OS EFEITOS DA TEOLOGIA NA DESGRAÇA DOS POBRES
João Eichbaum
Para quem se entrega a crenças religiosas deve ser
difícil harmonizar o conceito de um “Deus” bom e misericordioso com os
fenômenos naturais que desencadeiam catástrofes de ordem social, como esse de
Katmandu. Já quem não necessita recorrer a ilusões religiosas sabe que os
abalos sísmicos são convulsões geológicas, decorrentes das reações químicas e
físicas que governam a natureza, independente da qualidade dos deuses.
Aqueles que, apesar de sua inteligência e de seus
conhecimentos, não conseguem se libertar das marcas deixadas em seu indefeso cérebro
infantil, apresentarão explicações de difícil absorção. Terão de admitir que o
seu “Deus” optou pelo sofrimento, pela fome, pela dor, pelo trauma de milhares
de pessoas no Nepal. Terão de admitir, melancolicamente, que sua divindade
preferiu o choro lancinante de crianças ensanguentadas no meio dos escombros,
chamando pela mãe.
Se forem instados a argumentar, sua resposta não terá
outra saída, senão atribuir aos “desígnios insondáveis de Deus” as desgraças
distribuídas a miseráveis que nunca souberam o que significa felicidade. Mas,
não se darão conta de que os “desígnios insondáveis de Deus” não explicam a
ausência de “misericórdia” e a falta do quesito “bondade”, quando se trata de
proteger os pobres, tanto nas catástrofes naturais, como nos naufrágios
assassinos.
Donde extraem os teólogos e crentes a prova da
“bondade” e da “misericórdia” de “Deus”, de cujos desígnios eles não têm a
mínima noção? No Antigo Testamento são mais frequentes os rompantes de ira e de
vingança de que se toma Javeh. Com atos de bondade só foram contemplados seus
queridos, seus preferidos. Inimigo nenhum de Javeh mereceu misericórdia.
A expulsão sumária de Adão e Eva do paraíso passa
muito longe de qualquer conceito de bondade e misericórdia. Os inocentes
degolados por ordem de Herodes foram solenemente ignorados. Da impiedosa
crucificação de Jesus Cristo, que teria em vista a “salvação da humanidade”, só
respingaram efeitos nas ricas e poderosas organizações religiosas do mundo
moderno.
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