UM POVO HEROICO E SEUS BERROS RETUMBANTES
João Eichbaum
Manifestações no Facebook fazem coro à imprensa estrangeira,
elogiando o espetáculo de abertura das Olimpíadas no Rio de Janeiro. Há quem
infle o peito de orgulho para dizer que o povo brasileiro sabe se superar,
mesmo quando o abate a decepção com o sistema político e o peso da crise
econômica. Como se a sorte da pátria dependesse do povo e não dos canalhas que
a fazem refém de suas ganâncias.
Ninguém se dá conta de que não foi o “povo brasileiro” que
projetou, montou, organizou e realizou o espetáculo. Quem o fez foram técnicos
no assunto, pessoas que se profissionalizaram, mediante o pagamento de somas
consideráveis, com as quais o “povo brasileiro” só sonha, quando aposta na
sena.
Então, não venham com essa de que o Brasil deu a volta por cima e
mostrou para o mundo que, mesmo debaixo do mau tempo, consegue se superar.
Tendo dinheiro, qualquer mago que sabe encantar plateias desenvolve a tarefa
para a qual é qualificado.
Ainda que tenham tido a grana encurtada por roubalheiras e mal
feitos políticos, os magos deram conta do recado. E a razão é uma só: o deles
estava garantido e tinham que mostrar serviço, para não comprometer o bom nome
conquistado nessa área. Então fizeram o que sabem fazer com jogos de luzes e
sons, ilusões de ótica e fogos de artifício fabricados por anônimos operários.
E, para provar que ninguém se livra de merda na cabeça, ainda arrumaram uma
vaga para a Anitta e trouxeram a tia Gisele dos Estados Unidos.
O povo, o povo mesmo, esse figurante indispensável em qualquer
espetáculo, fez a sua parte: berrou, vaiando o Temer, berrou, trancado no
trânsito, berrou de fome no parque olímpico, sofreu e praticou (ladrão também é
povo) arrastões e afanou coisas de turistas e atletas estrangeiros.
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