sexta-feira, 26 de agosto de 2016

DEPOIS DA FESTA: E AGORA, BRASIL?

João Eichbaum

Cinco horas da manhã. De Chapadinha para São Luiz do Maranhão, parte um ônibus lotado de pessoas que não têm motivo para sorrir. A maioria delas envelhecida pela idade ou pelas durezas da vida, as mãos descarnadas, o rosto amarrotado pelas rugas e aquele ar de quem carrega nos ombros todas as desgraças do mundo.

Não é a dor que passeia em seus rostos e lhes deixa os olhos tristes, lânguidos, esvaziados de toda emoção. É o cansaço da vida. É o desamparo a que os entregou o destino. Há momentos na vida, em que os desafortunados não têm alternativa: ou as incertezas da morte, ou as torturas de uma existência sem sentido.

Afetada por disfunções renais, aquela pobre gente sacoleja no percurso dos duzentos e cinquenta quilômetros que separam a cidade de Chapadinha da capital maranhense, São Luiz. Só lá na capital, terão recursos médicos para ir prorrogando aquele jeitinho desgraçado de viver.

Ao cabo da longa e cansativa viagem, os espera o torpor de um procedimento, que provoca várias espécies de desconforto: quatro intermináveis horas de hemodiálise. Alguns não conseguem deter as lágrimas. Outros, abatidos pelo cansaço, adormecem, ou simplesmente se abandonam, de olhos fechados, ao vazio do tempo que os tortura.

E nem depois que as máquinas lhes devolvem o sangue, eles encontram motivos para sorrir: a viagem de volta. Quem não dispõe de dinheiro para pagar um pequeno lanche, enfrenta o longo trajeto de ida e volta com o estômago vazio. Já é noite, quando chegam em casa.

Esse quadro de dor, fruto do desmazelo pela saúde pública, foi apresentado no Jornal Nacional, no dia seguinte ao da onda de felicidade que embriagou o povo deste país, ao final das Olimpíadas. Depois do oba, oba num reino de fantasia, a Globo voltou suas câmeras para a miséria do cotidiano brasileiro. Decididamente, não somos o Brasil que os artífices das ilusões exibem para o mundo.



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