segunda-feira, 30 de junho de 2014

UM BICHO CHAMADO HOMEM

João Eichbaum

Vale a pena assistir aos jogos da Copa na televisão. Em casa, comodamente sentado, tomando uma cervejinha, um vinho, um uísque, comendo pinhão, pipoca ou até uma cangiquinha. Sem ter que gritar para aquele gordo da frente “senta, fiadaputa”, sem ouvir o berreiro ensurdecedor, sem se arretar com aquela gostosa que mostra os peitões siliconados, sem a preocupação de como sair do estádio, ir até o estacionamento ou à estação do trem. Sem ter que pagar ingresso, sem ter que pagar nada para a FIFA.
Além de toda a comodidade que se tem em casa, há outra vantagem: no estádio a gente só olha o jogo, ou se distrai, olhando as gostosas, nada mais. Mas, em casa, a gente olha o jogo e só se distrai com as gostosas, quando a televisão as mostra. É coisa de segundos, nem dá pra se arretar,e volta o jogo.
Mas, seja nos segundos em que a televisão mostra as gostosas, seja em quaisquer outras tomadas das câmeras, jamais a gente tem tanta oportunidade de ver o macaco homem tal como ele é: um imbecil, o mais imbecil dos animais.
Tragado pela emoção, o macaco homem mostra toda a sua fraqueza, porque a emoção não o deixa mostrar outra coisa senão a sua animalidade. Nesses momentos em que ele se entrega aos trejeitos, às caretas, ao choro, ao riso, ao desespero, à decepção, ele esquece de fingir o decoro, a elegância, a dignidade. Nesses momentos ele é o bobalhão verdadeiro, que chora por uma pátria que só se lembra dele na hora de cobrar o imposto. Sofre porque seu país vai ficar mal na parada, porque pode abandonar a Copa e ir para a casa mais cedo. Só por isso.
Isso é motivo de chorar? Ou o gol, o pênalti, a classificação, a vitória é motivo de histeria, de berros, uivos e abraços? Que retorno lhe trará a vitória do seu país na Copa?
Nada melhor do que a câmera num estádio de futebol, em tempo de Copa do Mundo, para mostrar que tipo de bicho é o homem.
Por isso, é bom ficar em casa. Além de se divertir, a gente aprende muito, porque chega bastante perto desse bicho, com o qual os filósofos perdem o seu tempo e nunca chegarão a lugar nenhum, se não o analisarem através das telas de TV.



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