OS BONS MORREM CEDO
João Eichbaum
Fernandão partiu, sem
se despedir. Por isso, o choque para os que ficaram foi muito maior.
É comum: a gente espera
a morte dos velhos, dos doentes. Mas não passa pela cabeça de ninguém que a
vida de um homem cheio de saúde, aos trinta e seis, receba o apito final do
destino.
Foi o que aconteceu
para Fernandão: o apito final do destino, sem prorrogação, sem pênalti, sem
descontos.
Se ainda fosse o cartão
vermelho da doença, como aconteceu com o Schumacher, vá lá. O cartão vermelho é
temporário, permite a esperança da volta ou, na pior das hipóteses, a dolorida
consciência que anuncia a perda.
A surpresa da morte de
Fernandão não poupou a quem quer que, de uma forma ou de outra, esteja ligado
em futebol. Não sei se algum dos milhares de torcedores do Internacional
conseguiu evitar o nó na garganta ou deter as lágrimas.
Nem mesmo os ferrenhos
adversários, os aficcionados do Grêmio Football Portoalegrense, conseguiram
esconder sua tristeza. E alguns até lágrimas derramaram, como o cronista Paulo
Santana.
Poucas são as criaturas
humanas que conseguem unir na adversidade, os que se rejeitam. Fernandão
conseguiu. Não por ser jogador de futebol conhecido, famoso, mas por ser um
homem de virtudes. No campo e fora do campo ele tinha o mesmo comportamento.
Quer como atleta, quer como cidadão, não mostrava defeitos.
Não foi por outro
motivo, senão por ser um belo exemplar de ser humano que sua perda arrancou
lágrimas e semeou tristeza indistintamente. Porque todos nós temos necessidade
de exemplos como foi a vida dele, num mundo sacudido pela violência, pela
mentira, pela corrupção, pela irresponsabilidade, pelo impiedoso desprezo de
quem não está no patamar da glória.
Foi pela humildade que
Fernandão conquistou a todos. Ela é que foi sua maior grandeza.
Pena que a morte não
lhe tenha dado tempo para ouvir isso.
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