MAIS UM PADRE QUE A IGREJA PERDEU
João Eichbaum
Antes da Inquisição, a carreira eclesiástica era
extremamente atrativa. A história do Vaticano confirma tal revelação. A pompa,
o poder e as riquezas faziam do papado o alvo de muitas ambições. E como a
chefia da Igreja estava mais preocupada em manter esse “status quo” do que em
disciplinar a vida sacerdotal, era fácil ser padre. Não havia celibato que os
impedisse de fornicar.
Depois da Inquisição e principalmente em razão da
reforma empreendida por Lutero, a música mudou de tom. A danação ao inferno,
provocada pelo “pecado mortal”, veio colocar um pouco de ordem na disciplina
eclesiástica e na moral católica. A Igreja reassumiu a hegemonia, mas só do
ponto de vista estritamente espiritual. Em tais circunstâncias, as chamadas
“vocações sacerdotais” cresceram, movidas pelo desejo de ir “para o céu”.
Mas, querendo se modernizar, a Igreja perdeu pontos. O
concílio Vaticano, ao afrouxar a disciplina eclesiástica, além de proporcionar
desvios de percurso, tipo “teologia da libertação”, produziu uma debandada de
candidatos ao sacerdócio.
Entre os milhares de seminaristas que mandaram “o céu
esperar”, porque descobriram que mulher é melhor do que batina, está o atual
governador do Rio Grande do Sul, José Sartori, vindo de Caxias do Sul, onde foi
prefeito.
Caxias do Sul, um município coalhado de descendentes
italianos, leva mais jeito de paróquia
do que de prefeitura. É fácil de administrar, porque tem recursos próprios,
gerados em sua potência industrial. Além disso, por ser terra de italiano,
Deus, lá, “está em todos os lugares”.
No Estado do Rio Grande do Sul é diferente. A
política, nessa terra de ximangos e maragatos, não comporta sotaque de padre no
púlpito. O Estado não leva jeito para sair de bandeja na mão, pegando esmola, cobrando espórtula ou dízimo. Os cofres
públicos não se sustentam com teologia e filosofia. O povo já não tem medo do
inferno, mas tem medo de não receber salário em dia. Está na hora de tirar a
batina, professor Sartori.
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