sexta-feira, 26 de junho de 2015

FALANDO EM CORDA NA CASA DO ENFORCADO

João Eichbaum

No fim da semana passada veio a público uma encíclica do papa Francisco, denominada “Laudato Si”, lembrando a jaculatória com que, num latim pedregoso, misturado com italiano, Francisco de Assis louvava o Deus cristão.

Ao ler a exortação papal, não pude fugir à lembrança do “Samba do Criolo Doido”. O texto do Vaticano mistura a ecologia propriamente dita com problemas sociais, desacerto entre nações, e ambições de riqueza pelo domínio desenfreado do capitalismo. Tudo isso entremeado com a poesia do dito São Francisco de Assis e a história da carochinha do Gênesis.

Tudo bem, do ponto de vista social. Afinal, é preciso que alguém diga alguma coisa, que alguém, que tenha voz para ser ouvida no mundo, saia atirando pedras nas Genis da ganância, da injustiça social e do desrespeito à natureza.

Acontece que a Igreja faz parte do mundo capitalista. Ela tem um patrimônio imenso do qual extrai frutos. A pobreza dela se esfuma em votos e promessas, quem nem os filhos de Francisco de Assis cumprem. Não é do trabalho assalariado que vive o sistema eclesiástico. O dinheiro não cai do céu, ao contrário do que apregoava Jesus Cristo, segundo o qual, não era necessário se preocupar porque Deus providenciaria tudo.

O dinheiro do Vaticano tem várias fontes: do turismo interno, do sistema especulativo de que seu Banco não pode abrir mão e da contribuição dos fiéis, ricos e pobres. Ora, quem não vive do trabalho, mas da economia parasita que engorda o patrimônio sem o risco do investimento, não tem moral para criticar o capitalismo, a cadeia produtiva, de que necessita a humanidade para viver.

Mas, a questão não para por aí. Para o crescimento vertiginoso do capitalismo, há um ingrediente com o qual a Igreja tem contribuído muito: a explosão demográfica. O capitalismo, ou seja, a máquina produtiva, cresce na proporção das necessidades do povo e, se o povo cresce, essa máquina não pode parar no tempo. Ela precisa atender às demandas de alimento, veste, saúde, moradia e trabalho da população. Ora, se a Igreja proíbe o aborto e os anticoncepcionais, ela contribui decisivamente para a explosão demográfica.

Assim, a encíclica “Laudato Si” perde o valor porque a fonte que a produziu é inidônea. Nem mesmo quando exorta a uma vida com sobriedade, ela consegue comover: os pançudos membros do Colégio Cardinalício estão muito longe desse modelo.

Enfim, todo o blablablá papal, a despeito da elegância que lhe empresta muita propriedade, não passa de discurso de moral em puteiro, esse grande puteiro que é o mundo.





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