segunda-feira, 19 de setembro de 2011

NÃO EJACULARÁS

João Eichbaum

O cabelo não era desses tipo loiro-puta. Atrás das lentes da loira, natural, fofinha, bem fornida de atributos essenciais, estavam os olhos verdes. Prestei atenção neles, quando ela, sem a menor sombra de constrangimento, me passou o bilhetinho, com sua mão pequena, atraente pelos contornos delicados, que lembravam bonecas de porcelana. Naquele momento eu olhava para ela e, sacudindo a cabeça, com cara de estúpido, pensava no Onan.
Onan ejaculava fora da casinha. Por isso, a prática de que resulta o extermínio de espermatozóides com papel higiênico foi batizada de “onanismo” pelos linguistas (com perdão da palavra “linguistas”, que pode sugerir felação).
Como todo mundo sabe, a primeira antologia impressa de contos eróticos foi a Bíblia Sagrada. Ali tem cada coisa, que sua leitura deveria ser proibida para menores, freiras e padres.
É dali que vem a história do Onan.
Onan, que era filho de Judah, descendia duma família que até hoje fornece tema pra filme de sacanagem. O avô dele, o Jacob, foi o cara que inaugurou, oficialmente, a poligamia: casou com a Lia e, de lambuja, ganhou a Raquel, e ainda se divertia com a empregada, a Bilha.
O pai do Onan, filho do Jacob e que se chamava Judah, foi um dos irmãos de José que o venderam por dez moedas aos midianitas. Depois de ter feito o negócio da venda do irmão, Judah foi dar umas bandas lá por Adulam, onde tinha um amigo, o Hirah. Pois, não é que na casa do Hirah ele deu de cara com uma gata, a Shuah, e ali mesmo, ó, crã nela!
Dali nasceu o Er. E como continuou pintando o clima, nasceram depois o Onan e, por último, o Selah.
Er casou com a Tamar, mas “ o Senhor o matou” e a Tamar ficou viuvinha da Silva. Então Judah mandou o Onan traçar a cunhada. Como era ordem do pai, o Onan teve que obedecer, mas a contragosto. E aí, na hora do bem bom, pra não se comprometer com a explosão demográfica nem com pensão alimentícia, tirava, literalmente, o dele fora, esparramando milhões de espermatozóides pelo chão.
Viram que desperdício de matéria prima?
E a Tamar ainda acabou dando pro sogro. Mas isso já é outra história, por conta da concupiscência bíblica da família do pai Abraão.
Pois é. Eu comecei falando na loira e acabei falando no Onan. Mas foi ela, a loira fofinha, que me levou a pensar no desperdício da matéria prima de produzir humanos.
Não, não fiquem pensando coisas de mim aí. Não é nada disso. Tenho certeza de que todos os que conhecem a bíblia, naquela situação, se lembrariam do Onan. É que o desconcertante bilhetinho que a loira me passou, com sua mão pequena e delicada, lembrando bonecas de porcelana, continha vários itens, mas só lendo o primeiro já fiquei com cara de quem tomou vinho vagabundo em copo plástico: “NÃO EJACULAR”
Pra desencanto de vocês todos, que esperavam uma história de sacanagem, esquecendo de que precisam medir PSA: a ordem bíblica partia do laboratório que eu havia procurado para coletar exame de sangue, e a abstinência sexual era uma, entre outras exigidas, 48 horas antes do exame.

Um comentário:

Gigi disse...

Há nomes bíblicos que não conhecia ou não recordo. Qual a versão ou fonte? O texto mantém interesse até o fim - algo frustrante!
Gigi