HÁ AINDA JUÍZES NESTE PAÍS?
João Eichbaum
Certamente, hoje em dia, antes de
declarar sua profissão, aqueles que têm vergonha na cara hão de pensar duas
vezes. Refiro-me aos que fazem parte dessa elite que, de uma hora para outra,
começou a se sobressair como alvo das mais azedas críticas da sociedade: os
magistrados.
Tempos atrás, quando os magistrados, eles mesmos, lavravam suas sentenças
e se esfalfavam, trabalhando para manter os serviços em dia ou, pelo menos, para
não encompridar o sofrimento de quem esperava por justiça, por certo não
precisavam esconder a sua profissão. Eram pessoas aplaudidas e respeitadas pela
sociedade, porque julgavam com consciência e sabedoria.
Hoje é diferente: qualquer juiz tem seu staff, composto de auxiliar, secretário,
estagiário, ou coisa que o valha. Ele próprio se ocupa da tarefa de compor a equipe,
sobre a qual reinará como um soberano. Resultado: sobra pouco trabalho para o
juiz, porque ninguém é bobo de pensar que o juiz trabalha, enquanto sua
secretária boazuda fica fazendo as unhas e a estagiária, mexendo no facebook.
Com o tempo que lhe sobra, o juiz abre e fecha a mandíbula em aulas, conferências,
e seminários, escreve livros, faz mestrado, doutorado, se envolve com o mundo
acadêmico. Sem contar aqueles que só fazem política em cargos de administração
de suas associações. E essas não são uma nem duas. Há as dos juízes estaduais,
dos federais, dos juízes trabalhistas, além de associações nacionais e
internacionais.
Com esse perfil, os juízes começam a atrair mais do que a antipatia, a
ira da sociedade que lhes paga os salários porque, ajuntando penduricalhos como
auxílio-moradia, auxílio-alimentação e outros que tais, debocham da pobreza,
mostrando que não estão nem aí para o povo e seus problemas: além de uma demora
muito próxima da eternidade, as sentenças e despachos revelam antes a
qualificação de um estagiário do que a formação de um magistrado.
Logo a justiça, em cuja porta vai o povo bater, despejando seus
problemas, suas misérias morais e materiais, logo ela, a justiça, mostra uma
insensibilidade que não a pode tornar alvo senão de desconfiança e de ira. Se o
juiz não enxerga além do seu próprio nariz, se, em vez de palpar a realidade
que o cerca, ele se preocupa só em apalpar a própria barriga, não merece o
poder que tem, porque não sabe julgar.
PS Quem está tentando salvar a moral da pensão é o juiz Sérgio Moro.
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