A FAMÍLIA TEMER, NA SAÍDA DA ESCOLA
João Eichbaum
Na saída da escola, num
cenário montado como roteiro de novela, Temer apareceu empertigado, metido em
terno escuro, com camisa branca e uma gravata azul celeste, que decorava a
curva de sua barriga de sete meses.
A Marcela Temer, que é
recatada e do lar, botou o lindo corpo num vestido floreado, com generoso
decote, mostrando o redondo superior daquela parte que faria um bêbado sair
cantando: “em teu seio, ó liberdade, desafia o nosso peito a própria morte”.
E a imprensa, convocada
como se fosse para noticiar uma façanha islâmica, ali estava com câmeras,
potentes máquinas fotográficas, filmadoras e microfones, registrando o mais
prosaico fato na vida de uma criança: a saída da escola.
Só que não era uma criança
qualquer. Era o milionário Michelzinho, com apenas sete anos de idade, dono de
um patrimônio a que nenhum operário qualificado, neste país, tem acesso, em
trinta e cinco anos de serviço.
E lá estava ele, o
Michelzinho, com uma cara de assustado feliz, no meio daquela pantomima,
armada, segundo o dizer da imprensa, para enriquecer a imagem de Michel Temer,
como um cidadão que se aproxima do povo, um paisano qualquer, que vai buscar o
filho na escola.
Só que a demagogia não
deu certo. Um homem que nunca foi do povo, não se transforma em homem do povo
com uma cena montada e decorada. O cenário só serviu para tornar mais fundo o
fosso entre o povo e o poder, a petulância e a humildade, a ostentação e a modéstia.
A vaia entoada pelos
outros pais que esperavam os filhos, na saída da escola, e respingada na
família Temer, representou a voz de todos os contribuintes. Foi a voz daqueles,
de cujo trabalho se valem os próceres da República para ostentar um modo de
vida, que é verdadeiro escárnio diante quem luta para sobreviver, sem
segurança, sem saúde, sem educação e aturando safadezas políticas.