DEPOIS DA FESTA: E AGORA, BRASIL?
João Eichbaum
Cinco horas da manhã. De Chapadinha para São Luiz do Maranhão,
parte um ônibus lotado de pessoas que não têm motivo para sorrir. A maioria
delas envelhecida pela idade ou pelas durezas da vida, as mãos descarnadas, o
rosto amarrotado pelas rugas e aquele ar de quem carrega nos ombros todas as
desgraças do mundo.
Não é a dor que passeia em seus rostos e lhes deixa os olhos
tristes, lânguidos, esvaziados de toda emoção. É o cansaço da vida. É o
desamparo a que os entregou o destino. Há momentos na vida, em que os
desafortunados não têm alternativa: ou as incertezas da morte, ou as torturas
de uma existência sem sentido.
Afetada por disfunções renais, aquela pobre gente sacoleja no
percurso dos duzentos e cinquenta quilômetros que separam a cidade de
Chapadinha da capital maranhense, São Luiz. Só lá na capital, terão recursos
médicos para ir prorrogando aquele jeitinho desgraçado de viver.
Ao cabo da longa e cansativa viagem, os espera o torpor de um
procedimento, que provoca várias espécies de desconforto: quatro intermináveis horas
de hemodiálise. Alguns não conseguem deter as lágrimas. Outros, abatidos pelo
cansaço, adormecem, ou simplesmente se abandonam, de olhos fechados, ao vazio
do tempo que os tortura.
E nem depois que as máquinas lhes devolvem o sangue, eles
encontram motivos para sorrir: a viagem de volta. Quem não dispõe de dinheiro
para pagar um pequeno lanche, enfrenta o longo trajeto de ida e volta com o estômago
vazio. Já é noite, quando chegam em casa.
Esse quadro de dor, fruto do desmazelo pela saúde pública, foi
apresentado no Jornal Nacional, no dia seguinte ao da onda de felicidade que
embriagou o povo deste país, ao final das Olimpíadas. Depois do oba, oba num
reino de fantasia, a Globo voltou suas câmeras para a miséria do cotidiano
brasileiro. Decididamente, não somos o Brasil que os artífices das ilusões exibem
para o mundo.
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