terça-feira, 9 de junho de 2015

OS PRIVILEGIADOS
João Eichbaum

Com a luz mortiça do entardecer, o sol ilumina os penhascos, que lembram atalaias de pedra, atrás do castelo Elmau. Mais acima, a neve branqueia o cume dos Alpes, em Garmisch-Parkenkirchen, na Alemanha. Essa paisagem mágica está reservada para os olhares embevecidos de Barack Obama, Angela Merkel e mais outros cinco membros do G-7.

Mas, a estupidez humana não respeita nem a sensibilidade de quem ama a natureza. Todos os automóveis têm que deixar aquela paisagem para trás, porque três dias antes do encontro do G-7, a parada já era rigorosamente proibida naquele local. Através das janelas dos carros se via passar voando o prédio de dois andares do Centro de Imprensa, o antigo hotel com sua torre, o acesso para o retiro, onde estão abrigados os hóspedes de Merkel.

Debaixo de um guarda-sol, três homens, com postura retilínea, observam tudo com um olhar duro de estátua. Desde de 30 de maio, lá está instalada a Polícia Federal alemã. Quem se aproxima e precisa entrar, é submetido a uma rigorosa revista, sob o olhar atento e pouco amigo de cães farejadores. Os policiais têm alarmes à mão. Basta um toque de dedo para fazê-los disparar. Se estiver tudo em ordem e o visitante possuir uma permissão de ingresso por escrito, ele será acomodado no banco traseiro do carro de polícia, devendo voltar da mesma forma e entregar documento de autorização.

O local de encontro do G 7 está guarnecido por uma cerca de pedras, não para conter possíveis avalanches das montanhas, mas para impedir a aproximação de manifestantes. O alvo principal do serviço de segurança é o local de pouso dos helicópteros que ficam à disposição dos chefes de estado. 

Há policiais por toda a parte. É impossível andar mais de cinquenta metros sem esbarrar num deles. Eles ficam o dia todo expostos ao sol, têm a atenção voltada para as árvores, atrás das quais nada se pode mover.

Todo esse aparato serve à segurança dos participantes do encontro do G7. Sete criaturas e seu staff. Enquanto isso, miseráveis entregam tudo o que têm, em troca de um lugar numa embarcação sem a mínima segurança, para fugirem da miséria, da fome, da perseguição, das guerras civis que pipocam em seus países. Muitos acabam morrendo em alto mar, e os que não morrem são entregues à própria sorte.

É assim que se comporta a humanidade: enquanto meia dúzia desfruta de luxo e proteção, milhões de outras pessoas dependem tão somente dos humores do destino, para conseguir um mínimo de sobrevivência. E não falta quem exalte a democracia, os direitos humanos, a paz universal e outras tantas hipocrisias, para que a meia dúzia de espertos possa gozar a vida, por conta de tais falácias, a salvo das toxinas emocionais.



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