FALANDO EM CORDA NA CASA DO ENFORCADO
João Eichbaum
No fim da semana passada veio a público
uma encíclica do papa Francisco, denominada “Laudato Si”, lembrando a
jaculatória com que, num latim pedregoso, misturado com italiano, Francisco de
Assis louvava o Deus cristão.
Ao ler a exortação papal, não pude fugir
à lembrança do “Samba do Criolo Doido”. O texto do Vaticano mistura a ecologia
propriamente dita com problemas sociais, desacerto entre nações, e ambições de
riqueza pelo domínio desenfreado do capitalismo. Tudo isso entremeado com a
poesia do dito São Francisco de Assis e a história da carochinha do Gênesis.
Tudo bem, do ponto de vista social.
Afinal, é preciso que alguém diga alguma coisa, que alguém, que tenha voz para
ser ouvida no mundo, saia atirando pedras nas Genis da ganância, da injustiça
social e do desrespeito à natureza.
Acontece que a Igreja faz parte do mundo
capitalista. Ela tem um patrimônio imenso do qual extrai frutos. A pobreza dela
se esfuma em votos e promessas, quem nem os filhos de Francisco de Assis
cumprem. Não é do trabalho assalariado que vive o sistema eclesiástico. O
dinheiro não cai do céu, ao contrário do que apregoava Jesus Cristo, segundo o
qual, não era necessário se preocupar porque Deus providenciaria tudo.
O dinheiro do Vaticano tem várias fontes:
do turismo interno, do sistema especulativo de que seu Banco não pode abrir mão
e da contribuição dos fiéis, ricos e pobres. Ora, quem não vive do trabalho,
mas da economia parasita que engorda o patrimônio sem o risco do investimento,
não tem moral para criticar o capitalismo, a cadeia produtiva, de que necessita
a humanidade para viver.
Mas, a questão não para por aí. Para o
crescimento vertiginoso do capitalismo, há um ingrediente com o qual a Igreja
tem contribuído muito: a explosão demográfica. O capitalismo, ou seja, a
máquina produtiva, cresce na proporção das necessidades do povo e, se o povo
cresce, essa máquina não pode parar no tempo. Ela precisa atender às demandas
de alimento, veste, saúde, moradia e trabalho da população. Ora, se a Igreja
proíbe o aborto e os anticoncepcionais, ela contribui decisivamente para a
explosão demográfica.
Assim, a encíclica “Laudato Si” perde o
valor porque a fonte que a produziu é inidônea. Nem mesmo quando exorta a uma
vida com sobriedade, ela consegue comover: os pançudos membros do Colégio Cardinalício estão muito
longe desse modelo.
Enfim, todo o blablablá papal, a despeito
da elegância que lhe empresta muita propriedade, não passa de discurso de moral
em puteiro, esse grande puteiro que é o mundo.
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