segunda-feira, 23 de junho de 2014

MAIS BESTAS DO QUE APOCALIPSE

João Eichbaum

De repente, inusitados fenômenos sociais começaram a  ganhar  as  ruas  no Brasil. O povo, como que acordado durante um pesadelo, se deu conta do quanto pode,  e mostrou sua insatisfação contra o mau uso da máquina pública, que provoca opressão e castiga os que trabalham.
Tudo começou há um ano quando, em Porto Alegre, um grupo tomou a dianteira e levantou a voz contra o aumento de passagens de ônibus. Houve depredação, selvageria,  extravasão da animalidade reprimida, ao lado de protestos sem beligerância, mas que mostravam o poder das massas, Como um rastilho de pólvora as manifestações populares chegaram  até São Paulo.O motivo era o mesmo: insurreição contra  o aumento das passagens de ônibus. Multidões consideráveis também chegaram a se reunir no Rio de Janeiro.
Houve confronto, houve reação violenta, tanto de parte da polícia como de parte dos manifestantes, com radicalização de ambos os lados.Não faltou tragédia e morte.
Acontecimentos nada triviais ocorreram até no Supremo Tribunal Federal. Joaquim Barbosa, o presidente da Corte, no julgamento do mensalão, assumiu  posição e atitudes que nem o autor da ação, o Ministério Público, ousou. Agindo menos como juiz do que como acusador, Barbosa parecia de mal com o mundo, recusando opiniões contrárias às suas teses, armando-se de uma carranca de poucos amigos, tratando com altivez seus próprios colegas.
Este ano, antes da copa, pipocaram manifestações contra o evento da Fifa, houve greves, tumultos, depredações, violência policial.
Na inauguração da controvertida Copa, insulto de que jamais se tivera notícia na história do presidencialismo brasileiro atingiu a presidente. Em voz uníssona, estridente, ribombou no estádio um desejo público de sodomia contra  Dilma Rousseff .
Claro, uma expressão como aquela, que ninguém gosta de ouvir, tendo atingido a suprema mandatária da nação, gerou conflitos. Seus partidários não engoliram em seco a ofensa e partiram para o ataque. Lula da Silva, o cacique mor do PT retomou o discurso de metalúrgico, aquele que não tem retórica, porque é tomado pelo veneno da linguagem. A partir dele, incitou ao ódio entre classes, entre os compatriotas, atribuindo a ofensa à "elite branca".
Em novo capítulo o fenômeno atingiu outra vez o Supremo. O advogado de José Genuíno irrompeu no plenário e interrompeu a sessão, exigindo a análise do pedido de prisão domiciliar para o ex-guerrilheiro. Perdendo os cadernos, Barbosa ordenou que os seguranças retirassem o indesejado causídico.
Então é esse o quadro: insatisfação popular, violência, degradação das autoridades. Não chega a ser um fenômeno apocalíptico, mas a presença das bestas é inegável.



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