CHEIRO DE CIO NO AR
G. Della Quercia
Hoje, seu Afranio saiu pela
orelha, do Studio de Pilates. Dona Mercedes tolera suas escapadas para a
Esquina do Cotovelo, no Calçadão, mas babar em cima de sirigaita loira, já é
demais. Descaradamente, sem Jimo Cupim na cara.
Ouve-se por aí que Pilates é
coisa pra veados. Ele, porém, se acha no ponto para pular a cerca e levar a
vida como se fosse um viagra. O garanhão de cabanha premiada, sabia, como
ninguém, dar a volta em Dona Mercedes. Mulher bonita, morena cor de jambo,
olhos verdes como cuspida de chimarrão e um par de ancas a deixar cãibras em
genitalia de marmanjo. E, o touro velho saiu pinçado direto pra casa, sem
escala no Banco do Cotovelo.
Juntos há cinquenta anos,
filhos no Exterior, a enorme casa é compartilhada com Melissa e Napoleão,
Napinha, para os íntimos. Melissa foi beneficiada, Napinha escapou por pouco.
Nos últimos dias, os dois transformaram em penico a sala de Dona Mercedes.
Napinha mirava o alvo :perna alçada, era só lançar o esguicho. Pronto.
Território demarcado, mesmo com o benefício feito.
Seu Afranio louco pra dar
um tapa no visual e sair de fininho para a rua, disse que era cheiro de cio no
ar. Mas logo passava. Era só questão de dias. Nada mais.
Cheiro de cio no ar. Dona
Mercedes lembrou do vinho, do aconchego, do "entrelaçamento íntimo
agudo", da malandragem da Natureza : o movimento cíclico das
Estações. Inverno. Acasalamento.
Estaria a loira no cio?
Bela. Nada recatada. Toda do bar. Pernas longas. Botas tipo Xuxa, Rainha dos
Baixinhos. Salto 15. Pretas. Fêmea de passarela, mexia o corpo feito cobra do
deserto : um rastro na areia quente.
Os olhos azuis chispavam.
Sim. Eram azuis não verdes. Trocavam a cor por causa da raiva. A boca espumava.
A corcovear, batia o salto na laje, sentindo comichão no meio das pernas.
Rodopiava, como a chave nas mãos de seu Afranio.
Brava. Raivosa, se achando
cheia de graça, como a Virgem no dia da Anunciação. Estavam de brincadeira com
ela. Só pode.
Explico: invadiu garagem
alheia, assim como os machos invadiam suas entranhas. E, deu no que deu.
Chegou da farra com as
amigas, dormiu até tarde. Tinha compromisso, hora marcada na Capital. Pulava.
Sapateava. Espumava. E, o importado, câmbio automático ali, sem se mexer,
colado na bunda do seminovo recém comprado. Não cobrava programas, apenas os quinhentos
para o táxi.
Seu carro descansava na
garagem da Pilateira de Dona Mercedes. Moça fina, bons modos, trabalhadeira.
Mas não deixaria o trabalho para livrar a traseira do seminovo.
Foi assim que a chave do
importado primeira linha, caiu de paraquedas na mão de seu Afranio. Mas ele só
conhecia câmbio manual e a loira só guiava fusqueta. E, para o câmbio manual
seu Afranio precisava de gasolina aditivada: viagra. E estava desprovido.
Apenas babava.
Então sentiu a orelha
arder: macho ele era, longe da mulher. Sem mais delongas se foi rua a fora,
pinto encolhido dentro das calças.
Não sei a que horas a
loira saiu com sua fusqueta. Mas seu Afranio tem certeza, não basta levantar a
perna e esguichar. É Dona Mercedes quem demarca território.
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