quarta-feira, 29 de abril de 2015

OS EFEITOS DA TEOLOGIA NA DESGRAÇA DOS POBRES

João Eichbaum

Para quem se entrega a crenças religiosas deve ser difícil harmonizar o conceito de um “Deus” bom e misericordioso com os fenômenos naturais que desencadeiam catástrofes de ordem social, como esse de Katmandu. Já quem não necessita recorrer a ilusões religiosas sabe que os abalos sísmicos são convulsões geológicas, decorrentes das reações químicas e físicas que governam a natureza, independente da qualidade dos deuses.

Aqueles que, apesar de sua inteligência e de seus conhecimentos, não conseguem se libertar das marcas deixadas em seu indefeso cérebro infantil, apresentarão explicações de difícil absorção. Terão de admitir que o seu “Deus” optou pelo sofrimento, pela fome, pela dor, pelo trauma de milhares de pessoas no Nepal. Terão de admitir, melancolicamente, que sua divindade preferiu o choro lancinante de crianças ensanguentadas no meio dos escombros, chamando pela mãe.

Se forem instados a argumentar, sua resposta não terá outra saída, senão atribuir aos “desígnios insondáveis de Deus” as desgraças distribuídas a miseráveis que nunca souberam o que significa felicidade. Mas, não se darão conta de que os “desígnios insondáveis de Deus” não explicam a ausência de “misericórdia” e a falta do quesito “bondade”, quando se trata de proteger os pobres, tanto nas catástrofes naturais, como nos naufrágios assassinos.

Donde extraem os teólogos e crentes a prova da “bondade” e da “misericórdia” de “Deus”, de cujos desígnios eles não têm a mínima noção? No Antigo Testamento são mais frequentes os rompantes de ira e de vingança de que se toma Javeh. Com atos de bondade só foram contemplados seus queridos, seus preferidos. Inimigo nenhum de Javeh mereceu misericórdia.

A expulsão sumária de Adão e Eva do paraíso passa muito longe de qualquer conceito de bondade e misericórdia. Os inocentes degolados por ordem de Herodes foram solenemente ignorados. Da impiedosa crucificação de Jesus Cristo, que teria em vista a “salvação da humanidade”, só respingaram efeitos nas ricas e poderosas organizações religiosas do mundo moderno.



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