João Eichbaum
Nunca fui chegado à filosofia por uma simples razão: a linguagem ambígua dos filósofos. As poucas frases, atribuídas a filósofos, que li, sempre me puseram num caldeirão de dúvida: ou eu sou muito burro, ou os filósofos não sabem se expressar com clareza.
Na semana passada esteve em Porto Alegre, a convite da PUC – Pontifícia Universidade Católica – um tal de Alvin Platinga, em cujo currículo se lê que “obteve doutorado em filosofia na University of Yale” e que foi presidente da American Philosophical Association.
Pois esse tal de filósofo, segundo o texto escrito no Caderno de Cultura do jornal Zero Hora, por Roberto Hofmeister Pich, do Programa de Pós-graduação em Filosofia da PUCRGS, tem interesses voltados “ao tema clássico da relação entre fé e razão e à busca de formular uma adequada epistemologia da crença religiosa teísta – em que o “teísmo” reúne as convicções de que um Deus pessoal existe, criou o universo e é onipotente, onisciente e infinitamente bom”.
Ressalto: o texto foi escrito por um professor de filosofia, do “Programa de Pós-graduação em Filosofia da PUCRGS”, provavelmente um “doutor”. E o cara vem dizer que o filósofo americano tem interesses voltados “...à busca de formular uma adequada epistemologia da crença religiosa teísta...”
“Interesse voltado à busca de formular”...? Que construção é essa? Lá é isso linguagem extraída das regras do vernáculo?
É uma redação de filósofo. Ou seja, de pessoa que não sabe se exprimir com clareza, sem ambiguidades. Qualquer pessoa normal, que não tenha o pensamento afetado por elucubrações filosóficas, diria: “interesse voltado à formulação de uma epistemologia”. Se o cara anda “ à busca de formular” ele está zanzando, viajando na maionese, mas não está formulando coisa nenhuma.
Mas, tem mais: você conhece alguma “crença religiosa” que não seja “teísta”? Você conhece alguma religião sem deus?
Então o filósofo, do “Programa de Pós-graduação em Filosofia da PUCRGS” não precisava acrescentar o adjetivo “teísta” à expressão “crença religiosa”. Dizer que uma crença religiosa é “teísta” é o mesmo que dizer: “está chovendo uma chuva molhada”.
A afirmação de que “um Deus pessoal existe, criou o universo e é onipotente, onisciente e infinitamente bom”, atribuída ao filósofo americano Alvin Platinga, está muito longe de qualquer lógica, porque não parte de princípios comprovados. Quer dizer, não tem premissas. A miséria, a fome, a maldade, a injustiça, a dor, entre tantos outros males que afligem a natureza humana, serviriam como prova, sim, da “impessoalidade” desse Deus. Se ele fosse “onisciente”, teria previsto “a corrupção geral do gênero” (Gênesis, cap. 6) que o levou a arrepender-se de ter criado o homem (Gênesis, cap. 6, versículo 6). Se fosse “onipotente” teria extirpado a maldade da face da terra, ao invés de atribuí-la ao homem que, se foi criação sua, está cheia de defeitos de fabricação. Finalmente, se fosse “infinitamente bom” não teria exigido o sangue de seu próprio filho, em espetáculo bem ao gosto da patuléia.
Para confirmar a regra de que filósofo não sabe se expressar com clareza, há uma exceção, a de um filósofo que sabe escrever, e muito bem: é Janer Cristaldo. E ele, como filósofo, tem autoridade para afirmar, como afirmou, em sua crônica, ontem publicada neste blog: “acreditar em Deus já é uma falha lógica. Que milhões de pessoas acreditem numa ficção, isto é questão de fé e não se discute. O que não se pode afirmar é que seja questão de lógica. Lógica nenhuma permite afirmar a existência do que não existe.”
Isso, sim, é filosofia. Porque sem lógica não existe filosofia. A lógica é o fermento de qualquer postulado. Sem ela, o que se pretende como postulado não passa de blábláblá.
Mas, por aqui sempre tem alguém disposto a patrocinar palestras de doutores em blábláblá, para enrolar deslumbrados, dizendo coisas que barbeiros ou motoristas de táxi diriam com mais clareza.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário