sexta-feira, 29 de julho de 2016

A FAMÍLIA TEMER, NA SAÍDA DA ESCOLA

João Eichbaum

Na saída da escola, num cenário montado como roteiro de novela, Temer apareceu empertigado, metido em terno escuro, com camisa branca e uma gravata azul celeste, que decorava a curva de sua barriga de sete meses.

A Marcela Temer, que é recatada e do lar, botou o lindo corpo num vestido floreado, com generoso decote, mostrando o redondo superior daquela parte que faria um bêbado sair cantando: “em teu seio, ó liberdade, desafia o nosso peito a própria morte”.

E a imprensa, convocada como se fosse para noticiar uma façanha islâmica, ali estava com câmeras, potentes máquinas fotográficas, filmadoras e microfones, registrando o mais prosaico fato na vida de uma criança: a saída da escola.

Só que não era uma criança qualquer. Era o milionário Michelzinho, com apenas sete anos de idade, dono de um patrimônio a que nenhum operário qualificado, neste país, tem acesso, em trinta e cinco anos de serviço.

E lá estava ele, o Michelzinho, com uma cara de assustado feliz, no meio daquela pantomima, armada, segundo o dizer da imprensa, para enriquecer a imagem de Michel Temer, como um cidadão que se aproxima do povo, um paisano qualquer, que vai buscar o filho na escola.

Só que a demagogia não deu certo. Um homem que nunca foi do povo, não se transforma em homem do povo com uma cena montada e decorada. O cenário só serviu para tornar mais fundo o fosso entre o povo e o poder, a petulância e a humildade, a ostentação e a modéstia.

A vaia entoada pelos outros pais que esperavam os filhos, na saída da escola, e respingada na família Temer, representou a voz de todos os contribuintes. Foi a voz daqueles, de cujo trabalho se valem os próceres da República para ostentar um modo de vida, que é verdadeiro escárnio diante quem luta para sobreviver, sem segurança, sem saúde, sem educação e aturando safadezas políticas.


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