VAI
TER COPA. E SEXO
João
Eichbaum
A
senhora Xuxa, que exibe nos cabelos as eficientes reações da química, deve ser
pessoa extremamente prendada e dona de uma sabedoria que dispensa técnicos em
educação, pedagogos e outros cientistas da área, quando o tema é infância e
juventude. Por causa da sábia madame, o pastor evangélico e deputado
Eurico, foi defenestrado da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara,
sob a acusação de ter sido “intolerante e desrespeitoso”. Ele
havia classificado como “um desrespeito às famílias do Brasil” a presença
teatral da Xuxa na Câmara, para dar pareceres sobre a “lei da
palmada”. E, para justificar sua intervenção, o parlamentar avivara a memória
dos circunstantes com a lembrança do filme em que uma personagem, encarnada
pela excelentíssima senhora, seduzia um menino de doze anos.
Não
sei se foi para resgatar a honorabilidade de Sua Senhoria dona Xuxa, ou porque
ela represente um paradigma de moral sexual, ou porque sua sabedoria seja capaz
de consertar os desarranjos do universo, que o Palácio do Planalto a recebeu.
Ao lado da presidente deste impoluto país, lá estava ela, abrilhantando com
seus cabelos dourados a sanção da lei que declara crime hediondo “a exploração
sexual de crianças e adolescentes”.
A
“Folha de São Paulo” saiu a campo para conferir os efeitos da nova lei e estampou
coisas estarrecedoras em suas páginas. E foi de lá do norte e do nordeste que
provieram as histórias mais degradantes. Foi de lá, dos cemitérios de
seringais, dos manguezais, do sertão pelado de calor e miséria, da terra onde
apodreceu o que sobrou do umbigo do “doutor” Lula da Silva, que surgiu a
matéria veiculada no jornal.
Em
Manaus, onde foi erguida a “Arena Amazonas”, ao custo de mais de seiscentos
milhões de reais e três mortes por acidente de trabalho, menina frágil, com
feições e corpo de criança, espera “faturar mais dinheiro” na Copa. Outra,
conta com turistas endinheirados, americanos, ingleses. Em Recife, menino que
se prostitui desde os 13 anos, espera “maricóns e gringas finas”. Tanto nas
praias de Fortaleza como no interior do Ceará, adolescentes, desfilando com
minissaias e shortinhos apertados, mostrando a barriga, não escondem a
esperança de se darem bem com o aluguel do corpo, durante o evento da FIFA.
Entrementes,
os Estados Unidos, sem a menor consideração para com o “pibinho” do Mantega,
advertiam zelosamente seus cidadãos e o mundo de que no Brasil nem as
"camisinhas" são confiáveis. E, isso posto, concitava-os (que
futebol, que nada!) a resguardarem pintos e pererecas durante a Copa, usando os
resistentes preservativos norte-americanos.
Sem
educação, sem medidas concretas para a erradicação da miséria, que empurra
meninos e meninas para o mercado do sexo, não há como melhorar a imagem do
Brasil. Sua má fama, construída em 1500, quando invasores portugueses, em jejum
de mulher por mais de quarenta dias, deram de cara com índias nuas, é hoje
alimentada pelos comerciais de bumbuns. Alguém precisa dizer aos políticos que
tal fama, assim arraigada, não se destrói com leis, nem com os cabelos loiros
da Xuxa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário