Janer Cristaldo
Os pedagogos franceses, ao que tudo indica, estão querendo criar novos sexos. Leio no Nouvel Observateur que 80 deputados da Union pour un Mouvement Populaire (UMP) pediram ontem ao ministro da Educação o recolhimento de manuais escolares que explicam “a identidade sexual” dos indivíduos tanto pelo contexto sócio-cultural como por seu sexo biológico. Os deputados fazem eco às críticas expressas sobre o assunto, na primavera passada, pela direção do ensino católico.
Na carta ao ministro, eles estimam que estes manuais de SVT (Sciences et vie de la terre) do secundário fazem referência à “teoria do gênero sexual”. Segundo os deputados, nesta teoria as pessoas não são mais definidas como homens ou mulheres, mas como praticantes de certas formas de sexualidade: homossexuais, heterossexuais, bissexuais, transexuais. Para os assinantes da carta, trata-se de uma “teoria filosófica e sociológica que não é científica, que afirma que identidade sexual é uma construção cultural”.
Os signatários citam uma passagem de um manual publicado pela Hachette: “O sexo biológico nos identifica como macho ou fêmea mas não será por isso que podemos nos qualificar de masculino ou feminino. Esta identidade sexual, construída ao longo de nossa vida, em uma interação constante entre o biológico e o contexto sócio-cultural, é no entanto decisiva em nosso posicionamento em relação ao outro”.
Em uma circular do 30 de setembro do ano passado, o ministério indicava que os programas SVT do secundário deveriam comportar um capítulo intitulado “tornar-se homem ou mulher”. Se a identidade sexual e os papéis sexuais na sociedade com seus estereótipos pertencem à esfera pública, a orientação sexual faz parte da esfera privada – dizia a circular.
Os ativistas gays tupiniquins ainda não devem ter lido o Nouvel Obs de ontem, ou a insólita teoria já estaria nos currículos do Ministério da Educação. Quem deve estar tendo orgasmos em sua tumba é Simone de Beauvoir, autora da frase sem dúvida alguma mais idiota do século passado: “uma mulher não nasce mulher; torna-se mulher”. De uma penada, Simone abolia as diferenças constitutivas de macho e fêmea.
Ainda há pouco, eu escrevia sobre a última trouvaille dos suecos. Em Estocolmo, a pré-escola proíbe que crianças sejam tratadas como meninos e meninas. Em conformidade com um currículo escolar nacional que busca combater a "estereotipação" dos papéis sexuais, uma pré-escola do distrito de Södermalm, da cidade de Estocolmo, incorporou uma pedagogia sexualmente neutra que elimina completamente todas as referências ao sexo masculino e feminino. Os professores e funcionários da pré-escola Egalia evitam usar palavras como "ele" ou "ela" e em vez disso se dirigem aos mais de 30 meninos e meninas, de idades variando entre 1 e 6 anos, como "amigos".
Segundo a diretora Lotta Rajalin, a escola contratou um "pedagogo de diversidade sexual" para ajudar os professores e funcionários a remover as referências masculinas e femininas na linguagem e conduta. Além disso, não há livros infantis tradicionais como Branca de Neve, Cinderela ou os contos de fadas clássicos, disse Rajalin. Em vez disso, as prateleiras têm livros que lidam com duplas homossexuais, mães solteiras, filhos adotados e obras sobre "maneiras modernas de brincar". Pelo jeito, a relação homem/mulher virou anomalia.
Comentei na ocasião a acrobacia mental elaborada pelos pedagogos suecos. O han e o hon (ele e ela) foram trocados pelo pronome neutro hen, palavra que não existe nos dicionários. Mas tampouco é nova. Foi proposta por Hans Karlgren em 1994. Mas já havia sido aventada por Rolf Dunas, no Upsala Nya Tidning, em 1966. Nesta proposta, hen era apresentado como substituição a han e hon e mais: henom substituiria henne/honom (dele/dela). A palavra parece ter sido inspirada no finlandês hän.
Acontece que ausência de gênero é uma característica do finês e não ideologia de feministas. Não se trata de eliminar todas as referências ao sexo masculino e feminino. É que as palavras não são masculinas nem femininas. Tampouco existem artigos. Nos tempos verbais, não há futuro. O que deve exigir muita acrobacia dos políticos locais, pois não há como dizer, por exemplo, "eu farei isto ou aquilo".
Os sexos são dois, ora bolas. Opções sexuais são outros quinhentos. Um homem homossexual não deixa de pertencer ao sexo masculino, da mesma forma que uma mulher homossexual não deixa de ser mulher. As cirurgias de mudança de sexo não mudam em nada os dados da questão. É um homem que se transforma – ou tenta transformar-se – em mulher e vice-versa.
Depois que as esquerdas pretenderam abolir a noção de raça, esta nova moda se apresenta como candidata à mais colossal asneira das últimas décadas. E tão certo como deus não existe, logo logo vai ser moda em Pindorama.
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