segunda-feira, 9 de junho de 2014

OS BONS MORREM CEDO

João Eichbaum

Fernandão partiu, sem se despedir. Por isso, o choque para os que ficaram foi muito maior.
É comum: a gente espera a morte dos velhos, dos doentes. Mas não passa pela cabeça de ninguém que a vida de um homem cheio de saúde, aos trinta e seis, receba o apito final do destino.
Foi o que aconteceu para Fernandão: o apito final do destino, sem prorrogação, sem pênalti, sem descontos.
Se ainda fosse o cartão vermelho da doença, como aconteceu com o Schumacher, vá lá. O cartão vermelho é temporário, permite a esperança da volta ou, na pior das hipóteses, a dolorida consciência que anuncia a perda.
A surpresa da morte de Fernandão não poupou a quem quer que, de uma forma ou de outra, esteja ligado em futebol. Não sei se algum dos milhares de torcedores do Internacional conseguiu evitar o nó na garganta ou deter as lágrimas.
Nem mesmo os ferrenhos adversários, os aficcionados do Grêmio Football Portoalegrense, conseguiram esconder sua tristeza. E alguns até lágrimas derramaram, como o cronista Paulo Santana.
Poucas são as criaturas humanas que conseguem unir na adversidade, os que se rejeitam. Fernandão conseguiu. Não por ser jogador de futebol conhecido, famoso, mas por ser um homem de virtudes. No campo e fora do campo ele tinha o mesmo comportamento. Quer como atleta, quer como cidadão, não mostrava defeitos.
Não foi por outro motivo, senão por ser um belo exemplar de ser humano que sua perda arrancou lágrimas e semeou tristeza indistintamente. Porque todos nós temos necessidade de exemplos como foi a vida dele, num mundo sacudido pela violência, pela mentira, pela corrupção, pela irresponsabilidade, pelo impiedoso desprezo de quem não está no patamar da glória.
Foi pela humildade que Fernandão conquistou a todos. Ela é que foi sua maior grandeza.
Pena que a morte não lhe tenha dado tempo para ouvir isso.



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