiguidade, os varões da fama.

Bem, vamos por partes. Donde é que vieram os “gigantes”? Quem os criou? Naqueles seis dias da criação, não se havia falado em gigantes, não é verdade?
Então só se pode concluir que a história da “criação do homem” foi muito mal contada. De repente, durante o campeonato, apareceram não só as “filhas dos homens”, como os “gigantes”, sem nenhuma outra explicação bíblica.
E o que causa admiração é que da miscigenação entre os “filhos de Deus” e as “filhas dos homens” tenha surgido uma raça especial, a dos “varões da fama”, os valentões da época.
E, enquanto isso, de braços cruzados, Javé só assistia a festa?

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

A IMPRENSA DEMOCRÁTICA DO PT

João Eichbaum

O 4º Congresso do PT esteve mobilizado para discutir o “controle da mídia”.
Foi contido, em parte, pelo Palácio do Planalto, que não levar a pecha de “controlador da imprensa”.
Mas o PT, sob a influência direta do José Dirceu, não se deu por achado. Moção aprovada no Congresso convoca “o partido e a sociedade” na luta pela “democratização da comunicação”.
O que é que o PT entende por “democratização da comunicação”, partindo-se do pressuposto de que estamos no Brasil e não em Cuba?
A resposta está na própria conduta do Partido, desde que assumiu o poder e alastrou seus tentáculos por todos os escaninhos da república: democracia, para os petistas, significa pensar como eles pensam e aplaudir suas iniciativas, sejam elas a ressurreição da CPMF ou a manutenção dos corruptos na administração pública, por exemplo.
Quem atacar o PT, quem censurar a corrupção aninhada nos governos do partido, não é democrata.
Esse é o conceito de democracia do PT, muito parecido com as palavras que alguém colocou na boca de Jesus Cristo; “quem não é por mim é contra mim”.
Poucos, muito poucos, nem mesmo os juízes entendem o significado da “liberdade de expressão”.
Esse direito, que é fundamental, porque tira a mordaça do indivíduo, está consagrado no art. 5º, inc. IV, da Constituição Federal: “é livre a manifestação do pensamento”.
E a mesma Constituição reforça esse conceito de liberdade no inc.IX: “é livre a expressão da atividade artística, intelectual, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença”.
Ao lado dessa liberdade, e com a mesma força de norma constitucional, o inc. X assegura, o direito de indenização, por violação da vida privada, da intimidade, da honra e da imagem das pessoas.
É a verdadeira receita da democracia para respeitar a vontade do indivíduo, do cidadão, mas que impõe, ao mesmo tempo, o direito de ser respeitado.
Liberdade com responsabilidade. Esse é o núcleo do princípio, segundo o qual todos têm o direito de ser respeitados.
Não é exatamente essa a “democracia”, isto é, a democracia que vivemos e que está assegurada pela Constituição Federal, que PT quer. O que ele quer, na verdade, é a mordaça da imprensa, para proteger seus companheiros e aliados e para continuar se expandindo com o dinheiro que vem dos cofres públicos.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

BLOOM E A LEITURA

Janer Cristaldo

Afirmo seguidamente que fora da leitura não há salvação. Em meus dias de universidade, uma aluna me perguntava. Professor, é verdade que a leitura pode transformar a gente? É a única coisa que transforma sem machucar - respondi.
Mas há leituras e leituras. Uma coisa é ler Harry Potter e outra é ler Crime e Castigo. Conheço inclusive leitores contumazes – e os conheço de perto - que lêem talvez até mais do que eu leio, mas não fazem distinção alguma entre Rowling e Dostoievski. Crime e Castigo? Ah, sim a história daquele estudante que matou uma velhota? E estamos conversados. Como se fosse entrecho da novela das oito. As reflexões do russo sobre a vida e a morte, sobre o homem, Deus e a sociedade, escorrem como água entre os dedos. Ou seja, ler nem sempre é sinônimo de aquisição de cultura.
Ainda há pouco, eu falava de minha ojeriza aos best-sellers. Se um livro vendeu de repente um milhão de exemplares, este é um de meus critérios para não comprá-lo. Não existe tanta gente inteligente no mundo. Não existe um único best-seller em minha biblioteca. Aliás, quando saio atrás de um título, tenho de trotar entre uma livraria e outra, pois trata-se de livro geralmente pouco divulgado. Foi o que aconteceu, há alguns anos, quando saí à procura de um ensaio de Harold Bloom. Passei numa livraria do bairro e pedi:
- Vocês têm Jesus e Javé, do Bloom? A moça foi consultar o computador e digitou: Jesus e Djavan. - Nada disso, respondi. Quero Jesus e Javé.
Não tinha. Fui em outra livraria e pedi de novo. O atendente foi ao computador e digitou: Jesus e jovens. Nada disso, moço. Bom, fui na terceira livraria. A moça repetiu: Jesus e Jeová? Quase, moça. Mas ainda não é bem isso. Mas também não tinha. Tive de encomendar o livro da editora.
Harold Bloom é um dos mais eruditos críticos literários contemporâneos. Sua análise dos textos bíblicos irrita os crentes, pois ele vê a Bíblia como obra literária e não como livro sagrado. É obra que gostei de ler. O mesmo não diria de O Cânone Ocidental, onde o autor pretende estabelecer uma rigorosa seleção da literatura ocidental. Bloom inclui no cânone um medíocre como Pablo Neruda e um escritor menor como Machado de Assis e deixa de lado um poeta imenso como José Hernández.
Trecheei este ensaio numa livraria. Quando vi que não mencionava Hernández, deixei-o de lado. Havia algo errado em sua seleção. Só descobri mais tarde, quando Bloom admitiu que seu cânone dependeu de encomenda de editoras. Depreendo que se não pusesse Machado no cânone, talvez não fosse publicado no Brasil. Confesso que caiu bastante em meu conceito.
Mas isto pouco importa. Este aceno ao mercado não retira o valor de suas obras anteriores, que demonstram uma erudição colossal, só encontradiça em leitores vorazes. E cânones são relativos. Bloom continua sendo talvez o crítico literário mais importante de nossa época. O que importa é sua entrevista publicada hoje no El País, onde Bloom, octogenário e combalido pela doença, se mostra extremamente jovem do ponto de vista intelectual. E fala de sua última obra, que considera ser seu legado final à literatura.
- A Anatomia da Influência é minha summa literária, meu legado como crítico. O testemunho final de uma vida dedicada aos livros. Para mim, ler é a única maneira de dar sentido à vida. No livro, estendo uma ponte aos milhões de leitores autênticos de todo o mundo, leitores anônimos que contra ventos e marés, apesar de os tempos serem terríveis para a verdadeira literatura, se negam a renunciar a ela.
- Hoje em dia se produziu um abandono de toda exigência estética e cognitiva, que são os sinais de identidade da grande literatura. A literatura imaginativa, tal como a cultivavam Shakespeare, Cervantes, Dante e Montaigne, cedeu lugar ao lixo abominável dos best-sellers como os que acaba de citar (Bloom se refere a J. K. Rowling, a autora de Harry Potter, e Stephen King) e quaisquer que sejam seus equivalentes na Espanha e resto do mundo. Que se pode fazer ante uma situação assim? Levo anos lutando contra isso, mas sei que é uma batalha perdida.
Perdida, não diria. Mas a boa literatura está sendo vencida pelos best-sellers de 10 a 0. O livro bom, quando consegue encontrar lugar no mercado editorial, some das estantes das livrarias. Semana passada, sai à cata de Por Mares Nunca Dantes Navegados, de Ronald J. Watkins, que narra a saga de Vasco da Gama na abertura de um caminho para o Oriente. Encontrei, mas foi um parto encontrá-lo. Mas Harry Potter está em todas as livrarias. Stephen King também.
Ao final da entrevista, o arguto Bloom incorre em um truísmo: - Não posso pôr um ponto final a este livro, porque tenho a intenção de seguir lendo enquanto me restar um sopro de vida. Ora, leitor que se preze jamais deixa de ler. Sem falar que é um dos poucos prazeres que a velhice concede.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

ENTÃO, QUE VENHAM AS PUTAS



João Eichbaum

Nem todo o desonesto é corrupto. Mas todo o corrupto é desonesto. Conclusão: a desonestidade é gênero de que a corrupção é espécie.
O que vou contar para vocês não é novidade: Antônio Cardoso de Barros, o primeiro “ministro” da Fazenda do Brasil era, genericamente falando, desonesto. O primeiro ouvidor-mor, desembargador Pero Borges, quando Corregedor da Justiça em Portugal, foi afastado do cargo, por haver misturado seu dinheiro com o dinheiro do governo. Estava suspenso de suas funções, por conta de sua desonestidade, quando foi nomeado Ouvidor-mor do Brasil. O primeiro bispo do Brasil, Dom Pero Fernandes Sardinha, exigiu um negro e um cachimbo, além de “comissões” na arrecadação fiscal, para aceitar a função de “salvar almas” no dito Brasil.
Foi assim que tudo começou.
Mas, como o passado da desonestidade, no Brasil, é sempre recente, continuemos.
O torneiro mecânico Luiz Inácio Lula da Silva, que mal sabe ler, e não sabe escrever, e só fala besteiras com sua língua pegada, se tornou político e ficou rico.
O José Dirceu, que sabe ler, mas não trabalha, ficou rico com a política.
O Palocci, que é médico, só ficou rico fazendo prestidigitações financeiras na área política.
O Pedro Simon, que não sabe o que é batente há mais de cinqüenta anos, e é tido como o político “mais honesto” do Brasil, ficou rico com a política.
Bem, não precisaria falar no Sarney, no Calheiros e todos os demais dessa laia, para fazer uma pergunta bem mais fácil: quem é que não ficou rico com a política, no Brasil?
Só os que caíram fora, os que saltaram do barco para salvar a honra. E foram muito poucos.
Política, minha gente, é eufemismo. Por uma razão muito simples: política, no Brasil, não é a arte de governar a “polis” mas sinônimo de embolsar “dinheiro público, dinheiro dos outros, dinheiro do contribuinte”.
Bom, isso não acontece só no Executivo e no Legislativo, de cuja podridão, atualmente, só a religião do PT duvida, porque lhe convém.
Existe também o Judiciário, que se tem como Imaculado, tal qual a Virgem, que não sofreu a doçura sangrenta do primeiro orgasmo a dois. O juiz que vende sentenças é corrupto. Mas o juiz que publica, como seus, despachos e sentenças feitos por “auxiliares, estagiários, assessores” é mentiroso, quer dizer, desonesto: é regiamente pago com dinheiro público, com o nosso dinheiro, com o dinheiro confiscado do nosso trabalho, mas não trabalha.
Aqui no Rio Grande do Sul, os deslumbrados juízes se jactam da celeridade de “suas” decisões. Mas não têm um pingo de honestidade para reconhecer a péssima qualidade delas e para falar das decisões esteriotipadas, cheias de discursos estéreis, coladas a mancheias nos mais variados tipos de processo, como se tudo pertencesse ao mesmo repertório, com a finalidade única de figurarem nos relatórios dos procedimentos findos.
Céleres são os “auxiliares, assessores e secretários”, que não tendo cursado mais do que alguns semestres em qualquer faculdadezinha de direito, sem o mínimo talento para as ciências jurídicas, lavram pífias sentenças e despachos impertinentes em nome de seus padrinhos.
Para ser ministro dos tribunais superiores, a primeira condição é a subserviência. Com a moeda da subserviência os candidatos compram o sonho de consumo de sua vaidade, não sem passar pela venda da alma ao diabo, pelo comprometimento político, no sentido mais lato, para arredar os escolhos e adquirir a “honra” de ser ministro.
Diante de tudo isso, a pergunta é inevitável: não haveria pessoas mais honestas, no mundo, para substituir os ocupantes dos três poderes no Brasil?
Claro que há. Há, sim, as prostitutas da Alemanha.
Vejam só esta. A Prefeitura de Bonn taxou em seis euros diários o trabalho das prostitutas, que é realizado entre as 20,15 e 6 horas da manhã. É uma taxa fixa, independente da produção. O pagamento é feito numa espécie de “parquímetro”. Na primeira abertura do “parquímetro”, segunda-feira passada, ali estavam depositados, religiosamente, (sem alusão a qualquer outro credo) duzentos e sessenta e quatro euros.
As prostitutas da Alemanha demonstraram que são mais honestas do que os detentores do poder no Brasil: cumprem seus deveres de cidadãs sem outra pressão que não a da própria responsabilidade.
Aí está a solução, gente: a importação de prostitutas da Alemanha, para ensinar honestidade aos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário dessa terra das palmeiras, onde, além do sabiá, até o Xitãosinho e o Xororó cantam.



sexta-feira, 2 de setembro de 2011

PEDAGOGOS QUEREM CRIAR NOVOS SEXOS

Janer Cristaldo

Os pedagogos franceses, ao que tudo indica, estão querendo criar novos sexos. Leio no Nouvel Observateur que 80 deputados da Union pour un Mouvement Populaire (UMP) pediram ontem ao ministro da Educação o recolhimento de manuais escolares que explicam “a identidade sexual” dos indivíduos tanto pelo contexto sócio-cultural como por seu sexo biológico. Os deputados fazem eco às críticas expressas sobre o assunto, na primavera passada, pela direção do ensino católico.
Na carta ao ministro, eles estimam que estes manuais de SVT (Sciences et vie de la terre) do secundário fazem referência à “teoria do gênero sexual”. Segundo os deputados, nesta teoria as pessoas não são mais definidas como homens ou mulheres, mas como praticantes de certas formas de sexualidade: homossexuais, heterossexuais, bissexuais, transexuais. Para os assinantes da carta, trata-se de uma “teoria filosófica e sociológica que não é científica, que afirma que identidade sexual é uma construção cultural”.
Os signatários citam uma passagem de um manual publicado pela Hachette: “O sexo biológico nos identifica como macho ou fêmea mas não será por isso que podemos nos qualificar de masculino ou feminino. Esta identidade sexual, construída ao longo de nossa vida, em uma interação constante entre o biológico e o contexto sócio-cultural, é no entanto decisiva em nosso posicionamento em relação ao outro”.
Em uma circular do 30 de setembro do ano passado, o ministério indicava que os programas SVT do secundário deveriam comportar um capítulo intitulado “tornar-se homem ou mulher”. Se a identidade sexual e os papéis sexuais na sociedade com seus estereótipos pertencem à esfera pública, a orientação sexual faz parte da esfera privada – dizia a circular.
Os ativistas gays tupiniquins ainda não devem ter lido o Nouvel Obs de ontem, ou a insólita teoria já estaria nos currículos do Ministério da Educação. Quem deve estar tendo orgasmos em sua tumba é Simone de Beauvoir, autora da frase sem dúvida alguma mais idiota do século passado: “uma mulher não nasce mulher; torna-se mulher”. De uma penada, Simone abolia as diferenças constitutivas de macho e fêmea.
Ainda há pouco, eu escrevia sobre a última trouvaille dos suecos. Em Estocolmo, a pré-escola proíbe que crianças sejam tratadas como meninos e meninas. Em conformidade com um currículo escolar nacional que busca combater a "estereotipação" dos papéis sexuais, uma pré-escola do distrito de Södermalm, da cidade de Estocolmo, incorporou uma pedagogia sexualmente neutra que elimina completamente todas as referências ao sexo masculino e feminino. Os professores e funcionários da pré-escola Egalia evitam usar palavras como "ele" ou "ela" e em vez disso se dirigem aos mais de 30 meninos e meninas, de idades variando entre 1 e 6 anos, como "amigos".
Segundo a diretora Lotta Rajalin, a escola contratou um "pedagogo de diversidade sexual" para ajudar os professores e funcionários a remover as referências masculinas e femininas na linguagem e conduta. Além disso, não há livros infantis tradicionais como Branca de Neve, Cinderela ou os contos de fadas clássicos, disse Rajalin. Em vez disso, as prateleiras têm livros que lidam com duplas homossexuais, mães solteiras, filhos adotados e obras sobre "maneiras modernas de brincar". Pelo jeito, a relação homem/mulher virou anomalia.
Comentei na ocasião a acrobacia mental elaborada pelos pedagogos suecos. O han e o hon (ele e ela) foram trocados pelo pronome neutro hen, palavra que não existe nos dicionários. Mas tampouco é nova. Foi proposta por Hans Karlgren em 1994. Mas já havia sido aventada por Rolf Dunas, no Upsala Nya Tidning, em 1966. Nesta proposta, hen era apresentado como substituição a han e hon e mais: henom substituiria henne/honom (dele/dela). A palavra parece ter sido inspirada no finlandês hän.
Acontece que ausência de gênero é uma característica do finês e não ideologia de feministas. Não se trata de eliminar todas as referências ao sexo masculino e feminino. É que as palavras não são masculinas nem femininas. Tampouco existem artigos. Nos tempos verbais, não há futuro. O que deve exigir muita acrobacia dos políticos locais, pois não há como dizer, por exemplo, "eu farei isto ou aquilo".
Os sexos são dois, ora bolas. Opções sexuais são outros quinhentos. Um homem homossexual não deixa de pertencer ao sexo masculino, da mesma forma que uma mulher homossexual não deixa de ser mulher. As cirurgias de mudança de sexo não mudam em nada os dados da questão. É um homem que se transforma – ou tenta transformar-se – em mulher e vice-versa.
Depois que as esquerdas pretenderam abolir a noção de raça, esta nova moda se apresenta como candidata à mais colossal asneira das últimas décadas. E tão certo como deus não existe, logo logo vai ser moda em Pindorama.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

A BÍBLIA LIDA PELO DIABO

João Eichbaum

26 E a Seth também nasceu um filho, a quem foi dado o nome de Enós. Então se começou a invocar o nome do Senhor.

Quer dizer que, até então, ninguém “invocava” o nome do Senhor? Todo mundo se virava como podia?
Mas, a fila andava, né?

A GENEALOGIA DE SETH

5 Este é o livro das gerações de Adão. No dia em que Deus criou o homem, o fez à sua semelhança. 2 Macho e fêmea os criou e os abençoou e o chamou de Adão, no dia em que foram criados. 3 E Adão viveu cento e trinta anos e gerou um filho à sua semelhança, conforme sua imagem e o chamou de Seth.

Bom, então é o seguinte: quando criou Adão, Deus o fez à sua semelhança. Mas, quando gerou Seth, Adão é que o fez à sua semelhança.
Claro, né? Quando viu o rebento, Adão saiu dizendo, louco de feliz: é a cara do pai.
Então só há uma conclusão: o único homem feito à imagem e semelhança de Javé foi Adão. Os demais puxaram pelo pai.


4 E foram os dias de Adão, depois que gerou a Seth, oitocentos anos, e gerou filhos e filhas. 5 E foram os dias que Adão viveu novecentos e trinta anos. E morreu. 6 E viveu Seth cento e cinco anos, e gerou a Enos. 7 E viveu Seth, depois que gerou a Enos, oitocentos e sete anos, e gerou filhos e filhas. 8 E foram todos os dias de Seth novecentos e doze anos. E morreu. 9 E viveu Enos noventa anos. E gerou a Cainan. 10 E viveu Enos, depois que gerou a Cainan, oitocentos e quinze anos; e gerou filhos e filhas. 11 E foram todos os dias de Enos novecentos e cinco anos; e morreu. 12 E viveu Cainan setenta anos. E gerou a Mahalalel. 13 e viveu Cainan, depois que gerou a Mahalalel, oitocentos e quarenta anos; e gerou filhos e filhas. 14 E foram todos os dias de Cainan novecentos e dez anos; e morreu. 15 E viveu Mahalalel sessenta e cinco anos, e gerou a Jared. 16 E viveu Mahalalel, depois que gerou a Jared, oitocentos e trinta anos, e gerou filhos e filhas. 17 E foram todos os dias de Mahalalel oitocentos e noventa e cinco anos. E morreu. 18 E viveu Jared cento e sessenta e dois anos, e gerou a Enoch.19 E viveu Jared, depois que gerou a Enoch, oitocentos anos. E gerou filhos e filhas. 20 E foram todos os dias de Jared novecentos e sessenta e dois anos. E morreu. 21 E viveu Enoch sessenta e cinco anos, e gerou a Methusala. 22 E andou Enoch com Deus, depois que gerou a Methusala, trezentos anos. E gerou filhos e filhas. 23 E foram todos os dias de Enoch trezentos e sessenta e cinco anos. 24 E andou Enoch com Deus e não estava mais, porquanto Deus para si o chamou. 25 E viveu Methusala cento e oitenta e sete anos, e gerou a Lamech. 26 E viveu Mehusala, depois que gerou a Lamech, setecentos e oitenta e dois anos e gerou filhos e filhas. 27 E foram todos os dias de Methusala novecentos e sessenta e nove anos. E morreu. 28 E viveu Lamech cento e oitenta e dois anos, e gerou um filho. 29 E o chamou Noé, dizendo: este nos consolará acerca de nossas obras e do trabalho das nossas mãos, por causa da terra que o Senhor amaldiçoou. E viveu Lamech, depois que gerou a Noé, quinhentos e noventa e cinco anos; e gerou Noé a Sem, Cam e Jafé.

Quer dizer que Adão tinha cento e trinta anos quando fez o Seth? E Seth, cento e cinco, quando gerou a Enos?
E por aí vai...A lista é longa, todo mundo vivendo mais de cem anos e botando gente no mundo: filhos e filhas de montão. Só que muito poucos tiveram vez e nome na história.
Bah, gente! Quanto velhinho com libido aguçada! Bota idade nisso. Como é que só agora, no último século, chegou até nós o Viagra?
Mas faltou dizer com quem é que Seth, Enos e toda aquela turma, até chegar ao Noé, se enredavam nos lençóis e se despenteavam na cama, mãos buscando reentrâncias, bocas procurando bocas, corpos se enroscando, essas coisas todas! Quem é que abria as pernas pra eles? Como é que eles faziam “papai e mamãe” - essa maravilha sem euforia do sexo reprodutivo, que é pura compenetração, e sem penetração não serve - se só aparece papai na bíblia? E as mamães na genealogia do Seth estavam fora do esquema?
Quem seriam as mamães dos conhecidíssimos Sem, Cam e Jafé?
Viram como eram as mulheres, naquele tempo?
Nem contavam. Eram parideiras anônimas, tipo barriga de aluguel. Hoje, nessa versão anti-bíblica que vive o mundo, elas até presidentes de república são.
Quanto ao tempo que encalhou no mundo essa gente toda, oitocentos, novecentos anos, é dose. Naquela época não havia calendário e ninguém entendia bosta nenhuma de astronomia.
É tudo atochada. Uma coisa tão inverossímil, que nem pra samba-enredo serve.