OS FEITIÇOS DO PODER
João Eichbaum
Subiram as cortinas para mostrar ao
respeitável público, senhoras e senhores, um espetáculo deprimente: a pantomima
do Senado, o circo das vaidades, das hipocrisias, das burrices, dos vexames. E,
para completar, o discurso pastoso da Dilma, nessa farsa política que é o processo
de impeachment.
Somados a tais ingredientes a
agressividade, a arrogância e o desrespeito para com o povo que sustenta as
instituições, temos aí o resumo do homem, tal como ele sempre foi: um animal
igual a qualquer outro. Com a agravante de que pode ser capcioso ou mentecapto,
exibindo, sem o mínimo pudor, os fundamentos de sua ignorância.
E assim vivemos, dominados pelos arrogantes,
pelos agressivos, pelos donos da verdade, todos embriagados pelo poder. O poder
que tem o bandido com o revólver na mão é o mesmo poder que sente o legislador,
quando aprova leis irresponsáveis, que jamais seriam aprovadas pela sociedade.
É esse mesmo poder que enfeitiça juízes e
juízas e os leva a soltar bandidos, dando de ombros para o medo e a insegurança
da sociedade, que lhes paga os gordos salários, o auxílio-moradia,
auxílio-refeição, auxílio-transporte e – pasmem! – o auxílio- sentença.
Sim, a esfarrapada desculpa do “acúmulo de
serviço” autoriza impolutos magistrados a se socorrerem do “auxílio-sentença”.
Esse é o nome que merece a “mãozinha” emprestada por seus assessores,
secretários e estagiários, na lavratura de sentenças, despachos e acórdãos,
soltando bandidos ou prendendo inocentes.
Orientado pela “ideologia” ou, vá lá, pela
escola que leva o juiz e a juíza a apostarem mais nos criminosos do que nas
vítimas, ou mais na lei do que no homem, o auxiliar lança a decisão, liberando
o bandido para rodopiar com o diabo quantas valsas quiser. Tudo dentro de um
esdrúxulo conceito de legalidade, autenticado pela assinatura digital do
magistrado, que pode estar a quilômetros de distância do foro ou do tribunal.
Afinal, ninguém é de ferro para trabalhar de madrugada, tendo que sair de casa,
com um frio desses...
Então, de posse da felicidade, ao ter sido
contemplado com uma decisão boazinha, o criminoso mata uma indefesa mãe, que
aguardava o filho, na saída do colégio, ou uma médica, a caminho de casa,
depois de um dia dedicado à vida de seus semelhantes. Tudo porque, enfeitiçado
pelo poder, o homem é o mesmo, tanto no circo do Senado como debaixo da toga.
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