terça-feira, 30 de agosto de 2016

OS FEITIÇOS DO PODER
João Eichbaum

Subiram as cortinas para mostrar ao respeitável público, senhoras e senhores, um espetáculo deprimente: a pantomima do Senado, o circo das vaidades, das hipocrisias, das burrices, dos vexames. E, para completar, o discurso pastoso da Dilma, nessa farsa política que é o processo de impeachment.

Somados a tais ingredientes a agressividade, a arrogância e o desrespeito para com o povo que sustenta as instituições, temos aí o resumo do homem, tal como ele sempre foi: um animal igual a qualquer outro. Com a agravante de que pode ser capcioso ou mentecapto, exibindo, sem o mínimo pudor, os fundamentos de sua ignorância.

E assim vivemos, dominados pelos arrogantes, pelos agressivos, pelos donos da verdade, todos embriagados pelo poder. O poder que tem o bandido com o revólver na mão é o mesmo poder que sente o legislador, quando aprova leis irresponsáveis, que jamais seriam aprovadas pela sociedade.

É esse mesmo poder que enfeitiça juízes e juízas e os leva a soltar bandidos, dando de ombros para o medo e a insegurança da sociedade, que lhes paga os gordos salários, o auxílio-moradia, auxílio-refeição, auxílio-transporte e – pasmem! – o auxílio- sentença.

Sim, a esfarrapada desculpa do “acúmulo de serviço” autoriza impolutos magistrados a se socorrerem do “auxílio-sentença”. Esse é o nome que merece a “mãozinha” emprestada por seus assessores, secretários e estagiários, na lavratura de sentenças, despachos e acórdãos, soltando bandidos ou prendendo inocentes.

Orientado pela “ideologia” ou, vá lá, pela escola que leva o juiz e a juíza a apostarem mais nos criminosos do que nas vítimas, ou mais na lei do que no homem, o auxiliar lança a decisão, liberando o bandido para rodopiar com o diabo quantas valsas quiser. Tudo dentro de um esdrúxulo conceito de legalidade, autenticado pela assinatura digital do magistrado, que pode estar a quilômetros de distância do foro ou do tribunal. Afinal, ninguém é de ferro para trabalhar de madrugada, tendo que sair de casa, com um frio desses...

Então, de posse da felicidade, ao ter sido contemplado com uma decisão boazinha, o criminoso mata uma indefesa mãe, que aguardava o filho, na saída do colégio, ou uma médica, a caminho de casa, depois de um dia dedicado à vida de seus semelhantes. Tudo porque, enfeitiçado pelo poder, o homem é o mesmo, tanto no circo do Senado como debaixo da toga.


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