OS PRIVILEGIADOS
João Eichbaum
Com a luz mortiça do entardecer, o sol
ilumina os penhascos, que lembram atalaias de pedra, atrás do castelo Elmau.
Mais acima, a neve branqueia o cume dos Alpes, em Garmisch-Parkenkirchen, na
Alemanha. Essa paisagem mágica está reservada para os olhares embevecidos de
Barack Obama, Angela Merkel e mais outros cinco membros do G-7.
Mas, a estupidez humana não respeita nem
a sensibilidade de quem ama a natureza. Todos os automóveis têm que deixar
aquela paisagem para trás, porque três dias antes do encontro do G-7, a parada
já era rigorosamente proibida naquele local. Através das janelas dos carros se
via passar voando o prédio de dois andares do Centro de Imprensa, o antigo
hotel com sua torre, o acesso para o retiro, onde estão abrigados os hóspedes
de Merkel.
Debaixo de um guarda-sol, três homens,
com postura retilínea, observam tudo com um olhar duro de estátua. Desde de 30
de maio, lá está instalada a Polícia Federal alemã. Quem se aproxima e precisa entrar, é submetido a uma rigorosa
revista, sob o olhar atento e pouco amigo de cães farejadores. Os policiais têm
alarmes à mão. Basta um toque de dedo para fazê-los disparar. Se estiver tudo
em ordem e o visitante possuir uma permissão de ingresso por escrito, ele será
acomodado no banco traseiro do carro de polícia, devendo voltar da mesma forma
e entregar documento de autorização.
O local de encontro do G 7 está
guarnecido por uma cerca de pedras, não para conter possíveis avalanches das
montanhas, mas para impedir a aproximação de manifestantes. O alvo principal do
serviço de segurança é o local de pouso dos helicópteros que ficam à disposição
dos chefes de estado.
Há policiais por toda a parte. É
impossível andar mais de cinquenta metros sem esbarrar num deles. Eles ficam o
dia todo expostos ao sol, têm a atenção voltada para as árvores, atrás das
quais nada se pode mover.
Todo esse aparato serve à segurança dos
participantes do encontro do G7. Sete criaturas e seu staff. Enquanto isso,
miseráveis entregam tudo o que têm, em troca de um lugar numa embarcação sem a
mínima segurança, para fugirem da miséria, da fome, da perseguição, das guerras
civis que pipocam em seus países. Muitos acabam morrendo em alto mar, e os que
não morrem são entregues à própria sorte.
É assim que se comporta a humanidade:
enquanto meia dúzia desfruta de luxo e proteção, milhões de outras pessoas
dependem tão somente dos humores do destino, para conseguir um mínimo de
sobrevivência. E não falta quem exalte a democracia, os direitos humanos, a paz
universal e outras tantas hipocrisias, para que a meia dúzia de espertos possa
gozar a vida, por conta de tais falácias, a salvo das toxinas emocionais.
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